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Capítulo 88 – O Norte

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Nota: Mapa do continente para não deixá-los perdidos.

Após encherem a cara na noite passada, Leona e Safira acordaram com dor de cabeça e observaram Colin completamente bem tomando o café da manhã. Na mesa, havia bolo, torta de maçã e rosquinhas.

As duas se juntaram ao banquete, e em alguns minutos a enxaqueca delas desapareceu. De todas as raças, os humanos eram as mais fáceis de ficarem bêbados e terem ressaca. Colin contou o que aconteceu na noite passada, de seu encontro com o velho e do problema no Norte.

Ele não citou sobre suspeitarem dele ou sobre Drez’gan diretamente, só disse que alguém poderoso do abismo estava tramando algo.

Safira ouviu toda história bem atenta aos detalhes, aquela era a coisa perigosa que Brighid disse para evitarem, mas Colin nunca ouvia ninguém, só fazia as coisas do jeito dele. A única coisa que ponderou em fazer para amenizar os danos seria mandar Safira e Leona de volta para capital, mas as duas foram contra essa ideia.

— Não somos mais crianças! — disse Safira terminando de mastigar o pão em sua mão — O que você está fazendo é nos descartar porque nos acha fracas, e não somos!

— Eu não disse isso, só quero que fiquem em segurança.

— E você? — perguntou Leona — Sem ofensas, mestre, mas sempre que você vai para alguma missão você fica bem fodido. Você não é invencível, sabia?

— Eu sei, mas-

— Nada de “mas” — disse Safira após engolir — A gente vai com você. Tivemos o mesmo treinamento e queremos ajudar. Não quero me encontrar com senhorita Brighid e dizer que deixamos você ir em outra missão “suicida” mais uma vez, porém sozinho.

Colin suspirou e abriu um sorriso.

“Quando foi que eu perdi a autoridade nessa equipe?”

— Então terminem de comer e vamos partir.

Ambas assentiram e comeram rapidamente.

Colin entregou a Leona sua adaga que ampliava a magia, enquanto ele ficou com a adaga de ante magia. Já Safira estava com sua espada em sua bainha na cintura. Caminharam até a casa do ancião e ele estava lá os esperando. O velho já tinha tomado café e ficou bem contente quando apareceu o grupo todo ao invés de apenas Colin.

— Estão prontos? — perguntou o velho.

— Vai nos tele-portar para lá ou coisa assim? — perguntou Leona.

— Mais ou menos…

Erguendo o braço, o velho fez o mesmo gesto como se segurasse uma chave e a destrancou. O ar rachou e se quebrou, revelando um buraco. O velho entrou, e Colin fez o mesmo. As meninas relutaram por um momento, mas assim que viram Colin entrar sem medo elas o seguiram.

Passaram pelo corredor estreito de estrelas e foram até a porta que emitia uma forte luz branca. Assim que passaram por ele, se depararam com uma enorme lagoa congelada. Não viam mais nada a sua frente a não ser gelo. Haviam montanhas de gelo, mas o mais surpreendente era que logo a frente deles, jazia um colosso congelado com uma espada gigantesca cravada em seu crânio.

O vento frio soprou, sacudindo violentamente a roupa de todos que estavam ali. Colin, Leona e Safira desceram o capuz até a altura dos olhos e taparam o nariz e boca com um cachecol.

Com o canto dos olhos, Colin olhou para o velho.

— Por que viemos parar no meio do lago?

O velho parecia ofegante.

— Tem torres de ante magia cercando esse país, estamos bem na fronteira dele. Se eu continuasse, minha força seria totalmente drenada assim que eu avançasse.

— Devia ter dito isso antes.

— Eu sei, me perdoe.

Colin focou no colosso congelado, espantado com toda magnitude que aquela cena passava. Ele se sentiu minúsculo perante aquilo, até mesmo as meninas se sentiram da mesma maneira.

— Vamos andando — disse o velho — Se seguirmos por cerca de alguns quilômetros, devemos chegar a primeira vila desse lugar.

Apesar de ser um lugar que na teoria deveria ser silencioso, ele, na verdade, era bem barulhento. As geleiras que rachavam ao longe faziam sons assustadores. Sem falar que vês ou outro escutavam o urro de algo ao longe.

