O salão, envolto em sombras e silêncio reverente, estendia-se como um santuário de pedra fria. Cada canto era adornado com instrumentos sagrados: cálices de prata incrustados com pedras preciosas.
Varas rituais, entalhadas com símbolos rúnicos, pareciam pulsar com uma vida própria, enquanto mantos cerimoniais, bordados com fios de prata e azul profundo, repousavam sobre suportes de madeira esculpida, representando os vários aspectos da deusa da neve.
No centro do aposento, uma mesa de pedra se erguia, sólida e antiga. Mapas estelares e pergaminhos antigos estavam espalhados sobre ela, cercados por velas de cera de abelha que emitiam uma luz suave, mal o suficiente para afastar as trevas.
Ao redor da mesa, os sacerdotes da deusa da neve estavam reunidos, suas vestes imaculadamente brancas.
Sussurravam entre si, inquietos, lançando olhares furtivos para a porta de madeira entalhada que marcava a única entrada da câmara.
A reunião havia sido convocada às pressas.
A rainha Ayla, soberana e enigmática, exigira a presença de todo o alto clero no coração da madrugada. Entre os sacerdotes, Jane, disfarçada na pele de um deles, observava em silêncio.
— Quanto tempo mais teremos de esperar? — resmungou um dos sacerdotes, seu tom de voz baixo e impaciente.
Com um estrondo surdo, a grande porta de madeira se abriu abruptamente, cortando a tensão. Todos os olhos se voltaram instantaneamente para a figura que adentrava.
Era a rainha Ayla, mas como jamais a haviam visto antes.
Os trajes majestosos, típicos de sua posição, haviam sido deixados de lado. No lugar, uma camisa branca, grande demais, caía sobre seu corpo como um vestido fluido, claramente uma peça pertencente ao marido.
Shorts curtos mal eram visíveis sob o tecido solto, e chinelos de palha completavam seu traje surpreendentemente simples.
Seus longos cabelos brancos, normalmente arranjados com meticulosa perfeição, agora caíam desordenados sobre os ombros, dando-lhe uma aparência desarmante e natural.
Os sacerdotes, acostumados à pompa e formalidade da corte, se entreolharam, desconcertados pela simplicidade daquela aparição.
Ayla, ciente do impacto que causara, manteve-se calma e falou com uma voz firme.
— Peço desculpas pela minha aparência e pelo atraso — disse ela, seus olhos perscrutando os rostos surpresos à sua volta. — As crianças estavam… mais inquietas do que o habitual.
Um murmúrio percorreu a sala, a tensão inicial começando a se dissipar.
— Vossa Majestade, não há necessidade de desculpas — disse um dos sacerdotes, apressado. — Estamos aqui para servi-la, seja em qualquer circunstância.
Ayla assentiu com um sorriso breve e se sentou na cadeira destinada a ela. — Agradeço a paciência. Não quis adiar este encontro, pois o que temos a discutir é de extrema importância. — Sua voz tornou-se mais firme. — Primeiro de tudo, esqueçam o acordo com o Norte. Não haverá templos da deusa da neve construídos por lá. No lugar, ergueremos templos em adoração a Brighid.
A declaração caiu sobre os sacerdotes como uma guilhotina em seus pescoços.
Olhares confusos e furiosos foram trocados entre eles.
— O que isso significa? — rugiu o sacerdote mais velho, o rosto tomado por indignação. — Vossa Majestade já havia concordado! Temos um acordo com o rei!
Outro sacerdote, igualmente exasperado, interveio. — Isso é um ultraje! Ele detém a autoridade sobre este reino!
Ayla, visivelmente impassível, bocejou com indiferença, coçando levemente a bochecha. — Preciso descansar em breve — disse, relaxando na cadeira. — Mas antes, saibam que o rei infiltrou um espião entre vocês, com a intenção de sabotar a Igreja da Deusa da Neve por dentro.
O choque percorreu a sala como um relâmpago. Os sacerdotes ficaram estáticos.
— Provavelmente essa tática funcionaria — continuou ela, o tom calmo, quase casual. — Mas levaria tempo demais. Meu marido tem um bom coração, e vocês ainda respiram porque ele quis assim. Mas ele está fora da cidade, e eu voltei.
O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de medo e incredulidade. Cada sacerdote tentava processar as implicações das palavras da rainha, mas o impacto era imensurável.
— Como ousa… — começou o sacerdote mais velho, mas sua voz se apagou diante do olhar cortante que Ayla lhe lançou.
Ela se inclinou para frente, os cabelos brancos caindo levemente sobre o rosto. — Como ousam questionar minhas decisões? — Sua voz era carregada de uma autoridade inabalável. — A lealdade de vocês deve ser com o reino e seu povo, não com acordos obscuros que só servem para nos enfraquecer.
Os sacerdotes se entreolharam, o medo tomando o lugar da confusão. Após seu casamento com Colin, desafiar Ayla em público era arriscar-se à morte, como tantos outros ousados que já haviam feito e caído.
Uma Ayla que parecia ter sido transformada por circunstâncias desconhecidas era algo que nenhum deles poderia ter previsto depois de apoiar tão abertamente o matrimônio.
— Eu esperava mais sabedoria de vocês, mas vejo que estava enganada — disse Ayla, sua voz fria como o inverno mais rigoroso. — Embora meu marido governe, sou eu quem comanda aqui. E o que eu decido, será feito.
Ela se recostou na cadeira, os olhos observando cada um dos sacerdotes. A tensão na sala era palpável, e alguns mal conseguiam disfarçar o tremor nas mãos. Lentamente, um sorriso se formou nos lábios de Ayla, mas seus olhos permaneciam gélidos e distantes.
