Selecione o tipo de erro abaixo

Sentando-se na cadeira, Ryanfield parecia uma pessoa completamente diferente. Seu olhar vibrante de sempre estava mais calmo e sereno, até mesmo sua aura vibrante e assustadora de antes havia se tornado uma aura agradável, como a de Janora. Ele apoiou o pequeno diário na mesa de canto e pegou um pano para limpar suas mãos ensanguentadas.

— Olá, Melin. — disse Ryanfield. — Já faz algum tempo — Ele olhou para Colin, para Samantha e depois para Lina. — A imperatriz sombria e… seus ajudantes?

Colin ficou confuso, era como se realmente fosse outra pessoa. Até mesmo os trejeitos e maneiras de falar eram diferentes.

— Falken… — murmurou Lina — Pensei que tivesse deixado Ryanfield assumir de vez.

Ele balançou a cabeça.

— É menos cansativo deixar ele no comando, mas você sabe como ele é. Apesar de desagradável, ele é bem útil quando se trata de batalhas.

“Dupla personalidade?” Pensou Colin.

Falken olhou para trás, pousando seus olhos no vampiro que estava com o canto da boca sujo de restos de comida. O vampiro instintivamente abaixou a cabeça. Ao perceber o olhar de seu torturador, ele continuou em silêncio.

— Bem… — Falken virou-se para frente. — Parece que o vampiro ali trabalha diretamente para um dos caídos. Bledha Shattermast.

Colin não conhecia aquele nome, mas assim que Falken o pronunciou, ele notou Melin e Lina ficarem tensos, de uma forma que ele nunca viu antes.

— Você quer tornar esse lugar parte da jurisdição da Guilda, não quer? — perguntou Falken a Melin. — Se fizer isso, estará comprando uma briga direta com Bledha, e isso não é uma boa ideia.

Colin ergueu uma das mãos.

— Bem, com licença, você disse que essa Bledha é um caído, não é? O que ela tem de tão especial?

Falken coçou a nuca e se ergueu. Moveu-se até uma garrafa de café e colocou um pouco em sua xícara. Assoprou e depois deu um gole. Encarou Colin novamente e sorriu.

— Bledha é um caído bastante poderoso, o vampiro aqui disse que foi ela quem convenceu os vampiros a se juntarem. Sem contar que ela é bastante ativa. Dizem que ela vendeu armas mágicas para financiar a guerra de dinastias no oriente. A chamam de rainha da morte, por ela possuir a essência da morte, isso é tudo que sabemos dela atualmente.

Colin fez que sim.

O mais assustador, era que Safira era um caído, e ele guardava esse segredo. Ele não queria nem sequer imaginar o que aconteceria caso o império colocasse as mãos em uma informação tão importante quanto essa. Ele confiava em Samantha, mas não arriscaria contar a ela, muito menos contaria a Melin, mesmo que ele parecesse um cara em quem se pode confiar.

Falken continuou.

— Esse vampiro não é o único que descobrimos que trabalha para Bledha, ela tem uma rede enorme de lacaios. Acreditava-se que até alguns pequenos impérios estavam sob o controle dela, e que ela é uma forte influência na guerra milenar do continente. Resumindo, Bledha Shattermast atualmente é a inimiga número um da humanidade.

Colin engoliu o seco. Brighid havia lhe dito que o caído que estava na sua ilha controlava a essência do infinito, o que já era algo difícil de se imaginar, mas ele continuava oculto. Agora, saber que um caído que tinha coragem o suficiente para ser ativo nos bastidores era algo totalmente diferente.

Era coisa demais para ser digerida.

Melin se ergueu e caminhou até o vampiro a passos lentos. O vampiro continuou olhando para baixo, apavorado em fazer algo de errado e ser recebido com outro golpe brutal.

— Ei, desgraçado! — chamou Melin e o vampiro se tremeu por inteiro — O que aquela vagabunda da Bledha queria nesse ducado afinal?

