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Capítulo 360 – Me diga a verdade!

A brisa suave sussurrava pelas janelas, trazendo consigo o frescor do ar que vinha do vale verde lá fora. As cortinas esvoaçavam levemente, dançando em harmonia com a suave corrente de ar.

Luz do sol filtrava-se gentilmente, criando padrões de sombras suaves no chão, iluminando também um sofá de tecido nobre onde Safira aguardava o seu mestre.

— Eu disse a você que ele continuaria nos enrolando — disse a Pixie de braços cruzados no ombro de Safira. — Coen não é o tipo de homem que fica de cama.

— Mas senhor Gorred foi morto… era um pandoriano dele…

— Não seja inocente, ele deve ter um jeito de superar isso.

— Você tem razão, eu tenho — disse Coen adentrando a sala e se sentando na poltrona frente a elas.

Ele estava com sua túnica escura de sempre, mas diferente de antes, ele estava mais saudável.

— Desculpe fazê-las esperar, os últimos meses foram tumultuados. Lutei contra Graff, perdi um pandoriano… mas tudo bem, acontece.

— Desembucha! — insistiu a pixie. — Vamos, você nos arrasta para o plano astral, nos manda matar uma entidade, deuses, mas por que estamos fazendo isso?

Coen olhou para uma e depois para a outra.

— Para abrir o véu.

— Tá, isso eu sei, mas para quê?

— Drez’gan vir a esse mundo.

— Por que trazer alguém que quer devorar o mundo? — indagou Safira.

— É uma boa pergunta. — Coen abriu os braços no sofá. — Convido vocês duas para um exercício comigo. O véu é como um cadeado, e quanto mais mana poderosa ele tem, mais esse cadeado deteriora, ele enferruja. O que quero é destruir esse cadeado e escancarar a porta.

— Unificar todos os planos em um só? — perguntou Safira.

— Não… quando o cadeado quebrou pela primeira vez, eu não sabia o que iria acontecer, mas eu tinha uma ideia… o que aconteceu foi que consegui abrir somente uma fresta, então a porta se fechou novamente.

— … Se não unificará os planos, então o que você…

— Reestruturá-lo. Quando o véu caiu e todas as raças se juntaram aqui, isso foi um erro de cálculo, mas me adaptei. Meu erro foi não enferrujar o cadeado o suficiente. Se eu fosse apostar em uma era de ouro da magia, diria que estamos vivendo a verdadeira era de ouro. Nunca houve tantos usuários de magia tão formidáveis em milênios. Esse plano é como um caldeirão borbulhante que está prestes a derramar.

— Reestruturar os planos para o quê? — insistiu a pixie. — Está brincando de Deus, garoto?

— Brincando? Não, definitivamente não. Isso está mais para alquimia. Estou fazendo testes, moldando estruturas, para no fim alcançar um resultado melhor que o produto de origem.

— Tsc… e você iria tão longe por um teste, garoto?

Coen abriu um sorriso de canto.

— Não sabe mesmo nada sobre mim, Pixie. Sabe por que não matei Colin, Brighid, ou a vampira que estava com ela? Esses idiotas enfrentarão Drez’gan quando ele retornar, e espero que eles se matem, e se isso não acontecer, eu estarei lá para eliminar o que sobrar. Com tanta gente poderosa morta, então o cadeado vai finalmente romper, e eu poderei atravessar aquela porta.

A pixie franziu o cenho e saiu do ombro de Safira.

— Você continua escondendo coisas, não confio em você!

— Ah, claro, eu estou, mas posso te contar a verdade, Safira. — A garota ouviu, atenta. — Colin cuidou de você quando se conheceram, você deve ter se lembrado, e os seus amigos com quem tem pesadelos, você não os matou, fui eu que enfeiticei você e a induzi a isso.

Safira foi pega de surpresa, ela não teve reação.  

— … O quê?

— Você foi só uma bonequinha que dei corda, então fiquei vendo onde você conseguiria chegar. Você matou todos aqueles seres sem nenhum pingo de remorso. Uma monarca da flama aos dezessete anos… um verdadeiro talento natural, e obrigado por evoluir a minha essência, mas infelizmente vou pegá-la de volta.

Coen ergueu-se lentamente.

