Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 59 – O Grande Eclipse – Parte 02

[Enquanto isso no ducado].

Depois dos garotos caminharem mais a fundo naquela escuridão, avistaram no centro uma criatura que mais parecia feita de sombras. Ela tinha por volta de três metros de altura, garras longas, chifres encaracolados e uma boca que exibia uma abóbada dentária pontiaguda.

O interior de sua jaula estava totalmente ensanguentado. A criatura encarava Kurth se aproximar com aqueles olhos avermelhados.

Alunys encarou aquilo espantada. Aquele era um clássico demônio de nível inferior. Mesmo fraco, ele ainda era forte, e para piorar estava sendo alimentado com carne humana.

Apesar de manter o olhar firme em Kurth, o monstro sequer se moveu, apenas ficou lá, parado.

— Podemos ir agora? — perguntou o Corpulento, suando frio.

— Podemos, mas antes vocês vão me explicar o que está acontecendo aqui, o duque está por trás disso?

Os homens se entreolharam. Eles não queriam falar, mas o medo e a pressão de estar naquele lugar os obrigou. O primeiro a abrir o bico foi o gordo, que ficou apavorado só de pensar naqueles garotos o torturando.

— B-Bem… — gaguejou ele. — O conde não tem nada a ver com isso… nosso trato é com Benson.

Kurth ergueu uma das sobrancelhas.

— O homem da cicatriz? É ele quem está por trás de tudo?

— É para ele que trabalhamos, se ele segue ordens do duque ou não, nós não sabemos. — respondeu o magricela.

Loaus apontou com o queixo para a criatura.

— E que merda é isso?

— Tem alguém chegando… — murmurou Alunys, mantendo o olhar firme no corredor atrás dela.

Todos se viraram fitando a pessoa que se aproximava lentamente. Ao deixar a penumbra, se revelou ser um garoto, com idade entre 14 ou 15 anos. Tinha o cabelo castanho e um sorriso amarelo como ouro. Suas vestes eram de segunda mão, e ele estava sujo de fuligem. Parecia mais um proletário das minas de carvão do que uma criança propriamente dita.

A mana que vinha dele era tão sinistra quanto a da criatura, porém era menos pegajosa.

— Olá a todos! — disse o garoto abrindo os braços — Achei que vocês fossem ficar longe dos negócios que acontecem aqui em baixo, mas parece que me enganei. — Ele lambeu os beiços com aquela língua de cobra.

— Quem é você? — perguntou Loaus furioso.

— Turin! — ele fez uma reverência — Eu esperava o elfo negro, a mulher de guilda ou até mesmo aquela outra mulher loira, mas não vocês, os lacaios.

Alunys se perguntava quem era aquele garoto e como aquilo estava acontecendo bem debaixo do nariz dos habitantes. O garoto era franzino, mas a mana dele era densa. Se Kurth e Loaus trabalhassem juntos, então talvez eles tivessem chance contra o garoto, mas o problema mesmo estava na criatura selada.

— Eu estava esperando o eclipse começar, mas parece que terei que me apressar. Por que não saí daí?

Outra silhueta surgiu da penumbra. Os garotos não o conheciam, mas ele era o vampiro preso no porão por Lina. Ele estava sujo de sangue seco, mas parecia muito bem. Exibia o mesmo sorriso característico dos vampiros.

— Não devia ter me anunciado. — disse o vampiro estalando o pescoço — Acho que eu conseguiria matar ao menos a garota antes de ser percebido.

Turin deu de ombros.

— Tanto faz, porque não começamos agora, sim?

— Começar o quê? — perguntou Kurth.

— Essa será a nossa era. — disse o vampiro passando pelos garotos e indo em direção a jaula.

— Ei, patetas! — disse Turin, encarando os açougueiros — Onde aquele merda do Benson se enfiou?

— Quem são voc-

A cabeça do magricela explodiu feito uma melancia, espalhando miolos por todo lugar.

— Vou precisar perguntar de novo? — disse Turin fixando seu olhar no gordo.

— Já irei convocá-lo, senhor!

Apressado, o gordo se levantou e tornou a correr para o corredor, passando por Turin e desaparecendo na penumbra.

