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Capítulo 99 – Respostas

Dos calcanhares, chamas azuis impulsionaram Safira como se fossem propulsores. Num giro, ela tentou acertar um pontapé no rosto de Thaz’geth, que se defendeu sentindo uma forte pontada no braço. O fogo nos calcanhares de Safira aumentou e como se fosse um míssil, ela mandou Thaz’geth longe.

 Zium!

Thaz’geth quebrou o corrimão de concreto e se desequilibrou enquanto era lançada no ar.

Desta vez, foi a vez de Safira quebrar a barreira do som.

Ela cerrou os dois punhos e socou Thaz’geth no abdômen, a mandando para frente. Quebrou novamente a barreira do som e a alcançou, socando-a no rosto e a mandando no solo de neve.

 Boom!

 A apóstola deu um salto para trás, desviando de Safira que desceu do céu como um foguete e rachou o chão com os dois pés. Thaz’geth saltou para trás mais uma vez e concentrou mana nas pernas, indo de encontro a Safira com o punho cerrado.

 [Pancada!].

Safira parecia completamente fora de si. Os golpes de Thaz’geth eram poderosos, e as duas continuaram ali, duelando com os punhos nus. Safira, frenética com suas chamas azuis queimando seus punhos, pressionava Thaz’geth ao limite.

Ela já havia a socado tantas vezes que seus punhos estavam quase se quebrando, em contrapartida, Thaz’geth resistia com maestria, contra-atacando cada vez mais forte.

Parecia o confronto entre dois apóstolos.

Depois de ser socada no estômago, Safira deu com as costas em uma rocha, mas aquilo não a abalou. Ela apoiou as mãos e os pés na rocha e avançou, como um corredor, iniciando uma rápida e precisa largada. Saltou num disparo e chutou o rosto de Thaz’geth, que apoiou a mão no chão enquanto era jogada para o lado, se recompondo por completo.

Os olhos da caída estavam brancos e seus dentes estavam pontiagudos. A pequena era a manifestação de um filhote de dragão, isso, somado ao fato de ser a caída da essência das chamas, a tornavam um oponente difícil de lhe dar.

Safira avançou mais uma vez e colocou a mão no rosto de Thaz’geth, batendo a cabeça dela com tudo no chão.

Concentrando mana na mão, Safira se preparou para outra combustão do tártaro, mas Thaz’geth a chutou no abdômen, jogando-a para longe.

Forçando os pés agora descalços na neve, Safira abriu a boca e cuspiu uma rajada de fogo em direção de Thaz’geth, que se defendeu com os braços.

Mesmo que tivesse defendido, suas manoplas e parte de sua armadura estavam bem danificadas. Por ser atingida por chamas azuis, suas vestes não se reconstituíam.

“Esse pequeno diabinho!” pensou Thaz’geth com os braços cruzados frente ao rosto “Se isso continuar pode ser problemático.”

— Você é boa! — disse Thaz’geth abaixando os braços — Mas ainda luta como uma amadora.

Safira grunhia como um animal e babava demasiadamente. Concentrando mana nas pernas, Safira avançou mais uma vez.

 Boom!

O pé de Safira passou a centímetros do rosto de Thaz’geth, e assim que Safira terminou o giro, Thaz’geth a socou nas costas, bem na altura do plexo solar.

 [Pancada!].

O golpe de Thaz’geth foi tão forte que Safira ficou sem ar. Antes que Safira fosse jogada para frente, Thaz’geth a puxou pelo cabelo e a socou no rosto, levando sua cabeça contra o chão.

 Crack!

Safira sentiu seu crânio rachar junto ao chão, mas ela ainda não estava nocauteada. Com os dois pés, a caída chutou o abdômen de Thaz’geth, mas não adiantou muito. A apóstola se afastou alguns metros, mas já voltou em sua velocidade máxima. Pegou o calcanhar de Safira e a girou, lançando-a brutalmente na ponte logo a cima.

Safira girou desordenadamente até se chocar contra a ponta da ponte, quebrando uma boa parte.