— Colin… quando um pandoriano morre, o seu dono absorve suas memórias. Vi que você hesitou em matá-lo, e mesmo com a memória totalmente apagada, provavelmente o resultado seria o mesmo. Subestimei esse sentimento, amor… Amor de uma mãe por um filho, um amigo por outro, o amor de irmãos, de uma filha por um pai… Essa continua sendo a única variável que não consigo prever. Já serviu o seu propósito, Safira, não preciso mais de você.

Safira imediatamente ficou em guarda, sua pixie ao seu lado, erguendo os pequenos braços na direção de Coen.

— Eu fiz você, garota, te tornei o que é, suas habilidades, sei tudo que você sabe. Lutar será inútil.

Ela sentia-se traída. Confiou naquele homem como um pai, apenas para descobrir que seu sentimento não passava de uma ilusão cruel.

As memórias com Colin começaram a inundar sua mente. As noites que passaram conversando, rindo juntos, as aventuras compartilhadas com Brighid, que era como uma irmã para ela. Nessas lembranças, Colin e Brighid formavam as figuras paternas que ela tanto ansiava, pilares de força e conforto em um mundo implacavelmente cruel.

Mas agora, essas memórias se tornavam facas afiadas, cortando fundo em seu coração.

Ela se lembrou de Liena, com sua personalidade forte e destemida; de Loaus, o garoto sonhador que queria ser um regente melhor que o pai; de Wiben, o inimigo que se transformou no amigo que ela passou a respeitar profundamente; e, por fim, de Kuth, seu primeiro amor, cuja lembrança ainda fazia seu coração doer.

— Eu… — sua voz tremeu, e os olhos se encheram d’água. Cada palavra era um esforço doloroso. — Sempre me sentia culpada quando me lembrava, mas não foi culpa minha, foi sua! Senhor Colin é o seu filho, não é? Como pode fazer isso com ele?!

Ela olhou para o homem diante dela, tentando encontrar qualquer traço de humanidade em seus olhos. Mas tudo o que via era uma máscara de frieza e indiferença.

As noites de risos e confidências se desvaneceram, substituídas por uma realidade cruel e implacável. O homem que ela considerava um pai tinha traído não apenas a ela, mas também a seu próprio sangue.

A dor em seu peito era insuportável, como se uma mão invisível apertasse seu coração. Ela queria gritar, chorar, fugir desse pesadelo. Mas ao invés disso, ficou ali, encarando-o, deixando que ele visse a profundidade da sua dor e da sua desilusão.

Os momentos felizes agora pareciam fantasmas, assombrando cada pensamento, cada batida do seu coração. Ela sentia-se despedaçada, mas sabia que precisava encontrar força. Por Colin e por Brighid, os únicos com quem ela realmente se importava.

— É… — murmurou Coen. — Ainda não entendo o amor…

— Marionete da senhora das chamas!

Um enorme círculo surgiu abaixo de Safira, com chamas se espalhando em um piscar de olhos. As paredes imediatamente derreteram, e Coen estava prestes a conjurar seu portal quando a pixie o prendeu em uma redoma de mana.

“Hehe, vai tentar me matar?”

— Eu sou o fogo que purifica, eu sou o fogo que queima, eu sou o fogo que destrói — recitou o encantamento. — Vórtice da senhora das chamas!

O orbe que Coen estava implodiu com uma violência terrível, uma sinfonia de destruição que se desencadeou de dentro para fora.

Boom!

As paredes da estrutura explodiram em fragmentos, arremessados pelos céus, enquanto uma porção da majestosa montanha que abrigava aquele lugar sucumbia ao fogo voraz.

Corredores e alojamentos foram consumidos pelas chamas, transformando-se em um espetáculo infernal de destruição.

A explosão se assemelhava a algo saído dos relatos de uma catástrofe nuclear.

Uma onda de choque envolveu tudo ao redor, desencadeando uma tempestade de caos e ruína. O som ensurdecedor da implosão reverberava pelos confins da paisagem, ecoando como um lamento trágico.

Enquanto as paredes queimavam e o fogo devorava cada recanto, pedras de fogo caíam do céu como uma chuva ardente, marcando o solo com sua intensidade abrasadora.

O ar estava impregnado com o cheiro acre de fumaça e cinzas, misturando-se ao caos visual.

Era possível ver, no horizonte, uma nuvem de cogumelo se formar, uma manifestação visual do cataclismo que havia acabado de ocorrer.

Sua presença era colossal, erguendo-se imponente e sombria, envolta em tons de cinza e fumaça.