Diferente de Kurth ou Loaus que estavam tensos com os três inimigos a frente deles, Alunys tentou juntar as peças do quebra cabeça, já que resolver coisas como essa era sua especialidade.

Primeiro, tinha a questão dos desaparecimentos que já perduravam havia um tempo. Segundo, um demônio inferior ligado ao garoto a sua frente, que provavelmente seria o tal necromante.

Algumas pessoas desapareciam e outras eram encontradas mortas com o sangue drenado e marcas de mordida, seria normal deduzirem que se tratava de vampiros, afastando as suspeitas internas. Agora, no dia do eclipse, o necromante e o vampiro estavam trabalhando juntos, sem contar que Benson, o empregado, está envolvido diretamente nisso. Isso só poderia significar uma coisa, ele estava trabalhando com os vampiros desde o começo.

Demônios de nível inferior se alimentavam de carne humana, mas também se alimentavam de algo mais importante, alma. Alunys havia lido os jornais sobre os desaparecimentos, e centenas de pessoas já haviam desaparecido, sem falar daqueles indigentes que não foram divulgados.

Ela havia lido algo sobre usar um corpo morto de receptáculo de almas. Havia acontecido há alguns anos no que hoje são as ruínas de uma cidade outrora próspera. O mago da época, tornou o demônio tão poderoso que ele se tornou insaciável, devorando toda cidade. Mas a cidade de outrora era quase três vezes mais populosa que a capital.

— Espera… — ela murmurou encarando Turin — Vocês pretendem fazer com que o demônio devore toda alma viva daqui até a capital, não é? É esse o plano dos vampiros?

Kurth e Loaus encararam a companheira com os olhos arregalados. Turin abriu um sorriso e o vampiro ao seu lado abriu os braços.

— Você é uma Elfa bem esperta para sua idade.

Alunys forçou os olhos, usando a análise em Turin, mas nenhum resultado apareceu. Tudo que ela conseguiu ver foram pontos de interrogação nos atributos físicos e habilidades.

— Tentando me analisar, Elfa? — Disse Turin aparecendo na frente de Alunys. Antes que ela ou seus companheiros tivessem reação, Turin a pegou pelo pescoço, tirando-a do chão.

Os dedos de Turin quase entravam do pescoço de Alunys. Ela tentou se safar dando socos no braço de Turin, mas ele era mais forte. Pouco a pouco, sua visão foi escurecendo e sua força se esvaiu.

[Disparo de vácuo]

[Pancada!]

Turin foi lançado para o outro lado da sala, deixando um rastro de poeira. Ele estava com a mão direita erguida enquanto a mesma saia fumaça.

— Merda! — disse Turin — detesto crianças.

Kurth estava com o dedo indicador erguido na direção de Turin. Loaus correu até Alunys e passou a mão dela sobre seu ombro enquanto ela tossia sem parar.

— Serei seu oponente! — Kurth ergueu os punhos e envolveu sua magia de vácuo neles. Ele ainda não conseguia usar armas conjuradas por ele mesmo, então essa era a única coisa que ele conseguia fazer.

— Acho que temos tempo para brincar até que Benson chegue. Me entretenha, sulista.

Concentrando mana nas pernas, Kurth partiu com velocidade para cima de Turin, tentando acertá-lo com seus socos, mas era inútil, o garoto parecia só estar brincando. De repente, Kurth sentiu um golpe forte no queixo, aquele golpe o pregou no teto do corredor enquanto os olhos de Kurth ficavam brancos.

No momento em que Kurth fora cair no chão, Turin chutou sua boca e o lançou violentamente na gaiola que prendia a criatura, a amassando.

Turin veio caminhando com as mãos nos bolsos, encarando Kurth com um sorriso.

Ligeiro, Turin investiu com um soco, mas Kurth desviou rapidamente para o flanco direito, deixando Turin ir de encontro a jaula, abrindo um buraco nela.

A criatura continuou parada, sem mover um músculo.

Turin colocou mana em seus dois braços e avançou na direção de Kurth, tentando acertar nele, alguns socos, mas todos em vão.

O sulista havia treinado em primeira mão com Samantha, ele aprendeu a ler golpes quase imprevisíveis com sua tutora. Turin era rápido, mas seus golpes eram fáceis de ler.

