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Nenhum raio de sol chegava naquela ilha, e isso a deixava bem fria. O vento não era suficiente para afastar o miasma espesso. Brighid voejava pela ilha, observando os espectros e às vezes parando para ouvir lamento de espíritos. A ilha era uma inconstância mágica que ela não conseguia entender, afinal, ela tinha menos que um século de vida. Para as fadas, ela não passava de uma criança que mal havia acabado de sair das fraldas.

Em meio ao cenário cinza e decadente, ela encontrou uma estrada de pedra que levava para uma floresta onde não se ouvia o lamento dos espíritos. Entre as árvores, ela viu luzes se moverem para o interior daquela floresta de galhos retorcidos.

Brighid estava assustada, mas sua curiosidade falava mais alto. Ela não tinha a voz da experiência, muito menos cautela. A luz que via sumiu pouco a pouco, engolida pela escuridão, então ela se tornou a única luz naquele breu.

— Alguém? — ela berrou escutando estalos entre as árvores.

— Não devia estar aqui, fada… — sussurrou uma voz no escuro.

— Drez’gan, é você? Pessoal… tem alguém aí?

Assim que Brighid se deu conta, ela estava no meio do pântano. Algo parecia estar na água, algo com uma energia cruel e pegajosa. Os galhos começaram a retorcer em estalos cada vez mais agressivos.

Vush!

Uma raiz de árvore que foi em direção de Brighid foi cortado e caiu na água do pântano. A fada olhou para trás assustada com a parte cortada da raiz se movendo de forma frenética ao ser cortada. Mais raízes saíram do chão, se formando um monstro do pântano.

— O que está fazendo aqui, Thaz’geth? — perguntou o monstro.

Segurando o elmo debaixo do braço esquerdo e uma espada negra na mão direita, Thaz’geth caminhava sobre a água do pântano portando sua armadura negra imponente.

— Não devia tratar sua senhora com essa hostilidade, esqueceu a quem você serve nesta ilha?

— Eu não sirvo a ninguém. O meu trato com Drez’gan é simples. Ele fica longe do meu pântano e eu fico longe daquele palácio e dos fantasmas.

Thaz’geth abriu um sorriso e encarou uma Brighid bastante assustada.

— Não devia ir para tão longe do palácio, essa ilha costuma ser bem hostil com seres puros, ainda mais um ser puro como uma fada.

— Desculpa, senhora Thaz’geth… eu…

— Tudo bem, você ainda vai entender com o tempo. — Ela olhou para o monstro feito de cipós, galhos de árvores e folhas. — Não vai nos convidar para entrar?

— Por que eu convidaria?

— Tentou devorar minha aliada, é o mínimo que merecemos. Esqueceu da hospitalidade?

O monstro se moveu. Entrou na água e os galhos começaram a se retorcer, dando forma a uma casa de madeira. Assim que a casa ficou pronta, a porta feita de cipós se abriu. Thaz’geth passou por Brighid e guardou sua espada na bainha da cintura. Jogou os longos cabelos verdes para trás do ombro e caminhou sobre as águas, não se desfazendo um momento sequer de seu nariz empinado.

Sem muita escolha e com um medo enorme de ficar naquele lugar sozinha, Brighid a seguiu, entrando em uma casa pequena, inteiramente feita de cipós e trepadeiras. Sem cerimônia, Thaz’geth, puxou uma cadeira de cipós e se sentou, apoiando seu elmo na mesa.

Dos fundos, uma mulher, de traços delicados e uma pele que, ao mesmo tempo, era feita de carne e osso, era também feita de galhos e folhas. Seus cabelos eram feitos de samambaias e se arrastavam no chão.

— Uma dríade? — perguntou Brighid perplexa. Fadas, Dríades e Ninfas eram seres bastante ligados a natureza e a pureza de certa forma. Ela ficou em choque de ver uma dríade em um lugar corrompido como aquele.

— Oi… pequenina… — disse a dríade em um tom de voz bem doce — Me desculpe ter te atacado antes… pensei que fosse um fogo-fátuo. Às vezes eles tentam incendiar a floresta.

Thaz’geth relaxou na cadeira e cruzou os pés.

— Dois seres puros nesse lugar, que coisa maravilhosa. Mas ainda temos um problema aqui. Você tentou atacar uma das generais de Drez’gan.

A dríade arregalou os olhos.

— E-eu não queria, sinto muito, eu não sabia que você seria uma subordinada daquele homem…

— Posso deixar passar — disse Thaz’geth — Se você fizer uma coisa por mim. Será o nosso segredinho.

