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Capítulo 49 – A primeira peça é movida

Após partir do vilarejo, Colin cavalgou por algum tempo até que começou a chover. Sacudindo as rédeas, ele foi para o meio da floresta e seguiu para uma gruta próxima marcada no mapa.

A chuva se intensificou, e o vento ficou mais forte. Assim que chegou até a gruta, selou o cavalo em uma pedra e torceu a camisa encharcada.

Juntou alguns pedaços de cipó que cresciam no fundo da gruta próxima a um pequeno lago e moveu-se novamente para próximo à entrada.

Agachou e estalou os dedos, ascendendo ali uma fogueira para se aquecer.

Abriu a camisa no chão para secar logo e foi até sua mochila, retirando o mapa que estava um pouco molhado. Desdobrando com cuidado para não rasgar, ele começou a analisá-lo com cautela. Ainda faltavam algumas horas para que chegasse a seu destino.

Como o vampiro havia dito, eles poderiam estar por toda parte, e o grande problema seria em como ele procuraria pelas garotas num labirinto sem fim.

Apoiando a mão no queixo, analisou o mapa passando os olhos por todos os pontos cavernosos daquela região. O vampiro havia dito que elas estavam em um determinado ponto. Colin pretendia chegar por cima, mas ele poderia apenas invadir sorrateiramente e seguir o subterrâneo até seu destino.

Ele já considerava os inúmeros perigos que encontraria e provavelmente ele precisaria lutar. Porém, teria que confirmar a veracidade da informação do vampiro.

Ambas poderiam ser movidas dali e levadas para outro local, ou aquele poderia ser só uma armadilha na qual o vampiro estava mandando Colin.

[Relincho!]

Algo havia colocado o cavalo em alerta.

Colin olhou lá para fora e só enxergou o mais absoluto breu junto as gotas de chuva que estavam bastante agressivas. Sorrateiramente, foi para trás de uma enorme estalagmite, conjurando a adaga elétrica em sua mão.

Ouviu passos e usou a análise, observando um rastro de mana se aproximar ligeiramente. O cavalo ficou mais agitado e uma pessoas saiu da chuva indo direto para dentro da gruta.

Sem pensar, Colin partiu para cima do invasor, mas parou sua adaga no pescoço da vítima quando notou ser Eilika quem havia entrado. Ela estava com os olhos arregalados e paralisada de medo.

— É você… — Colin fez a adaga desaparecer — O que está fazendo aqui?

Eilika estava com as mãos erguidas em rendição.

— D-Desculpa, é que a senhorita Lina disse para que eu viesse até o senhor para auxiliá-lo no resgate.

Hm — Colin sentou-se novamente próximo à fogueira e tornou a analisar o mapa — Achei que a princesa não se importava.

— Senhorita Lina tem o coração mole, ela ficou bastante preocupada com o senhor, sabia?

Aquela afirmação deixou até mesmo Colin surpreso. Ele apontou com o queixo para sua blusa e sua calça estendidas no chão.

— Vai ficar gripada se não tirar a roupa molhada.

— N-não se preocupe, eu bem!

— Se veio me ajudar, então prefiro que você esteja saudável.

— … Isso é um pouco embaraçoso… mas tudo bem…

Eilika tirou a camisa molhada e a calça, ficando somente com as roupas íntimas. Pela primeira vez, Colin conseguiu ver uma cauda de camundongo serpenteando no ar, e se questionou do porquê não ter reparado nela antes quando treinaram em conjunto.

— Não fica olhando para minha cauda! — disse Eilika evitando contato visual — Isso me deixa desconfortável…

Ah, desculpe…

Um silêncio desconfortável invadiu o local, e Eilika se agachou próxima ao fogo observando o mapa que Colin mantinha os olhos assiduamente.

— No que está pensando? — ela perguntou enquanto sua cauda mexia de um lado pro outro.

— O vampiro me deu a localização de onde as meninas podem estar, mas estou considerando que seja um blefe. Ele disse que eles estão por todo lugar, e que os vampiros tem algumas entradas que conectam a praticamente todas as cavernas da região. Eu faria basicamente um reconhecimento.

— Entendi, se precisa de reconhecimento, pode contar comigo.

Colin olhou para Eilika com um pouco de descrença. Ela era forte, e disso ele não tinha dúvida, mas ela não era do tipo que passava qualquer tipo de confiança.

— Porque essa cara? — ela perguntou — Não acredita em mim, né?

— Eu não disse nada.

— Pois vou te mostrar, observe!

