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Não tardou até que chegassem no vilarejo dos Glacitas. Em meio a tanta neve, o lugar que chegaram, parecia um enorme vilarejo com tendas erguidas por toda extensão do território. Nas tendas de couro animal, famílias inteiras bem agasalhadas se abrigavam.

Glacitas eram um povo pacífico com uma cultura rica e organizada. As tendas maiores e mais elaboradas eram destinadas aos líderes de clãs governados exclusivamente por homens que tinham a função de liderar suas famílias.

Os líderes de clãs tinham o direito de possuir mais de uma esposa conforme mandava a tradição, e nem todos eles eram guerreiros. Apenas uma pequena parte gostava de se arriscar em aventuras fora da fazenda. Aos corajosos que aceitavam tal tarefa, era dado o direito de escolher uma esposa e se apossar de parte das terras pertencentes ao pai de sua esposa.

Aos não guerreiros, restavam as mulheres menos desejadas. Quando mais uma mulher estivesse distante de sua irmã mais velha na linhagem, menos importante ela era. 

As esposas de líderes costumavam se enfeitar com joias, assim como suas filhas mais velhas que tiveram com cada esposa, já que era um ativo bem comum naquelas terras. Entorno do vilarejo campal havia diversos totens de madeira, esculpidos como adoração ao seu Deus, Thoriny, o senhor da chama.

Era comum orarem para os totens toda manhã, agradecendo a Thoriny e seu calor que os aquecia através do sol.

Apesar de existir um líder para cada clã daquele lugar, o homem mais sábio eram quem ditava as regras que o povo deveria seguir.

Assim que Colin e os outros chegaram, ficaram impressionados com os forasteiros. Colin tinha um tom de pele escuro se comparado a eles, que em sua maioria pálida, loira e de olhos azuis. Haviam um ou outro ruivo, mas a maioria predominante era loira de olhos azuis.

Ficaram ainda mais impressionados com Leona.

Era a primeira vez que muitos deles viam pessoas diferentes. A reação não foi de medo ou repulsa, a maioria ficou bastante encantada. Se encantaram até mesmo com Safira e seus chifres que estavam crescendo novamente.

Eles não eram um povo tão alto, os guerreiros mais altos tinham 180 cm. Colin, com quase 190 cm parecia um gigante se comparado a eles.

O líder do grupo da caçada parou o trenó no meio do vilarejo e desamarrou a cabeça do troll, erguendo-a no alto. O povo do vilarejo abriu um sorriso contente e uma comoção se iniciou.

As pessoas se abraçaram, extremamente agradecidas.

Ao fundo, um velho se aproximou lentamente, e o líder da caçada se abaixou, colocando a cabeça do troll na frente do velho.

— “Conseguimos, senhor, matamos a fera!”

O velho ergueu a cabeça encarando Colin e seus companheiros.

— “Quem são eles?”

— “Se não fosse por eles, estaríamos todos mortos. São guerreiros excepcionais.”

O velho franziu o cenho.

— “Trouxe estrangeiros para nosso vilarejo?”

O líder engoliu o seco.

— “Não somos bárbaros, se eu não fizesse estaria sendo ingrato.”

Colin e as garotas não entendiam aquela língua, somente o ancião. Eles ficaram parados ali, com aquela cara de paisagem.

— “Tudo bem.” — disse o velho — “Irei recepcioná-los.”

Ele passou pelo líder e ficou frente ao grupo de Colin. O velho, de cabelo longo e pele bem enrugada, fez uma tímida reverência.

— Soube que foram cruciais para derrotar a fera — disse o velho na língua que Colin e os outros entenderam.

Ele ficou frente a Colin

— Qual o seu nome?

— Colin. Essa é Safira, aquela é Leona e aquele é o… — Colin se deu conta que ainda não sabia o nome do ancião.

— Lars… — disse o ancião dando um passo à frente.

O velho fez uma reverência mais uma vez.

— Sou Erithor, sejam bem vindos a vila Glacius — Ele focou nas duas garotas — Grande guerreiro de ébano — Ele referia-se a Colin — Elas são… garotas comuns?

Colin não sentiu hostilidade vinda deles, apesar de desconfiar do velho. Mas logo deu de ombros e disse a verdade.

— Leona é uma pandoriana, nós dividimos a alma, e Safira é uma Asmurg, ela descende dos dragões.

Assentindo, o ancião encarou Colin de cima a baixo.

— E Você, guerreiro de ébano, descende de quem? Elfos negros?