— Porque não revida, seu covarde de merda?! — bradou Turin avançando contra Kurth.

Kurth desviou-se e o golpe de Turin pegou em cheio na parede do corredor, o trincando por alguns metros. Ligeiro, Kurth colocou mana na sua perna direita e chutou Turin para longe, que por sorte conseguiu se defender com uma das mãos.

O pequeno sacudiu a mão, sentindo uma pontada.

— Essa foi boa, mas que tal essa!

O braço de Turin ganhou músculos rígidos e ele partiu para cima de Kurth em uma velocidade que superava a dele. Incapaz de desviar, Kurth colocou toda mana em seus braços e os colocou frente ao rosto.

Um estrondo fez todo corredor estremecer levantando uma quantidade significativa de poeira. Quando a poeira se desfez, era possível ver Kurth enterrado na parede, ainda com os braços frente ao rosto, portando um olhar sério. As mangas de sua camisa haviam sido destruídas, mas ele pareceu não sofrer danos significativos.

— Incrível! — disse Turin, preparando um segundo golpe. 

[Explosão!]

Num estrondo, o teto da área aberta onde ficava localizado a gaiola, explodiu. Escombros caiam por todo lugar, pedras do tamanho de pilastras terminaram de esmagar o corpo do açougueiro magricela.

No momento que um pedregulho fora cair em cima de Loaus, Kurth a destruiu com um disparo de vácuo. Mesmo ansiando por batalha, Loaus ainda estava travado. Essa era a primeira batalha de verdade dele.

“O sulista maldito ainda não está sério.” pensou Turin caminhando para próximo da gaiola.

Da fumaça, surgiu Benson de sobretudo portando uma foice. Era uma foice diferente, maior e mais mortal.

Turin colocou uma das mãos sobre a vista e encarou Benson com raiva.

— Até que enfim! — comemorou Turin.

Benson saltou de cima da gaiola, se aproximando de Turin a passos lentos.

— Pelo menos consegui enganar os pirralhos, o eclipse está prestes a começar.

Com a mão no pescoço, Alunys olhou para o corredor atrás dela e usou a análise. O traço de mana estava distorto, como se fosse uma espécie de portal.

— Um lapso? — balbuciou ela, olhando em seguida para o buraco no teto. O eclipse estava se iniciando.

“O necromante nos prendeu em um lapso onde o tempo para nós, parecia correr de maneira normal, mas o tempo se passou bem rápido naquele corredor. Merda! Pelo visto, eles são habilidosos, pensaram em tudo!”

O tempo avançou algumas horas e não demorou muito, e o grande eclipse de três dias havia enfim chegado.

Do lado de fora, se ouvia gritos e correria, assim como explosões e tremores. Os vampiros que haviam se escondido em cavernas próximas já havia aparecido para o grande genocídio.

Turin dobrou os joelhos e saltou para o topo da grade. Com uma das mãos removeu o selo. A criatura, antes imóvel, encarou o açougueiro e transpassou a grade, arrancando-lhe a cabeça em um movimento imperceptível.

— Ainda estou aprendendo a controlá-lo — disse Turin. — Vamos, pessoal, temos que colher o máximo de almas possíveis — Ele encarou Kurth — Foi divertido, mas tenho que ir, seja um bom garoto e fique fora do meu caminho, ou acabo com você!

Turin saltou pelo buraco, sendo seguido pelo vampiro, Benson e a criatura, que despareceram de vista.

— Temos que ir atrás deles! — disse Loaus — Consegue se mover? — Alunys fez que sim e Loaus a soltou.

Antes de Loaus concentrar mana nas pernas para saltar para fora do buraco, Alunys tocou seu ombro.

— Espera, precisamos de um plano… — disse ela, ainda com dificuldade para falar — O corredor, era um tipo de lapso temporal. Pelo que parece, a gente ficou lá por tempo demais e provavelmente caminhamos bem mais do que imaginamos.

— Como assim? — perguntou Loaus.

— Esses gritos… a gente deve estar bem longe da mansão do duque, acho que estamos no centro do ducado.

Ao ouvir isso, Loaus ponderou saltar para fora do buraco, mas Alunys apoiou a mão em seu ombro novamente.

