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Capítulo 48: O Começo Do Fim

Costelas quebradas mais de vinte vezes, braços quebrados mais de quinze vezes, crânio rachado mais de doze vezes, maxilar quebrado mais de nove vezes, fêmur quebrado trinta e duas vezes, e o número de derrota soma mais de cinquenta.

Essa era a estatística de Colin em relação a sua companheira de treino, que no máximo havia conseguido suar uma única vez durante o treino.

Lina continuava ao longe, sentada debaixo da sombra de uma árvore, observando atenta cada movimento dos dois. Mesmo Colin não tendo conseguido derrotar Eilika uma única vez, ele já estava começando a se adaptar aos movimentos rápidos dela, mas Eilika era tão inteligente quanto Colin quando o assunto era batalha.

Colin tinha uma vantagem que ficava mais evidente a cada vez que era derrotado e curado. Seu corpo se tornava mais resistente.

A cada confronto, os golpes de Eilika tinham que ser mais fortes para nocauteá-lo.

Essa era uma das vantagens de se pertencer à árvore da pujança.

“Vamos ver como está se saindo, pirralho”.

As estatísticas de Colin apareceram para Lina, e ela arregalou os olhos.

Status
Nome: Colin
Idade: 23

 Árvore primária: Céu. Nível: 03.
Árvore secundária: Pujança. Nível: 05.
Árvore secundária: Caos. Nível: Bloqueada.

HP: 9100.
MP: 1400.

Habilidades:

Força: 48
Destreza: 40
Agilidade: 50
Inteligência: 32
Estamina: 94

250 pontos em pujança, pontos necessários para o nível 6: 350 pontos.
530 pontos primária, pontos necessários para o nível 4: 70 pontos.

O mais surpreendente, é ele ter conseguido subir um nível em algumas horas. Lina não conseguiu conter o sorriso, e se concentrou na luta dos dois.

Eilika estava concentrando uma quantidade absurda de mana nos punhos. Ela golpeou Colin no rosto duas vezes. Colin  sentiu para valer aquele golpe, mas após ser socado tantas vezes, ele estava se acostumando aos punhos pesados de Eilika.

Após bambear um pouco, Colin recuou enquanto cerrava seus punhos. Ele queria golpear Eilika com tudo.

Com a análise, a garota camundongo achava bem fácil acompanhar o fluxo de mana que passava pelo corpo de Colin, então, ligeiramente, deixou de concentrar mana em suas mãos e focou exclusivamente em sua perna direita. Antes que Colin pudesse reagir, ela saltou e girou o quadril, atingindo o ombro de Colin com um poderoso pontapé.

Bam!

Aquele foi um baita golpe.

Colin capotou, rolou até transpassar uma árvore e parar a metros de distância.

Eilika sentiu uma fisgada na canela e caiu sentada. Ao olhar para baixo, percebeu estar inchada.

— Impressionante… — murmurou Lina atenta a todo o movimento de Colin.

“Ele também estava usando a análise, no momento que teve certeza que iria ser atingido no ombro, conseguiu concentrar parte da sua mana no ombro e amaciar o impacto. Ele é da árvore da pujança, então, após concentrar mana para se defender, foi como se seu corpo fosse feito de aço puro. Eilika deve ter sentido essa.”

Lina suspirou e se ergueu.

— Muito bem, chega por hoje.

Colin se levantou sem ferimento algum.

— Você tá bem? — perguntou Lina se aproximando de Eilika.

Eilika suava frio, enquanto tentava aguentar a dor.

Arrg! Acho que está quebrada!

— Você tem que dar créditos a ele. O garoto lutou bem desta vez.

Julia se aproximou e esticou as mãos curando a canela da pandoriana.

— Esse cara é assustador. — disse a pandoriana se erguendo — Senti isso enquanto lutava com ele. O corpo dele estava se acostumando aos meus golpes, então… acho que exagerei no final… desculpa, senhora, saí de controle.

Lina abanou uma das mãos.

