No topo de um forte que se erguia majestoso, de frente para um vasto vale, Jack se mantinha firme contra o vento forte que varria o lugar.
Seu cabelo prateado ondulava com cada rajada, conferindo-lhe uma aura quase mítica. Ao seu lado, Safira, envolta em um casaco escuro que a protegia do frio cortante, compartilhava da mesma visão do assassino.
— É uma boa vista — comentou Jack, seus olhos varrendo o horizonte que se estendia à frente deles.
Safira, olhando para o vale abaixo, concordou com um aceno.
— É sim… Há uma certa paz aqui que é difícil de encontrar em outros lugares… por que estamos aqui, senhor?
— Estamos esperando.
— …
Jack acrescentou. — Eles estão vindo.
No instante seguinte, o som distante de uma trombeta cortou o ar.
Fuooon!
No horizonte, surgiram os primeiros sinais do avanço: soldados vestidos com as roupas e armaduras do clã rival, suas vestimentas uma mistura de vermelho e ouro que refletia a fraca luz do sol.
As armaduras, meticulosamente decoradas e funcionais, falavam de um povo que valorizava tanto a beleza quanto a eficiência em combate.
Lanças brilhantes e espadas longas completavam o arsenal deles, enquanto se moviam com uma coordenação que falavam de uma disciplina impressionante.
Eles avançavam pelas montanhas, uma maré de soldados que rompia a paz do vale.
— São os últimos guerreiros do clã Huang. Sua rivalidade contra o nosso contratante, o clã Song, é milenar. Para o azar deles, isso termina hoje. Já se sente melhor, garota?
Safira encarou a palma da mão.
— Não sei… é como se faltasse algo…
— Entendi, pode ficar aqui se quiser.
— E-eu vou lutar também! É a minha forma de agradecer…
Jack bagunçou o cabelo dela. — Então vamos.
Com calma desceram a escada do forte, e lá estava somente Veny, aguardando seu pai de braços cruzados e olhos cerrados.
— Vamos seguir o plano, Veny, você segura o clã Huang, Safira e eu vamos atrás do membro da encruzilhada por trás desse clã.
— Sim, senhor. — Veny ergueu-se, apanhando uma espada enorme escorada na parede. — Boa sorte, senhor.
Jack assentiu e foi para os fundos do forte. Chegando lá, ele ficou em silêncio, até alguém sair da penumbra.
Ela era loira, esbelta e tinha intensos olhos amarelos que fez Safira recuar um passo, seu coração acelerado.
— Como vão às coisas, Saphielly?
— Vão bem, Jack. — Ela olhou para Safira. Apesar da surpresa, ela fingiu não a conhecer. — Integrante nova?
— Pois é… onde está o idiota da encruzilhada desta vez?
— Há quase dois quilômetros daqui. Ele não está sozinho, há mais cinco com ele, mas não são grande coisa, a gente consegue dar um jeito.
Safira ainda se mantinha receosa em relação aquela mulher.
— Vamos! — Erguendo a mão, Saphielly conjurou um portal. Ele brilhava com um vermelho intenso.
Jack atravessou primeiro e Safira engoliu em seco, atravessando em seguida.
Após atravessarem, eles se encontraram em cima de um grosso galho de uma árvore colossal, que lhes oferecia uma visão privilegiada do que os aguardava.
Diante deles, estendia-se um grandioso acampamento militar, cuja estrutura imponente e detalhes arquitetônicos remetiam às grandiosas construções e templos orientais.
O acampamento, um emaranhado vibrante de atividade, se espalhava por uma vasta área, seus limites quase se perdendo no horizonte.
As tendas, arranjadas com precisão militar, formavam fileiras e colunas, resultado de uma organização impecável.
Em alguns lugares, as estruturas lembravam os pagodes tradicionais, com telhados curvos e elegantes que se erguiam majestosamente contra o céu anuviado. Esses prédios serviam como quartéis generais e áreas de reunião.
O acampamento fervilhava com a atividade de milhares de soldados, uma maré humana em constante movimento. Eles se preparavam para partir.
