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Capítulo 80 – Ao redor da fogueira

Na manhã seguinte, Colin estava com Brighid, esperando o resto do seu esquadrão chegar. Já não era mais possível escapar do frio, por sorte, o casaco de guilda deles era bastante quente. O tempo estava nublado e, vez ou outra, soprava um vento gélido em seus rostos.

Caminhando ao longe, estava Wiben, Alunys totalmente recuperada, Liena ao lado dela e ao lado de Liena estava Safira. As quatro eram baixinhas em comparação a Wiben que tinha quase a mesma altura que Colin.

— Vocês se atrasaram — disse Colin.

Colin encarou uma Safira quieta e uma Alunys mais retraída que o normal. Eles haviam alugado três carruagens com cocheiros bem experientes. Cada esquadrão partiria em uma carruagem, que estava posicionada uma atrás da outra.

Safira nada disse, somente entrou na carruagem e Alunys a seguiu também em silêncio. Ela soube da suspensão de todos os seus colegas de equipe e da expulsão de Stedd após comprarem uma briga por causa dela.

Praticamente ninguém da guilda se importou com aquilo, exceto pela própria Alunys que se sentia mais culpada que o normal. Talvez se ela fosse mais forte, as coisas poderiam ter sido diferentes.

Depois foi a vez de Wiben adentrar a carruagem, dando dois tapinhas no ombro de Colin.

— Vou na outra carruagem com as meninas. — disse Brighid — Estou a metros de distância, então estarei de olho se você se meter em algum problema.

Colin abriu um sorriso.

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe.

— É, eu espero que fique.

— Você vai gostar do pessoal. Você e Graff devem ter quase a mesma idade.

Brighid deu um soquinho no ombro de Colin.

— Já disse para não ficar me chamando de velha.

— Foi mal…

Ela deu de ombros.

— Se precisar de mim, vou estar na outra carruagem. Vou conversando com Lei Song para tentar acostumá-la a ideia da magia do ocidente.

— Então vai mesmo dar uma de professora de novo? Isso combina com você, já que tem um vasto conhecimento, e não estou chamando você de velha por causa disso.

Brighid abriu um sorriso de canto de boca e cruzou os braços.

— Não acho que será tão difícil ensinar magia a eles. Samantha cuidará do treinamento corpo a corpo.

— Essa é a vantagem de ser uma monarca de duas árvores, certo? Aliás, é bem difícil ver você usando algo além de cura.

Ela fez que sim.

— Usei uma habilidade de Monarca do conjuro uma vez para defender o golpe de Anton, mas no mais, tenho aquela maldição que não posso ferir um humano… então contra humanos me limito bastante.

— Entendi… você é uma monarca do vácuo, não é?

Uhum! Por que a pergunta?

Colin deu de ombros.

— Lutei contra um vampiro que era monarca do vácuo. Ele era bem forte, se a irmã mais velha dos gêmeos não tivesse intervindo, então eu estaria provavelmente morto. É meio assustador pensar que você é bem mais forte que eu com essa sua carinha de princesinha e esse seu jeito delicado.

Brighid sorriu e apertou a bochecha dele.

— Coitadinho! — ela zombou — Se quiser, eu posso dar um jeito de treinar você, como nos velhos tempos.

— Você sabe que ia ser difícil ficar só no treino.

— É, eu sei.

Brighid ficou na ponta dos pés e beijou Colin. Bateu a mão duas vezes no peito dele e apontou com o queixo para a carruagem.

— Seus amigos estão esperando, não fique enrolando. A gente vai logo atrás.

Colin a beijou mais uma vez e subiu na carruagem. O cocheiro estalou os chicotes no lombo do cavalo e ele iniciou o trote. Eles se despediram com um aceno de mãos.

— A viagem vai ser bem longa. — disse Colin cruzando os braços e se ajeitando no assento — O cocheiro vai levar a gente até a cidade, de lá a gente vai andando até o castelo.

— Então você conseguiu mesmo fazer amizade com um bando de gente super poderosa? — Perguntou Wiben de braços cruzados.

— Acho que sempre fui cercado por gente mais forte que eu. — Colin olhou para Safira emburrada, olhando para a janela e depois para Alunys — O que deu em vocês duas?

— Nada… — murmurou Safira mantendo os olhos na janela.

Colin sabia que havia algo errado, mas ele não as pressionaria se não quisessem contar a ele. Os motivos de Safira eram infantis. Ela queria ter lutado contra Loafe e seus companheiros, assim, ela poderia se provar na frente de todo mundo, já que treinava especialmente para isso.

Já os motivos de Alunys todo mundo já sabia.


O tempo se passou, e os dias seguiram um após o outro. Em meio as paradas para montarem acampamento, Safira, Alunys e Kurth iam para floresta treinar exaustivamente. Alunys continuava a aperfeiçoar a arte Mi Chi Chuan. Seus movimentos eram como uma dança suave, porém, ela ainda tinha um pouco de dificuldade no movimento. Como se imitasse o movimento da maré, ela empurrava e puxava a água de pequenos rios e lagos, mas controlar o fluxo de um grande volume exigia uma maestria que ela ainda não possuía.