Woosh!

Safira deixou a fumaça, indo para cima de seu círculo mágico. A magia da pixie havia livrado ambas.

— Ainda não acabou! — disse a caída.

— Incrível! — Coen saiu de um portal, sua veste estava chamuscada. — Quase não consegui escapar.

“Como ele…?”

— Sou mais rápido do que pensa, garota. Se achou meu filho rápido, foi porque não lutou contra mim. Vamos ver o que aprendeu, me mostre.

— Nix! Liberação de terceiro círculo!

Uma explosão de mana irrompeu da pequena pixie, e o mundo tremeu em resposta.

Moradores a quilômetros de distância assistiram atônitos enquanto o dia se transformava em noite. Do meio das nuvens, emergiu uma lua púrpura majestosa, banhando a terra com sua luz etérea.

O céu se encheu de estrelas cintilantes, e um silêncio reverente pairou sobre o mundo, como se a própria natureza estivesse prestando homenagem ao poder descomunal da pequena criatura.

Agora em sua forma perfeita, a pandoriana voejava ao lado de Safira, irradiando um poder que transbordava em ondas de mana.

Cada pulsação dessa energia balançava os galhos das árvores abaixo, fazendo-os dançar em um ritmo selvagem. Os cabelos longos de Coen esvoaçavam violentamente, como se um vento tempestuoso soprasse ao seu redor.

“Então esse é o poder de uma entidade que se aproxima do divino…?”

— Perfeita, deusa da lua, mas tenho a adversária perfeita para você!

Ziom!

Um portal se abriu ao lado do errante, emanando uma luz sobrenatural. Da abertura surgiu uma mulher de pele pálida, seus olhos amarelos brilhando com uma intensidade quase hipnótica. Chifres retos coroavam o topo de sua cabeça, e um terceiro olho se destacava em sua testa, emanando uma aura de poder inigualável.

Vestida com uma roupa oriental de seda branca que cobria seu corpo esbelto, algumas partes de seus braços estavam expostas, revelando tatuagens idênticas às de Coen. Ela era colossal, com quase três metros de altura, sua presença dominando o ambiente.

Suas unhas pontiagudas reluziam à luz do portal, e quatro bainhas adornavam sua cintura, sugerindo uma maestria inigualável no combate.

Os quatro braços moviam-se com uma graciosidade sobrenatural; dois apoiados na cintura e os outros dois entrelaçados atrás da cabeça em um gesto de calma despreocupada. Seu cabelo escuro e selvagem adicionava um toque de selvageria e charme à sua figura imponente.

— Que saco… — resmungou ela, coçando o cabelo bagunçado. — O que é dessa vez?

Coen apontou com o queixo para Safira.

— Se lembra da nossa garotinha?

— Resolveu dar um jeito nela? Gorred mal acabou de morrer e você continua se metendo em confusão. Vai acabar morrendo assim.

— Não se preocupe comigo. Sua adversária é a deusa da lua do plano dos sátiros. É uma poderosa usuária de mana, uma das melhores.

A pandoriana desembainhou duas espadas, enquanto outro par de braços continuou cruzado.

— Espero que ela seja mais apetitosa do que o morceguinho que me trouxe.

— Nunca coloco nada ruim no seu prato, você sabe disso.

Uma serpente esverdeada saiu de um portal atrás de Coen, enrolando-se em seu torso.

— A garota é minha, a deusa é sua.

— Certo!

— Nix! — chamou Safira. — Tome cuidado! Gorred era poderoso, essa criatura também deve ser!

A deusa respondeu com um sorriso confiante.

— Com quem pensa que está falando? Se preocupe com você!

Coen zombou, um brilho malicioso nos olhos.

— Isso não é nostálgico? Primeiro, você enfrenta o meu filho, alguém que cuidou de você, agora enfrentará a mim, alguém que fez o mesmo.

Os chifres dela cresceram, assim como suas unhas e seus caninos.

— Você é a única criatura que nunca irei perdoar, nunca!

Coen sorriu, convencido.

— Ah, é? Essa é sua chance de mostrar tudo que sabe, garota. Não haverá outra oportunidade como essa.

Faíscas serpenteavam pelo corpo de Coen, enquanto labaredas azuis serpentearam pelo corpo de Safira.

— Armagedon do sol nascente! — Devorador de mundos!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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