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Capítulo 82 – Mais viva do que nunca!

Ouvia gotas caindo cadenciadamente em uma masmorra com diversos equipamentos de tortura. Graff andava na frente despreocupado enquanto assoviava. As jaulas ao lado estavam vazias, com apenas alguns ratos perambulando de lá para cá.

Ele começou a descer escadas circulares com Brighid o seguindo. Ela não se sentia nada bem naquele lugar úmido, cheio de insetos e seres asquerosos.

Track!

Ela se virou rapidamente vendo Ghouls correndo de um lado para o outro. Aqueles seres não tinham mais que um metro de altura. Eram pálidos, orelhas pontudas, rosto deformado e dentes pontiagudos como os de um vampiro. Estavam nus e se comunicavam por grunhidos.

— São inofensivos, não se preocupe.

— … onde está me levando?

— Ao laboratório de Alucard. Sabe, há alguns séculos esse lugar era o lugar onde ficavam os prisioneiros. Ouvia-se o grito agradável deles enquanto eram torturados, eu amava aquele som. Então Alucard foi banido, os errantes foram erradicados e esse lugar ficou vazio.

Eles continuavam descendo as escadas e Brighid notou correntes penduradas no teto atreladas a gaiolas onde dentro haviam esqueletos.

Graff a encarou por cima dos ombros.

— Por que alguém como você está andando com um bando de crianças? Não se sinta ofendida, mas você deve ser tão poderosa quanto Drez’gan. Pode se juntar a nós se quiser, sua força seria bem aproveitada.

Brighid ergueu as sobrancelhas.

— Como sabe sobre Drez’gan?

— Esse cabelo e olhos esverdeados… essa mana anormal… só achei estranho o cheiro da morte exalar de alguém tão doce quanto você. E então, o que acha de se juntar a mim e parar de bancar a “babá” com os pirralhos?

— Agradeço a oferta, mas eu recuso.

— Recusa? É por causa do errante?

Brighid ficou em silêncio e Graff abriu um sorriso.

Ah, o amor das fadas, ouvi falar sobre isso. Um sentimento bem intenso que deixa fadas cegas. Um estado eterno de paixão. É uma pena que tenha se apaixonado por alguém tão fraco quanto Colin. Eu e você poderíamos trazer a verdadeira noite, não aquela porcaria que Nostradamus fez. — Graff abriu um sorriso — Drez’gan ficaria feliz se a apóstola dele estivesse junta de um homem tão poderoso quanto eu. Nossos herdeiros conquistariam o mundo.

Brighid parou na escada e Graff se virou.

— O senhor está me incomodando. Peço para que pare com isso.

Graff abriu um sorriso e um fogo negro o consumiu de cima para baixo. Antes um garoto de feição meiga, agora um homem. Ele estava de terno preto, cabelo da mesma cor partido ao meio, olhos vermelho sangue e todos os seus dentes eram pontiagudos.

Ele ajeitou a gravata e começou a subir as escadas em direção a Brighid. A mana dele era uma das maiores que ela já, talvez se igualasse a Drez’gan. Toda sombra daquele lugar começou a se agitar. E ouvia-se um som de lamento no fundo do túnel.

Brighid olhou para cima e viu o cadáver dos esqueletos em uma lamúria agonizante. As sombras começaram a se mexer ainda mais rápido e pararam de repente.

— Sinto muito se isso a assustou, é que sempre que libero minha verdadeira forma fica difícil estabilizar. — Ele deu mais um passo, ficando na altura de Brighid. — E cuidado, fada, eu sou o rei aqui. Ninguém me dá ordens, me ouviu? Agora vamos continuar andando.

Graff continuou descendo as escadas e Brighid continuou parada.

— O que foi? — ele perguntou — Acha que vou fazer alguma coisa com você quando chegar lá em baixo? Não seja tola, se eu quisesse, faria aqui e agora. Poderia tentar lutar contra mim, mas sou bem mais forte. Então o que aconteceria depois? Contaria a seu namorado que foi atacada por mim? Hehehe Nem todos os seus amiguinhos juntos tem chance contra mim, então relaxa, não farei nada com você. Não sou esse tipo de homem.

Brighid engoliu o seco. Graff estava certo, se ele quisesse fazer algo, já teria feito, afinal, ele era poderoso. Forte o bastante para ser temido até pelos caídos.