— Mais ou menos…

Eithor fez que sim com a cabeça. Colin ficou surpreso com a recepção. Ele esperava o mesmo tratamento que sempre davam aos elfos negros por onde passava.

— Sifirasa, prepare uma tenda aos estrangeiros e alguns agasalhos, ou eles não sobreviverão a noite congelante deste continente.

— Sim, senhor! — disse uma mulher loira muito bem agasalhada.

O velho começou a caminhar para dentro de sua tenda e Colin e seu grupo o seguiram sem cerimônia. Assim que entraram viram algumas plantas medicinais em cima de uma bancada de madeira. Havia uma fogueira de fogo baixo no centro da tenda que não era nem um pouco pequena. Era coberta por um tapete de pele de urso e a parede era enfeitada por crânios de monstros.

Eithor se sentou no chão próximo ao fogo e fez sinal para que eles se sentassem e assim fizeram. Leona se sentou como um cão, as duas mãos estavam apoiadas no chão enquanto seus joelhos estavam dobrados e suas caudas balançavam de um lado pro outro.

Enfiando a mão no bolso, o velho retirou um punhado de erva verde, um cachimbo e aqueceu o cachimbo na fogueira durante um tempo e levou o cachimbo a boca, dando uma generosa tragada.

Colin conhecia aquele cheiro. Um cheiro comum que sentia em banheiros de escola pública.

“Maconha?”

— Posso saber como quatro estrangeiros vieram parar no extremo norte do país? Não é muito fácil chegar até aqui, ainda mais nesse vilarejo.

— Uma longa história — respondeu Colin — Mas, parece que seu pessoal estava bem ferrado enfrentando aquele troll, mais alguns minutos e você teria um punhado de corpos para enterrar.

Ele deu mais uma tragada.

— Trolls do gelo não costumam atacar humanos, mas parece que as coisas tem mudado radicalmente de um tempo para cá.

— Mudado quanto?

— Você não vai acreditar, mas estamos sendo atacados por fantasmas. Eles sempre veem na noite mais fria e levam alguns dos nossos. Nossos guerreiros disseram que viram um grupo de pessoas vestidas de preto há alguns quilômetros da aldeia. Eles fugiram e não foram encontrados desde então.

“Os cultistas…”

— Já faz quanto tempo desde que seus guerreiros viram os cultistas?

— Cultistas? — indagou o ancião.

— É como os chamamos, para sua sorte estamos atrás deles. — Colin abriu um sorriso — Vi que seus homens não estão aptos a vencer uma simples fera, quem dirá lutar contra fantasmas ou cultistas.

Eithor deu mais uma tragada e fez que sim com a cabeça.

— Qual o seu preço? Mulheres? Dinheiro?

— Joias. — respondeu Colin sem rodeios.

Eithor ergueu as sobrancelhas.

— Só isso? É o primeiro estrangeiro que vem até aqui e recusa nossas mulheres.

— Não é algo que me interessa no momento.

— Então que seja.

O velho se levantou e foi até os fundos. Puxou uma pequena caixa ornada de madeira e retornou, colocando o baú na frente de Colin. Seu dinheiro havia acabado durante a viagem para o castelo dos vampiros. Ele estava sem nenhum tostão e o dinheiro do norte provavelmente não servia na capital, então as joias eram a melhor saída, já que poderiam ser trocadas por dinheiro.

Com a mão, Colin abriu o baú, vendo diamantes, ametistas, Rubis e até mesmo Safiras azuis. Colin ficou intrigado, se perguntando onde eles haviam conseguido aquilo, mas não fazia diferença, já que dinheiro era dinheiro.

— Está bom para você? — perguntou Eithor.

— Eu diria que é uma ótima entrada.

— Hum, a conhecida ganância do povo do ocidente. Contando que acabem com os cultistas, não me importarei em dar todas essas joias a vocês. Minha tribo só quer viver em paz.

Sifirasa despontou na entrada da tenda.

— A tenda está pronta.

— Ótimo. Parece que as coisas de seus aposentos estão prontas. Se acomodem, logo mais será preparada uma refeição.

— Rato frito! — disse Leona. — Faz rato frito?

Eithor olhou para a pandoriana e depois olhou para Colin que deu de ombros.

— Tudo bem… rato frito, então… vocês vão querer a mesma coisa?

Colin abanou uma das mãos e Safira fez uma expressão de nojo.