— Q-que coisa?

— Somos seres corrompidos, mas Brighid não.

— O que está sugerindo?

— Drez’gan sempre quis isso, mas nossa natureza vil não nos permite, então o trato é o seguinte, deixe que os elementais sirvam a fada.

Tanto Brighid quanto a dríade, não esconderam a surpresa. Controlar um elemental precisava de bastante técnica e disciplina. Brighid era somente uma criança, pedir algo assim para ela estava fora de sua pequena janela de aprendizado, mas Thaz’geth não se importava. Desde o momento que Brighid foi escolhida como general de alguém como Drez’gan, os outros generais já imaginavam um futuro grandioso para a jovem fada.

— Senhorita Thaz’geth — disse a dríade bastante nervosa — Não é tão fácil assim, mesmo que ela tivesse um elemental, a magia para invocá-los seria algo bem difícil de aprender…

— Isso não será problema para nós — Ela se levantou — Vamos fada, temos que voltar para o palácio.

Thaz’geth apanhou o elmo em cima da mesa e saiu apressada, caminhando sobre as águas. Elas saíram sem dizer nada. Brighid olhou para trás, vendo a casa se desfazer.

Brighid não tinha ideia do que Drez’gan poderia fazer para ajudar. Elas não disseram uma palavra até chegar ao palácio. Assim que chegaram, Thaz’geth explicou toda situação a seu rei, e ele concordou em ajudar. A caminhada de Brighid era longa até que ela se tornasse tão forte como eles, mas ela era um ser puro, seu caminho poderia ser bem mais fácil.


Descendo até as profundezas daquele palácio, eles foram até uma masmorra. Nela, havia um círculo mágico no chão e um pequeno altar no centro. No altar, cada um dos generais derramou sangue em uma jarra, e por último Drez’gan derramou o seu.

A Brighid foi oferecida o sangue de todos aqueles seres. Ela relutou em aceitar em um primeiro momento, mas o poder era tentador, até mesmo para os seres puros como as fadas. Depois de muito pensar, ela aceitou aquele sangue. Ela aprendeu desde cedo que magias que envolviam o sangue, eram as mais poderosas e as mais perigosas. Delas, pactos eram feitos.

Brighid bebeu o sangue, e seu estômago se revirou. Seus companheiros sabiam que aquilo aconteceria. O sangue sujo deles estava dentro dela, um ser de essência pura. Após sentir um pouco de dor, logo as coisas se amenizaram. O cabelo dela continuava preto, mas seus olhos estavam verdes.

Mesmo cercada por toda aquela corrupção, ela parecia a mesma. O que havia mudado era somente a cor de seus olhos. Ela continuava pura, e sua essência estava intacta.

— Agora você é oficialmente uma de nós — disse Drez’gan com um sorriso.

— O que isso significa? — ela perguntou, ainda ajoelhada naquele chão frio.

— Braz’gallaan — disse o rei — Ensine-a a absorver magia, e então veremos como a fada se sai.

Brighid não teve nem a chance de descansar, e seu primeiro treinamento começou. Para absorver magia precisava se entender o processo reverso da mesma. Exigia um conhecimento abrangente que poucos tinham.

Demorou cinco anos para ela aprender o princípio básico de absorção. Logo, ela teria que estudar as diversas magias existentes, entender a composição, a quantidade de mana, velocidade na qual ela era lançada, o poder destrutivo, e outras variações que tomou da fada três séculos inteiros.

Com o pacto de sangue, recriar magias absorvidas se tornou bem fácil. A dríade lhe ensinou a evocar elementais, o problema era controlá-los, já que os mesmos eram manifestações puras da natureza. O mais difícil de controlar era o elemental de fogo. Sua agressividade tornou as coisas bem difíceis.

Com o passar dos séculos, o cabelo preto de Brighid se tornou esverdeado, e sua magia ficou bastante forte. Seu ensinamento com magia estava completo. Durante seus anos absorvendo e recriando magia, fez com que sua árvore do conjuro alcançasse o ápice em poucas décadas, então, ela se tornou uma monarca. Braz’gallaan e Sor’uth foram essenciais nesse aprendizado.

Enfim, faltava ela aprender combate, mas era difícil fazer isso em seu corpo de fada. Então, Brighid moldou seu primeiro corpo, mas ele não durava tanto. Devido à corrupção da ilha, o corpo não durava mais que alguns dias. Mas com sua magia avançada, ela conseguiu aproveitar ao máximo suas poucas horas de treinamento de combate, absorvendo tudo com maestria.