— É assim que eu queria vê-los: submissos, calados. — Sua voz, embora baixa, carregava uma autoridade esmagadora. — Se tivessem me obedecido desde o início, muitos problemas poderiam ter sido evitados.
Os sacerdotes permaneceram em um silêncio, suas mentes aceleradas, lutando para acompanhar a rapidez com que a situação havia se transformado.
— Agora — continuou Ayla, levantando-se com uma postura imponente —, as coisas serão feitas à minha maneira. A primeira ordem é simples: vocês renunciarão a qualquer lealdade ao acordo anterior e irão fortalecer a adoração a Brighid. Qualquer hesitação ou traição, e as consequências serão… fatais.
Ela caminhou em direção à porta, seus passos lentos e calculados. Ao alcançar a grande porta de madeira entalhada, parou de repente, o silêncio que se seguiu foi tão profundo que cada respiração parecia um rugido. Sem se virar, sua voz cortou o ar como uma lâmina afiada:
— Eu sei que os nobres falam com vocês em segredo.
A declaração pairou no ar, como uma espada suspensa sobre suas cabeças.
Lentamente, Ayla se virou, seu olhar afiado pousando sobre o sacerdote mais jovem, um rapaz cuja fé agora era manchada pelo medo. O suor escorria por sua testa enquanto ele lutava para encontrar palavras.
— O que exatamente eles disseram? — ela perguntou.
O jovem sacerdote tremia visivelmente, sua voz mal passava de um sussurro fraco, como se cada palavra lhe custasse uma parte da alma. — Eles estão insatisfeitos… — gaguejou ele. — Esperavam que os templos fossem construídos e que a igreja da deusa da neve se tornasse maior que o próprio rei Colin. Queriam… usá-la para assumir Runyra.
Ayla balançou a cabeça devagar, uma expressão de desapontamento nublando seu rosto. Não era surpresa, mas a confirmação de algo que ela já suspeitava.
— Usar a fé como arma para derrubar o trono… — murmurou ela. Ela encarou o jovem sacerdote e os outros, cada um encolhido sob o peso de sua decepção. — Continuam brincando com o fogo da ambição e, mais uma vez, estão prestes a se queimar. Vocês nunca aprendem.
O medo enraizou no coração dos sacerdotes.
— Saibam disto — disse Ayla, sua voz endurecendo enquanto percorria o olhar sobre os presentes. — Qualquer um que trame contra a coroa, que ousar conspirar contra o reino, terá um fim rápido. Jane, consegue replicar os corpos de todos esses sacerdotes e controlá-los?
Os sacerdotes trocaram olhares confusos, perguntando-se com quem Ayla falava. Então, um dos sacerdotes sorriu de maneira estranha, quase sedutora, revelando-se como Jane.
— Consigo — respondeu Jane, sua voz melíflua. — Mas quero algo em troca. O braço do nosso Colinzinho.
— Para quê? — questionou Ayla, franzindo a testa.
— Segredo meu. Não se preocupe, nada que vá prejudicar nosso querido Colin.
Ayla deu de ombros, indiferente. — Tudo bem — disse, alongando as costas e suspirando. — Faz tempo que não me exercito.
Faíscas começaram a dançar ao redor de seu corpo. Em um movimento quase imperceptível, ela se deslocou com agilidade sobrenatural, surgindo atrás do sacerdote mais velho.
Cabrum!
Com uma força avassaladora, Ayla esmagou a cabeça do sacerdote contra a mesa de pedra, o impacto brutal espalhou fragmentos de osso e miolos por toda a superfície da mesa e pelas vestes dos que estavam mais próximos.
O choque tomou conta da sala e o terror se instalou imediatamente.
Os outros sacerdotes, tomados pelo pânico, se levantaram em um movimento frenético, correndo em direção à porta numa tentativa desesperada de fugir do mesmo destino horrendo.
No entanto, Ayla, com uma velocidade assustadora, apareceu diante do sacerdote mais próximo da saída.
Com um movimento letal, ela desferiu uma cotovelada certeira em seu peito, perfurando-o completamente e deixando um buraco grotesco através de seu corpo.
Crunch!
Percebendo que a fuga não era uma opção, alguns dos sacerdotes restantes tentavam uma última resistência, recorrendo a suas magias em uma tentativa desesperada de confronto.
No entanto, Ayla, implacável, atacou novamente com precisão cirúrgica.
Crunch! Crunch!
Ela atingiu dois dos sacerdotes simultaneamente no queixo, com golpes que quebraram seus pescoços instantaneamente, silenciando-os para sempre.
Não satisfeita, Ayla executa outro movimento com a mesma agilidade e força esmagadora. Com um chute poderoso, ela divide um dos sacerdotes ao meio.
Cabrum!
Por fim, ela confrontou o último adversário, terminando o confronto com um soco que atravessou o estômago do homem, deixando um buraco aberto e fatal.
Suspirando, ela alisou o cabelo ensanguentado para trás.
— Eu tinha me esquecido do quão bom isso é. — Encarou Jane, sentada na mesa com um sorriso sedutor. — Não deixe um pingo de sangue aqui, se precisar, lamba até o teto.
— Claro, senhora — zombou Jane. — Mais alguma coisa?
— Você tem um mês para ser feita a conversão completa.
Jane assentiu. — Foi só Colinzinho voltar a dormir com você que voltou ao normal, né?
— Um mês, Jane, começando a partir de hoje. Se me der licença, preciso de um banho.
A rainha deixou a sala e Jane lambeu os beiços, vendo tantos corpos para devorar.