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O Colin caminhava pelos corredores da grande catedral com passos firmes e decididos. Ele vestia-se casualmente como gostava. Camisa escura e justa de mangas longas, calças e botas.

Estava com os punhos cerrados e parecia irritado com algo.

Ele se aproximou de uma porta de madeira, que estava fechada e guardada por dois sacerdotes. Colin ordenou que eles abrissem a porta, e eles obedeceram prontamente.

Adentrou a sala, onde o alto clero da igreja da deusa da neve o esperava. Eles estavam sentados em uma mesa redonda, vestidos com túnicas brancas e capuzes. Eles pareciam irados, mas também temerosos. Sabiam que o rei Colin havia ameaçado um sacerdote, quando ele o confrontou por ter duas esposas regentes, e uma delas não era da religião da deusa da neve, e sim adorada como santa de outra religião.

Eles sabiam que o rei Colin não tolerava nenhuma oposição, e que ele tinha um histórico extenso de feitos assustadores.

Colin olhou para os clérigos com um olhar frio e penetrante. Ele se sentou na cadeira vazia, que era a mais alta e a mais central, e disse com uma voz grave e poderosa:

— Vim para ouvir o que vocês têm a dizer. Mas saibam que eu não mudarei minha decisão. Não me importo com a religião delas, nem com a opinião de vocês. Eu sou o rei, e a minha vontade é a lei. Se vocês tentarem me desafiar, desrespeitar, ou me ameaçar, vocês irão se arrepender.

Os clérigos ficaram em silêncio e trocaram olhares, esperando que alguém tomasse a iniciativa de falar.

— Majestade, nós aceitamos a sua decisão, mas nós não ficaremos de mãos vazias — disse outro clérigo, que era o mais ambicioso e o mais astuto entre eles. — Queremos um pedaço de terra no norte, onde possamos construir o maior templo do continente, em honra à deusa da neve. E nós queremos que o senhor banque os custos e a mão de obra, como uma demonstração de sua generosidade e de sua devoção.

— Um templo? — perguntou o rei Colin, com um ar de surpresa. — Para quê? Vocês já têm tantos templos, tantas capelas, tantas catedrais. Tem tanto dinheiro e tanto poder quanto os nobres. Vocês já têm tudo.

— Um templo é mais do que uma construção, Majestade — respondeu o clérigo, com um tom de convicção. — Um templo é um símbolo, um sinal, uma mensagem. Esse templo representará a glória da deusa da neve, e será uma forma de conseguirmos mais devotos, mais fiéis.

Colin alisou o queixo, pensando no que poderia tirar disso.

— Hum, eu entendo — disse Colin, com um sorriso malicioso. — Mas eu também tenho as minhas condições. Concordo em entregar o pedaço de terra e em pagar pelo templo, se vocês me apoiarem inteiramente.

Eles cruzaram olhares mutuamente.

— Apoiar… inteiramente…?

— Não podem se opor a nada do que eu fizer, nem questionarem nada do que eu disser, e não duvidarem nada do que eu ordenar. Também há outra condição. Quero que Ayla seja nomeada uma sacerdotisa da deusa da neve.

— O quê? — exclamaram os clérigos, com um misto de choque e de indignação.

— Ayla? Com todo respeito, senhor, mas ela divide o seu leito com outra mulher. Qual outro mérito que a rainha tem que não seja ser sua mulher?

— É engraçado como vocês têm memória curta, né? Ela mandou construir vilas inteiras para abrigar os refugiados, e não cobrou nada por isso. E nem preciso mencionar a caridade que ela faz para vocês cuidarem das crianças e enfermos.

Eles coçaram a ponta do nariz e desviaram o olhar.

— Ela vai dar à luz em breve, e eu admiro que ela tenha decidido ajudar tantas pessoas por conta própria, a principal influência foi a igreja da deusa da neve. A mensagem é boa, mas vocês, os mensageiros, são asquerosos como qualquer outra pessoa.

Os clérigos se calaram e se entreolharam. Brigar contra Colin seria cansativo, e pessoas poderiam até mesmo morrer. Seria sábio ceder às vontades dele, encarar sua vinda como um verdadeiro presente da deusa e seus filhos como uma benção ao novo mundo.

— Acho que é um consenso que, antes do senhor tomar rédea das coisas, parte do continente era caótico — disse um dos sacerdotes. — A morte sempre foi uma constante, seja de homens comuns e guerreiros, e a violência desse mundo sempre respingou nos mais frágeis, como crianças e mulheres. Era comum uma mulher que perdeu o marido acabar se submetendo a outro homem que já tinha esposa, isso era para proteger a si mesma e sua prole. Admito que ainda é uma prática comum em muitas partes, inclusive os Elfos da Floresta a têm, certo? Um caso de sobrevivência da espécie…

Outro sacerdote o interrompeu.