Brighid, enfim, conseguiu alcançar o resto de seus companheiros. Obteve tanto poder que seu ego estava bastante alto para um ser tão pequeno. Drez’gan entregou a ela uma parte do exército.

Em mais oito décadas ela se tornou monarca de duas árvores, e se não fosse pela corrupção que assolava a ilha, ela teria se tornado uma monarca de tríade como seus companheiros.

Conseguiu sozinha alcançar o Lithium e viu o seu destino.

Ela viu Drez’gan enfrentando alguém. Ela não viu quem o enfrentava, mas viu magia de raios poderosas, sem sombra de dúvidas, era um monarca, um monarca do céu. Logo depois sua visão se desfez, e ela viu outra coisa. Viu duas pessoas se digladiarem em um cenário destruído, onde chamas quase tocavam o céu. Enxergando melhor, ela viu uma mulher atravessar o peito de um homem que julgou ser um elfo negro.

Com Thaz’geth ela aprendeu a lutar.

Com Og’tharoz ela aprendeu a usar armas.

Com Braz’gallaan ela aprendeu sobre o cosmos, matemática e os infinitos planos do universo.

Com Sor’uth ela aprendeu a usar magia com perfeição, e com Drez’gan ela aprendeu a governar a morte.

A fada foi dada o novo nome de Kag’thuzir, que na antiga língua morta dos habitantes da ilha significava “Anjo do desespero”.

Drez’gan manteve os olhos nela durante todo esse tempo, e se encantou pelo fato dela continuar pura após respirar aquele miasma por séculos e ainda absorver o sangue impuro dele e de seus companheiros.

Brighid, em sua forma humana trajando a armadura negra imponente, olhava o enorme exército de espectros de cima da sacada. Seu cabelo longo balançava com o vento frio que sempre soprava daquele lugar. Mesmo estando junta deles por tantos séculos, ela se sentia deslocada. A energia daquele lugar a deixava mal, assumindo uma tristeza que não era característica das fadas.

— No que anda pensando? — perguntou Drez’gan parando ao seu lado.

Ela o encarou por um momento, logo depois desviou o olhar mantendo-os no horizonte escuro.

— Sinto que já aprendi tudo que podia nesse lugar. — Ela disse.

— Eu sei, depois que você atinge o topo, esse lugar fica entediante. Eu sairia daqui se pudesse.

— Ainda tem a ideia de purificar o mundo?

— Não é uma ideia, é um propósito.

Brighid fez que sim com a cabeça e disse:

— Aqueles piratas que trouxeram almas novas disseram que a guerra entre os vampiros e os caídos chegou ao fim faz alguns séculos. Os dois lados sofreram grandes perdas…

— É, agora parece que os humanos estão protagonizando a história durante alguns séculos… é uma pena, são seres bem desprezíveis.

— Mas você era um humano antes de-

— É, eu era, por isso entendo sua essência.

Drez’gan moveu sua mão, a colocando por cima da mão de Brighid, que ergueu a cabeça o encarando sem entender nada.

— Eu estive observando você por todo esse tempo. Há dezenas de seres que não duram nem uma semana aqui, mas você ficou por séculos e continuou a mesma. Isso é maravilhoso. Você controla meu exército, não quer comandar o mundo ao meu lado?

— Mas… estou do seu lado…

— Eu estava sugerindo a você o seguinte, torne-se, minha rainha.

Brighid recuou a mão e desviou o olhar.

— Eu… desculpa, senhor, mas eu não…

Drez’gan fez que sim com a cabeça.

— Achei que o amor das fadas fosse apenas história. Pensei que se apaixonaria por mim depois de todo esse tempo, mas ainda não consegui, não é?

— … sinto muito senhor…

— Tudo bem, você ainda será minha rainha, é só questão de tempo. Talvez você precise respirar um pouco, se tornar uma monarca de tríade.

— Está sugerindo que eu deixe a ilha?

— Por que não? Você merece.

Drez’gan deu dois tapinhas no ombro de Brighid e deu as costas.

— Não se esqueça, assim que deixar essa ilha, seus poderes podem demorar a retornar, talvez alguns séculos, então seja cuidadosa.

Ela fez uma reverência.

— Obrigada por tudo…

— Por nada.

Ela continuou em cima da sacada observando o exército espectral. Drez’gan sempre foi gentil com ela, mas sempre que estava com ele, algo lhe dizia haver alguma coisa errada. Desconfiada, ela se retirou para seu quarto e resolveu usar uma magia que aprendeu a pouco tempo. Fez um círculo mágico no chão e apanhou um espelho.

