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Não tardou até que Colin avistasse o castelo de pedra. De fato, aquele era o extremo norte, um lugarzinho tão remoto que era esquecido por Deus. Diferente de suas companheiras que entraram pelos fundos, Colin foi direto pela porta principal. Em um movimento rápido da enorme espada, ele partiu o portão de grades e logo em seguida cortou ao meio a porta da frente junto a um pedaço da parede.

O pedaço de aço maciço que carregava no ombro era praticamente indestrutível, ele sentia que poderia quebrar qualquer coisa com aquilo.

Assim que colocou o primeiro pé para dentro do castelo, achou estranho não ouvir nada além do sibilar do vento que vinha de fora. Ele seguiu a passos lentos no corredor, passando por destroços e ruínas que pareciam fazer parte do cenário a décadas. Olhou para o lado e viu dezenas de buracos nas paredes.

Ajeitou o cachecol que tapava sua boca e nariz e seguiu, bastante atento ao ambiente.

Diferente do resto dos cômodos que tinham marcas evidentes do tempo — como poeira e teias de aranhas — As marcas na parede eram recentes, até mesmo caia poeira de certos buracos.

Passando pelos destroços, ele chegou até um corredor onde viu uma verdadeira carnificina. Havia cultistas desmembrados por toda extensão, assim como o sangue que enfeitava as paredes e o tapete. Ele ficou surpreso ao ver um enorme licantropo em meio aos corpos.

Se não havia sinal de suas companheiras, então significava que elas haviam feito aquilo. Colin caminhou mais um pouco e se deparou com um portal a sua esquerda. Safira e Leona estavam de braços cruzados encostadas na parede.

— Bom trabalho. — Ele gracejou.

— Você demorou — disse Leona. — A gente quase avançou sem você.

Depois de mais alguns passos, Colin encarou o portal azulado. Diferente dos portais que viu, no qual se dava para ver um infinito dentro dele, este era só um grande portal azul que cobria toda extensão do corredor.

Dando mais alguns passos, ele observou o portal de perto. Tinha a mesma energia dos mortos-vivos, talvez mais forte. Ele havia achado a fonte de tudo aquilo. O teto, tinha quase quinze metros de altura, e o portal o cobria por inteiro.

— Mestre Colin… não acha melhor a gente pensar um pouco antes de prosseguir? — perguntou Leona.

Colin ergueu a sobrancelha. Era comum pandorianos tratarem as pessoas com quem dividiam a alma de tal maneira, mas Leona não era assim, uma característica bem comum dela conforme crescia era a insubordinação. Ele a encarou nos olhos e percebeu que ela estava com medo.

Com a mão esquerda, Colin afagou os cabelos dela.

— Todos aqueles monstros vieram daqui a — ele disse — temos que achar um jeito de ao menos fechar o portal, e a resposta pode estar do outro lado. Se o rei do abismo conseguir passar seu exército por aqui, então o Norte está perdido.

— Então o senhor percebeu?

— Sim, esse portal tem a energia dos mortos-vivos.

— Exatamente! — Disse uma voz que veio de trás deles.

Os três já ficaram imediatamente em guarda. Mesmo Leona que tinha sentidos aguçados, não percebeu ninguém se aproximando. Não só Leona, mas Colin e Safira sentiram que aqueles dois eram perigosos e muito fortes.

Walorin estava com um semblante bem amigável, já a bruxa gélida permanecia com sua expressão fria.

— Não precisam se assustar, eu não sou seu inimigo.

O corredor não era tão grande para que Colin pudesse ter uma vantagem em uma luta. Seria difícil balançar aquela espada enorme naquele lugar.

Safira e Leona também se prepararam.

Colin estava no meio, Safira estava à direita e Leona a esquerda.

— Não é meu inimigo? — disse Colin — Corta essa, você é perigoso, dá para sentir.

Walorin cruzou os braços e fez que sim com a cabeça.

— Você também me parece bem perigoso, tem o olhar de uma besta. Mas estou aqui, de peito aberto conversando com você.

Colin não considerou o que ele disse e continuou segurando sua espada frente ao corpo.

Suspirando, Walorin coçou a testa.

— Esse é um portal de sétimo círculo. Para ser destruído terá que passar pelo nono, e oitavo fosso do abismo. Duvido que consiga sem minha ajuda.

Colin não ouviu falar de nada disso das histórias que Brighid contou.

— Do que está falando? — indagou.

— O abismo tem nove fossos. Esses monstros que estão atravessando o portal devem ser do nono fosso, pelo menos a maioria.

“Do que ele tá falando? O abismo tem níveis?”

— Drez’gan — disse Colin — Em qual nível ele está?

Walorin abriu um sorriso.

— No primeiro, é claro.

— Ouvi histórias — disse Colin — Lendas… de pessoas que conseguem alcançar o nível um sem precisar passar pelos fossos.

— Claro, existem certas rachaduras nesse mundo que levam a vários níveis, elas vêm se abrindo regularmente, parece que algo desse lado está fazendo essa conexão ficar instável.

“Brighid?!”

Walorin colocou as mãos na anca e suspirou.