— Tudo bem, eu também sairia de controle se meu oponente não caísse depois de dois murros daquele.

Mesmo inteiro, Colin sentia seu corpo latejar, quase como se vibrasse. A quebra e recuperação de dezenas de ossos fez seu corpo suplicar por uma pausa.

— Caramba, parece que fui atropelado por um ônibus.

Ambas cruzaram olhares.

— O que é um ônibus? — perguntou Lina.

Era difícil de se explicar, e mais difícil ainda seria Colin contar pertencer a outro mundo completamente diferente.

— Não é nada. Ônibus é o nome que eu e minha mãe, demos para carruagem… uma brincadeira nossa… sabe…

— Sei… — Lina fez uma posição de mãos e a dimensão se desfez em partículas minúsculas que se pareciam com pequenas borboletas se desmanchando no ar.

Lá estavam eles de volta ao quarto.

— Se eu fosse você, descansava um pouco — disse Lina — Planeja partir logo, não é? Um cochilo de algumas horas deve deixar você com força total. Não treinamos muito tempo, mas acho que foi o suficiente para você aprender alguma coisa.

— Aprendi. — Colin pegou a blusa no chão e a vestiu.

— Preciso de um banho! — disse Eilika cheirando as axilas.

— E eu estou exausta, vou dormir o dia inteiro. — disse Julia alisando os ombros.

As duas deixaram o quarto, e no momento que Colin foi sair, Lina chamou seu nome. Colin parou na porta e se virou para encará-la.

— O quê? — indagou Colin.

Lina terminou de vestir a camisa e soltou o cabelo, colocando mexas atrás da orelha.

— Essa tatuagem… o que é isso?

Ele olhou para o braço e deu de ombros.

— Não é nada, coisa da minha tribo. Eles fazem isso em guerreiros promissores.

Ela desconfiou franzindo o cenho.

— Tem certeza? É que eu nunca vi nada assim antes.

— Tenho certeza. Se me der licença, preciso de um tempo sozinho. Estou cansado e tenho que fazer uma longa viagem em breve.

Ah… Claro…

Colin teve a chance de dizer que aquilo era algo relacionado aos errantes, mas ele ainda não confiava em Lina, mesmo depois de Lina ter o ajudado a treinar.

Colin foi pro corredor e enfiou as mãos no bolso enquanto estava pensativo.

Mesmo que fosse por um instante, ele conseguiu controlar bem sua mana. Seu reflexo anormal lhe deu certa vantagem. A velocidade permitia que ele enxergasse a passagem do fluxo de mana, mas demorou para que ele pegasse o ritmo de Eilika, já que ela fazia isso com uma precisão surreal.

Indo para seu quarto, Colin o encontrou vazio e silencioso sem as crianças por perto. Ele já havia se acostumado com a bagunça e até estava gostando disso.

Colocando as mãos atrás da cabeça, ele se jogou na cama e começou a pensar nos seus amigos que deixou na capital. Logo faria dez dias que eles não se viam, e neste mundo não havia mensagens de texto ou redes sociais.

Colin não tinha ideia de como eles estavam, e uma parte dele sentia saudade. Mesmo viajando algumas semanas com Safira e Brighid, ele não passou nem metade dos perigos com elas do que passou nesta missão que se tornava cada vez mais longa e perigosa.

Ele queria levar as crianças com ele para a capital, mas não teria como colocar todas em seu alojamento. Talvez ele as levasse para um orfanato da capital, e provavelmente elas conseguiriam uma família que as tratasse bem, elas mereciam isso.

Tirando uma das mãos da cabeça, Colin começou a fitar sua palma. Recordou-se do que aquele demônio e o vampiro o chamaram.

“Errante… o que significa isso?”

Toc! Toc!

Ele virou a cabeça em direção a porta e viu Meg de pé, escondendo atrás da porta.

— Meg… pode entrar.

Ela abriu a porta e a fechou assim que entrou.