Cavaleiros ajustavam as selas em seus cavalos. As carruagens, projetadas para o transporte de tropas e suprimentos, eram carregadas com armamentos e provisões, prontas para levar o combate contra o forte durante dias a fio.
Espadas, lanças e armaduras eram meticulosamente inspecionadas e ajeitadas. Os soldados, vestidos em armaduras que refletiam a grande tradição marcial do oriente, moviam-se com um propósito.
— Veny conseguirá dar conta de tantos? — indagou Saphielly.
— Não se preocupe, de todos os meus filhos, ele é o único que não pode morrer.
— Certo… vou ficar por aqui, dar um jeito nos soldados, vocês dois ficam com a encruzilhada.
— Certo. — Jack saltou de galho em galho, e Safira o seguiu, dando uma última olhada em Saphielly.
— São muitos soldados… ela vai ficar bem?
— Não precisa se preocupar, Saphielly é um errante. Mesmo que tenham poucos, eles são poderosos.
Saphielly emergiu do portal no céu como se desdobrasse de outra dimensão.
Elevada acima do acampamento em cima de seu círculo mágico, ela, com um gesto quase casual, retirou uma das mãos dos bolsos do casaco e, com um simples erguer de seu dedo indicador, invocou outro portal, imenso e pulsante, acima dela.
Os soldados abaixo, focados em suas preparações, de repente, voltaram sua atenção para o céu, um murmúrio de inquietação espalhando-se rapidamente pelo acampamento.
Do portal, emergiu uma visão de puro terror: a cabeça de um leão majestoso, seguida pela de um bode astuto e a de um dragão.
Uma quimera, uma criatura das lendas, com o corpo robusto de um leão e imponentes asas de dragão, revelou-se para aqueles guerreiros que nunca haviam visto a criatura mitológica.
O acampamento mergulhou em uma comoção instantânea, com soldados correndo para alertar seus camaradas, o som de trombetas de guerra ecoando em uma tentativa desesperada de organizar uma defesa.
— É inútil tentar se organizar — murmurou Saphielly lá de cima.
Com um movimento fluido e predatório, a criatura mergulhou em direção ao acampamento, suas asas de dragão cortando o ar com um som assustador.
Woosh!
A cabeça de dragão da quimera expelia chamas vorazes, transformando tendas, suprimentos e armamentos em cinzas num piscar de olhos.
Simultaneamente, a cabeça de bode soprava rajadas de gelo tão intensas que congelava tudo ao seu alcance, devastando o acampamento com uma eficiência aterradora.
E, enquanto isso, com suas poderosas patas de leão, a criatura dilacerava os soldados que ousavam se aproximar.
— O resto é com você, Jack.
Safira ficou vislumbrada com toda aquela destruição causada por uma criatura tão estranha.
— Vamos entrar, garota.
Jack conjurou uma espada feita puramente de sombras. Com um movimento fluido e preciso, ele lançou um corte devastador nas paredes do palácio, criando uma entrada.
Ele e Safira, sem hesitar, adentraram, encontrando-se imediatamente com inimigos que se colocavam em seu caminho. Jack, com sua espada de sombras, movia-se como uma tempestade, dilacerando os adversários com uma eficiência mortal.
Safira, decidida a não ficar para trás, convocou sua própria arma, uma espada forjada de puras chamas. Ela cortou dois soldados ao meio, o fogo de sua lâmina consumindo o que restava deles em um ardor que iluminava o caminho até o salão principal.
— O salão principal está logo a frente, fique atenta.
— Tá!
Ao entrarem no salão, depararam-se com uma cena estranhamente pacífica em contraste com o caos lá fora.
Sentado de maneira despretensiosa em um trono, um homem franzino vestindo roupas orientais saboreava uma maçã.
Ao seu redor, outros indivíduos compartilhavam do mesmo olhar desinteressado, aparentemente indiferentes à invasão que acontecia bem sob seus narizes.
O homem no trono não demonstrava surpresa ou preocupação com a súbita entrada dos invasores.
— Uma quimera — disse o homem no trono. — Quase me surpreendi.
— Você é Jack Ubyitsy? — debochou uma garota sentada em uma coluna. — Achei que fosse maior, e essa é uma de suas filhas?
