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Capítulo 365 – Lord Leerstrom.

Fora dos imponentes muros da grande capital, Colin rompia com a tradicional vestimenta escura que o caracterizava.

Ele vestia um manto escarlate que esvoaçava ao vento, contrastando vividamente com a escuridão de sua calça e botas.

Ao fundo, a paisagem se transformava em um quadro movimentado. Dezenas de pessoas se aproximavam em cavalos robustos, liderados por grandes diligências que rangiam ao avançar pela estrada pavimentada.

O ar estava impregnado com o som dos cascos dos cavalos e o rangido das rodas das carruagens, os ruídos viajando através das vastas planícies.

À frente do grupo, Leerstrom desceu graciosamente de seu cavalo. Com uma reverência profunda, ele se aproximou do rei.

Leerstrom ergueu-se da reverência, seus olhos encontrando os de Colin, e um respeito mútuo se refletia na troca de olhares.

— Comandante Leerstrom — disse Colin com um sorriso. — Quem são todas essas pessoas?

— Me perdoe, majestade, mas eu insisti. — Anton veio dos fundos, fazendo também sua reverência. Bastou colocar os olhos nele para Anton entender que, mesmo tendo vencido no passado, havia um abismo de diferença entre suas habilidades. — A santa… se o senhor permitir… queremos ficar o mais próximo possível da Santa de Valéria… agora, Santa de Runyra…

Colin ergueu uma das sobrancelhas e varreu o olhar na multidão.

“Todos eles vieram por Brighid?”

O silêncio momentâneo foi quebrado pelo vento que soprava suavemente, agitando as vestes escarlates de Colin.

— Tudo bem, Anton, podem ficar na cidade, vamos andando. — Colin o tratou como se ele fosse um qualquer. — Meu pessoal achará acomodações para vocês, e Leerstrom, precisamos conversar.

Na sala adornada com tapeçarias finamente tecidas e móveis elegantes, Colin se sentou na imponente cadeira no centro do aposento.

Leerstrom, experiente e habituado com homens poderosos, sentia uma inquietação sutil ao adentrar o espaço privado do rei.

Embora tivesse servido ao imperador e estado na corte do que um dia já foi o império mais poderoso do continente, estar sozinho com o rei de Runyra despertava uma sensação de que cada gesto e palavra precisavam ser medidos com cautela.

Colin, por sua vez, demonstrava certa tranquilidade.

Ele se inclinou graciosamente para servir o chá, escolhendo cuidadosamente a variedade que sabia agradar ao paladar de alguém sofisticado como Leerstrom.

O som suave da água sendo vertida nas xícaras era aconchegante.

Ao oferecer a xícara de chá a Leerstrom, Colin quebrou o gelo, encarando-o com um olhar que combinava astúcia e sagacidade.

— Por favor, aceite. É um dos meus favoritos. — Colin sorriu, buscando dissipar qualquer resquício de desconforto.

Apesar da relutância, ele aceitou a xícara, mantendo um olhar atento ao rei.

— Obrigado, Majestade. — A expressão de Leerstrom permanecia séria, a aura de Colin clamava para que ele mantivesse sua cautela.

O rei, percebendo a tensão, tomou a iniciativa de aliviar o ambiente.

— Por favor, sinta-se à vontade. Não estamos em uma corte formal aqui. — Ele indicou a cadeira em frente à sua mesa, incentivando Leerstrom a se sentar.

O comandante hesitou por um momento, mas acabou cedendo. Ele se sentou, mantendo uma postura ereta e uma vigilância constante.

— O que está escondendo, comandante? — indagou Colin com um olhar perspicaz.

 Leerstrom sentiu-se coagido a contar toda verdade. Apesar de não pensar que o amigo de sua filha faria algo com ele, o comandante só queria que aquela reunião se encerrasse para o peso em seus ombros desaparecer.

— Vossa majestade deve estar ciente do que acontece no Oeste… decidi que era melhor vir para o leste antes que os elfos negros saíssem da toca.

— Sei… precavido, compreendo.

O comandante deu um gole em seu chá, estava delicioso.

— Senhor… como sabia sobre Kerie Leerstrom?