O vampiro franziu os lábios e ergueu a cabeça para encarar o comandante mais forte dos dragões carmesins.

— Eu não sei o que ela queria… E-Eu fui usado, senhor. Ela só nos passou as instruções e nós fizemos…

Melin fez que sim com a cabeça e virou-se para encarar Falken.

— Talvez a questão de a Bledha atuar nos bastidores da guerra a impedindo de ter um fim, signifique que ela ainda ganha com isso. Acho que sei o que ela quer e vocês também sabem, não é?

— Espera! — Lina ergueu uma das mãos — Isso são só boatos, boatos que duram faz anos, isso não é verdade, não tem como ser.

— Do que estão falando? — Colin perguntou.

Lina suspirou e encarou Colin.

— Melin está sugerindo que os caídos querem trazer um segundo cataclisma, uma segunda queda do véu.

Aquilo pegou Colin e Samantha de surpresa.

— Não estou sugerindo nada — protestou Melin — Você sabe que a população desse planeta reduziu muito devido às guerras. Eles precisam de mais bucha de canhão.

— Bucha de canhão para quê? — perguntou Lina.

— Isso eu não sei, ninguém sabe o objetivo deles.

— Esse é o problema, são só especulações. Chuto que é algo bem mais preocupante.

Melin ergueu uma das sobrancelhas e cruzou os braços.

— Mais importante que uma segunda queda do véu? Tá certo, espertona, o que seria?

— O nascimento do último caído.

Todos eles ficaram surpresos, menos Colin, que já sabia sobre de quem eles falavam.

— Quanta bobagem… — disse Melin andando para fora da tenda. — Falken! — chamou Melin. — Este vampiro, ele vem comigo para o império. Preciso conversar com o imperador e sua situação delicada.

Falken fez que sim.

— E quanto a vocês três, o que farão?

Lina cruzou os braços.

— Farei um relatório com tudo que aconteceu aqui, mas com você na jogada, acredito que não precisem de mim para seguirem adiante com tudo isso. Voltarei para capital em breve com meus irmãos e seus amigos.

Melin encarou Colin de cima a baixo. Ele sentiu que dele exalava uma energia latente poderosa, afinal, ele derrotou uma criatura do abismo, não é qualquer um que consegue um feito deste.

— Faça o que quiser. — disse Melin balançando uma das mãos. — Acredito que consigo seguir daqui adiante sem problema algum. Minha irmã Janora e seus soldados continuarão aqui neste ducado por enquanto até que as coisas se ajeitem. Partirei em breve, mas não hoje. — Ele encarou Lina novamente. — Espero o seu relatório o mais rápido possível.

Apressado, Melin passou por Colin e Samantha, afastou a entrada da tenda com uma das mãos e desapareceu.

— Tudo bem deixar Janora sozinha aqui com seu batalhão? — perguntou Lina.

— É claro que está — disse Falken com um sorriso. — Afinal, ela é a segunda em comando dos dragões carmesins. E Pela leitura de mana deixada pela criatura do abismo, ela não teria dificuldade para acabar com aquele ser.

Recordando-se do semblante angelical de Janora e de sua aura, Colin se perguntou se Falken realmente estava dizendo a verdade. Logo depois ele encarou Lina de soslaio, notando que ela é uma pessoa que também esconde sua mana real, ao contrário de Melin e Hodrixey, que a exibem por aí sem problema nenhum.

— Certo! — disse Lina. — A gente se vê na capital.

Falken fez que sim com a cabeça e Lina virou as costas, andando para longe. Colin diminuiu os passos para ficar ao lado de Samantha.

— Que cara é essa? — perguntou Colin entrelaçando os dedos atrás da cabeça.

— Não é nada, eu só tava pensando em tudo que aconteceu lá dentro. Toda essa conspiração com os caídos, vampiros e império, acho que é coisa demais para mim, mas você pelo visto está bem tranquilo.