Diferente da emporcalhada de antes, Meg estava com o cabelo castanho escuro bem escovado. Ela cheirava a lavanda, tinha duas presilhas em cada lado do cabelo e usava uma blusa de manga longa preta com um macacão marrom por cima e, em seus pés, estava uma bota preta.

Meg ficou em pé mexendo nos dedos enquanto encarava Colin. Ele se sentou na cama e ergueu as sobrancelhas, esperando Meg dizer alguma coisa.

— Tudo bem? — Ele indagou.

Ah, sim…

Outro silêncio.

— Você é tagarela — disse Colin — O que está te incomodando?

Meg se aproximou de Colin e sentou na cama ao seu lado. Os olhos dela focaram no soalho de madeira, então ela ergueu a cabeça, olhando no fundo dos olhos de Colin.

Os olhos de Meg eram hipnotizantes, pareciam enxergar o fundo da alma de Colin, e em um dos raros momentos, foi ele quem desviou o olhar.

— Senhor… — disse ela — Meu irmão disse que Melyssa e Brey estão bem, mas eu não sei… — Ela colocou a mão do lado esquerdo do peito — Quando meu pai e minha mãe ficaram doentes, eu me senti da mesma forma que estou me sentindo agora. — Meg abaixou a cabeça e encarou o soalho pensativa — Ouvi aquela moça cavalo conversando com aquela moça bonita de cabelo preto… elas disseram que o senhor vai sozinho resgatar Melyssa e Brey… — Meg franziu os lábios — Eu as quero de volta, mas não quero que o senhor se machuque. Potter e eu não podemos fazer nada, nem defender os outros a gente consegue… então…

Meg era só uma criança, e mesmo assim tratava toda a situação de maneira madura. Ela e Potter eram os mais velhos, e talvez por isso o senso de responsabilidade de ambos era elevado. Meg só queria que tudo voltasse a ser como era antes dos vampiros atacarem. Depois de muito tempo, sentia estar aproveitando de fato o que era ter uma família, um teto, cama quente, segurança e o mais importante, amor.

— Você está pensando demais, devia ficar com os outros garotos.

Meg fez que não.

— Eu não quero… Tobi e Bill estão bem quietos, e meu irmão mal fala comigo… acho que eles estão tristes também…

— Eles só estão preocupados. — Colin bocejou.

Meg notou que as olheiras de Colin estavam maiores que o normal. Ao observar melhor, notou que Colin estava um pouco abatido, como se tivesse realizado uma longa bateria de exercícios.

— O senhor quer que eu saia?

Colin fez que não.

— Tudo bem, não estou com sono, só um pouco cansado. Você veio aqui porque se sente sozinha, né?! Quer conversar?

Meg desviou o olhar e fez que sim com a cabeça.

— Sim…

— Então vamos fazer isso, mas prefiro fazer deitado.

— Tá…

Depois de mais um bocejo, Colin se deitou e Meg engatinhou na cama até deitar-se ao seu lado.

— E então, do que quer conversar? — ele perguntou.

Meg não tinha ideia. Ela não conversava muito com adultos, apesar de ser uma tagarela. Muitas coisas passavam por sua cabeça, ela tinha dúvidas sobre Colin, apesar de ser cuidada por ele, mal o conhecia.

— Senhor… você é um pouco diferente das outras pessoas do ducado, de onde o senhor veio?

Aquela era uma pergunta que tinha muitas respostas, mas Colin decidiu simplificar.

— Vim de um lugar longe, muito longe.

— Como outro continente?

— É, quase isso.

Os olhos de Meg brilharam de curiosidade.

— E como é lá?

— É um bom lugar, mas não era um bom lugar para mim.

— Por quê?

Colin deu de ombros.

— Muitas coisas aconteceram, assim como vocês, também perdi meus pais, minha namorada me abandonou e eu só conversava com meus amigos pela internet.

Meg ergueu uma das sobrancelhas.

Internet? O que é isso?

— É como se conversássemos só por cartas, mas as mensagens eram instantâneas.

— Parece chato…

— Parece, mas era o que me afastava um pouco do tédio.

— E sua namorada? — perguntou empolgada — Ela era bonita?