Mesmo relutante, ela o seguiu. Desceram as escadas em silêncio. Caminharam por mais algum tempo e chegaram a um laboratório alquímico.

Havia uma mesa no centro com béquer, tubos de ensaio, balão de fundo chato, de fundo redondo, balões volumétricos, vasilhas para fazer a mistura, dentre outros. Ao fundo havia uma mesa com os mesmo itens e potes de vidro em conserva.

No fundo, tinha uma parede com vários livros de alquimia e até mesmo de transmutação. Graff pegou um banco e colocou no meio da sala.

Ele retirou seu blazer e o jogou na mesa. Arregaçou as mangas e deu dois tapinhas no assento do banco.

— Tire a blusa e sente aqui.

— O quê?

— Preciso das suas costas nuas. Não se preocupe, já disse que nada farei com você.

Brighid ficou parada encarando Graff, e ele revirou os olhos virando-se de costas.

— Assim tá melhor?

Ela não disse nada. Virou-se de costa para Graff e tirou a jaqueta, logo depois tirou a camisa e segurou as roupas na altura do busto para escondê-los. Caminhou até o banco e se sentou, jogando o cabelo para frente do ombro.

Graff se virou para frente e ergueu o indicador.

— Há quanto tempo tem esse corpo?

— Quase meio ano.

Ele assentiu.

— Entendo, sua essência de fada deve ter se fundido completamente a ele.

— O que quer dizer com isso?

— Quer dizer que você é humana por inteiro agora. E o que quero está na sua essência de fada que constitui sua alma, em outras palavras, isso doerá bastante, pois preciso romper todas essas camadas. Tem certeza disso, apóstola de Drez’gan?

Brighid engoliu o seco e fez que sim com a cabeça.

Com a unha pontiaguda, Graff desenhou um círculo mágico nas costas dela, um pouco abaixo da nuca, rasgando sua pele. Brighid franziu os lábios e cerrou os olhos devido à dor.

Após feito, Graff começou o ritual.

O círculo de sangue começou a sair faíscas vermelhas e Brighid sentiu uma dor tremenda, como se fosse esfaqueada nas costas. Ela berrou bem alto e seus olhos se arregalaram.

— Deixa a dor atingir seu corpo, não pense em se curar, me ouviu?

Ela ouviu e a dor continuou ficando cada vez mais forte. Sua visão começou a ficar turva e ela começou a babar enquanto urrava. Foi a primeira vez que ela sentiu tanta dor, e aquela dor não parava. Era como se a esfaqueassem com faca quente e torcessem a faca diversas e diversas vezes. Em meio aos gritos, ela começou a tossir, e até vomitou a refeição que comeram mais cedo.

Brighid continuou tossindo e vomitou mais uma vez e depois mais uma.

— Está quase lá!

Foi então que Brighid sentiu algo embrulhar seu estômago e subiu por sua garganta. Parecia que ela estava prestes a vomitar uma bola de golfe.

[Vômito!]

Golfou mais do que apenas comida, havia sangue e outra coisa. Era pequena, verde, com chifres e com asas de morcego. O diabrete se levantada em meio ao resto de comida e ao sangue. Sacudiu as asas e se preparou para fugir.

Assim que alçou voou, Graff o pegou.

O diabrete se remexia na mão de Graff tentando escapar.

Crash!

Graff o esmagou com as mãos. Ficou de frente para Brighid que estava bastante detonada. Suas vestes estavam sujas de vômito, assim como boa parte de seu rosto. Lágrimas escorriam de seus olhos, assim como sangue escorria de seu nariz e se misturava ao resto da comida de seus lábios.

— Você tá horrível. — disse Graff limpando as mãos com um pano velho. — Normalmente é mais fácil desfazer a maldição em forma etérea, mas você é praticamente uma humana agora. Tive que materializar a maldição e extirpá-la de você. Deve ter sido doloroso, mas você aguentou bem. Pensei que fosse desmaiar nos primeiros segundos.

Brighid nada disse, apenas o encarou com seu olhar abatido. Ela olhou para baixo, vento as roupas que segurava ao busto completamente suja, assim como sua calça e sapatos.

Foi a primeira vez em mil e quinhentos anos que ela se sentiu tão acabada. Olhou para sua mão trêmula e tentou se curar, mas o que sentiu foi uma dor forte no estômago.