— Qualquer coisa que não seja rato, barata ou qualquer um desses bichos está de bom tamanho para mim — disse Safira.

A ideia inicial de Colin era somente ajudar a vila, mas ele não era um herói. Se via mais como um mercenário que tinha seus próprios ideais, mascarando sua virtude através de atos mesquinhos.

Para Colin, era melhor assim.

 





 

Dentro de uma caverna tremendo de frio, Walorin tentava fazer sua fogueira aumentar, mas não obteve sucesso. A presença da bruxa gélida ao seu lado não ajudava muito. A bruxa fazia com que qualquer lugar em que ele estivesse a temperatura baixasse para o zero.

Esfregando os braços, e assoprando o vapor da boca nas mãos cobertas por luvas, Walorin tentava se aquecer sem muito sucesso.
 

[Atchim!]


Ele espirrou, depois fungou o nariz.

— Caramba, bruxa, dá para você ir lá para fora um pouco? Acabarei morrendo aqui.

— Deixa de frescura, nem parece um caído.

— Eu sei que não, mas prefiro lugares quentes, quentes como o meio das pernas de uma bela mulher. — Ele abriu um sorriso e encarou a bruxa — Você é toda gelada por dentro também? Eu adoraria descobrir, sabia?

A temperatura caiu mais alguns graus.

[Atchim! Atchim! Atchim!]

 
— É brincadeira, caramba! Eu estava brincando! Não precisa me matar, sabia?

Um portal se abriu frente a eles, e dele, Ehocne saiu assumindo sua forma de Briana.

— Até que enfim você apareceu, mais um pouco e essa doida ia me matar congelado.

Ehocne encarou Walorin com desdém. A maioria dos caídos tinha um ar sério enquanto ele mantinha sempre uma característica brincalhona e um tanto atrevida, sem falar que ele era um preguiçoso por natureza.

— Conseguiram encontrar o vazio?

— Ainda não. — respondeu a bruxa.

— Não é nada fácil encontrar algo que a gente nem sabe com o que se parece. E esse lugar é horrível, faz muito frio e, é cheio de monstros. Sabia que esses nortenhos têm torres ante magia mais ao Leste? — Reclamou Walorin.

Ehocne deu as costas.

— Continuem procurando.

— A gente viu aquele garoto errante. — disse Walorin com um sorriso no rosto. — Parando para pensar, você até que são parecidos.

— Colin? — Ehocne perguntou se virando.

Walorin fez que sim com a cabeça duas vezes.

— A irmãzinha do duque está aqui também. Não é por nada, mas a pirralha está bem bonita, quase uma mulher por inteiro. Sem falar que o errante divide a alma com uma raposa de nove caudas que também não é tão mal. Mas sabe como é, pandorianas não são meu tipo preferido de mulher.

Dando meia volta, Ehocne encarou Walorin com o semblante franzido.

— O pirralho é o protegido de Graff, não o mate, não com a invasão a capital tão próxima.

Walorin ergueu as mãos em rendição.

— Relaxa, eu não farei nada com eles, mas e então como estão os preparativos? — Ele perguntou.

— Quase tudo pronto. Falta acertar o detalhe dos portais que trarão os exércitos do norte.

Walorin bateu palmas três vezes.

— Que ótimo! Então poderei voltar em breve para os bordéis — Ele se alongou — Vamos, bruxa, vamos achar a merda do vazio logo para deixarmos esse país horrível.

Sem dizer mais nada, Ehocne retornou para o portal e o portal desapareceu. A bruxa gélida encarou Walorin com o cenho franzido.

— Por que não disse que tem cultistas aqui querendo evocar o exército do rei do abismo?

Walorin deu de ombros.

— Não é da nossa conta. Proponho ficarmos de olho naquele Colin e na irmãzinha do duque, eles parecem interessantes. Lembra de como venceram aquele troll usando só movimentos simples?

— Não ouviu o que Ehocne disse? O errante é protegido de Graff. É melhor o deixarmos para lá.

— Quanto drama por tão pouco. Eu não disse que mataria o errante, eu só quero ver do que ele é capaz, e vocês estão com medo de um vampiro velho que não é nem sombra do que já foi em outrora.

— Não é medo, é precaução.

— Chame como quiser, só não fique no meu caminho impedindo minha diversão.

A bruxa deu de ombros.

— Só não se desvie da missão. — Ela disse.

— Não irei, mas antes da diversão vem o trabalho, certo? Buscaremos logo a droga do vazio e sair desse inferno de gelo.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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