Hm, eu achava, mas hoje não acho tanto assim.

— Por que ela largou o senhor?

— Minha mãe havia falecido devido a uma doença, e eu fiquei muito mal. Ela só não tinha saco para cuidar de mim quando eu mais precisei, então, ela encontrou o conforto que quis sempre nos braços de outro homem mais abastado, enquanto fui deixado para trás.

Meg refletiu um pouco em silêncio.

— O senhor deve ter sofrido muito…

— Um pouco, mas conheci pessoas legais, conheci você e as outras crianças e a gente se divertiu. Valeu a pena.

Meg se sentou na cama e encarou Colin deitado. Ela franziu os lábios e pareceu hesitar com algo. Ela desviou o olhar e perguntou:

— O senhor não vai abandonar a gente, vai? — Ela encarava Colin com aqueles olhos de dar pena — Sei que os meninos estão sempre fazendo bagunça e eu estou sempre falando muito, mas…

Colin esticou o braço e tocou com o indicador na testa de Meg.

— Eu não vou deixar vocês, não precisa se preocupar. Resgatarei Melyssa e Brey e a gente vai para capital, todos nós.

— Sério?! — indagou bastante surpresa. Conhecer a capital era o sonho de todo camponês, afinal, lá era o coração do grande império de Ultan.

— Claro! O que acha de falarmos um pouco de coisas alegres? Me conta sobre você, sobre coisas que a deixaram feliz.

Meg olhou para cima, tentando puxar algo da memória, então se lembrou da vez que sua mãe a levou para uma feira de anões. Ela nunca havia visto tantas engenhocas em toda sua vida.

Não demorou muito para que ela começasse a falar com a maior empolgação do mundo de como foi aquele dia, e ela não parou por aí, emendou um assunto no outro sem qualquer pausa. Colin nada disse, apenas ouviu enquanto ambos sorriam um pro outro nos momentos que Meg ficava empolgada contando algum caso.

O tempo se passou e Meg começou a ouvir um ronco baixinho. Ela se sentou na cama e viu que Colin estava completamente apagado. A pequena desceu da cama, foi até o canto do quarto abrindo o guarda-roupa e pegando um cobertor.

Meg jogou o cobertor em cima da cama e subiu na mesma. Ficou de pé e cobriu Colin com cuidado.

Desceu da cama e foi para a porta, dando uma última olhada em Colin antes de sair. Ela estava acostumada a cuidar das crianças mais novas. Colin havia feito tanto por ela, que Meg sabia que aquele gesto simples nunca pagaria, mas a relação de Colin e das crianças era de ajuda mútua, e ela seria útil onde precisassem dela.

— Durma bem, senhor Colin.

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Uma mesa extensa de madeira estava fedendo a sangue com diversos membros espalhados por toda sua extensão. A elite dos vampiros aproveitava o banquete assiduamente, devorando tudo que estava pelo seu caminho, deixando somente os ossos. Os vampiros não só se alimentavam de sangue, mas também tinha um grande apreço pela carne humana como os carniçais.

Na ponta da mesa, Nostradamus continuava em silêncio, pensando em algumas coisas referentes a seu grande plano de destruir Ultan da noite pro dia.

Refletindo, chegou à conclusão que seu exército não era experiente, ele ganhava apenas em números. Depois de seu encontro com Lina, percebeu que talvez suas chances de tomar o império pudessem ser frustradas se mais gente forte como ela aparecesse.

Um líder de Guilda como ela valia por no mínimo 20 mil soldados comuns. Os líderes de clãs, que eram agora seus generais, poderiam adiantar de algo, mas mesmo assim, ele não tinha certeza.

— Veron! — Nostradamus chamou um de seus generais. — Qual o nível de restrição imposta ao banimento do lorde Nosferatu Alucard.

Veron engoliu um pedaço de uma mão e limpou os lábios ensanguentados com as costas da mão.

— Por que isso interessa a você?

— Acho que sei como trazê-lo de volta.

