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Capítulo 98 – Filhote de Dragão

Caminhando pelo corredor de gelo, Walorin e a Bruxa seguiam um rastro de mana bem forte que estava logo a frente no corredor escuro. Ambos haviam sido tele portado juntos quando cruzaram aquela porta.

— Caramba! Até quando vamos ter que andar? — indagou Walorin com os dedos entrelaçados atrás da cabeça.

A bruxa o olhou de canto.

— Você está tenso.

Walorin deu de ombros.

— Tem uma mana mais forte que a nossa nas redondezas. Não é aquela que está no fundo do túnel, mas está longe desse lugar e está oscilando.

A Bruxa assentiu. Mesmo que não admitissem, ambos estavam preocupados com Colin e as meninas. Walorin era mais propenso a se aproximar das pessoas de maneira mais espontânea por seu jeito extrovertido. Já a bruxa era mais reservada, porém, compartilhava dos mesmos sentimentos que o companheiro.

— Walorin… — A bruxa franziu os lábios.

— Eu sei, vamos terminar o que viemos fazer aqui e ajudar aquelas crianças. Com uma mana tão poderosa assim só pode significar que estão enfrentando um apóstolo…

Os dois engoliram o seco.

Era raro ambos hesitarem dessa maneira.

Em silêncio, seguiram pelo corredor de gelo que pareceu ficar mais frio à medida que se aproximavam, até que finalmente chegaram a uma sala ampla e vazia.

O som de suas botas causava um eco ensurdecedor.

A frente havia um trono de gelo e um guerreiro de armadura negra com uma coroa dourada sentado de maneira bem relaxada. O guerreiro era enorme, tinha por volta de três metros e ao lado dele estava uma espada demoníaca quase do mesmo tamanho.

— Isso aí está vivo? — perguntou Walorin se aproximando da criatura.

 Clang!

O guerreiro se moveu. Pegou a espada e ergueu-se, descendo os degraus do trono. Sua espada enorme se arrastava no chão de gelo deixando profundos sulcos.

— Invasores! — disse o guerreiro em um tom de voz gutural — Senhorita Thaz’geth me alertou que alguns de vocês apareceriam. Como ousam invadir o meu castelo?

Walorin olhou para a bruxa e depois deu de ombros.

— Bem… a gente meio que precisa fechar o portal que abriu no nosso mundo… então se não for muito incômodo eu gostaria da esfera negra que provavelmente deve estar com você. Mais uma coisa — Walorin assumiu sua posição de luta enquanto sorria com o canto da boca — Me entregue o Vazio, rei Arthur!

O guerreiro parou de se mover e colocou as duas mãos no cabo da espada.

— Como vocês…

— Não foi difícil de deduzir depois que você entende a história. Um boato sobre o vazio, um espectro de sétimo nível como você que consegue vagar no mundo humano… Consegue isso com a ajuda do vazio, certo? Porém, deve ser limitado, já que você não fica muito tempo e ainda demora semanas para retornar ao nosso mundo. Juntando uma peça e outra, eu diria que quem deu início ao culto do flagelo foi você, certo?

Erguendo a espada, o rei a colocou no ombro.

— Conseguiu tudo isso apenas com observação?

Walorin abriu um sorriso de canto.

— Eu sei que não parece, mas sou muito inteligente. Minha parceira e futura esposa ali pode confirmar isso.

A Bruxa só revirou os olhos. Mesmo em momentos como aquele, Walorin continuava sendo ele mesmo, um idiota.

 Vush!

O enorme rei avançou. Envolvendo sua lâmina com fogo, ele partiu para cima de Walorin tentando o cortar ao meio. Em um movimento sutil e gracioso, Walorin rebateu com a palma da mão a espada enorme do rei.

 Crack! Boom!

 A espada do rei foi rebatida para o grosso gelo do chão e rachou aquela enorme sala ao meio, fazendo-a se deslocar e abrindo uma fenda no chão.

Concentrando mana em sua espada, o rei mandou um corte de baixo para cima na direção de Walorin, mas uma parede de gelo protegeu o caído e logo depois prendeu Arthur pelos pés, o congelando por completo num piscar de olhos.

 Boom!

Cerrando o punho, Walorin saltou e atingiu o rei direto no rosto, quebrando não só o gelo que o prendia, mas também seu elmo.

O rei afundou na grossa parede de gelo, rachando toda aquela sala. Enormes pedras de gelo despencaram, fazendo todo aquele lugar tremer.

Movendo os braços graciosamente, a bruxa abriu um buraco no gelo e saltou. Walorin a seguiu.

Enquanto caíam, viram uma luz no fundo daquele túnel. Assim que passaram por ele, perceberam que estavam em queda livre. Walorin olhou para trás e viu o enorme castelo de gelo que ficava em uma ilha ceder pouco a pouco.