— Ainda não, eu tenho um plano. Sua irmã deve estar lutando próxima à mansão. As pessoas devem estar indo para perto dela para se proteger, já que ela é forte. Primeiro, a gente tem que limpar o caminho daqui até a mansão, levando as pessoas que conseguirmos salvar com a gente. Infelizmente não dará para salvar todo mundo, assim que chegarmos até a mansão, nos organizaremos para enfrentar aquela coisa.

— Acha que podemos vencer aquilo? — Perguntou Kurth.

— A gente não tem escolha, senhorita Lina está há quilômetros daqui, e senhor Colin ainda não voltou. Não dá para depender deles agora. A responsabilidade está toda em nossas mãos, a vida do pessoal desse ducado depende de nós. Não se esqueçam o quanto treinamos para isso!

Era a primeira vez que eles se sentiam responsáveis daquela forma. Sem dúvidas era um peso enorme para carregar, mas se quisessem se tornar soldados, precisariam se acostumar com aquilo.

Concentrando mana nas pernas e flexionando os joelhos, eles saltaram para fora do buraco, observando um completo caos.

Vampiros assassinavam pessoas brutalmente, enquanto algumas delas tentavam correr sem sucesso. As ruas já estavam cheias de sangue, e como Alunys havia dito, o túnel os levou para o centro do ducado.

Loaus tirou a espada da bainha, e como havia sido instruído, aplicou nela mana o suficiente para a Lâmina ficar quase três vezes mais afiada.

Concentrando mana nas pernas, Loaus avançou e cortou ao meio um vampiro que estava prestes a cravar suas garras no pescoço de uma mulher prenha. As coxas dele estavam tão grossas quanto toras de madeira. Ele avançou, cortando a cabeça de mais dois vampiros, logo depois se moveu para o quarto e quinto, partindo-lhes ao meio.

Toda ação durou menos de cinco segundos.

Os sobreviventes encaravam Loaus liquidar aqueles vampiros e esperaram seu salvador lhes dar alguma ordem. A mulher grávida, loura de olhar firme, se aproximou de Loaus enquanto segurava a barriga.

— Para onde vamos agora? — perguntou ela.

— Vamos para a mansão do duque! — Exclamou Alunys — Vamos limpar o caminho para vocês!
 



 O grande salão de reunião dos vampiros estava bem decorado. Haviam sedas do oriente decorando todo aquele lugar. A grande mesa na qual os líderes de clãs se sentavam estava farta, com os mais variados tipos de membros humanos por toda sua extensão. 

O eclipse havia se iniciado, e eles estavam comemorando a chegada da nova era.

Escravos humanos iam e vinham servindo os líderes enquanto alguns eram mal tratados e humilhados por seu estado decadente. Muitos deles não tinham força sequer para carregar uma bandeja de taças cheias de sangue, mas se eles as deixassem cair, seriam certamente torturados brutalmente.

— Um brinde a Nostradamus! — um vampiro corpulento ergueu uma taça de sangue — Ao vampiro mais importante da nova era!

— Um brinde! — disseram outros vampiros.

Eles brindaram e beberam todo o sangue de suas taças. Nostradamus não aparentava, mas ele estava feliz. Seu plano estava dando certo, o errante estava capturado e o grande eclipse havia se iniciado. Seu único empecilho era a rebelião humana que havia perdido força, mas que ainda continuava em lugares isolados em torno da grande cidadela dos vampiros.

A grande porta ornada de madeira se abriu e Graff entrou calmamente com as duas mãos nos bolsos. A maioria dos chefes de clãs o odiavam. Mesmo eles tendo mais poder político na sociedade vampírica, a terceira geração era como uma força a parte, uma parte que não se metia nos assuntos do grande conselho, mas eram respeitados por serem uma força inabalável.

— Vejo que estão se divertindo bastante. — Graff abriu um sorriso de canto de boca — E nem chamaram a terceira geração para participar… Isso magoa um pouco.

— Exato! Não convocamos a terceira geração. — disse o vampiro corpulento — O que faz aqui?

— Que atrevido — disse Graff — perdeu completamente os modos?

— Nosso acordo foi esse — disse outro vampiro — Vocês só aparecerem quando forem convocados. Dê logo o fora daqui!