 Boom!

A barreira do som se quebrou mais uma vez e Thaz’geth apareceu no alto. Conjurou flechas de fogo verde e as lançou. Duas cravaram nos ombros de Safira, uma, no abdômen, coxa e pé esquerdo. Caindo graciosamente no chão da ponte, Thaz’geth abriu um sorriso.

Toda aquela luta a deixou escoriada. Seus braços estavam queimados, assim como sua perna e alguns hematomas em seu rosto que não se curaram.

— Vocês ratinhos, me deram trabalho. Mas não negarei que foi divertido.

Ficando ao lado de Safira, Thaz’geth conjurou uma flecha de fogo esmeralda e encarou o rosto abatido da caída. Toda aquela raiva havia se esvaído, dando lugar ao cansaço. Ela havia ido além do limite de seu corpo, e agora que parou, seu corpo sentiu a fadiga. Safira não tinha mais forças nem para mexer um único dedo.

Com olhos quase se fechando, ela observou o rosto de Thaz’geth uma última vez antes de desmaiar.

— Até mais, filhote de dragão.

 Crack!

A mão de Thaz’geth congelou, mas não por muito tempo. Num safanão, Thaz’geth quebrou o gelo e saltou para trás, concentrando o olhar em uma mulher de cabelo e roupas brancas que não estava muito longe dali.

Tsc… mais baratas.

A bruxa abriu os braços. Círculos mágicos surgiram nas pontas de seus dedos e também abaixo dela.

Soldados de gelo brotaram do chão aos montes empunhando espadas, lanças, escudos, armaduras e tudo que pudesse ser usado como arma.

 [Ventríloquo de Vidro].

Assim que apontou o indicador em direção de Thaz’geth, os soldados de gelo avançaram em velocidade máxima. Concentrando mana na espada, Thaz’geth lançou um corte em direção dos soldados de gelo. Ela não esperava que o exército fosse ter alguma inteligência.

Escudeiros foram para frente em uma velocidade impressionante, bloqueando aquele poderoso corte. Os escudos dos soldados se quebraram, mas logo se reconstituíram.

Enquanto a apóstola estava ocupada, a bruxa fez um movimento de braços e deslocou o gelo debaixo de Safira e Leona, trazendo-as até ela.

Os olhos dela se arregalaram quando ela viu o ferimento no tórax de Leona se fechar lentamente e em seu braço direito aparecia pouco a pouco a mesma tatuagem de Colin.

“Um vínculo de terceiro círculo!? Melhor tirar a garota dragão daqui e levá-la o mais longe possível antes que as coisas saiam do controle”.

Com Safira no ombro, A bruxa deslocou um bloco de gelo abaixo dela e o gelo deslizou por um escorregador de gelo que ia até o chão.

Fixou o olhar onde uma mana assustadora exalava. Foi a primeira vez em muito tempo em que ela sentiu um arrepio na espinha.

“Essa mana… é do errante?”

Sem olhar para trás, a bruxa avançou o mais rápido que conseguiu para o mais longe possível, deixando Leona para trás.





Como se despertasse de um sono profundo, Colin abriu os olhos enxergando um lugar escuro. Correu os olhos ao redor e se viu sentado em uma cadeira.

Mexeu os pés e sentiu água abaixo deles.

— Estou morto? — murmurou.
— Morto? Ainda não. — disse uma voz que veio de trás dele. — Ainda temos muito o que fazer antes de tudo acabar.

Uma mulher Loira de olhos amarelados como os dele deixou a escuridão e caminhou para mais próximo de Colin. Trajando um terno bem justo, ela se aproximou com as mãos para trás.

Aquela mulher o lembrava alguém, mas ele não sabia dizer quem.

— Quem é você?

Ela apoiou o indicador frente aos lábios e inclinou o corpo para o lado.

— Então você ainda não se lembra?

Os olhos de Colin se arregalaram quando ela retirou a mão direita de trás das costas. Em seu braço, haviam as mesmas tatuagens de Colin.