Ele deu de ombros.

— Estudos… Alguns usam o tempo livre para treinar, ler poesia, eu gosto de estudar. Kerie foi uma grande mulher, deve ter orgulho dela.

— Foi uma ancestral importante… — disse o comandante. — As próximas gerações da sua família também o reconhecerão como um ancestral que fez história.

— Acho que sim. Teve poucos filhos, comandante, três meninas.

— Depois de Elizabeth, minha esposa, Ophelia, não quis mais saber disso… ela sempre quis um menino, mas os deuses não atenderam suas preces.

— Sinto muito por isso.

O comandante abanou uma das mãos.

— Não importa, estou feliz assim.

— O senhor será um Lorde, já pensou em quem irá sucedê-lo?

— Ainda não, senhor…

— Samantha é uma boa aposta. Ela é uma amiga valiosa, uma das mais leais. Garanto que, nas mãos dela, o futuro da casa Leerstrom estará garantido. Caso Samantha não aceite ser uma Lady, posso sugerir um casamento arranjado. Tenho um filho mais velho, não é sangue do meu sangue, mas carrega o meu sobrenome.

Leerstrom assentiu.

— Sam comentou isso na carta… desculpa a pergunta, mas por que o senhor quer unir nossas casas?

— Você não quer?

— Na-não é isso… está nos ajudando por causa da Samantha?

Colin bebeu do chá e relaxou na poltrona.

— Em partes, sim. Mas o que quero mesmo é que minha linhagem comande cada canto desse continente, e eu confio em você. Fazer dos Leerstrom minha família seria uma honra.

— Entendo… mas Elizabeth ainda é nova para se casar, e se isso acontecer, espero que seja de maneira natural.

— Como quiser. — Colin fez uma pausa dramática. — Aoth… o deixou realmente por medo dos Elfos negros?

— O garoto é arrogante, prepotente, mesquinho. Nunca se preocupou com a manutenção do exército, mas agora que Runyra cresce no leste e os elfos negros ameaçam se erguer no oeste, ele quer se proteger.  Um exército não fica pronto do dia para a noite, exige planejamento, pessoal, equipamento.

— De fato, fico feliz que tenha vindo, mas não creio que sua estadia na capital se prolongue. Alguns dos meus homens devem levá-lo até o território que irá comandar, isso deve acontecer amanhã ao amanhecer. Os outros que chegaram com o senhor, podem ficar se quiser, mas o senhor tem que ocupar o cargo que dei.

Ele assentiu.

— Obrigado senhor, mas a propósito, onde Samantha está?

— Em uma missão muito importante.


O grupo avançava em meio à fúria branca da nevasca.

Vestidos em sobretudos brancos e roupas grossas, eles pareciam fantasmas enfrentando a tempestade de flocos que caía incessantemente do céu.

O vento gelado soprava violentamente, criando redemoinhos de neve que dançavam ao redor deles, enquanto os contornos da paisagem se perdiam na vastidão branca.

A visibilidade era limitada, e cada passo era uma batalha contra a resistência da neve acumulada sob seus pés. O grupo seguia em uma marcha determinada, rostos protegidos por grossas camadas de cachecóis e gorros.

De repente, Samantha parou abruptamente.

— Avistou algo? — perguntou Kurth.

Com um gesto silencioso, Samantha enfiou a mão no interior do sobretudo, retirando uma luneta. Focando a pequena ferramenta, seus olhos se estreitaram para examinar o horizonte obscurecido pela tempestade.

E então, em meio à nevasca, uma cena surreal revelou-se através da lente da lupa. Dois gigantes, envoltos em mantos brancos, carregavam vacas peludas, uma em cada ombro.

— São gigantes! — ela berrou.

Mais afastado, Dasken tentou acender seu isqueiro, mas o vento tornava a tarefa impossível.

— O que quer fazer? — perguntou Dasken, se aproximando.

— Vamos segui-los! — berrou em meio ao som da nevasca. — Precisamos saber onde fica a toca desses desgraçados!


À distância, o grupo liderado por Samantha seguia os gigantes através da redução gradual da intensidade da nevasca.