Todos os vampiros pararam de comer e focaram seus olhos em Nostradamus.

— Como planeja fazer isso? Ele foi banido por um caído, é impossível trazê-lo de volta.

— Seria, mas conheço uma forma.

Veron desta vez pegou o pedaço da coxa de uma mulher e o mordeu arrancando um bom pedaço.

Há! — disse Veron de boca cheia — Não me diga que você teve trabalho em reunir todos os sete clãs para ficar de piadinhas. Quebrar uma restrição daquele nível iria custar milhares de vidas, não, talvez milhões. E como sacrificaremos milhões de humanos? Poderia acontecer, mas teríamos que ter controlado todo continente, poupar as mulheres e parte dos homens, e então focarmos em fazendas de reprodução. Isso, considerando que as mulheres humanas tem um tempo de gestação de 9 meses. Demoraria anos, já que precisaríamos alimentar os humanos e cuidar deles até que tivesse um número considerável. Seria recurso desperdiçado em algo que nem sabemos se funcionará de fato.

— É uma boa teoria — disse Nostradamus — Mas tenho um plano melhor. Encontrei um errante na minha última incursão naquele vilarejo.

Mais uma vez, eles haviam focado sua atenção em Nostradamus.

— Achei que estivessem extintos. — Comentou outro vampiro.

— Ainda existem alguns deles — disse Veron — Mas o número não deve passar de vinte. O errante que você encontrou, é de qual classe?
— Não tenho certeza ainda, mas se ele for de classe especial, então ele pode quebrar o banimento. Alistar capturou duas garotas que estão relacionadas ao errante, devem ser importantes para ele. Acho que posso negociar a vida delas.

— É melhor focarmos primeiro no eclipse, só então nos concentramos em trazer Lorde Alucard de volta — disse Veron cuspindo ossos.

— Você tem razão. De qualquer forma, verei se aquelas garotas ainda estão vivas. Alistar é do tipo sádico e sem escrúpulos.

Nostradamus se ergueu e deixou aquele quarto escuro no qual era iluminado por um orbe de luz fraca no centro da mesa. O covil dos vampiros parecia mais uma cidade subterrânea, no qual dava lugar para várias saídas de cavernas espalhadas por parte do enorme continente.

O covil poderia se resumir a um enorme labirinto que conectava a várias cavernas e locais abandonados. Esta era a primeira vez desde a grande queda da sociedade vampírica que as cidades subterrâneas voltavam a ser populadas.

Nostradamus conseguiu, em pouco tempo, reorganizar os vampiros em uma sociedade organizada, dividindo algumas áreas e dando controle delas para clãs que ele julgava serem melhores para a tarefa.

Haviam mineradores entrando em cavernas atrás de ouro e metais preciosos, que depois de alguns dias eram encontrados somente a carcaça de seus corpos, ou haviam outros que simplesmente desapareciam.

Por sorte, o covil de Alistar ficava por perto, para ser mais exato, ficava mais fundo, cerca de um quilômetro para dentro da terra. Nostradamus foi até um elevador mecânico, que era acionado por uma alavanca. O elevador era barulhento, ouvia-se o tempo todo barulhos de engrenagens e estalos da madeira durante todo trajeto.

Fora quase meia hora de descida até que Nostradamus chegasse onde Alistar estava.
Era uma espécie de cúpula com um grande domo em cima.

Haviam vampiros fazendo a guarda e cães infernais estavam em um jardim de plantas murchas, disputando partes de um cadáver, rasgando com ferocidade aquela carne já pútrida.

Após passar pelos guardas, adentrou, passando por corredores de pedra onde nos quartos haviam outros vampiros realizando todo tipo de tortura brutal, desde estupros de vulneráveis até mutilação.

Ele sabia que a sala de tortura era o lugar favorito de Alistar, então dirigiu-se até lá.

Alistar estava em um cômodo de paredes avermelhadas, cortando o rosto de uma mulher de pouco a pouco. Havia vacinas de adrenalina em cima da mesa. Ele sempre aplicava em suas vítimas quando elas desmaiavam, fazendo-a sentir cada pontada de dor.