Erguendo-se, Eilika juntou as duas mãos e um círculo mágico apareceu bem embaixo dela. Do círculo, uma escuridão se alastrou por toda gruta, apagando até mesmo a fogueira. Colin sentiu como se estivesse sendo engolido por algo, então a escuridão sumiu.

A fogueira ainda crepitava, mas algo estava diferente. Quando Colin se deu conta, o fundo da gruta estava cheio de olhos vermelhos.

Aquilo era um mar deles que parecia não ter fim.

— Certo, vou fazer um rápido reconhecimento da área. Isso deve levar o resto da noite.

Eilika bateu palmas e os olhos começaram a sair do escuro rapidamente. Foi quando Colin se assustou ao ver um mar de ratos feitos de sombras passarem por ele. Eram tantos ratos que chegava a ser incontável. Ligeiramente os roedores se dispersaram pela floresta, sumindo na escuridão em meio a tempestade.

Uunf! — suspirou Eilika — Isso cansa, mas são roedores, conseguem entrar em locais pequenos e se esconderem bem. Em algumas horas terei toda região que nos cerca devidamente mapeada — Ela bocejou e coçou um dos olhos.

— Porque não descansa? — sugeriu Colin.

— Mas e você?

— Eu já dormi muito.

— Tem certeza?

Colin fez que sim com a cabeça.

Eilika deitou-se perto da fogueira e virou-se de costas. Usar aquela magia consumia muito de sua energia e não demorou muito para que ela adormecesse.

Já Colin, olhou lá para fora e viu galhos voando e o som de trovões que pareciam estar bem acima dele. Um sorriso escapou por seus lábios quando ele se recordou do seu medo infantil por tempestades.

Ele achava até mesmo irônico o fato de temer algo que vinha dos céus, mas agora ele tinha um poder com o mesmo nome.

Deitando-se no chão junto a folhas secas, Colin apoiou as mãos atrás da cabeça, admirou o calor da fogueira e a escuridão que o cercava. Nas horas restantes, ele decidiu aproveitar a rara paz que tinha.

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O tempo estava feio do outro lado da janela, mas isso não era algum impedimento para Lumur, que estava sentado na cama com o lençol em seu colo.

Ele ascendeu um cigarro. Olhou para trás, vendo as costas nuas de Briana. Ela estava deitada naquela cama bagunçada roncando baixinho.

A mente de Lumur estava em outro lugar no momento. Seus únicos pensamentos eram voltados para seu pai. Mesmo após treinar e se dedicar tanto, ele ainda não achava que poderia vencê-lo em uma batalha. O imperador era sem dúvidas a pessoa mais poderosa do império.

Um poderoso raio cruzou o céu, iluminando todo o quarto por um instante através da janela de vidro.

Arregalando os olhos, Lumur viu alguém sentado na janela vestindo capa e um capuz que tapavam seus olhos. O vento que vinha de fora fez a janela sacudir, bater contra a parede, acordando Briana, que saltou da cama ainda nua, sacando sua espada escondida debaixo da cama.

— Quem é você? Sabe que invadiu os aposentos de alguém do lótus? — perguntou Briana em guarda.

Colocando os pés no chão, aquele homem encapuzado fechou a janela atrás dele.

— Olá, garoto… Você cresceu…

Lumur estava calmo. Ele era do tipo que confiava em sua própria força, apesar de duvidar dela às vezes.

— Você me conhece? — indagou Lumur.

— Quem não conhece o grande herdeiro do invencível império de Ultan?! — disse a voz de uma mulher que veio do fundo do quarto.

Lumur a olhou de canto de olho, mas continuou calmo.

— Quem são vocês? — ele perguntou.

— Seus anjos da guarda. — A mulher respondeu.

Sem pensar duas vezes, Lumur manifestou sua mana, tornando ele o epicentro de uma forte onda de vento quente, que derrubou copos, prateleiras e tudo que estava em volta.

— Que garoto hostil. — comentou o homem — Viemos só conversar com você, não precisa disso tudo.

Ficando em guarda, Lumur se preparava para avançar em direção ao homem na sua frente.

— Não quero conversar com vocês!

[Estrondo!]


Uma bola de fogo destruiu metade do quarto, abrindo um buraco na parede do segundo andar que dava de cara para a rua.

Com o barulho e destroços caindo, Lumur esperava que os guardas chegassem logo. Porém, assim que caminhou para o buraco que havia feito, viu toda guarnição derrotada.

Havia sangue e vísceras por toda parte, um verdadeiro massacre havia acontecido ali, e isso fez Lumur levar um pequeno susto. Foi ele quem reuniu todos aqueles homens, e ele sabia que eles estavam longe de serem fracos, mas o mais impressionante de tudo, era que ele não percebeu absolutamente nada.