— Olha, vou ser sincero com você, estou procurando por algo e acho que pode estar do outro lado desse portal. A gente pode se ajudar, o que me diz?

Colin ainda não confiava nele, muito menos naquela mulher que não deu um pio desde que o viu. Mas uma coisa estava certa, aquele cara era forte.

Só tinha uma coisa que o incomodava, o que diabos esse cara quer no abismo?

— Você disse que quer algo que está lá dentro, o que é?

Walorin deu de ombros.

— Um fantasma. Mesmo sem magia você consegue sentir, não consegue? Tem uma mana poderosa emanando desse portal.

— Fantasma?

— Arthur, o Lich Rei, conhece? É um palpite, mas ele deve estar aí dentro, e eu estou um pouco atrasado para pegá-lo.

Walorin não estava mentindo. Não havia mais nada que emanasse uma energia como a daquele portal. Mesmo que Arthur ou o que sobrou dele não estivesse ali, Walorin julgou que não seria problema só dar uma olhadinha, afinal, no abismo não havia só cadáveres e monstros, havia também um monte de riquezas indescritíveis, artefatos e escrituras que continham encantamentos poderosos.

Franzindo o cenho, Colin olhou para um e depois para o outro. Aquela conversa toda soava bastante estranha, ainda mais vindo de alguém tão suspeito quanto Walorin. Aqueles dois pareciam entender sobre o abismo, então Colin resolveu confiar neles, pelo menos por enquanto.

— É melhor mesmo não tentar nenhuma gracinha — disse Colin — Ou acabo com você, me ouviu?

— Claro, claro, podemos ir?

— Vocês vão na frente!

— Tudo bem…

Colin e as garotas se afastaram da porta e Walorin passou pelo portal assoviando ao lado da bruxa.

— Vai mesmo confiar neles? — Perguntou Safira — Sinto que eles são… não sei…

— Eu sei, mas se eles tentarem algo a gente dá um jeito.

Ambas fizeram, sim, com a cabeça e Colin se preparou para entrar o portal. Apertou o cabo da espada que estava em seu ombro e deu um passo à frente.

Vush!

Diferente do frio que imperava do outro lado do portal, o que ele sentiu naquele lugar foi calor.

Leona e Safira atravessaram logo depois.

Eles estavam em uma superfície plana deteriorada. O chão era cheio de rachaduras, e das rachaduras saiam um vapor quente.

Haviam várias tendas com um número gigantesco de cultistas fazendo tarefas distintas. Alguns construíam mais tendas, outros construíam armas e outra parte parecia treinar os mortos vivos.

Foi uma visão no mínimo estranha.

O ar daquele mundo era pesado e parecia fazer uns quarenta graus.

Os cultistas ficaram assustados vendo aqueles cinco forasteiros parados os encarando.

Um círculo mágico gigantesco surgiu debaixo da bruxa, e como se ela fosse o epicentro, gelo tomou conta de toda área plana em segundos. Colin arregalou os olhos e se perguntou o quanto de reserva mágica ela tinha.

Alguns cultistas e monstros patinavam no gelo, outros tentavam se equilibrar. A bruxa, abriu os braços e depois juntou as mãos. Logo depois torceu o ar como se contorcesse uma peça de roupa molhada.

 [Ventríloquo da rainha].

Craaaash!

Tanto os cultistas quanto os monstros se contorceram como se fossem pano retorcido. Logo, o branco da neve foi tingido pelo sangue carmesim e, tanto Colin quanto as garotas ficaram em choque.

Era a primeira vez que viam a técnica do ventríloquo ser usada desta maneira.

Walorin abriu um sorriso e entrelaçou as mãos atrás da cabeça.

— Que exibida… segura um pouco aí, meu amor, não quer que Drez’gan em pessoa venha nos recepcionar, quer?

— Hum…

A bruxa caminhou por toda superfície plana e chegou até a beirada do precipício, vendo rios de fogo verde lá em baixo, gêiseres que expeliam lava e diversos demônios que viviam de forma Tribalista.

O tom esmeralda era bem vivo naquele lugar.

Na frente, bem lá na frente, quase imperceptível a olho nu, estava outro portal, o portal para o oitavo fosso.

De repente, escutaram o barulho de algo subindo a montanha bem rápido, algo enorme.

 Tremor!

Enquanto encaravam o horizonte, um monstro que tinha o corpo de uma serpente, chifres de cervo e olhos de gato apareceu. Ele era enorme e parecia furioso.

— Olha só! — disse Walorin com um sorriso no rosto — O tão temido guardião do primeiro fosso. Como você é feio, minha nossa…

Com um bafo de mil cadáveres em putrefação, a fera se aproximou.

— Quem são vocês e o que fazem no meu reino?

Aquele bafo era insuportável. Walorin apoiou a mão frente a boca e tossiu duas vezes.

— Minha nossa, o que andou comendo?

A criatura cerrou o punho e a levou lá atrás, socando o chão em que Walorin estava. O golpe foi tão poderoso que rachou parte da montanha, trazendo um tremor que sacudiu toda planície.