Assim que ouviram o urro uma primeira vez, ele estava longe, mas minutos depois ouviram o mesmo urro, desta vez estava bem perto, quem sabe escondido por trás das colossais montanhas de gelo.

— Que barulho foi esse? — perguntou Safira assustada.

— Um troll de neve, é melhor nos apressarmos.

Passaram pelo colosso de neve e repararam bem nele. As roupas dele eram roupas típicas dos nortenhos. Pele de animal, couro e fibras de linho. Colin se perguntou de quantos animais foram necessários para que ele fizesse aquela roupa, ou talvez, qual animal seria grande o suficiente para fornecer uma pele daquele tamanho.

— O grande colosso — disse o velho — É a primeira vez de vocês vendo um de perto, certo? Eu soube que eles são uma raça extinta 100 anos após a queda do véu.

“Extinta? Como se extingue uma coisa desse tamanho?”

— Como aconteceu? — perguntou Colin.

— Os historiadores dizem que foi uma guerra entre os próprios colossos. Isso é tudo que sei.

Continuaram caminhando mais um pouco naquele enorme lago. Safira notou o quão pequenos eram em comparação ao colosso.

Ela se sentiu uma formiga.

Observando ao redor, Colin sentiu haver algo estranho. Ele olhou para a própria mão e tentou fazer sua magia de raios, mas não conseguiu.

“Estamos no território ante magia?”

Ele não teve tempo de pensar. Algum animal urrou entre as montanhas, mas a localização atual deles fez parecer que o urro veio de todos os lados.

Prestaram mais atenção e viram um urso branco com listras azuis correndo enquanto sangrava bastante. Seu corpo estava coberto por marcas de batalha. Ele não corria de maneira avulsa, parecia fugir de algo.

Todos ficaram assustados com a cena, ainda mais após perceberem que não poderiam usar magia.
 

Booom!


Um montante de neve pareceu explodir da direção na qual o urso fugia. A sensação que Colin teve, foi a de que alguém detonou dinamite há alguns metros dele.

Neve caiu como chuva e um troll de neve despontou naquele lugar.

Ele era enorme, corpo robusto e branco como a neve. Tinha bastante pelo nos braços, virilha e pés. Seus dentes eram pontiagudos e seu rosto se parecia com o de um morcego. Em suas costas haviam um pouco de pelo e chifres de cervos que pareciam ter crescido ali.

Na sua mão direita ia um enorme tacape de madeira.

Assim que ergueu o tacape, ele atingiu o urso o derrubando no chão. O urso tentou se erguer, mas dois golpes brutais atingiram sua cabeça, partindo seu crânio ao meio.

Os três ficaram imóveis vendo a cena.
 

Vush! Vush!


 Duas flechas atingiram o ombro do troll. Um garoto parecia atirar nele em cima de uma pequena montanha.

Morra besta! — berrou o garoto em uma língua que eles não entenderam.

Mais pessoas pareceram chegar em trenós puxados por cães e logo cercaram o troll. Todos estavam bem agasalhados, vestindo pele de animal e adornos tribais.

Os homens, com lanças em punhos, começaram a afastar o animal, forçando-o a ir para trás. Girando a corda, um dos homens a enrolou no braço do troll, mas não deu muito certo. O troll o puxou para perto e esmagou o homem com o tacape. Aquilo fez a formação deles se romper e o troll aproveitou a situação, partindo para cima de mais um deles, esmagando-o com o tacape.  Outro homem tentou acertar sua lança nas costas do troll, mas teve todos os ossos de seu corpo quebrado ao ser atingido.

Vush! Vush!

 O garoto em cima da montanha acertou mais duas flechas nas costas do troll, e isso o irritou. O troll, ergueu o tacape no alto e o lançou na direção do garoto em um estrondo ensurdecedor.

Um montante de neve desceu como uma avalanche levando o garoto junto. O troll caminhou em direção a seu tacape que estava no pé da montanha e o resto dos homens que o caçavam se aproveitaram para montarem em seus trenós puxados por cães e deram no pé.

O garoto havia sobrevivido por um milagre e se esforçava para sair de dentro daquele montante de neve.