Girando os braços rapidamente, a bruxa conseguiu criar um escorregador de gelo que nasceu no chão lá em baixo e a alcançou quase instantaneamente. Ela deslizou e equilibrou com maestria pelas curvas acentuadas do escorregador de gelo, chegando ao chão sem problemas.

Walorin, por outro lado, caiu como uma pedra, fazendo um estrondo no chão lá em baixo, mas ele nem sequer se arranhou.

— Ei, bruxa! — se ergueu zangado apontando o indicador para a companheira — Devia ter criado um escorregador para mim também!

Ela só o ignorou.

— Não se faça de idiota! — ele reclamou — Vou acabar rasgando meu casaco novo!

 Boom!

Os dois viraram o rosto sincronizadamente encarando o horizonte. Um terrível batalha era travada há alguns quilômetros dali e, ao julgar pela mana monstruosa, deduziram que se tratava de um caído.

Cerrando os olhos, a bruxa se concentrou.

Ela reconheceu a mana de Safira, porém, a mana de Colin e Leona estava se extinguindo.

— Walorin! Aquelas crianças estão enfrentando um apóstolo. Se continuar desse jeito todos os três vão morrer!

Walorin fez muxoxo e retirou o casaco, ficando de regata. Seus músculos eram rígidos e definidos, ostentando também centenas de cicatrizes. Uma brisa gelada assoprou e Walorin espirrou.

Fungou o nariz e vestiu a jaqueta mais uma vez.

— Não dá para ficar assim, isso…

Tsc… Você é mesmo um idiota…

— Você não sente frio, mas sinto, tá!? Eu só não queria estragar minha jaqueta nova, mas parece que não terá jeito.

 Cabrum!

A enorme ilha cedeu, fazendo tudo ao redor tremer.

— Vá ajudar aquelas crianças, eu me encarrego do rei Arthur!

— Tem certeza?

Ele assentiu.

— Foram eles que encontraram o portal, seria sacanagem deixá-los morrer assim. Como homem assumo a responsabilidade de derrotar esse idiota do rei e como homem prometo ajudar assim que isso acabar. Quando terminarmos essa missão, levarei você em um jantar, aceita?

 [Silêncio!]

Walorin olhou para trás.

Sua companheira havia partido fazia algum tempo.

— Essa mulher… a cada dia fico mais apaixonado hehe!

Ouviu-se outra explosão, mas esse veio dos destroços da ilha. Uma mana avermelhada serpenteava de um lado para o outro em direção aos céus.

Ela era densa e sufocante, fazendo até mesmo o gelo derreter só de estar próximo a ela. Em instantes, todo castelo de gelo derreteu, revelando Arthur não com uma armadura negra, mas com uma vermelha da cor do sangue.

No pescoço de Arthur havia um cordão amarrado a uma pedra colorida.

“O vazio…” Pensou Walorin “Ele está liberando a própria mana selada do vazio para me enfrentar. Hehe, isso é o sinal de que ele reconhece minha força. Então eu também reconhecerei a dele!”

Desta vez Walorin não deixaria que uma brisa o abalasse. Ele retirou o casaco e o amarrou na cintura. Se concentrou e deixou sua mana transbordar.

Arthur sentiu de perto aquela mana. Era como se abrissem as comportas de uma represa.

Quando o quesito era reserva de mana entre os caídos, Walorin perdia somente para seu superior que se recuperava na ilha das fadas.
 




 

Thaz’geth travava uma luta tensa contra Safira. A vantagem da apóstola era evidente. Embora ela estivesse mais cautelosa, Safira era pressionada ao ponto da exaustão. A única coisa que ela conseguiu, foi queimar Thaz’geth na bochecha.

Tentou repetir o feito, mas não obteve sucesso.

Apertando o cabo da espada, Safira a cingiu acima de sua cabeça e tentou cortar sua oponente ao meio, mas Thaz’geth rebateu a espada de Safira para o lado, agarrou seu cabelo e aplicou uma joelhada e tanto no meio do seu rosto. Antes de Safira se afastar, Thaz’geth a segurou pelo pulso, levantou o pé e chutou o rosto de Safira, a pressionando no chão.

O nariz e os lábios de Safira sangravam como nunca, sem falar que a mesma estava exausta. Se tratando de combate, Thaz’geth era praticamente invencível. Seu reflexo era perfeito, sua velocidade superava a do som. Sua perícia com aquela espada superava a de um mestre e sua força era tão grande quanto a de um usuário da pujança.

— Você é boa, assim como aquela garota raposa, mas falta polimento.

Thaz’geth torceu o pulso de Safira enquanto a pressionava no chão com a bota de ferro.

 Crack!

Torceu tanto que quebrou o braço de Safira.

A garota berrou, e Thaz’geth pressionou a bochecha dela com a bota pesada, a silenciando.

— Quietinha querida, a gente está só começando.

 [Agarra!]

Com a mão livre, Safira agarrou a perna de Thaz’geth.

 [Combustão do tártaro]


 Kaboom!