Morgana entrou logo atrás e os vampiros ficaram tensos, mas a surpresa mesmo foi a do errante estar com eles. Diferente da aparência inofensiva de Graff, a aparência de Morgana era intimidadora, e Colin não ficava para trás, ainda mais após saberem que ele retirou o estado de Besta de Alistar com apenas um único golpe.

— Deviam ser mais respeitosos com o vampiro mais poderoso. — disse Morgana de maneira séria.

Graff abanou uma das mãos.

— Deixe isso para lá, Morgana. A gente terminará isso logo.

— Senhor Graff — disse Nostradamus — O que veio fazer aqui sem ser convocado, ainda por cima trouxe o errante que deveria estar preso.

Graff abiu seu sorriso diabólico.

— Vim acabar com a festa de vocês!

Nostradamus ergueu uma das sobrancelhas.

— O que isso significa?

Graff deu de ombros e saltou, subindo na grande mesa de madeira. Ele colocou as duas mãos nos bolsos e começou a andar sobre a mesa enquanto chutava os pratos.

— Decidi que não preciso mais de vocês, então vou matar todos que estão aqui e reiniciar a grande sociedade vampírica com aqueles que sobrarem.

Os vampiros se entreolharam sem entender absolutamente nada. Outros começaram a ficar tensos em seus assentos.

Slash!

O vampiro corpulento ficou desesperado e sacou sua espada, degolando Graff em um único movimento. A cabeça dele rolou até ficar cara a cara com outro vampiro.

Espantados com a atitude do colega, os vampiros se levantaram encarando Morgana e Colin. Com o companheiro morto, ela deveria ficar irritada, mas ela parecia não se importar. Dentre todos os vampiros, eles nunca ouviram falar de algum que sobrevivesse sem cabeça. Pelo menos não até hoje.

— Viu só? — disse a cabeça decepada de Graff — Não respeitam mesmo os mais velhos.

A cabeça de Graff derreteu, e outra cabeça surgiu em seu pescoço. Aquilo foi um espanto para os vampiros que puderam em fim confirmar os boatos sobre a terceira geração.

— Eles não podem morrer?! — disse o corpulento apavorado.

— Eu menti para você, Colin… Eu disse que precisaria da sua ajuda para acabar com a elite da sociedade vampírica, mas, na verdade, eu não preciso. Você está aqui para testemunhar a força de um vampiro da terceira geração. Você é amigo da Morgana, e consequentemente isso te torna amigo de toda família. Sinta-se privilegiado, meu caro.

Colin nada disse, apenas continuou observando. Depois daquelas palavras e de ver Graff se erguer mesmo sem cabeça, Colin não deixou de sentir um arrepio na espinha. Ele olhou para Morgana e ela sorriu gentilmente para ele.

“Ainda bem que não somos inimigos…”

Abrindo os braços, sombras saíram por debaixo dos pés de Graff tomando conta de todo quarto. Olhos vermelhos apareceram em cada canto daquele grande salão acompanhados de dentes pontiagudos. Logo, as bocas começaram a latir, como se tivesse uma matilha inteira ali.

Como lobos ferozes, os lobos negros feitos de sombra começaram a devorar todos os vampiros no salão, poupando os humanos. O som de carne sendo estraçalhada fez os humanos ficarem apavorados, eles se sentiram no inferno. Os gritos infernais dos vampiros não ajudaram e o sangue não parava de voejar de um lado para outro naquela sala.

Depois de alguns segundos. O único vampiro vivo era Nostradamus, que encarava tudo aquilo apavorado assim como os humanos. Os principais comandantes do exército mais poderoso desde a era de ouro de Alucard estava sendo destroçado por um homem no corpo de um garoto.

Assim que terminou, Graff encarou Nostradamus com um sorriso diabólico. Por instinto, Nostradamus apontou o dedo indicador para Graff.

[Metralhadora de vácuo].

Um disparo atravessou parte da cabeça de Graff, logo depois sua perna saiu voando, seu peito ganhou alguns buracos e não demorou muito para que o pequeno Graff virasse uma peneira.

Os tiros passavam por Graff e explodiam na parede, fazendo um buraco. O corpo cheio de buracos de Graff caiu na mesa ensanguentada em um bofete.

Plaft!