Ouvindo passos atrás dele, Alistar se virou.

— Senhor! — disse surpreso — O que faz aqui?

Nostradamus não compactuava com a tortura, mas ele não repreendia seus homens que tinham prazer nisso, afinal, vampiros tinham uma essência maligna, o medo e a dor de terceiros era parte da diversão deles.

— Onde estão aquelas duas garotas que você trouxe do ducado? Ainda estão vivas?

Alistar achou a pergunta estranha. Nostradamus não era de demonstrar interesse em absolutamente ninguém.

— Não faço ideia. — Respondeu Alistar dando de ombros — Apenas as trago aqui, torturo, me alimento do sangue delas e depois devolvo para jaula. Porque a pergunta, senhor?
— Me leve até elas.

— Claro…

Cansado de torturar a mulher, Alistar crispou os dedos e suas unhas cresceram, foi quando ele cortou a garganta dela e a deixou sangrar até a morte em espasmos involuntários.

A vantagem dos vampiros era que eles enxergavam perfeitamente no escuro, então os corredores inundados no breu se tornavam bastante nítidos.

Desceram uma escada que deu de cara para uma masmorra com diversas pessoas em jaulas tremendo de frio e com diversas feridas necrosadas pelo corpo.

— Elas estão aqui. — Alistar parou de frente para uma jaula.

Nostradamus abriu a jaula e entrou enquanto as outras pessoas se afastaram, dando espaço para que ele transitasse na jaula sem problemas.

Avistou duas garotas deitadas em uma poça de sangue seca. Ambas estavam desmaiadas com feridas sérias por todo corpo. Mosquitos e até mesmo baratas andavam por uma ferida bem séria no rosto de Brey.

O estado de Melyssa era ainda mais grave.

Ela estava sem a mão esquerda, com um pano ensanguentado sobre o cotoco. Seus dois olhos estavam tão roxos que ela nem conseguia os abrir.

Sua respiração estava fraca, quase cessando por completo. Para piorar, a roupa de ambas foi trocada por farrapos úmidos, deixando-as com ainda mais frio naquela cela que já era bastante gélida.

— Ainda estão vivas. — Nostradamus o encarou por cima dos ombros.

— Dá para ver que você se divertiu bastante.

Alistar abriu um sorriso e deu de ombros.

— Ainda não testei tudo que queria, eu já ia acordá-las para gente brincar de novo. Desta vez a loirinha iria perder os dois braços e eu iria arrancar uma orelha e cegaria a pirralha de cabelo preto.

— Me poupe dos detalhes. — disse Nostradamus — Quero que as deixe vivas. Elas serão minha moeda de troca e não faça perguntas.

Aquilo deixou Alistar indignado. Ao torturá-las, Alistar sentia um prazer indescritível, era como se ele estivesse dando o troco em Colin por aquela luta humilhante.

— Posso saber o porquê disso?

— Eu disse sem perguntas.

Nostradamus deixou a jaula e se afastou, enquanto Alistar permaneceu furioso. Ele entrou na jaula a passos pesados e parou frente as duas garotas desfalecidas.

Bastava um chute bem-dado para ele matar ambas, mas logo depois seria ele quem seria morto por Nostradamus.

Tsc! Parece que as duas putinhas deram sorte, mas não pensem que ficará assim, vocês ainda me pagam!

Ele olhou em torno da jaula, encarando outras mulheres e garotas tão feridas quanto Melyssa. Ele foi em direção a primeira que viu e a puxou pelo cabelo.

— Preciso extravasar, então vem você!

A garota não tinha forças para se defender, e acostumada com as doses intensas de tortura, ela só se deixou levar.

Ela já havia abandonado a ideia de um salvador, então vivia apenas suplicando para que os deuses tirassem logo sua vida.

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Depois de algumas horas, Colin havia despertado depois de um longo descanso. Acordou no meio da noite e se recordou de estar com Meg antes de apagar.

— Está na hora de ir.