— Você cresceu, Colin.

Ele ainda continuava sem entender absolutamente nada.

— Eu não…

— Pelo visto aquela mulher bloqueou parte da sua memória. Estou curiosa para saber quais memórias ela deixou.

A cabeça de Colin doía, e ele não sabia onde ela queria chegar.

Cruzando os braços, ela bateu um dos pés no chão e a onda d’água formou memórias de Colin. Ele viu a si próprio criança fazendo caras e bocas enquanto estava deitado na cama.

Em seu quarto havia uma estante de brinquedos, um quadro do Goku na parede e todo seu quarto era pintado de azul. Ele começou a sussurrar algo quando criança e um choro se iniciou.

A porta de seu quarto rangeu e o garoto Colin despertou. Sua mãe adentrou o quarto. Ela, era loira como a mulher ao seu lado. Tinha um sorriso doce, olhos cor de Mel e um cheiro agradável.

Vestindo um avental e com o cabelo amarrado em uma trança que escorria por seu ombro, sua mãe arregalou os olhos ao ver que seu filho estava lacrimejando. Entrando no quarto, ela colocou a trouxa de roupas no chão e se abaixou para ver o que se passava com seu filho.

— O que foi, querido? Aconteceu alguma coisa?

Colin não respondeu, sua reação foi se jogar nos braços da mãe, que o abraçou enquanto afagava seus cabelos.

— Tá tudo bem agora, meu amor, já passou, tá?

— Sonhei que você tinha…

Shhh, a mamãe tá bem. — Ela apertou a bochecha dele — Por que não vai lá ver seu pai? Ele está lá em baixo tomando o café da manhã.

Coçando o olho, Colin fez que sim e sua mãe se ergueu, pegando a trouxa de roupas. Ele começou a andar pelo corredor, vendo os quadros de uma família feliz.

Desceu as escadas e viu seu pai sentado lendo jornal. Seu pai, era quase uma cópia exata dele, seu único diferencial era que seu pai tinha a barba cheia e nenhuma olheira.

— Tendo pesadelos de novo? — disse seu pai segurando uma xícara de café — Por que não toma um café?

— Ah… tudo bem, pai, eu não estou com fome…

— Tem certeza? Se passar mal eu não o levarei ao hospital.

— Tudo bem…

— Está mesmo tudo bem, querido? — perguntou sua mãe passando pela cozinha com a trouxa de roupas.

Enquanto observava o reflexo na água, Colin notou que seu pai escondia uma tatuagem por debaixo daquela camisa social. Era bem raro seu pai usar camisas de manga longa, na verdade, Colin não se recordava de ver seu pai assim, nem quando eles iam à praia.

— Estou bem, mãe… já sou bem grande, não precisa ficar se preocupando comigo toda hora.

Naquela manhã, a mãe de Colin preparou um delicioso bolo de chocolate. Seu pai avançou no bolo sem nem mesmo lavar as mãos e sua esposa o repreendeu dando um tapa em sua mão.




Enquanto seu pai ia pro trabalho, Colin ouviu sua mãe tossir severamente lá em baixo. Deixando o Game Boy de lado, ele desceu as escadas às pressas e encontrou a mãe no chão.





Depois de ligar pro pai, ele chegou em casa e levou a mãe pro hospital às pressas. Horas mais tarde foi dada a notícia que ela estava com um tipo desconhecido de bactéria no intestino em estado avançado. Nem os médicos souberam dizer do que se tratava.

Na mesma noite, seu pai o levou para casa e o carregou no colo até chegar ao seu quarto. Deitou Colin na cama, tirou seus sapatos e o cobriu.

Seu pai estava visivelmente abatido.

— Escuta, filho… sua mãe vai ficar no hospital por um tempo. Então a partir de hoje sou eu quem cuidará e vigiará você. — Ele afagou os cabelos do filho — Se cuida, garoto, qualquer coisa, estarei lá em baixo.