Braz’gallaan era poderoso, ele sentiria alguma magia poderosa se ela fosse lançada, e aquela continha um poder capaz de colocá-la um passo a frente de todos eles. O círculo, não deixava Braz’gallaan sentir a magia que ela estava prestes a usar.

Pegando o espelho, ela o encarava.

Drez’gan, unir serinthot secretus!

A imagem do espelho mudou, mostrando Drez’gan sentado em uma sala reservada conversando com Braz’gallaan. Aquele momento não era o presente, era o passado.

— Dentro de alguns séculos, creio que seremos livres. As barreiras entre o abismo e o outro mundo mágico ficam cada vez mais fracas.

Drez’gan abriu um sorriso sádico, um sorriso que Brighid nunca havia visto em todos esses anos. Ele ergueu a mão em direção a um escravo que não havia se tornado espectro e sugou uma parte da alma daquele ser. O humano, franzino e com fome, suplicava em silêncio para aquilo acabar logo.

— Me… mate… — balbuciou o humano e Drez’gan o ignorou.

— Aqueles caídos cretinos parecem estar fazendo seu trabalho. Não aguento mais ficar aqui. Aqueles demônios vivem me desafiando, não aguento mais perder meu tempo com disputas frívolas.

— Essa é a natureza deles, afinal, o senhor é o rei do abismo.

“Abismo? Estamos no abismo? Isso… é impossível…”

— É, só me mantenha atualizado sobre o treinamento da fada.

— Ela é habilidosa, creio que se não fosse a ilha, ela teria se tornado uma monarca de tríade.

— Entendo, então é melhor a liberarmos, certo?

— Só humanos e animais conseguem ir e vir pela barreira que o miasma ergue. Não sei se ela consegue algo assim.

Drez’gan abriu um sorriso de canto.

— Ela é mais pura que qualquer humano que cruzou a barreira. Não será um problema para ela.

— O senhor está certo. Com ela escapando, a barreira tende a enfraquecer ainda mais assim que ela recuperar os poderes, e então o véu cairá uma segunda vez, e desta vez, seremos nós que assumiremos as rédeas da situação.

Drez’gan se sentou na cadeira e relaxou, pegando uma maçã podre em cima da mesa e a mordendo.

— Farei dela, minha rainha.

Braz’gallaan ergueu a sobrancelhas.

— Tem certeza?

— Claro, ela é o único ser que pode nos matar. Melhor a mantermos por perto. E eu a tornei quem ela é, ela pertence a mim, de corpo e alma.

— O senhor sabe sobre o amor das fadas, não sabe?

— Sei, ela nunca vai amar outro homem, não se preocupe. Por isso inventei aquela balela de julgar os impuros, salvar pessoas… fadas são burras, tão inocentes que chega a dar pena. Com Brighid não é diferente, tão burrinha que tenho que me controlar para não rir daquela imbecil em sua frente.

— E mesmo assim quer torná-la sua rainha…

Drez’gan deu de ombros.

— Tudo para sairmos desse lugar horrível. De qualquer modo, tem um demônio que me desafiou, lutarei contra ele dentro de algumas horas. Esse é forte, então irei me preparar.

Brighid desfez a magia do espelho e o abaixou. Ela confiava neles, afinal, eles estiveram junto dela fazia séculos. Fadas eram seres sensíveis, e algo como aquilo foi um baque e tanto. No fim, ela acabou sendo usada. Ela abraçou os joelhos e enfiou a cabeça no meio das pernas, chorando feito uma criança.

Ela tinha desconfianças se tratando de Drez’gan, mas mesmo assim o admirava. Ele a ensinou tantas coisas que ela se sentia extremamente grata, não foi nada fácil ouvir aquilo da boca dele. Fungando e com o nariz escorrendo de tanto chorar, ela limpou as lágrimas que escorriam pelo canto de seus olhos com as costas da mão.

O mais difícil seria fingir na frente deles que ela não sabia de nada. Sabendo da real natureza de seus companheiros, ela não queria deixá-los derrubarem o véu uma segunda vez.

Se o que ele disse estava correto, a ilha, na verdade, sofreu uma grande inconstância. No mesmo tempo que portais se abriram na ilha, a ilha foi transportada para o abismo.

Se Drez’gan era mesmo rei de um lugar como o abismo, então seu poder era sem precedentes. Ele nunca poderia deixar aquele lugar. O que a deixou com uma pulga atrás da orelha foi o fato de Drez’gan ter dito que ela era a única que poderia matá-lo. Ela sabia que aquilo era quase impossível, mas aquelas palavras continuaram na sua cabeça.