O terreno íngreme que levava a um acampamento aos poucos se tornava visível.

Ao chegarem ao cume de um alto morro, eles perceberam que este funcionava como uma barreira natural contra os ventos cortantes e a neve que ainda caía timidamente.

— Ali, lá embaixo!

No acampamento, tendas altas pontilhavam o local. Criaturas de aparência colossal realizavam atividades cotidianas; algumas tiravam o couro de vacas peludas, outras cozinhavam carne de troll sobre fogueiras, enquanto outras ainda afiavam espadas com gestos precisos.

A atmosfera no acampamento parecia ser de uma normalidade surpreendente.

Conversas ecoavam entre as tendas, risadas ocasionalmente se elevavam acima do burburinho, e o aroma tentador de carne grelhada pairava no ar gélido.

No entanto, num canto isolado, uma gaiola feita de ossos chamava a atenção.

Lá, dezenas de Orcs estavam presos, a maioria mulheres e crianças.

— Orcs? — comentou Dasken. — Tão ao norte?

— O Noroeste virou um campo de batalha entre elfos da neve, gigantes, Orcs e humanos — ela respondeu. — Parece que fomos jogados bem no meio desse furacão.

— O que a gente vai fazer? — indagou Kurth. — Atacar?

— Eu já resolvo, Kurth, me dê seu arco, e Sylvana, crie uma barreira entorno dos prisioneiros.

— Si-sim, senhora!

— Aqui!

Samantha aceitou o arco de Kurth, deslizando seus dedos habilidosos sobre as cordas com uma familiaridade evidente.

Com uma destreza aprimorada, ela retirou uma única moeda do bolso, segurando-a entre os dedos com precisão.

O vento sibilava ao redor deles, um fator que não passou despercebido para a experiente arqueira.

Com um olhar calculista, Samantha ponderou a velocidade do vento, movendo o arco levemente para a direita para compensar.

— Daqui deve dar.

Em um movimento fluido, ela soltou a moeda no ar e esta desapareceu rapidamente no horizonte.

Ziuum!

O grupo observava, suas expectativas crescendo enquanto a moeda se perdia no céu nebuloso.

De repente, um brilho intenso rompeu a monotonia do céu nublado. Os olhos treinados de Samantha captaram o reluzir da moeda e, num estalar de dedos, a moeda brilhou ainda mais forte.

Lá no alto, os gigantes, até então distraídos com seus afazeres, observaram um brilho crescente no céu.

Do círculo mágico que se formara no céu, uma chuva de lanças desabou como uma sentença de morte.

Crunch! Crunch! Crunch!

Em instantes, as lanças perfuraram o ar, atravessando a carne dos gigantes com uma eficácia letal.

O som que se seguiu foi uma cacofonia de agonia, um coro de gemidos guturais e rugidos distorcidos pela dor. A carne rasgava-se sob o impacto das lanças, e os gigantes transformavam-se em figuras grotescas, empaladas pelas armas que caíam do céu.

Após a agonia, veio o silêncio.

— Vamos!

Eles pularam, caindo no acampamento de maneira acrobática. Seus olhos varreram o lugar. No solo, lanças cravadas no chão e nos corpos dos gigantes tombados.

O ar estava saturado com o cheiro metálico do sangue dos gigantes.

— Vasculhem o acampamento, encontrem qualquer coisa de valor.

— Sim, senhora!

Carniceiros que acompanhavam o grupo rapidamente dispersaram enquanto Samantha caminhava até a jaula. Tocou o cadeado e o transmutou em raízes envelhecidas, quebrando o cadeado com um safanão.

As Orcs se afastaram, mas com um sorriso gentil, Samantha estendeu a mão.

— Falam a minha língua? Está tudo bem agora, podem sair.

Do outro lado, Dasken havia finalmente conseguido acender seu cigarro. No momento em que soltou fumaça do cigarro, esquivou a cabeça para o lado em um reflexo sobrenatural, desviando de uma lança que explodiu na parede de gelo atrás dele.

Boom!

Seu cigarro havia sido destruído.

— Estamos sob ataque!

Ao longe, Orcs aproximavam-se montados em lobos gigantes.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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