“Eu me lembrei… não que eu passasse tanto tempo com o meu pai, mas o pouco tempo que passei deu para perceber que ele era um homem bem rigoroso. Eu tinha hora certa para sair de casa, voltar, e minha conduta escolar tinha que ser impecável. A doença da mamãe o mudou, ou talvez ele sempre foi desse jeito.”

 





 

— Hum… então a doença dessa mulher piorou… — disse a mulher loira ao seu lado.

Agora Colin havia percebido que ela lembrava um pouco sua mãe.

— Não é para menos — Ela continuou — Sem o tratamento ideal a doença dela só piorou.

— Tratamento ideal? — indagou Colin — Do que você está faland-

— Não é isso que eu quero saber, vamos avançar mais alguns anos.

Com o bater de pés, aquela mulher fez a imagem na água mudar.

Quatro anos se passaram com a mãe de Colin indo para casa havia poucas vezes. Agora, com quase dez anos, Colin havia se tornado um menino reservado, fazendo poucos amigos.

Matriculado na escola pública, Colin acabou entrando em algumas brigas por dificilmente aceitar desaforo, algo que seu pai sempre frisava quando o educava.

Quando fez treze anos, seu pai se mudou com ele e sua mãe para o exterior, a fim de tratar o câncer de sua mãe. Colin foi matriculado em uma escola local. Continuou sem fazer amigos por um tempo até que conheceu sua primeira amiga, Agatha.

Na época, Agatha era gordinha, usava aparelho e óculos redondos. Ela tinha certo déficit de atenção que acabava deixando-a atrasada em relação a outros alunos. Durante trabalhos em grupos, os dois faziam juntos enquanto eram ignorados pelo resto da classe.

Agatha sempre foi alvo preferido das meninas para bullying, já que ela nunca revidava. Certa vez, algumas meninas combinaram para o namorado de uma delas fingir interesse em Agatha. Todo aquele teatro durou um bom tempo, quase meio ano. Foi então que Agatha resolveu se declarar. Ela já estava totalmente envolvida, mas levou um fora, um fora humilhante enquanto as garotas que organizavam estavam filmando.

Todo tipo de adjetivo pejorativo foi usado contra ela, e até mesmo a perseguição na escola aumentou. Não só por parte das garotas que sempre sacaneavam com ela, mas sim de toda escola.

Enquanto fazia trabalho com Colin na sala de aula, Agatha escutava as diversas ofensas que eram proferidas a ela em tom de brincadeira.

Colin bocejou enquanto encarava o semblante cabisbaixo da colega de sala.

— Porque você não reage? — ele perguntou.

Agatha franziu os lábios e continuou em silêncio.

— Não sei… se eu fizer algo… parece que a perseguição só vai piorar…

Colin deu de ombros.

— Meu pai me ensinou que eu nunca deveria levar desaforo para casa.

Agatha concentrou os olhos na mesa e uma bolinha de papel bateu em sua cabeça. Depois veio mais uma e mais uma.

Ela largou o lápis e colocou as duas mãos no rosto, chorando baixinho. Agatha já estava no limite.

— Olha… — disse Colin — Vou ajudar você, mas será só dessa vez. Quem começou aquela história toda foi Petry e Jenya, né?

Ainda com as mãos no rosto, ela fez que sim.

Colin assentiu e se levantou, olhando para o casal logo a frente de risinho.

— É o seguinte, o próximo que mexer com Agatha vai levar uma cadeirada.

A sala inteira gargalhou.

— Olha só, o esquisito vai proteger a namoradinha? — zombou Jenya — Bem que achei que vocês dois combinavam.

— Qual é, Colin — disse Petry — Você tá comendo a porpetinha, né? Porque não tem como você defender isso daí.

Arrastando a mesa, Colin pegou a cadeira e a ergueu.

— Ele vai fazer isso mesmo? — cochichou um dos alunos.

 Vush!

Colin jogou a cadeira na direção de Jenya, mas Petry se colocou na frente defendendo a namorada. Nenhum deles acreditou no que acabou de acontecer.