O buraco na parede revelou a grande cidade dos vampiros em chamas. Seu exército era morto pela terceira geração sem piedade alguma, o exército que ele levou séculos para reunir e organizar, estava sendo varrido do mapa por membros de sua própria raça. Estatuas erguidas em homenagem aos líderes de clãs vinham a baixo, e junto a terceira geração, os humanos pareciam se rebelar mais uma vez.

— Impossível… — balbuciou Nostradamus colocando os joelhos no chão.

Graff apareceu ao seu lado, completamente inteiro. Até mesmo suas roupas haviam se reconstituído. Ele colocou uma das mãos no ombro de Nostradamus.

— Eu o pouparia e deixaria você entrar no meu exército de elite, mas pessoas como você nunca se contentam com pouco, então a nossa relação termina aqui.

 [Disparo de vácuo].

Com outro disparo, Nostradamus desintegrou a cabeça de Graff e saltou da alta torre do palácio em direção ao chão a fim de fugir. A cabeça de Graff se reconstituiu em instantes e de suas costas se formaram asas negras enormes.

Ainda com as mãos nos bolsos, Graff bateu as asas e, num piscar de olhos, apareceu ao lado de Nostradamus. Com um giro, Graff o chutou para baixo em direção a baderna.

Bam!

Nostradamus se chocou no chão rochoso e se ergueu lentamente. Alguns de seus dentes haviam sido arrancados e a marca do sapato de Graff estava em seu rosto.

Ele limpou a boca ensanguentada com as costas da mão e encarou Graff faceiro enquanto planava no ar batendo aquelas asas negras enormes.

— Porque não desiste e morre de uma vez? — indagou Graff com um sorriso no rosto.

Nostradamus ficou enfurecido e preparou o golpe mais poderoso de um usuário do vácuo. Flexionou os joelhos, juntou as duas mãos e concentrou toda sua mana.

Uuuu — zombou Graff — Canhão Galik… É a primeira vez em séculos que vejo um monarca o usando. — Ele levantou o indicador — Vou te dar uma chance de me vencer, se falhar, você morre.

Aquelas palavras deixaram Nostradamus ainda mais enfurecido, então ele concentrou toda sua magia naquele golpe. O chão em volta dele afundou, e uma quantidade absurda de mana tomou conta do ar.

Colin e Morgana se aproximaram vendo toda cidadela em chamas, fazendo as ruínas que um dia estiveram ali se revelarem uma vez mais.

— Não sabia que Graff era tão forte… — comentou Colin.

— Ele é da terceira geração, mas foi treinado pela segunda. Somente ele e Alucard tiveram esse contato com vampiros mais antigos.

— Isso explica muita coisa… ele é mesmo imortal?

Morgana fez que não com a cabeça.

— Não existe imortalidade nesse mundo, até o mais antigo ser acaba perecendo algum dia, até mesmo as estrelas morrem.

— Então, como ele…

— Não faço ideia…

Os dois ficaram em silêncio observando a luta.

Graff abriu os braços com um sorriso e fechou os olhos. Aquela foi a gota d’água.

[Canhão Galik].

A grande rajada de vácuo passou por Graff e explodiu no teto rochoso, o transpassando e indo além. Quem estivesse pelas redondezas iria sentir um grande tremor e iria ver um grande volume de terra explodir e ser arremessado para cima.

Boom!

Pedras caiam em torno daquela caverna e Nostradamus havia se esgotado. Ele havia aberto um buraco em um solo rochoso com metros de extensão. Ao olhar para cima, via-se o buraco que seu golpe deixou, parecia até mesmo um enorme buraco de minhoca de tão extenso.

Apoiando um dos joelhos no chão, Nostradamus olhou para cima e viu apenas uma parte da cabeça e do tronco de Graff ainda inteiros. O que restou de Graff caiu no chão, e Nostradamus não viu mais nenhum movimento de seu oponente.

“Matei?” pensou Nostradamus.

Sombras recompuseram o que sobrou do corpo de Graff e ele se levantou abrindo um sorriso. Toda a esperança de vitória de Nostradamus havia sido destruída naquele momento. Sem pressa, Graff caminhou até Nostradamus e ficou frente a ele.