— Com a sua chegada, nós retornamos à civilidade. Com a paz retornando, acreditamos que os velhos costumes retornarão. Não nos entenda errado, senhor, nós o respeitamos, mas estão chegando novos tempos. Queremos ser mais civilizados…

— Está bem, majestade, nós aceitamos o seu pedido — disse o clérigo mais velho, com uma voz resignada. — Nomearemos Ayla, uma sacerdotisa da deusa da neve, e nós a respeitaremos como tal. Mas pedimos que o senhor também respeite a nossa religião e que não interfira nos nossos assuntos. Pedimos que o senhor também honre a deusa da neve, que venha à missa ao menos uma vez por semana. Também pedimos que o senhor proteja a nossa igreja como um pai protege um filho.

Colin assentiu.

Com o passar do tempo, ele aprendeu a tirar vantagem de cada situação em que se metia. Ele gostava de colecionar inimigos, quanto mais gente poderosa querendo sua cabeça, mais excitante aquilo se tornava, porém, havia vezes que ele relevava.

Ser aliado de uma instituição tão poderosa poderia ser vantajoso. 

— Está bem, eu concordo com os seus termos — disse Colin com uma voz satisfeita. — Respeitarei a sua religião, honrarei a sua deusa e protegerei a sua igreja. Mas espero que vocês façam o mesmo por mim e pelo meu reino. Espero que vocês sejam leais, fiéis e obedientes.

— Nós seremos, majestade, nós seremos — disseram os clérigos, com uma voz submissa. — O senhor terá todo o nosso apoio, confiança e devoção, mas não extrapole, majestade. Quanto mais absurdas forem suas decisões, mais difícil será convencer os fiéis sobre elas.

— Muito bem, então temos um acordo — disse Colin, com uma voz triunfante. — E agora, vamos selá-lo com um aperto de mãos e com um brinde. Ao longo dos dias, dirão aos fiéis que a deusa da neve os visitou em um sonho, permitindo que Ayla ascendesse como sacerdotisa e, com Brighid, se submetessem ao seu marido, o homem que os guiava para um tempo de paz nunca visto antes.

Eles se entreolharam.

— Sim, vamos fazer isso — disseram os clérigos, com uma voz resignada. — Que a deusa da neve nos perdoe, nos salve e nos ilumine.

E assim, Colin e os clérigos apertaram as mãos, selando o acordo.


Após um dia exaustivo, Colin adentrou o grandioso palácio, seus passos ecoando pelas escadarias de mármore. Ao empurrar a porta entalhada, uma cena de aconchego o surpreendeu: seus três bebês, serenos em seus berços dourados, e suas duas amadas esposas, Ayla e Brighid, que o aguardavam com um sorriso.

Inesperadamente, o silêncio foi quebrado.

— Papai!

Os pequenos, transbordando alegria, lançaram-se em seus braços. Risadas e exclamações de felicidade preencheram o ar enquanto Colin, com um sorriso cansado, acolhia cada um em um abraço caloroso.

— Crianças, deixem o pai de vocês se sentar. — Ayla interveio com doçura.

Colin ergueu-se, distribuindo beijos ternos nas testas de suas esposas, antes de se dirigir à mesa iluminada por orbes mágicas.

O banquete era um espetáculo: frutas exóticas, pães recém-assados, queijos raros, carnes suculentas, saladas frescas, bolos intricados e doces que perfumavam o ar.

Brighid, com um gesto elegante, serviu-lhe um prato farto e verteu vinho aromático em sua taça.

— Pai, pai, tenho novidades incríveis! — Brey exclamou, os olhos brilhando. — Estou dominando a língua élfica! E estou até melhor que Nailah!

— Isso é mentira! — Nailah protestou, com um bico teimoso.

— Olha, eu posso dizer ‘eu te amo’ em élfico: ‘amin mela lle’.

— Impressionante… você me ensina depois? — Colin respondeu, o orgulho transparecendo em sua voz.

— Claro, pai!

— Pai, ela está enganando você, fui eu quem lhe ensinou! — Nailah insistiu.

— Não foi, não!

— Que tal as duas me ensinarem, então?

As irmãs trocaram olhares cúmplices, concordando relutantemente.

— E nós, pai, Meg e eu, estamos nos aperfeiçoando na arte da esgrima! — Tobi interveio, mal contendo o entusiasmo. — Praticamos todos os dias com o mestre Aron, e ele acredita que temos um talento nato! Veja nossas espadas, são autênticas!

— Tobi, por favor, não à mesa! — Brighid repreendeu com suavidade.

— Desculpe…

— Ei… — Colin interrompeu, um sorriso se formando. — Amanhã vocês me mostram o que aprenderam, tudo bem?

Com olhos brilhando de antecipação, ambos assentiram.

Enquanto o banquete real prosseguia, Gorred e Bill, com olhos cintilantes de curiosidade.

— Pai, já viu as areias douradas de Caliman? — indagaram. — Nós lemos todos os livros da biblioteca sobre esse reino e ele parece ser incrível! Tem de areia, magos, tesouros e aventuras! E tem o Hamald, ele disse que é de lá!

Hamald, o herdeiro de Caliman, sentia o peso do olhar dos outros, sua face corada pela timidez.