Com o braço sangrando, Petry avançou para cima de Colin e os dois se atracaram no chão. Jenya foi em direção ao namorado, mas Agatha puxou os belos cabelos loiros de Jenya e a jogou nas cadeiras.

O professor chegou logo em seguida e os separou. Todos os alunos disseram que foram Colin e Agatha que começaram, então os dois tomaram suspensão.

O pai de Colin não o repreendeu, já que Colin fez o que foi ensinado a fazer. Os pais de Agatha ficaram chocados, mas a filha contou por tudo que passava e eles decidiram a mudar de escola, mas ela se recusou a ir. Então Agatha e Colin começaram a passar mais tempos juntos. Ela ia para casa dele e ficavam horas e horas jogando vídeo game, lendo quadrinhos e jogando conversa fora.

Conforme cresciam, Agatha decidiu mudar. Emagreceu bastante e ficou muito bonita. Ela e Colin continuaram tendo somente um ao outro como companhia, e dali nasceu uma paixão unilateral. Agatha se apaixonou perdidamente por ele, enquanto Colin se fazia de indiferente, mesmo entendendo os sentimentos dela.

Uma vez, enquanto estavam na casa de Colin, Agatha mexia em uma caixa com várias coisas de Colin. Havia brinquedos e bugigangas inúteis, mas ela achou um álbum de fotos. Assoprou a capa e abriu o álbum.

Passou página por página, vendo a mãe de Colin em roupas de banho, e o pai de Colin com camisa manga longa, as mesmas que surfistas usam. Até mesmo o pequeno Colin estava na foto, um fofo bebezinho usando um chapéu de praia.

— Caramba, Colin, seus pais eram lindos. Sua mãe ficou com esse corpão mesmo depois de engravidar de você?

Deitado na cama jogando Super Metroid no Game Boy, Colin deu de ombros.

— Sim. Difícil era aguentar as piadinhas no fundamental que faziam da minha mãe.

— Piadas?

— É… você deve imaginar como meninos são quando veem uma mulher bonita, ainda mais se for mãe de algum dos coleguinhas de classe. Era um saco.

Agatha foliou a página mais uma vez, encontrando um pingente amarrado uma pedra colorida.

— Que pingente lindo! É da sua mãe?

Colin abaixou o Game Boy e reparou bem naquilo.

— Nunca vi minha mãe usando isso. Por que não fica com você? Se estava aí pegando poeira, então quer dizer que não é importante.

— Sério?

Jogando o Game Boy na cama, Colin foi até Agatha, pegou o pingente e colocou no pescoço dela.

— Ficou ótimo em você.

Agatha franziu os lábios e ajeitou os óculos.

— Colin… — disse ela, colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha — Tenho que te confessar uma coisa…

Aquela frase deixou Colin nervoso a ponto de ele começar a suar frio.

Ela tocou as costas da mão de Colin.

— Sabe… tem muito tempo que você tem sido meu amigo. Você teve paciência comigo, me motivou a mudar, a me sentir bem comigo mesma — Ela desviou o olhar com um sorriso bobo no rosto — Ficou do meu lado quando todo mundo ficou contra mim… você me protegeu, e me ensinou a reagir…

Agatha o encarou nos olhos e se aproximou dele.

— Eu sei que você pode não sentir o mesmo, mas eu gosto de você… sei que parece bobo, mas gosto do tipo de querer casar e formar família, ficarmos adultos e envelhecermos um ao lado do outro…

Os lábios dos dois estavam indo ao encontro do outro, até que ouviram a porta abrir e rapidamente se afastaram.

O pai de Colin olhou para os dois que estavam mortos de vergonha e imaginou o que provavelmente estava acontecendo. Aquilo era algo que ele suspeitava, já que os dois estavam sempre juntos.

Aquele beijo não rolou, e sem avisar a filha para onde iam, os pais de Agatha se mudaram junto dela no dia seguinte. O pai dela conseguiu uma oferta de emprego melhor em outra cidade.