Logo ele que se orgulhava de sua percepção invejável e precaução de arrancar elogios.

Pensou que o massacre poderia ter ocorrido enquanto trepava com Briana, mas logo descartou a ideia. Certamente perceberia algo dessa magnitude.

“Árvore do silêncio?” — pensou Lumur.

— Uau, quanto poder. — Zombou o homem sentado em cima do telhado de uma residência a frente — Mas não pense que pode vencer a mim e minha amiga assim, a única coisa que vai conseguir é a morte, e todos os seus sonhos de esperar o império implodir e tornar-se imperador irão por água a baixo.

Lumur ergueu uma das sobrancelhas.

— Como sabem disso?

Aquele homem apontou para atrás de Lumur.

— Por que não pergunta a ela?

Briana caminhou para perto de Lumur a passos lentos. Ela ainda estava nua, e conforme se aproximava, sua fisionomia se transformou.

Sua pele clara ficou morena e seu cabelo curto ficou longo. Seu corpo curvilíneo ganhou tatuagens brancas por toda sua extensão, as mesmas tatuagens que Colin tinha, assim como seus olhos que também ganharam um vibrante tom amarelado.

— O que significa isso? — Perguntou Lumur, ainda mantendo a calma de antes.

— Desculpa, fofinho. — disse Briana. Ela era uma pessoa totalmente diferente — Mas me cansei de toda essa nossa brincadeira. Foi divertido enquanto durou.

— Briana… Meu pai mandou vocês para me matar? Ou algum nobre da corte que não gosta de mim?

[Gargalhada!]

Briana gargalhou, riu tão alto que superou até mesmo o som da tempestade. Ela apoiou a mão na barriga e se curvou, não aguentando de tanto rir. Assim que terminou sua risada histérica, a mulher no canto do quarto jogou a mesma capa que usava para ela, e ela a trajou sem cobrir a cabeça com um capuz.

— Como sempre, achando que o mundo gira em torno de você — Zombou Briana limpando as lágrimas no canto do olho direito — Se tivesse um pau tão grande quanto o seu ego, você seria um homem maravilhoso, mas não é esse o caso, né, fofinho?

O homem em cima do telhado abriu os braços, e a chuva parou de cair em torno deles, indo além, deixando de cair em torno de todo aquele vilarejo que agora não passava de um grande cemitério.

— Acho que podemos conversar com calma agora. — disse o homem do outro lado abaixando os braços.

Lumur olhou as duas mulheres atrás dele por cima dos ombros e fixou seu olhar naquele homem em cima do telhado. Eles não tinham mana alguma, mas alguma coisa dizia que se ele agisse, acabaria morto.

— O que querem conversar? — indagou Lumur, ainda nu.

Briana chegou por trás de Lumur e o abraçou sussurrando em seu ouvido.

— Sobre você querer assumir o império de Ultan.

Saindo de perto de Lumur, Briana foi até a cama e se sentou, cruzando as pernas.

— E o que esse assunto interessa a vocês?

— Não precisa ficar tão acuado, nós vamos ajudar você, fofinho.

Hm… me ajudar? Não sinto magia alguma vindo de vocês. Acho que a única coisa que sabem é intimidar, mas, no fundo, não valem de nada.

Briana descruzou as pernas.

— Porque não olha melhor, fofinho?

Lumur franziu o sobrolho e usou a análise, vendo uma névoa fina a sua frente. Quando se deu conta, toda aquela névoa estava em torno do vilarejo.

— Isso é mana? — perguntou ele, mal acreditando no que via — Impossível, ninguém tem uma mana tão alta assim! Exceto se vocês…

Briana abriu um sorriso diabólico e fez que sim.

— Isso mesmo, você já ouviu falar de nós. Agora falaremos do seu pai. A gente estava pensando em uma coisa, mas para isso precisamos que você trabalhe conosco, o que me diz, fofinho?

— Por que eu me juntaria a criminosos?

— Fofinho, você quer ver o império ser destruído para assumi-lo. Isso é uma atitude tão criminosa quanto.

Lumur ficou em silêncio por alguns instantes.

— E como vocês me ajudariam? — ele perguntou.

Sorrindo, Briana levantou da cama, colocou as mãos para trás e foi até Lumur, andando em volta dele enquanto falava.

— Para ser sincera, fofinho, você é forte e tudo mais, porém, seu pai ainda acabaria com você se tentasse enfrentá-lo. Acha mesmo que ele largaria o osso após construir tudo isso do zero? Não importa se o império implodir, você nunca assumirá o trono se seu pai ainda estiver vivo. Portanto, estamos aqui para te ajudar nisso, isso se cooperar conosco.