— Safira! Leona! — elas olharam para Colin — Vamos ajudar o pirralho! Leona, salve o garoto, eu e Safira cuidamos do troll.

Ambas fizeram que sim com a cabeça.

— Espere garoto, você não vai conseguir derrotar aquilo!

Colin ignorou o ancião e partiu para cima o mais rápido que conseguiu. Nenhum deles tinha magia, mas a única que deveria tomar cuidado era Safira, já que ela poderia ser morta se fosse atingida pelo tacape do troll.

Leona corria de quatro. Mesmo sem magia, ela era tão rápida quanto um guepardo. Assumiu a dianteira e foi até o garoto preso na neve.

O garoto ficou assustado assim que botou os olhos nela. Tentou se desvencilhar da neve para fugir de Leona, mas ela também tinha a habilidade passiva da pujança. Com uma das caudas, ela pegou o pulso do garoto e o puxou para cima, indo com ele para onde os homens com os trenós foram.

Safira e Colin partiram um ao lado do outro. O troll se virou, ergueu o tacape no alto e desceu com tudo a fim de atingir Safira, mas ela foi mais rápida.

Deslizou por debaixo do troll e cortou seu calcanhar. Sua intenção era arrancar o pé do troll, mas era difícil fazer isso sem magia.

O troll sentiu dor, mas aquilo não causou um ferimento significativo. 

[Perfura!]

Colin cravou sua adaga na canela do troll e ele se virou para pegá-lo. Ele mal notou que Safira estava se preparando para atacar. Ela partiu em disparada e saltou, cravando sua espada nas costas do troll.

 [Urro!]

 O troll berrou e se remexeu de um lado para o outro enquanto Safira estava pendurada segurando sua espada. O ponto em que ela o atingiu era um lugar que o troll não conseguia alcançar.

Safira não tinha forças para enfiar o resto da espada, e nem forças para tirá-la de lá. O que fez foi saltar para longe e rolou para o lado, desviando do pisão de pé do troll que se debatia como nunca.

— Colin! Minha espada, está cravada nas costas dele, deixa esse monstro para mim!

Vendo Colin, o troll ergueu seu enorme tacape e desceu com tudo, mas ele se estilhaçou em mil pedaços ao chocar com o punho de Colin, que se defendeu apenas erguendo o braço acima da cabeça.
 

Crack!


Seu nível de pujança atual o deixava pareado com as bestas mais poderosas da natureza.

O troll se assustou. Olhou para a clava quebrada em sua mão e deu alguns passos para trás. Safira se agachou e apanhou uma adaga escondida em sua bota, se ergueu e disparou na direção do troll novamente.

Abaixou-se deslizando a bunda na neve e passou por debaixo do troll. Aproveitou o corte que abriu no calcanhar da fera e num movimento rápido arrebentou-lhe o tendão. 

Slash!

O troll pisou e não sentiu a força na sua perna esquerda, caindo para trás. Assim que bateu suas costas no chão, a espada de Safira varou o peito da fera que se debateu até morrer.

Os caçadores locais olharam aquilo impressionados. Eles nunca haviam visto um homem tão forte quanto Colin, nem uma garota que lutasse tão bem quanto Safira, muito menos uma garota raposa igual Leona.

Um homem alto se aproximou de Colin e fez uma reverência.

Muito obrigado! — disse na língua dos Galantis.

Colin se virou para o velho que se aproximava a passos lentos. Até mesmo ele estava impressionado com o combate travado.

— Ele agradeceu… — disse o ancião.

— Certo… não deviam caçar esse tipo de coisa, é perigoso.

O velho repetiu o que Colin disse e o líder disse que o troll havia matado outros de sua tribo, incluindo crianças. Eles deveriam matar o troll para que seus espíritos descansassem em paz. O ancião perguntou se a vila deles ficava muito longe, e o líder disse que não. Eles se ofereceram para os levarem até a vila em seus trenos puxados por cães.

Colin concordou sem problema. Ele olhou para a coleira nos cães, depois olhou para Leona que sabia exatamente o que ele estava pensando.

— Nem pensar! — disse ela com bastante entonação na voz — Não vou puxar você nisso e nem pense em colocar uma coleira em mim!

— Eu não disse nada…

Ela cruzou os braços e virou o rosto.