Colin ficou arrasado por um tempo, mas aconteceu outra coisa para sacudir o seu mundo. Conheceu sua primeira namorada em seus primeiros dias de um curso de administração que fazia. Ela foi gentil com ele, e assim como Agatha, passaram vários dias juntos.

Como arrumou um emprego em uma boa empresa e, assim que se formou, ela e Colin foram morar juntos em um apartamento barato no centro da cidade. A vida do casal seguiu muito bem, até que em uma noite Colin recebeu a notícia de que seu pai havia falecido em um acidente de carro.

O corpo não havia sido encontrado, então enterraram um caixão vazio.

Sua mãe, que estava hospitalizada, não recebeu bem a notícia. Ficou tão histérica a ponto de ser posta para dormir com sedativos.

 





 

— Então me deixa entender… — disse a mulher loira ao seu lado — Você deu um dos artefatos mais poderosos já criados para uma namoradinha? — Ela balançou a cabeça — Você é mesmo muito idiota…

— Artefato mais poderoso? Eu nem sabia o que era aquilo.

— Claro que não sabia. Você se encontrou com ela e pegou de volta, né?

Colin não se lembrava de ter pegado o colar de volta.

— Eu não me lembro…

— Ótimo! Terei que continuar buscando nessas suas memórias.

Ela bateu o pé mais uma vez e as onda na água recriaram outras memórias.







Semanas depois, Colin retornou a casa da sua família e juntou as coisas de seu pai. Em meio a elas estava um calhamaço de papéis e papiros com desenhos estranhos. Sentou-se na cama enquanto foleou os papeis, vendo desenhos muito bem feitos e escritos em uma língua que ele não conhecia.

Viu o desenho de um pingente, o mesmo pingente que entregou a Agatha antes dela se mudar.

Fuçou mais um pouco e encontrou um retrato pintado de seu pai e sua mãe segurando duas garotinhas.

Naquela época ele não se importou antes com os detalhes, mas agora, sentado em uma cadeira com o foco total em suas memórias, seus olhos perceberam um mar de coisas que ele nunca teria notado na época.

Uma das garotinhas tinha a pela morena como a de Colin e a de seu pai, a outra tinha pele clara e cabelos loiros como sua mãe. Um fato, era que as duas tinham olhos amarelos como os de sua mãe.

Outro detalhe também saltou em seus olhos. Não era a beleza nem o belo vestido que se destacavam em sua mãe, mas sim suas orelhas pontudas.

Juntando os papeis, Colin os guardou na caixa e os levou pro carro, prometendo a si mesmo que iria dar uma olhada melhor em tudo aquilo.

Ponderou se deveria confrontar sua mãe com todas aquelas coisas, mas desistiu ao receber uma ligação do hospital dizendo que o estado de sua mãe havia piorado.

Semanas depois ela veio a óbito sem ele nunca ter tido suas respostas.

Neste tempo, sua namorada, que havia se tornado sua noiva, decidiu terminar com Colin e o abandonou em seu estado de fragilidade. Ela já estava de conversa com outro homem faziam meses. Deixar Colin foi a coisa mais fácil a se fazer.

Ele tentou se reerguer, mas nem emprego ele tinha. Tentou fazer outro curso ou passar em alguma universidade, mas sua condição mental não o tornava apto para se dedicar aos estudos. Então ele fez a única coisa que ainda lhe dava alguma felicidade.

Passou a focar horas do seu dia em jogos online, se tornando o melhor naquilo que fazia. Ficou desleixado, preguiçoso e começou a odiar fazer exercícios físicos. Apenas mantinha caminhadas quase noturnas pelo bairro.

Foi em uma dessas noites que ele reencontrou Agatha. Ela continuava linda, estava com um anel de noivado em sua mão e Colin percebeu o quão estagnado ficou nos últimos meses.

Aquele foi o momento em que ele decidiu tirar a própria vida pulando da ponte.