Brighid passava mais tempo com Lei Song e os gêmeos. Os membros que sobravam costumavam ficar em torno de uma fogueira durante boa parte da noite jogando conversa fora.

— Fala sério! — disse Sashri deitada na grama com as mãos atrás da cabeça enquanto observava as estrelas — Você, bonita, rica, filha do comandante mais importante do império e está vivendo como selvagem. É algo que não consigo entender.

— Nem todo mundo quer uma vida normal atrás de mesas assinando um monte de papéis. — respondeu Samantha. — E eu não poderia ficar em casa e ser treinada na etiqueta das damas da corte. Minha mãe não vai muito com a minha cara. Seria sufocante ficar do lado dela o tempo todo.


Uuuu — zombou Stedd com uma perna de coelho assado nas mãos — Então a riquinha é diferente, ela gosta de aventura. Cuidado Wiben, garotas assim costumam ser complicadas hehe.

— O que tem? Você mesmo é um assassino de aluguel. Não gosta de fazer o que faz? — ela perguntou.

— Eu amo! — respondeu Stedd. — Mudando de assunto, eu fico me perguntando, o que faremos quando a guilda finalmente se oficializar?! Vocês podem se graduar mais cedo se cumprirem várias missões de ranking alto. Estou de fora da universidade, mas não preciso necessariamente pertencer à universidade para fazer parte de uma guilda oficializada pelo império. A guilda pode ser grande, já que tem um monte de gente rica nela. Quem sabe a gente consiga favores do império.

— Essa é uma péssima ideia. — respondeu Wiben — A maioria das guildas do império são corruptas, mesmo aquelas controladas por membros do lótus.

— E daí? — perguntou Stedd mastigando um pedaço de carne — Nem todo mundo tem dinheiro feito você e sua namoradinha. Não estou dizendo que devemos ser complacentes com a corrupção, só devemos saber jogar o jogo político, afinal, os camponeses comuns acreditam em qualquer porcaria que os membros do parlamento imperial falam.

— Você diz isso porque não foi seu pai que começou a fazer parte de um sistema corrupto enorme que ele não consegue mais sair. Começa com favores pequenos, depois eles crescem e logo você faz parte do esquema. O melhor é sermos uma guilda independente.

As falas de Wiben faziam sentido, então, Stedd só decidiu deixar para lá. A ideia de ser um cão do império nunca lhe caiu bem.

Elhad estava quieto, apenas observando toda a conversa em volta da fogueira, mas ele estava curioso com um fato recente que aconteceu.

— Mas e então Colin… — disse Elhad deitado em um tronco de madeira — Como conseguiu fisgar a monarca de duas árvores? Não me diga que foi seu charme porque você não tem nenhum.

Colin, que até então estava em silêncio sentado ao lado da fogueira olhando para seu colar com a foto de Brey e as crianças, ergueu uma das sobrancelhas. Ele não esperava aquela pergunta e ele não sabia a resposta. Apesar de ter tido outras relações, ele não entendia do porquê alguém se atrairia por ele. Colin não era do tipo gentil, muito menos sociável ou bonito como príncipes e reis pela qual donzelas se apaixonavam. Sua única função era se jogar de cabeça em algum perigo eminente sem se ater as consequências.

— Não sei… — respondeu guardando o colar na camisa — Atitude talvez?

Wiben gargalhou.

— Atitude? Sério? Eu chutaria a agressividade.

— Agressividade? — perguntou Colin — Não acho que seja isso…

— Pelo que me contou até agora, você conheceu a maioria dos membros da sua guilda porque havia acabado de bater ou matar alguém, não foi? Dá para te ler bem, você é alguém que gosta de lutar, não é? Violência é o que te define. Não estou julgando você, até mesmo eu, tenho atitudes semelhantes. As mulheres adoram.

— Seu conhecimento sobre mulher é o mesmo que o de uma formiga por matemática, inexistente. — disse Sashri.

Wiben cruzou os braços e fez que sim com a cabeça encarando Sashri.

— Não se pergunta ao peixe como capturá-lo e sim ao pescador. Pode dizer o que quiser, mas estou certo.

— Meu Deus, cala a boca! — Repreendeu Samantha.

Todos em volta da fogueira gargalharam e Colin ficou um pouco pensativo com aquela conversa.

— Mesmo se você tiver razão, não acho que Brighid goste de mim porque pensa que sou violento… costumo a tratar bem, e ela sempre fez o mesmo por mim.

— Sei, sei.

— E você — Perguntou Stedd — Por que Samantha se interessou por você? Não vejo nada além de um riquinho mimado.

Até mesmo Samantha estava em silêncio para ver que tipo de resposta o namorado daria.