Colin e as garotas saltaram para longe enquanto estavam assustados com aquela força monstruosa. A bruxa gélida, por outro lado, parecia bem calma. Ela somente observava o monstro sem fazer absolutamente nada.

Quando a poeira baixou, o monstro percebeu haver errado. Walorin desviou? Não, não foi isso. Ele não se moveu um centímetro desde que o monstro apareceu, então como?

Assustado, o homem serpente se afastou.

Era ele quem deveria colocar medo em seu oponente, mas aconteceu justamente o oposto.

— Quem é você? — perguntou o monstro com certo temor em sua voz.

Walorin ergueu a mão e estalou os dedos.


[Perfura! Perfura! Perfura!]

 
Várias estacas de pedra quebraram o gelo e empalaram o monstro que não teve o tempo mínimo de reação. Aquele foi um golpe quase instantâneo.

O monstro tentou se desvencilhar de todas aquelas estacas, mas não conseguiu, morrendo ali em instantes.

— Parece que esse fosso só tem porcaria. — disse Walorin encarando o homem serpente empalado — A magia que emana daqui é bem medíocre. E então, vamos avançar?

Colin encarou a cena sem entender nada.

Quem eram aqueles dois? E como eles tinham tanto poder?

— Vocês… — balbuciou Colin.

A bruxa caminhou novamente até a beirada do precipício e ergueu a mão, criando uma ponte de gelo que aos poucos percorria toda superfície do nono fosso, indo até à porta do oitavo fosso localizada há alguns quilômetros de distância.

Ela foi a primeira a caminhar na plataforma de gelo, seguido por Walorin. Leona e Safira cruzaram olhares com Colin. Os três estavam em choque e foi ali que perceberam que lutar contra aqueles dois seria algo bem perigoso, bem como seus corpos disseram quando botaram os olhos neles.

Walorin parou no começo da ponte de gelo e se virou.

— Vocês não vêm?

Colin engoliu o seco e fez que sim com a cabeça.

— Já vamos. — disse, tentando parecer o mais natural possível.

Ele guardou sua enorme espada na bainha de ombro e decidiu seguir aqueles dois. Era perigoso baixar a guarda frente a eles. Já Safira, sentiu algo familiar quando os encarava. A brutalidade, o poder. Aquelas eram coisas que ela demonstrava transparecer em uma batalha, mas aqueles dois faziam isso com maestria.

Colin engoliu o seco enquanto encarava todo cenário. O maior medo dele não eram aqueles dois, mas sim topar com Drez’gan em algum momento. Ele reconhecia a força de Brighid, e ela mesma havia dito que os apóstolos de Drez’gan que haviam a treinado.

Ele temia que algo acontecesse com Safira ou Leona. Toda a atmosfera conspirava contra ele, mas ele não estava pensando em voltar.

“Aquele cara disse que para fechar o portal a gente teria que chegar ao sétimo fosso, certo? Faltam só dois… não deve ser tão difícil assim.”




Sentado em seu trono, Drez’gan estava com a palma estendida e um espelho trincado flutuava sobre ela. Um espelho no qual ele via todo abismo. O rei do abismo não se importava com o que cultistas estavam fazendo, aquilo não o interessava. Para ele era perda de tempo se criassem uma religião o cultuando ou o odiando, o fim de todos seria o mesmo.

Ele já estava ciente do portal aberto no nono fosso, mas só criaturas de poder medíocre poderiam passar por um portal de tão baixo nível como aquele.

Drez’gan mexeu os dedos e o espelho lhe mostrou outra coisa. Ele viu o guardião do nono fosso ser morto junto a todos os cultistas. O guardião cooperava com os cultistas para se alimentar de almas. Por ser forte, ele dificilmente conseguiria passar pelo nono fosso, e isso deixou Drez’gan intrigado.

— O juiz foi morto. — disse em voz alta.

Apesar de enorme, só havia uma pessoa na sala do trono além do próprio rei.

— Outro demônio o matou? — perguntou Thaz’geth, a guerreira — Eu sempre achei o juiz uma formiguinha. Não me surpreende eles ter morrido. E então, quem foi?

O espelho flutuou até parar frente a Thaz’geth.

Ela olhou o espelho por alguns segundos e seus olhos arregalaram.

— Caídos? — indagou surpresa — O que caídos estão fazendo aqui?

— Veja bem. — disse Drez’gan — O traço de mana deles… são três caídos, um errante e um pandoriano de classe especial. Pensei que errantes e caídos se odiassem…

Erguendo-se, Thaz’geth fez uma reverência.

— Me deixe cuidar deles! Por favor, senhor…

Os olhos dela estavam esbugalhados e seu sorriso demente ia de orelha a orelha.

— Você quem sabe. Caídos, errantes… eles não devem ser um problema para você. Faça o que quiser com eles. Não vejo necessidade de convocar parte do exército para algo tão pequeno.

Drez’gan se ergueu e foi a passos lentos para os fundos.

— Obrigada, senhor. Triturarei esses vermes que ousam adentrar vosso reino sem vossa permissão!

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Olá, eu sou o Stuart Graciano!

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