 





 

— Então foi assim que você veio para cá? — perguntou a mulher ao seu lado. — Suicídio? Você é mesmo patético.

Ela foi até Colin e pegou seu braço.

Tsc… você ainda não completou sua chave. Precisa fazer isso logo já que você é o único que pode recuperar o pingente.

“O único?”

Num tapa, Colin afastou as mãos daquela mulher.

— Quem é você e porque está aqui?

Colocando as mãos para trás, ela se aproximou de Colin, o encarando nos olhos.

— É sério que depois de tudo que viu você ainda faz essa pergunta idiota? É só juntar as evidências. Não deve ser tão difícil para um gênio como você.

Então foi o que Colin fez. Encarou aquela mulher mais uma vez. Ele não queria acreditar de primeira, mas ela se parecia muito com sua mãe e era ela quem estava na foto, mas quem era aquela outra garota? O rosto dela também não é era estranho, mas mesmo que se esforçasse, ele não se recordava quem poderia ser.

— Você… é minha…

Ela fez que sim com a cabeça.

— Você tem a mesma cara irritante do papai.

Colin engoliu o seco. Muita coisa estava acontecendo e ele não conseguia raciocinar direito. Seu cérebro não estava processando com rapidez as informações.

— A mãe era uma Elfa? E eu sou o quê? Um meio Elfo também?

Com um sorriso ela fez que sim.

— É, mas você também é um errante. Enfim, tenho que ir.

— Espera! Ir para onde? Como você chegou aqui?

Ela apontou para o braço direito.

— Sou uma errante, esqueceu? Mundos não são a única coisa que conseguimos invadir. Chegar até sua cabeça foi bem fácil, já que estamos ligados pelo sangue. E a proposito, me chamo Saphielle.

Colin correu até ela e segurou sua mão.

— Por que o pai e a mãe estavam na terra? E foi o pai quem derrubou o véu?

— Suas perguntas serão respondidas em breve.

Colin apertou o pulso dela.

— Eu quero as respostas agora!

— Você é realmente como Ehocne descreveu… impulsivo e grosseiro.

— Ehocne?

— Um último conselho, todos os errantes além de mim e de Ehocne são seus inimigos. Não confie neles.

— Saphielle, espera! Como encontro você?

Colin olhou no fundo dos olhos dela e Saphielle tocou seu rosto.

— Seus olhos são iguais aos dela. — Pegando a mão direita de Colin, Saphielle tocou a palma da mão dele com um indicador e a tatuagem de Colin brilhou — Eu te darei umas dicas antes de ir. — Ela olhou para o outro braço de Colin — Esperto, começou a fazer contratos com outros seres, mas logo com uma súcubos? Hehe, você é maluco!

Colin franziu o cenho.

— Maluco? Por quê?

— Você vai ter tempo de descobrir. Marquei algumas portas para você.

— Portas?

Ela assentiu.

— Em Rontes, você deve conseguir encontrar a mãe de todos os monstros, em Caliman, você encontrará o monarca das sombras, e no reino esquecido deve conseguir encontrar o soberano do céu.

— Isso são… demônios?

Ela assentiu.

— Não espere que eles sejam tão passivos quanto a súcubos. Para fazer contrato com eles você precisa ficar forte, bem forte. Você nem monarca é… se enfrentar qualquer um deles nesse estado você acabará morto.

Colin estava confuso. Ele não tinha certeza se poderia confiar nessa mulher, mas o fato dela se parecer com sua falecida mãe fazia ele baixar um pouco a guarda.

— Por que você está me ajudando?

Ela tocou o rosto dele mais uma vez.

— Quando você for forte o suficiente a gente se encontrará, e te explicarei tudo, eu prometo!

Com um sorriso, Saphielle se virou e caminhou até a penumbra, desaparecendo sem deixar rastro.

Contra o que ele estava lutando, afinal? Caídos? Organizações do submundo ou os próprios errantes?

E por que o pingente que estava com Agatha era tão importante?

Em meio a esse turbilhão de perguntas, Colin começou a despertar.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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