— Vai demorar um tempo até que se acostume com isso. Tinha uma maldição bem poderosa em você, precisará de repouso.

Lentamente, ela se ergueu do banco, sentindo fortes dores abdominais. Com aquele olhar abatido, ela encarou Graff.

— O quê? Quer que eu me vire de costas? Vai vestir essa roupa suja?

Graff virou-se de costas e Brighid se vestiu lentamente, quase parando. A cada movimento brusco que fazia, sentia como se levasse um soco no estômago. Abraçou o estômago e tornou a dar um passo de cada vez, de maneira lenta, como uma tartaruga.

Olhando para trás, Graff abriu um sorriso e acelerou o passo, deixando Brighid para trás. Após levar quase meia hora em um trajeto de cinco minutos, ela parou no início da enorme escadaria circular.

Ela manteve uma das mãos no abdômen e com a outra escorou na parede. Cada movimento que fazia para levantar a perna, sentia uma estocada no abdômen. Por isso continuou dando passos lentos, se concentrando para não acabar desmaiando.

Graff já estava no topo da escada, achando bem engraçado aquela situação. Ele não moveria um dedo para ajudá-la. O motivo: nenhum.

Demorou quase duas horas para que ela chegasse no topo da escada. Graff estava encostado na parede, então ela passou por ele sem encará-lo nos olhos. Os ghouls observavam um alvo fácil andando pelo corredor, mas a presença de Graff era o bastante para mantê-los longe.

Assim que deixaram aquele lugar, Graff retornou a sua forma de criança e deu as costas, desaparecendo no corredor. Brighid retornou a seu quarto que estava vazio no momento.

Foi até a pia do banheiro e ergueu a cabeça para se olhar no espelho. Com as costas da mão, ela limpou os lábios e o nariz e se olhou no espelho por mais algum tempo. Abriu a torneira e fez uma concha com as mãos. Molhou o rosto algumas vezes e saiu de perto do espelho. Escorando nas paredes, ela foi até a banheira e abriu as torneiras.

Com cuidado, sentou-se na privada e começou a tirar as roupas. Primeiro foi a jaqueta, depois sentiu extrema dificuldade para tirar a camisa, gemendo baixinho ao passar a camisa pela cabeça.

Com os pés, tirou as botas e depois gemeu baixinho ao tirar as calças. Se ergueu novamente e se olhou no espelho mais uma vez. Seus olhos estavam mais verdes, assim como o seu cabelo, cílios e sobrancelha que haviam assumido um tom de verde mais escuro, semelhante ao de Thaz’geth.
Se aproximou do espelho e tocou seus lábios rosados, sua bochecha e depois seus seios. Sua pele estava mais macia, estava mais sensível e, seu rosto se distou do habitual pálido, assumindo uma cor levemente rosada, assim como o resto de seu corpo. Brighid se sentiu mais bonita, mais viva. Colocou as mechas de cabelo atrás da orelha e continuou se encarando no espelho mais um pouco, fazendo várias caras e bocas.

Se perguntou se ela era a mesma Brighid de horas atrás e chegou à conclusão que não, ela estava bem melhor.

Após se admirar, ela caminhou a passos lentos até a banheira.

A água estava gelada, mas ela não se importou. Colocou o pé direito primeiro, depois o esquerdo e em seguida se escorou na beirada da banheira para se sentar.

Suspirou, sentindo seu corpo se anestesiar lentamente. Ainda se esforçando, amarrou seu cabelo em um coque e fechou os olhos enquanto escorava a cabeça na beirada da banheira.

Mesmo se sentindo mal, ela se sentiu estranhamente bem. Se sentiu mais leve, e mesmo sem poder usar magia no momento, ela se sentiu poderosa. Um poder crescente que a deixava bastante confiante. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu determinada a se tornar uma monarca de tríade.

Brighid nunca ouviu falar de um monarca de tríade, não neste plano. Provavelmente ela seria a primeira da história, ou talvez a primeira na qual se tinha registro de ter alcançado tal feito.

Devido à maldição, Brighid havia se estagnado no tempo, negligenciando os seus estudos. Com seu vasto conhecimento, ela poderia alcançar tal feito em alguns meses caso se dedicasse.

Graff não era um idiota. Ele não havia curado Brighid por bondade ou capricho. Infelizmente, querendo ou não, ela tinha se tornado mais uma peça no seu jogo contra seus inimigos declarados, os caídos.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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