— Sério? — Colin, partindo o frango com gestos pensativos, inquiriu. — E como é esse lugar de lendas?

— Bem… é um pouco quente, mas é um bom lugar… — murmurou Hamald, a voz trêmula.

— Nunca pisei em Caliman — confessou Colin com um sorriso que prometia aventuras. — Quem sabe um dia não vamos todos nós? Uma viagem em família, o que acham?

Os olhos dos pequenos faiscaram com a possibilidade.

— Sério, pai?

Brey, com um beicinho teimoso, expressou seu desdém.

— Não suporto o calor. Meu rosto fica suando e não consigo dormir direito.

Nailah, com uma risada, provocou a irmã. — Você nunca gosta de nada mesmo…

— Ei, isso não é verdade!

A conversa entre as crianças se tornou um redemoinho de vozes e risadas, um coro de felicidade que preenchia o salão.

Colin, com um sorriso que refletia seu orgulho, absorvia cada palavra, cada riso. A alegria contagiante transformando aquele recinto num momento único e acolhedor.

Ele observou Brighid e Ayla, imersas numa conversa sobre maternidade, e sentiu-se pleno.

Não havia memórias concretas sobre seus dias com seus pais em jantares como aquele, e sua família era pequena, bem diferente da que tinha agora.

Os aniversários daquelas crianças não seriam solitários como os dele, e o tédio dificilmente invadiria aquele palácio. Ele pensou em seu pai, e não entendeu como um pai não conseguiria amar um filho, era loucura. 

Uma família calorosa, um lar amoroso, ele daria isso para essas crianças.

Pela primeira vez, Colin sentiu vontade de chorar, mas de alegria. Mantendo-se firme, ele se segurou.

Seu único desejo era que aquele momento durasse para sempre.

— Pessoal, eu quero dizer algo para vocês — disse ele, chamando a atenção de todos. — Sabe, três anos atrás, todos estávamos enfrentando situações difíceis, e às vezes parece que nunca vamos conseguir sair da lama em que estamos atolados, mas olha onde chegamos hoje, três anos depois.

Colin estava falando com o coração.

— Quero que vocês saibam que eu sou o homem mais feliz do mundo por ter vocês na minha vida, mesmo aqueles que chegaram depois, não serão tratados com hostilidade. Sei muito bem o que é precisar de ajuda para sair do buraco e não ter ninguém lá para estender a mão, mas isso não acontecerá aqui, não com essa família.

Ele olhou para suas esposas.

— Brighid, Ayla, vocês são as minhas rainhas, as minhas companheiras, as minhas melhores amigas. Sei que às vezes posso não ser o melhor marido do mundo, mas vocês são tudo para mim. Amo vocês mais do que as palavras podem dizer.

Ele olhou para os seus filhos.

— Quero que vocês saibam que eu sempre estarei aqui para vocês, não importa o que aconteça. Eu sou seu pai, o seu amigo, protetor. Nem todos partilhamos o mesmo sangue, mas estarei aqui sempre que precisarem de mim, nos momentos bons e nos ruins. Eu nunca vou abandonar vocês, nunca!

Ele sorriu para eles, um sorriso cheio de amor, de orgulho, de felicidade.

— Não se esqueçam de que, no fim, nós só podemos contar um com o outro. Somos uma família, cuidamos um do outro, e nada nem ninguém vai nos separar. Nós somos um, e sempre seremos.

Ele abriu os braços, convidando-os para um abraço coletivo. Eles se juntaram a ele, formando um círculo de amor, de união.

Com Colin no palácio, eles se sentiram seguros, protegidos, amados. Eles se sentiram em casa.

— Eu vou ficar — Sua voz ressoou com convicção. — Vou ficar para ver o nascimento dos meus filhos, cuidar das crianças.

Ayla, com uma expressão de preocupação suavizada pela luz das velas, questionou-o. — Tem certeza? Não há necessidade se não for seu desejo…

— Tenho. Hoje percebi uma coisa, eu não sou o meu pai ou Drez’gan, e isso é ótimo. Eu quis desfazer essa minha humanidade, mas ainda bem que não consigo. Eles nunca vão ter isso que tenho, esse carinho, esse calor.

Eles se afastaram e retornaram aos seus lugares.

— Papai! — Nailah chamou com entusiasmo. — Pode nos levar para comprar vestidos amanhã?

— Ele vai treinar comigo! — Tobi interveio, com um olhar desafiador.

Brey, em um gesto travesso, mostrou a língua para Tobi, que prontamente retribuiu a provocação.

Brighid, com as mãos entrelaçadas às de Colin, ofereceu-lhe um sorriso de canto, repleto de admiração.

— Estou orgulhosa de você.

Colin, com a postura de um líder nato, proferiu suas palavras finais, carregadas de promessa:

— Quando acabarmos com Coen e Drez’gan poderemos viver em paz, criar as crianças. Gorred disse que eu era um erro, então acho que tenho chance de vencer o Lithium, de vencer o meu destino.


Obs: Fiquem com essa Fanart do Colin feito pelo Wolf, o mesmo artista que fez a capa da Novel:

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Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

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