— É melhor mesmo que não diga!

Eles se aprontaram, indo rapidamente para os trenós. Depois de um comando, o trenó partiu rapidamente, mas não sem antes de recuperarem seus itens e arrancarem a cabeça do troll para mostrarem ao ancião do vilarejo e prepararem um ritual.

Do topo, vendo todos eles se afastarem, estava um rapaz de pele morena, cabelo longo trançado e estava em cócoras vestindo um quente agasalho. Seu nariz era fino, assim como seus lábios. Ele tinha uma pinta bastante tímida debaixo do olho direito.

Era um rapaz de traços finos, quase nobres. Sua trança balançava com o açoite do vento, e em seu rosto estava uma expressão bem feliz.

— Olha se não é a presa daquele ratinho. — disse — Quem diria que ele chegaria até aqui, né? Aquela não é a irmã do duque que Ehocne nos apresentou? E a pandoriana dele é uma raposa de nove caudas… Ainda bem que ela só tem três caudas, se não a gente tava ferrado háháhá!

Em pé ao seu lado, estava uma mulher de cabelo liso branco, pele pálida, cílios brancos bem cheios, olhos azuis cristal e lábio rosado. Trajava um grosso casaco branco que ia até à coxa e suas botas e calça eram da mesma cor. Ela tinha um olhar indiferente, bem diferente do olhar de seu companheiro agachado a seu lado.

— Vamos, não perca tempo com ele. — Ela disse.

O rapaz fez beicinho.

— Eu queria conhecê-lo… sabia que ele é famoso?

— Você vai ter tempo de conhecê-lo em breve. As ordens de Bledha são as de-

— Pro inferno com o que a Bledha quer! Ela fica com aqueles joguinhos políticos e depois nos chama para limpar a merda que ela faz, odeio aquela mulher!

A mulher olhou para seu companheiro com um olhar bem frio, e seu companheiro apenas abriu um sorriso.

— Mil perdões, bruxa gélida, sei que odeia ser interrompida, mas você mereceu. — Ele se ergueu e entrelaçou os dedos atrás da cabeça — Vamos lá, temos muito trabalho a fazer, afinal, aquela vadia deixou tudo nas nossas mãos.

A bruxa o seguiu enquanto seus cabelos brancos sacudiam ao vento.

— Não se esqueça, temos menos de um mês para encontrar a chave para o vazio. — Ela disse.

— Por isso você não faz o meu tipo. Está sempre com esse nariz em pé me tratando como se fosse superior a mim, me dando ordens, sendo que não é minha chefe. Var’on faz a mesma coisa só porque o nome dele é minimamente mais conhecido que o meu.

A bruxa gélida não demonstrou emoção alguma. Seu companheiro era alguém que ela desgostava, só concordava em trabalhar junto a ele, pois foram ordens de Bledha.

— Você não é conhecido. — Ela disse — Nunca fez nada significativo desde que despertou.

— Nossa… eu não precisava ouvir isso, sabia? Mas que se dane, ainda escreverei meu nome na história. — Ele abriu os braços — Walorin, o homem que mais fodeu mulheres casadas na história da humanidade. Que tal? Acho que é um ótimo título para alguém tão incrível quanto eu!

— Por isso ninguém te respeita. Nem tudo se resume a seu hedonismo exacerbado.

Ele abriu um sorriso e encarou a bruxa por cima dos ombros.

— Acha que eu conseguiria vencer aquele errante?

Ela deu de ombros.

— Como não? Você é bem mais forte que Var’on.

Walorin abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Então você reconhece minhas qualidades, certo? Hehehe, não vai aceitar o meu convite para aquele encontro?

— Você não disse que eu não fazia seu tipo?

— Eu disse? Não me lembro. — Walorin apoiou uma das mãos no queixo. — O seu beijo é gelado também? As vezes quando vou tomar banho fico pensando nisso.

— Você é nojento. Vê se fica longe de mim!

Hehehe, é brincadeira bruxa, a verdade é que imagino a gente fazendo coisa bem melhor. — Ele deu uma piscadinha.

Ela revirou os olhos e apressou o passo.

— Espera aí, bruxa, hehe, é brincadeira, eu tava brincando!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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