— Veja pelo lado bom, ao menos você tentou. — Graff retirou uma das mãos do bolso e crispou os dedos, fazendo suas unhas ficarem afiadas — Últimas palavras?

Nostradamus engoliu o seco. Ele nunca imaginou que fosse morrer, ainda mais pelas mãos de alguém da sua própria espécie. Ele ergueu a cabeça encarando o pequeno Graff.

— Você vai fazer nossa sociedade se reerguer mais forte, não vai? — perguntou Nostradamus.

— Essa é a ideia.

— Então eu não tenho mais nada a dizer para você.

Graff abriu um sorriso de canto e com suas garras destruiu a cabeça de Nostradamus. Ele deixou aquele grande corpo cair no chão e caminhou para longe com as mãos nos bolsos enquanto cantarolava. Fungou sentindo o cheiro de coisas queimarem e bateu asas indo para onde Colin e Morgana estavam.

— Mandou bem, chefe! — Morgana abriu um sorriso de orelha a orelha e fez o sinal de positivo com o polegar.

— Esperava me divertir mais. — Ele olhou para Colin — Pode ir para casa, garoto. Seus amigos devem estar te esperando.

— O quê? Você vai mesmo embora, Colin? — Morgana o encarou cabisbaixa.

Ele cruzou olhares com ela e coçou a cabeça.

— Acho que tenho que ir, o pessoal pode estar com problema.

Ahh… — Morgana fez beicinho e olhou para baixo mexendo nos dedos. — Eu podia treinar você se quisesse… Graff até deixa você ficar lá no nosso castelo um tempo, não deixa, tio Graff?

Normalmente, Graff relutaria em atender um pedido assim, mas Morgana, apesar de ser intimidadora, era a mais jovem da terceira geração. Na maior parte do tempo ela ficava sozinha, tendo somente seus pandorianos de companhia. Mesmo para uma vampira tão extrovertida, ela se sentia solitária. Se enturmar com Colin talvez fosse algo positivo para ela.

— Se o garoto quiser ficar um tempo no castelo, então tudo bem. — respondeu Graff com a mão na nuca.

A oportunidade de treinar com Morgana era única, ele sabia que ela era a pessoa mais forte que ele já encontrou até hoje em suas viagens. Talvez fosse até mais forte que o diretor Hodrixey. Porém, ele estava com saudade de casa, saudade dos seus amigos que deixou para trás.

— Eu gostaria. — Respondeu ele — Mas talvez daqui a um tempo.

— Hum…

Colin deu um tapinha no ombro de Morgana.

— Não faz essa cara. — disse ele — Quando eu for, a gente lutará muito, e porque não vai pro ducado comigo? O eclipse durará três dias, acho que precisarei de ajuda.

Os olhos dela brilharam e Morgana se abaixou para encarar Graff nos olhos.

— Posso ir? — indagou — Por favor, por favor, por favor…

— Vá logo e pare de me encher, quando o eclipse acabar vá direto para casa.

Ela fez que sim com a cabeça três vezes e levantou Graff, lhe dando um beijo na bochecha. Ele sacudiu os pés e tentou afastar Morgana com as mãos sem sucesso.

— Ei, Morgana, me solta!

Ela o colocou no chão e se virou para Colin.

— Espera aqui, tá? Chamarei o Hati!

— Quem?

— Meu lobo! A gente chegará lá rapidinho, e você não precisará gastar sua mana para se locomover, já volto, não saia daí!

Concentrando mana nas pernas, Morgana flexionou os joelhos e saltou pelo buraco na parede do palácio e desapareceu em meio a toda baderna que desenrolava lá em baixo.

— Ela sempre foi tão intensa assim? — indagou Colin.

— Sim, mas você tem deixado ela bem feliz. Nunca a vi tão empolgada assim. Boa sorte com ela, garoto. Morgana pode ser forte por fora, mas por dentro ela é só uma mulher sensível, então não a magoe.

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Tenho que ir. — disse Graff — caso decida ir para nossa casa, vá em direção a terra longínqua dos anões, mais ao norte há uma cidade dominada por camponeses. Há um grande castelo na colina, é lá o nosso lar.

— Isso é quase do outro lado do continente.

— É, a gente mora bem longe, te vejo depois, garoto.

Graff derreteu como sorvete e desapareceu na própria sombra.

Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