Depois de mais alguns dias, outro navio de piratas trouxe mais escravos e Brighid, agora em sua forma de fada, partiu com eles. Foi difícil se manter a mesma na frente de Drez’gan e dos outros.

Assim que deixou o nevoeiro, ela olhou para trás. Voejando, ela encarou as mãos minúsculas, sentindo que todo poder que obteve foi reduzido a zero.

“É como Drez’gan disse… acho que vai demorar um pouco para voltar…”

Ela ficou no abismo por séculos, e o mundo mudou bastante durante esse tempo. Raças inteiras foram extintas e impérios em ascensão de sua época já não existiam mais. Monastérios milenares foram reduzidos a pó. Religiões se ergueram e caíram, assim como centenas de reis e reinos.

Desta vez, os protagonistas da história eram os humanos, o jogo dos tronos se tornou mais sujo do que nunca foi antes. A miséria e a morte consumiam quase todo o planeta. Aquela era uma péssima hora para ficar sem poderes.

Vup!


Brighid havia sido colocada dentro de um saco. Ela se debatia, mas não adiantava nada. Sem magia, a única coisa que conseguia fazer era gritar.

— Ei! Ei! Me solta!

O pirata que segurava o saco abriu um sorriso e encarou seus companheiros.

— Vamos ganhar uma grana com essa coisa.

— Essa não é a subordinada daquele reizinho desgraçado?

— É ela mesma. Notei assim que saímos daquele lugar. A magia gigante que vinha dela desapareceu completamente.

O pirata enfiou a mão no saco e pegou Brighid, a jogando dentro de uma pequena jaula.

— Não pode dar problema para gente com aquele tal de Drez’gan?

— Que nada, ele não precisa saber.

O pirata fez que sim.

— Algum circo pode se interessar por ela.

— É o primeiro lugar que pensei.

Com o passar das eras, a lenda do lamento do rei continuou, mas perdeu força. Com o tempo, não havia mais piratas interessados em levarem mais almas e a ilha foi esquecida no tempo.

Brighid passou de circo em circo, de trupe em trupe, de nobre em nobre durante décadas, até que alguma fagulha do seu poder se manifestasse.

Não importava quanto tempo tivesse passado, a natureza humana não havia mudado nem um pouco. Até mesmo as outras raças haviam adquirido essa característica. Sempre a vendo como uma atração para entreter a plateia ou um objeto sem muita utilidade.

Pela primeira vez ela sentiu fome, sede, frio e um medo que não sentiu nem mesmo quando estava próxima de Drez’gan. Ela tinha a missão de não deixar que o rei do abismo viesse para esse mundo, mas não havia como se aliar a ninguém. Ninguém ouviria o que uma fada tinha a dizer.

Brighid aprendeu que a gentileza era algo que foi extinto naquela era. Quieta no canto e com a boca selada, ela sentiu algo na espinha assim que ouviu pessoas adentrarem a carruagem.

O nobre retirou o pano, e ela reconheceu aqueles dois assim que bateu o olho neles. Eram eles que ela viu quando tocou o Lithium.

De alguma forma, ela sentiu poder confiar neles, mas ambos passavam uma energia bastante intensa. O destino daqueles dois estava conectado, e o destino dela estava conectado a eles, principalmente com o rapaz de pele morena com o olhar de predador. Ela teve certeza disso quando ele a libertou e disse que ela estava livre.

Ele não a obrigou a segui-lo, nem disse que ela devia nada a ele, apenas que ela estava livre. Fazia séculos que ela não sabia o que era liberdade. Aquelas palavras a tocaram fundo, foi então que ela decidiu seguir o destino, seguir aqueles dois.

Brighid decidiu ensinar-lhes os primeiros passos para se alcançar o poder. Se lembrou de suas visões e ponderou que talvez o monarca que viu enfrentando Drez’gan fosse Colin, ainda mais após conhecê-lo melhor e descobrir que sua árvore era a do céu. Ele era o único louco o bastante para fazer algo assim. Ela também sabia que em algum momento, Safira o mataria, e isso a remoía pouco a pouco, pois quanto mais o tempo passava, mas ela os amava.

Com o passar dos dias ela se acomodou, gostou do calor que eles a proporcionavam. Ficou junta daqueles dois e sem querer, a prometida de Drez’gan se apaixonou por um homem que não era rei. Colin havia feito em semanas o que Drez’gan não fez em séculos.

A sorte de Colin, era que o tão temido rei do abismo não fazia ideia de sua existência, pelo menos por enquanto.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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