Ele pegou uma mochila de couro e colocou o que precisava lá dentro. Vestiu uma blusa de manga longa preta com uma calça e botas da mesma cor.

Antes de partir, desceu as escadas do porão, indo em direção ao vampiro que estava preso. A mente de Colin estava limpa e seu corpo parecia bastante descansado.

Colin se aproximou do vampiro e colocou uma das mãos na cabeça dele. Foi quando uma descarga elétrica percorreu todo o corpo do vampiro, iluminando o quarto em um azul intenso.

[Grito!]

O vampiro havia acordado depois de um berro. Estava babando sangue e olhou para cima encarando Colin.

— Você…

— Onde fica o esconderijo de vocês?

O vampiro ficou em silêncio por alguns segundos.

— Acha que pode deter todos nós sozinho? Você está se achando demais após ter vencido Lorde Alistar.

Caminhando até a mesa de tortura, Colin retirou a adaga cravada no local marcado por Lina e apanhou o mapa, abrindo-o na frente do vampiro.

— Onde fica o esconderijo?

— Em todo lugar! Estamos por todo canto, cada caverna, beco, cada buraco, somos onipresentes!

— Para onde levaram Brey e Melyssa?

O vampiro deu uma risadinha.

Hehe, devem estar mortas a uma hora dessa. Acredite em mim, a essa altura elas já devem ter sido devoradas, mas não sem antes sofrer bastante!

Colin apertou o pescoço do vampiro. Apertou tanto que seus dedos começaram a perfurar aquele pescoço pálido.

— Eu digo! — esforçou-se o vampiro para dizer.

Ele o soltou e o vampiro teve uma crise de tosse. Colin abriu o mapa novamente na frente do vampiro e ele apontou com a língua. Era um local bem afastado. Colin deveria chegar em algumas horas se fosse a cavalo, já que ele buscava preservar sua mana para um inevitável combate contra uma horda sedenta.

Dobrando o mapa, Colin o colocou na mochila e se afastou, retornando para as escadas. Ele ponderou se deveria deixar o vampiro vivo, e chegou à conclusão que ele era presa de Lina, portanto, não faria nada.

Ele já que havia conseguido o que queria.

Assim que abriu a porta, topou com Lina vestida casualmente. Ela estava com os braços cruzados e uma expressão não muito amigável. Colin a ignorou completamente e passou por ela sem dizer nada.

— Então é isso? — ela perguntou — No fim, você escolheu mesmo essa opção estúpida.

Colin continuou seguindo pelo corredor sem dizer nada.

— Não vai dizer nada? — Colin a encarou por cima dos ombros.

— Samantha deve chegar de manhã com seus irmãos. Diga para ela continuar investigando o caso do duque. Acho que não tem nada a ver com vampiros. Pode ser necromancia, as marcas de mordida nas vítimas devem ser só para terceirizar a culpa e jogá-la nos vampiros. Fale para ela manter o foco na mansão do duque, tem alguma coisa errada lá. — Colin continuou andando.

— Quer que seus amigos foquem em outra coisa se tem uma guerra prestes a acontecer? — indagou Lina indignada.

— Estamos em guerra há muito tempo. Se eles escolherem fazer essa missão ou te ajudar na guerra contra os vampiros, isso já é com eles.

— Colin!

Ele parou de se mover e virou-se.

— Sou muito grata por proteger os meus irmãos. Foi uma honra conhecê-lo.

Colin abriu um sorriso de canto de boca.

— Você fala como se eu fosse morrer.

— Desculpe, mas… não vejo você retornando vivo.

Ele balançou uma das mãos.

— Não precisa se desculpar — Ele deu um tchau de costas — Cuide das crianças por mim.

Lina continuou mantendo o olhar fixo nas costas orgulhosas de Colin. Após ouvir tantos boatos, ela estava começando a acreditar neles todos. As histórias fizeram de Colin o vencedor de batalhas impossíveis, mas ele teve ajuda, mas agora estava sozinho, e mesmo após toda conversa sobre a legião dos vampiros, Colin continuava extremamente confiante.