Jack abriu um sorriso de canto. — Os Huang estão próximos de serem exterminados, e vocês agem assim? Deviam dar mais valor ao seu contratante.
— Dar valor como você dá aos Song? Se os Hunag pagassem tão bem, eu até me esforçaria um pouco mais.
A garota saltou da pilastra, indo direto para o chão em um baque violento, como se ela pesasse toneladas.
Bam!
— A gente sempre quis conhecer você, Jack, nós apostamos, qual de nós conseguiria te matar primeiro?
— Eu também esperava mais de vocês — zombou. — Seu chefe manda crianças para conter o avanço? Ele não parece muito preocupado com a guerra.
— Pois saiba que fomos escolhidos a dedo por senhor Drewalt! — disse a garota, irritada.
— Sei, infelizmente não estou com tempo.
Jack se moveu com uma precisão e velocidade sobrenaturais, fazendo com que o tempo ao seu redor parecesse desacelerar.
Quando a garota estendeu a mão, conjurando uma magia que cintilava com uma luz perigosa, Jack já estava em movimento.
Crunch!
Com uma rapidez que deixou os espectadores boquiabertos, ele passou por ela, sua lâmina cortando o ar com um zumbido mortal.
“Ele é rápido!”, pensou a garota.
Antes que alguém pudesse piscar, a cabeça da garota rolava no chão, um olhar de surpresa eternizado em seu rosto.
O choque de todos eles foi imediato.
— Seu desgraçado! — Um jovem, impulsionado pelo medo ou talvez pela vingança, começou a conjurar uma magia proibida de sangue, suas mãos desenhando símbolos complexos no ar. Mas Jack, com a mesma rapidez assustadora, interceptou-o, sua lâmina negra brilhando novamente ao decepar a mão do conjurador e, num movimento fluido, cortando a sua jugular.
Crunch!
O sangue jorrou, e o jovem caiu.
A sala caiu em um silêncio mortal, apenas o som do sangue pingando da lâmina de Jack perturbava a quietude.
Safira encarou tudo aquilo admirada. Os cortes de Jack foram extremamente precisos, beirando a perfeição.
— Merda! — O homem no trono, até então inabalável, procurou por Jack com os olhos, tentando localizá-lo em meio à carnificina. Mas Jack estava posicionado no teto com uma facilidade que desafiava a lógica, observando a cena abaixo dele como uma aranha observando sua presa.
— Não pense que sairá daqui vivo!
Quando o homem do trono esticou as mãos na tentativa desesperada de conjurar sua magia, ele viu seu mundo virar literalmente de cabeça para baixo.
Jack tinha se movido novamente, tão rápido que sua presença no teto se tornou uma miragem que se desfez como um vulto.
Crack!
Um estalo horrível soou quando o pescoço do homem foi quebrado, seu trono e seu reinado terminaram com um gesto rápido e impiedoso.
Em menos de dez segundos, Jack havia eliminado todos os membros da encruzilhada.
— Nossa… — balbuciou Safira.
— Demos sorte — disse Jack passando por ela. — Há alguns membros da encruzilhada que são realmente muito habilidosos. Saphielly já deve ter terminado.
Ao sair do palácio, observaram com calma o caos.
O chão estava coberto por uma miríade de soldados abatidos, espalhados em uma grotesca tapeçaria de morte que se estendia até onde a vista alcançava.
No meio deste cenário de desolação, Saphielly permanecia imaculada. Suas mãos estavam casualmente metidas no casaco, como se estivesse esperando por Jack não após uma batalha feroz, mas sim após uma tarde tranquila.
Não havia nem um único arranhão em sua pele.
— Pensei que fosse demorar — disse ela.
— Eles não eram tão fortes. Meus filhos e a pandoriana pixie já devem ter acabado com o clã Yan. Vamos buscá-los e retornar ao palácio dos Song.
Havia um exagero contido nas ações daqueles dois, e Safira soube diferenciar isso perfeitamente. Ambos eram absurdamente poderosos, mas sua demonstração de poder não era exagerada.
Eles apenas faziam o necessário, com certo alarde, se fosse preciso.