Colin deu de ombros.

— Não tem o que fazer. A única coisa que está na minha mente agora é a convocação do imperador. O que acha que ele quer comigo?

— Te agradecer, talvez?

— É, acho que é isso. Bem, darei uma passada na estalagem para pegar as crianças.

— Vai mesmo levá-las? Digo… onde elas vão ficar?

— Os gêmeos são filhos do imperador. Eles podem mover alguns pauzinhos para me ajudar eu acho. E eu devo isso aqueles pirralhos, meio que não posso deixá-los aqui depois de tudo que aconteceu.

— Então tá… espero que saiba o que está fazendo.

— Eu também.

O caminho deles se divergiu. Colin seguiu para a estalagem e Samantha foi aprontar as carruagens. Ele começou a subir as escadas enquanto escutava vozes de adultos no quarto.

Assim que ele abriu a porta, ele viu Janora e mais um homem alto com um bigode bastante chamativo no rosto. Janora estava sentada na cadeira, as crianças estavam mais ao longe quase escondidas e sentada em frente a Janora estava Meg, mexendo com os pezinhos naquela cadeira alta.

— Olha se não é o nosso herói. — disse Janora com um sorriso — Eu estava aqui conversando com a pequena.

— Conversando sobre o quê?

Janora deu de ombros.

— Você deve ter percebido, não é?

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Percebido o quê?

— A pequena aqui tem um poder mágico bem fraco, mas tem. Existem alguns magos tão poderosos que conseguem anular um ataque só com o olhar, e acho que essa garota conseguirá fazer isso se eu a lapidar.

“A Meg consegue fazer algo assim? Se bem que os olhos dela sempre foram diferentes da maioria das crianças.”

— Desculpe, mas ela recusa. — disse Colin — Ela é uma criança. Não quero que ela tenha horas intensas de treino nem nada do tipo, ela nem tem idade para isso.

Janora esboçou um sorriso de canto.

— Que eu saiba, você não é o pai dela e de nenhum deles. Então acho que órfãos são de responsabilidade do império.

— Discordo totalmente. Eles tiveram que se virar durante muito tempo sem a ajuda do império ou do ducado. E agora, só porque convém, vocês decidiram tomar a garota como se fosse propriedade de vocês? — Colin encarou Meg — Vem Meg, pegue suas coisas, a gente já vai partir.

Meg saltou da cadeira e antes de ir em direção a Colin sentiu algo no braço. Janora o segurava firmemente.

— Aonde vai, garota? Ainda não terminamos de conversar.

O aperto de Janora era forte, machucava intensamente. Meg encarou Colin com os lábios tremendo.

Faíscas celestes começaram a circular o corpo de Colin e ele conjurou sua adaga elétrica se preparando para o ataque, então, Janora soltou Meg e ela correu para trás de Colin.

— Então os boatos eram verdade. — disse Janora sorrindo — O elfo negro é maluco ao ponto de partir para cima de um comandante sozinho. — Ela se ergueu — Vamos embora, Danbas, o elfo é responsável pela pirralha, a gente perdeu essa.

Ela passou por Colin tranquilamente, mas Danbas deu uma ombrada nele, quase o derrubando no chão. Colin nada fez, só os deixou ir. Ele relutou pelas crianças, mas se estivesse sozinho certamente tentaria matar Danbas ali. O mais intrigante, era que mesmo tomando essa atitude grosseira, a mana de Janora continuava doce e gentil.

— Senhor Colin… — ele olhou para baixo encarando uma Meg chorosa — Eu não quero deixar o senhor, nem meu irmão, nem ninguém!

Colin afagou os cabelos dela.

— Tá tudo bem, ninguém vai embora aqui. Peguem suas coisas, a gente vai para capital, o que me dizem?