Inconscientemente, ela começou a admirar isso, a admirar o modo como Colin lidava com as coisas, sempre disposto a assumir a responsabilidade para proteger terceiros, como seu pai no começo da carreira como imperador.

Foi então que ela ligou os pontos.

A luta contra Anton, a luta contra o demônio, escolher ficar sozinho na cidade para resolver um caso complicado, ignorar pedir ajuda aos soldados e enfrentar os vampiros sozinho, e mesmo depois de tudo, escolher ir para a toca dos lobos sem pedir nenhuma ajuda sequer.

— Colin! — berrou ela. Colin já estava no final do corredor. Ele se virou a encarando.

Apressada, Lina se aproximou, ficando a alguns metros dele.

Ele ergueu a sobrancelha, reparando que Lina parecia furiosa.

— Que cara é essa? — ele perguntou.

— Você é um idiota mesmo.

Hm?

— Você é do tipo de homem arrogante que acha que pode resolver tudo sozinho, né? Pois você está completamente errado! Por que não pediu minha ajuda para ir com você?!

Colin deu de ombros.
— Você me ajudaria se eu pedisse?

Lina ficou em silêncio por um instante.

— Não sei…

— Não precisa dar esse chilique. Não sou nada para você, sou só alguém que você conheceu há algumas horas, só isso. E eu não sou arrogante, acha que não estou considerando a possibilidade de que eu não volte? Só não estou com medo.

— E você quer que eu acredite nisso?

— Isso já é com você, mas eu já morri uma vez. Acredite em mim quando digo que não é nada de mais. De qualquer forma, aquelas crianças são minha responsabilidade, elas confiam em mim. — Colin olhou para o lado e abriu um sorriso tímido — Uma delas até me chama de pai… Por isso tenho que ir resgatá-las mesmo que custe minha vida. Acho que é o que um pai faria, não é?

Lina suspirou e coçou a nuca.

— Você tem um bom coração, mas está confundindo moral com estupidez.

— É, esse é o meu jeito de resolver as coisas. Se eu não voltar, você pode cuidar das crianças por mim?

Ela ficou em silêncio por um instante.

— Vi como elas são apegadas a você, se não voltar, as crianças vão ficar arrasadas…

— Por um tempo, mas isso pode ser amenizado pelo calor de uma família. Eles estão por conta própria tem um tempo, e você é da realeza, mas também é uma boa pessoa. Tenho certeza que cuidará bem delas. Eles sempre foram pobres, então acho que vão ficar felizes somente em ter um teto, comida quente e uma família que os permitam serem apenas crianças.

— …
— Até mais, princesa Lina. Se eu não retornar até o eclipse, então significa que estou morto. Avise Samantha e aos outros que nosso tempo junto foi divertido. Diga para Samantha avisar Safira e Brighid que sinto muito.

— Por que não espera até de manhã pelos seus amigos? A gente poderia pensar em um plano de resgate elaborado…

Colin fez que não com a cabeça.

— Eles não concordariam com isso. Adeus, princesa.

Virando o corredor, Colin desceu as escadas sem pressa. Foi para fora e pegou um cavalo.

Ele pensava em como lutaria contra tantos vampiros, pensava em habilidades diferentes que seriam boas para usar em um grupo gigantesco de inimigos.

Em meio a tantas incertezas, de uma coisa ele sabia, aquilo seria mais difícil do que lutar contra o demônio, e desta vez ele estava sozinho. Porém, algo mais forte que ele o motivava a tomar uma atitude tão imprudente.

Colin fazia isso pelas crianças, mas havia outro motivo escuso que somente ele sabia. A possibilidade de ter uma brutal sua segunda maior motivação. A emoção de ter sua vida jogada no limiar de vida e morte o deixava excitado, um sentimento um tanto sádico que ele reprimia por maior parte do tempo.

Desta vez, ninguém o julgaria se ele buscasse apenas por violência. Aquela era a oportunidade perfeita para ele se soltar. 

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