Hm, vocês ficaram quietos por séculos, por que se revelar agora?

— Isso não é da sua conta, fofinho. Sugiro que coopere conosco, caso contrário, não terá serventia nenhuma para nós. Não se engane, sei que você é forte. — Briana apontou com o queixo para o homem em cima dos telhados — Mas aquele desgraçado ali acaba com você se tentar algo.

Lumur pensou por um instante.

Ele sabia que eles eram caídos e conhecia bem as lendas passadas de geração em geração por cada família. A lenda de seres que eram tão poderosos que eram denominados de semideuses. Mesmo se cooperasse, ele não confiava neles para o que viesse depois.

— Suponhamos que eu coopere, como vão me ajudar a matar meu pai?

— Não se preocupe, isso você deixa por nossa conta, fofinho.

Lumur ainda estava receoso, mas ele não era um completo idiota. O melhor seria cooperar antes de ter que lutar contra esses três seres de uma vez.

— Certo, tudo bem. Ajudo vocês…

— Agora que ele aceitou, o que você vai fazer, Ehocne? — perguntou o homem no telhado.

— O mesmo de sempre. — respondeu Briana — Acho que continuarei sendo a assistente pessoal do garoto até que tudo esteja devidamente preparado.

— Ehocne… — murmurou Lumur — Então esse é seu nome verdadeiro?

Briana apenas sorriu e deu de ombros.

— Escuta, fofinho, daqui a uma quinzena haverá uma reunião em Khakuk em Valéria, neste mesmo horário. É melhor que você compareça, esclareceremos tudo lá.

Ehocne caminhou para o enorme buraco que Lumur havia feito e olhou lá para baixo. Esticou a mão e suas tatuagens brilhavam avidamente.

Uma boca gigante surgiu do nada na rua estreita lá em baixo e aquela enorme boca de dentes pontiagudos na beirada se abriu. Olhar lá para dentro era como encarar a via láctea de cima.

Lumur não deixou de ficar impressionado. Não era comum usuários de magia usarem portais, ainda mais portais dimensionais que poderiam ser invocados sem qualquer tipo de cerimônia.

— Você… — murmurou Lumur — Você é uma errante!

— Escute aqui, fofinho, continue indo para a capital e não seja estúpido de desafiar o seu pai sozinho. Voltarei em alguns dias, está bem? Tenho alguns assuntos que quero resolver.

Ehocne foi a primeira a pular no portal, seguido pela mulher que ficou quieta no fundo do quarto.

Antes daquele homem pular, ele retirou seu capuz, dando uma boa encarada em Lumur. Ele tinha o cabelo preto partido ao meio, os cantos de sua boca eram costurados até as orelhas. Sua pele era clara e seu nariz fino, assim como seus lábios.

Seus olhos levemente puxados tinham cor diferente. Um deles era castanho escuro e o outro era vermelho. E em sua testa estava tatuado uma lua minguante.

Um detalhe que chamava bastante atenção, era o brinco em sua orelha esquerda. Se pareciam bastante com brincos hanafuda. Ele era todo preto com um sol dourado no meio.

— Conheço você! — murmurou Lumur — Var’on!

Exibindo um sorriso perfeito, Var’on abriu os braços e a chuva se iniciou novamente, desta vez de maneira bem mais agressiva.

— A gente se vê, garoto! — Var’on saltou, caindo naquela boca monstruosa lá em baixo. Assim que ele passou por ela, a boca se fechou, desaparecendo completamente de vista como fumaça.

Lumur não havia notado isso antes, mas sua respiração estava até mesmo mais leve. Ele olhou lá para fora, vendo nada mais que uma destruição total. O único problema seria ele explicar como seu grande exército com soldados escolhidos a dedo por ele acabou completamente dizimado.

Ele havia ouvido falar de Var’on quando era mais novo, mas nunca jamais o viu, até hoje. Quando ocorreu o grande massacre do grupo de lótus, a única coisa característica que as pessoas se lembravam do agressor, era que ele usava os brincos de um império que havia desaparecido há séculos, um império localizado em outro continente, que era conhecido por sua brutalidade.
O nome Var’on foi espalhado de boca em boca, já que eles não sabiam o nome verdadeiro daquele homem. Var, significava sol na língua extinta do Mitris e On, significava negro.

Sol negro, esse era o nome dado atualmente ao homem considerado por muitos, como sendo o mais perigoso do mundo.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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