Hehe cala a boca. Sou rico, bonito e nossos pais se conhecem desde que eu era pequeno.

— E seus pais fazem o que mesmo? — perguntou Sashri

— Meus pais controlam fazendas, e parte da produção de grãos dele é vendida ao império por um preço bastante pequeno, em troca, meu pai tem algumas regalias no império. O imperador cobra uma taxa bem alta de fazendeiros novatos, então é meio impossível uma concorrência justa.

— Entendi, seu pai e o imperador estão fazendo monopólio. Não estou nem um pouco surpresa. — respondeu Sashri.

— Ei, ei, não concordo nem um pouco com isso, mas meu pai não liga muito para mim. Deve ter quase dois anos que a gente não se fala.

— O que aconteceu entre vocês? — perguntou Elhad.

Wiben suspirou.

— Quando eu tinha quatorze anos, nossa fazenda foi atacada. Os bandidos eram experientes, sabiam matar. Ficamos somente eu e minha irmã escondidos no guarda-roupa, mas fomos infelizmente descobertos. Apesar de três anos mais nova, ela tinha mais coragem que eu, e isso custou a vida dela. Ainda tenho pesadelos com a cabeça dela rolando até os meus pés.

Aquelas eram memórias dolorosas de se visitar, então ninguém o pressionou, apenas o deixou falar.

— Fiquei tão assustado com aquilo que implorei para que aqueles bandidos me deixassem vivo. Me acharam tão covarde que me deixaram ir. Na manhã, seguinte, meu pai viu toda aquela cena, e me culpou por eu não proteger minha irmã, afinal, eu era o mais velho… Por me considerar fraco, ele me jogou nessa universidade, e usou as conexões dele para me jogar na guilda de Loafe. Observei alguns idiotas lá dentro, e eu estava cansado de parecer fraco, então comecei a imitá-los. Eu ia nos alunos mais fracos e os agredia sem piedade. As pessoas passaram a me respeitar, a me temer, e eu achei isso incrível. — Wiben virou a cabeça para o lado encarando Colin — Me desculpa por aquilo… eu era um babaca.

— Relaxa, já passou…

— Ei, Colin! — Chamou Sashri — Como foi lutar com Loafe? Ele é tão forte como dizem?

— Ele é forte, se fosse o eu de um mês atrás eu teria provavelmente levado uma surra.

Ela fez que sim e apontou com o queixo para o braço direito de Colin.

— E qual é a da tatuagem? É algum Tribalista ou algo assim? Aliás, faz um tempo que notei isso, você não é um elfo negro de verdade, né? Veio de algum clã do deserto ou algo assim? Ouvi dizer que eles são humanos de pele escura e que não são elfos.

— É, eu também pensei nisso — disse Stedd — mas o sobrenome dele é Silva, então acho meio difícil. Esse mundo é bem grande, ele deve ter vindo de outro buraco qualquer.

Colin encarou o braço e ponderou por um momento se deveria contar a verdade. Os dias de viagem, as conversas, as brincadeiras que haviam entre eles, fez com que ele abaixasse a guarda e confiasse mais neles. Ele os considerava seus amigos.

— É uma marca comum da minha raça…

— Sua raça? — perguntou Elhad.

— Sim, eu sou um errante.

Todos ficaram em silêncio, mas não pareceram impressionados.

— Vocês não estavam extintos ou algo assim? — perguntou Stedd.

Colin fez que sim.

— Existem poucos errantes por aí hoje em dia.

— Então é verdade, hehe — disse Sashri — Nossa guilda é a que mais tem gente esquisita. Elfos da floresta, uma Elfa negra, fada, uma Asmurg, ocidentais, uma oriental, um híbrido de vampiro e um errante.

— Híbrido de vampiro? — perguntou Samantha.

— Acho que estão falando de mim. — disse Stedd sorrindo com seus caninos pontiagudos. — Eu nunca disse porque vocês nunca me perguntaram, mas sim, eu sou um híbrido de vampiro.

— Mas espera aí, como você anda no sol? — perguntou Wiben.

— Por isso o nome é híbrido, seu idiota. — respondeu Sashri.

Ah…

Sashri se levantou e afastou-se indo para sua barraca.

— Boa noite, fracassados.

— Vai se foder você também! — respondeu Wiben. Sashri só deu uma risadinha.

O restante continuou ali, jogando conversa fora. Em breve seguiriam para seu sonhado destino e, amanhã, seria o dia que Stedd seguiria para sua casa que ficava mais ao norte. Ele não esperava encontrar ninguém em casa, já que a maioria sempre estava pelo mundo atuando na queda de algum império ou derrubando algum governo, mas se encontrasse, jogaria conversa fora com eles e ficariam horas e horas contando histórias.  Stedd era o mais novo de oito irmãos. Por ser sempre bajulado, sentia uma saudade indescritível deles, ele mal podia esperar para dar-lhes um abraço apertado.

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