Uma explosão azul tomou conta de uma parte da ponte que já estava toda destruída. Da fumaça da explosão, saiu Thaz’geth, indo para cima do balaústre de pedra. Parte de seu corpo estava queimado e a armadura que cobria sua perna direita foi completamente destruída.

Ela viu a silhueta de Safira em meio a fumaça causada pela explosão. Exausta, a caída estava ofegante, mas sentiu que ainda não havia dado tudo de si. Fazer aquilo sozinha era mais difícil do que ela achou que seria. Sua análise não era rápida o suficiente e seu corpo parecia não corresponder a velocidade de seus pensamentos.

 [2 Meses atrás].

Ofegante, Safira estava deitada no chão com o corpo todo suado. Ela havia treinado com Morgana por horas.

— Já cansou? — Indagou Morgana — Você nem tentou lutar direito comigo.

Safira se sentou jogando o cabelo para trás.

— Não dá para vencer você. Nem Colin te venceu uma única vez, como você acha que eu sozinha conseguirei?

Morgana cruzou os braços, fez que sim com a cabeça e se agachou encarando Safira nos olhos. Chegou mais perto e deu nela um peteleco na testa.

— Ai! — disse Safira colocando a mão na testa — Por que fez isso?

— Você depende demais do Colin. “Se Colin isso, se Colin aquilo”. Tsc… se eu tivesse metade do seu talento já teria conseguido chegar bem longe.

Safira abaixou a cabeça e franziu os lábios.

— Eu sei, mas é que mesmo tendo menos mana, Colin consegue ser superior… sem falar de senhorita Brighid que é ainda mais incrível… Se eu não conseguir os alcançar, então serei um fardo. Sempre que treino ou tento melhorar, eu só consigo ver as costas dos dois…

Morgana coçou a nuca e suspirou.

Apoiou o indicador no queixo de Safira e a fez erguer a cabeça.

— Ter inspirações é importante, mas você está deixando o brilho deles ofuscar o seu. Imagine se seus companheiros forem derrotados em uma batalha e sobrar só você, o que fará? Vai desistir?

Safira arqueou os lábios e fez que não.

— Sua raça descende dos antigos dragões. Você tem potencial até mesmo para superar gênios como Colin e aquela “mulherzinha de cabelo verde”. Por que não tenta mais uma vez? Mas dessa vez sem desistir, combinado?

Safira fez que sim e Morgana bagunçou o cabelo dela.

— Por que não gosta de senhorita Brighid? Vocês duas são bem parecidas…

— Eu? Parecida com aquelazinha? Nem pensar! Chega de papo furado e vamos continuar o treinamento.

— Tá!

[Atualmente].

Safira não queria ver as pessoas que amava morrerem diante de seus olhos. Thaz’geth era forte, o ser mais forte que ela já enfrentou em combate.

Havia dois sentimentos digladiando dentro dela. Um, era o ódio e o outro, era o prazer. Ódio por Thaz’geth deixar seus amigos em tal situação, e o prazer que buscava quando fosse estripar, estraçalhar, transformar Thaz’geth em pó. Ela abraçou esses dois sentimentos de uma única vez, misturando seu ódio a sua vontade de destruir a mulher na sua frente das maneiras mais hediondas possíveis.

O que estava prestes a fazer, era seu último recurso. Depois disso seu corpo estaria exausto demais para mover um único músculo, mas ela não tinha escolha, já que estava tudo em suas mãos.

Os chifres dela, que antes estavam pequenos, cresceram, e na ponta deles queimava uma chama azul. No canto de seus olhos surgiu escamas e o rosto abatido de Safira se converteu em um sorriso largo. Até mesmo seu braço, antes quebrado, começou a se curar.

A mesma sensação que saía do meio de suas pernas, passava por seu ventre e percorria todo seu corpo. Porém, desta vez a sensação era quase três vezes mais intensa.

Thaz’geth saltou para trás e apertou o cabo de sua espada.

“O filhote de dragão está saindo da casca?” pensou Thaz’geth “O caído da essência das chamas consegue até mesmo alcançar essa forma. Tenho que admitir, isso é bem impressionante para uma garota da idade dela.”

Agachada enquanto abria um sorriso quase caricato, Safira olhou para o lado vendo Leona desacordada e depois para a ponte quebrada onde Colin havia sido lançado.

As unhas dela cresceram, e um vapor demasiadamente quente deixava seus lábios. O olhar dela exalava sede de sangue, como se a mesma fosse um animal selvagem.

Aquilo não se parecia com Safira, tinha uma vibe totalmente diferente da garota de minutos atrás.

— Vamos ver! — berrou Safira com um semblante sinistro — Vamos ver se você é mesmo imortal!

Thaz’geth abriu um sorriso de canto.

“O filhote de dragão está sendo uma surpresa e tanto. Vejamos o quanto esse corpo de menininha suporta tanto poder sendo liberado de uma única vez!” 

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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