As crianças esqueceram completamente o que havia acontecido e já se apressaram, pegando suas pequenas mochilas e correndo para fora.

Colin suspirou, parecia que tinha passado anos desde que ele saiu da capital. Ele sentiu algo puxar sua calça duas vezes. Olhou para baixo e viu Brey bocejando.

— Brey, o que foi?

— Me carrega, papai? Tô com sono…

Colin relutou por um instante, mas depois deu de ombros. Pegou a mochila de couro de Brey e jogou no seu ombro, depois pegou Brey no colo. Ela passou os braços pelo pescoço dele e fechou os olhos dando mais um bocejo.

— Dormiu tarde ontem, né?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Desculpa, papai…

Colin deu dois tapinhas nas costas dela.

— Tá tudo bem, só descansa, temos uma longa viagem pela frente.

Ele desceu as escadas com ela cochilando em seus braços e assim que deixou a estalagem foi para as carruagens preparadas na entrada do ducado. Aquela era uma guarnição bem grande. Havia até mesmo alguns soldados que estavam retornando para a capital junto deles.

No momento que Colin subiu na carruagem, ele se virou para trás ouvindo passos de uma multidão se aproximando. Todos os moradores do ducado estavam reunidos, incluindo a viúva, o duque, e até mesmo a agora ex-prostituta Alihana.

Colocando a cabeça para fora da carruagem, observavam todas aquelas pessoas, reunidas. Com toda a confusão, era difícil deduzir que o ducado era tão populoso.

A viúva deu um passo à frente e disse em alto e bom som.

— Viajantes, o povo deste ducado não é tão ingrato. Viemos agradecer! — Todos eles se curvaram sincronizadamente. Velho, criança, homem, mulher, todos se curvaram em agradecimento.

Os gêmeos ficaram surpresos, eles não esperavam aquilo, mas a sensação que sentiram foi reconfortante.

A viúva se aproximou do cavalo de Colin e lhe entregou um saco gordo de joias.

— Aqui está o resto do pagamento pela missão. — Disse a viúva, esforçando-se para erguer o saco de joias preciosas.

Colin não dispensaria, de maneira alguma, o saco gordo de joias. Ele tinha um punhado de crianças para cuidar agora, e uma guilda para administrar futuramente. Qualquer ajuda financeira seria bem-vinda.

— Obrigado, senhorita…

— Mary! — disse a viúva

Colin pegou o saco de joias como se não fosse nada.

— Normalmente eu recusaria, pois vocês já nos deram suprimentos o suficiente para a viagem.

Mary sacudiu uma das mãos.

— Não se preocupem com isso, com a rota de comércio aberta daqui até a capital, acredito que iremos prosperar bastante.

— Fico feliz em ouvir isso. — Colin jogou o saco para Samantha na carruagem que de prontidão já o transformou em um anel.

A viúva estava com as mãos frente ao corpo, seus cabelos estavam mais brilhantes e seu rosto parecia mais vivo que da última vez.

— Vejo que um novo recomeço está fazendo bem a você. — disse Colin. — Está mais bela que da última vez que te vi.

— Ah… — ela desviou o olhar. — É que as coisas mudam um pouco quando você ganha um novo propósito.

— Sei bem como é, se cuida.

Colin entrou na carruagem com Brey ainda em seu colo e sentou-se próximo à janela com alguns soldados a cavalo fazendo a escolta da carruagem.

— Ei! — gritou uma voz da multidão. — Da próxima vez quero que bebam na minha taverna, todos vocês!

— É! — berrou outra voz. — Quero que a Elfa fofinha teste meus equipamentos.

— Elfa fofinha? — murmurou Alunys.

Os berros de agradecimento não cessaram, mas conforme eles se afastavam o som diminuía, até desaparecer por completo. Demorou, mas eles estavam finalmente indo para casa.

Picture of Olá, eu sou Stuart Graciano!

Olá, eu sou Stuart Graciano!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