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Com o grande eclipse se aproximando, Lina, Samantha e Wiben foram para o vilarejo localizado em meio as cordilheiras. Por precaução, os gêmeos juntos a Aluns e Kurth ficaram no pequeno ducado, e a eles foi dado a missão de proteger os habitantes, já que os vampiros provavelmente varreriam todos os vilarejos próximos.

Loaus estava apreensivo segurando sua espada sentado debaixo de uma árvore, observando uma cena bem rara de se acontecer naquele ducado. Um pai brincava com o filho pequeno em seus ombros, enquanto a mãe segurava a mão da filha e olhava uma vitrine expondo algumas bonecas e bichinhos de pelúcia.

Ele abriu um sorriso de canto. Parte dele se entristeceu ao ver aquilo, pois é algo que ele não teve. Seu pai somente falava o básico com ele em sua infância, e à medida que foi ficando mais velho, ele foi deixando de ter contato com o pai.

Lumur era sua única referência paterna presente, e Lina era a materna, apesar de Lina ser bem mais ausente que Lumur.

— E aí, cara! — disse Kurth se aproximando com as mãos nos bolsos — Só aproveitando a calmaria antes da tempestade?

Loaus sorriu e fez que sim.

— Aqui é bem calmo, não acha? — perguntou Loaus.

Kurth deu de ombros.

— Acho que sim. — respondeu ele — Ver gente assim me fez lembrar de casa. Faz tempo que não falo com meus pais, nem sei se eles estão bem.

— Não cogita voltar para casa?

— Pretendo, mas se eu for voltar, tenho que voltar mais forte. Não deve ser surpresa para você que eu seja do império do sul, não é?  E seu pai tem tentado avançar contra meu país de origem há muito tempo. Minha sorte é que Ultan aceita qualquer um com dinheiro o suficiente que consiga se bancar, então decidi vir aqui para treinar.

Loaus ficou em silêncio por alguns segundos.

— Sinto muito.

— Pelo quê?

— Meu pai. Ele já deve ter feito muita coisa ruim com o seu povo…

Kurth deu dois tapinhas no ombro do amigo.

— Relaxa, não precisa se sentir culpado pelas ações do seu velho. Quando você se assumir imperador, só dê um jeito de acabar com isso.

— O próximo na linha de sucessão é meu irmão mais velho, mas ele é uma boa pessoa, tenho certeza que ele pensa bem diferente do meu pai.

— Se você diz…

Ao longe, Alunys e Liena se aproximaram. Sendo a primeira amiga de Liena, Alunys e ela aproveitaram bem o tempo juntas. A Elfa contava sobre suas experiências, seus gostos, suas paixões, e Liena, como uma boa ouvinte, escutava tudo isso bastante empolgada.

— Faltam algumas horas até o eclipse. — disse Liena próxima à amiga — Estou um pouco ansiosa, então não consigo relaxar de jeito nenhum. Colin pediu para continuarmos investigando a casa do tal duque, certo!? Por que não vamos lá dar uma olhada?

— Agora? — perguntou Loaus.

Liena fez que sim com a cabeça.

— Temos algumas horas até o eclipse de fato acontecer. Se preferir, pode ficar aí sentado, eu acho que darei uma olhada.

— Você não vai investigar algo assim sozinha. — disse Loaus se erguendo — E se algo acontecer com você?

— Sei me defender agora.

— Aprendemos a lutar e usar magia eficientemente tem pouco tempo. — Loaus guardou a espada na bainha — Não pense que você é invencível somente por isso. Não estamos em Ultan e senhorita Samantha não está aqui para cuidar de nós.

— Você quer ser imperador e ainda assim se esconde atrás de pessoas mais fortes que você. Imagina só, um imperador que se esconde atrás dos próprios soldados. Você será ainda mais patético que o papai.

— O que disse? — Loaus franziu a testa.

Sentindo o clima esquentar entre os gêmeos, Alunys se pôs entre os dois.

— E-Esperem aí pessoal, vamos ficar calmos, tá bem?

— Estou calma. — disse Liena — Parece que é Loaus que está um pouco nervoso ultimamente. Isso tudo é medo de vampiros?

— Não estou com medo de vampiros, só não sou um idiota imprudente.

— Por favor, parem… — Alunys era a mais fraca daquele grupo, mesmo sabendo usar magia a mais tempo, o talento dos gêmeos era algo que estava bem distante de ela alcançar no momento.

— Alunys tem razão — intrometeu Kurth — Parem de brigar, vocês são irmãos, não são? E Liena, não é porque você aprendeu magia que pode sair fazendo o que der na telha.

Liena cruzou os braços e virou o rosto. No momento, Kurth era o mais habilidoso daquele pequeno grupo e consequentemente os outros o enxergavam como o líder sem Samantha para guiá-los.

— Mas concordo em partes com Liena — Kurth continuou coçando a nuca — Vamos dar uma olhada na tal mansão desse duque. Não será nada de mais, quando estiver dando o horário do eclipse a gente se prepara, que tal?

— Parece que o sulista está começando a falar minha língua. — disse Liena com um sorriso.

Alunys ajeitou os óculos trincados e se aproximou de Kurth.

— Tem certeza disso? — indagou.

Kurth fez que sim com a cabeça.

— Senhorita Samantha saiu para defender o império contra uma horda de vampiros famintos em uma missão que nem mesmo sabe se retornará. Senhor Colin foi para o covil dos vampiros resgatar aquelas crianças arriscando a própria vida. A irmã de vocês e senhorita Samantha confiaram na gente para proteger esse ducado durante o grande eclipse… Não somos mais crianças, deixaremos orgulhosos aqueles que confiam em nós.

Os quatro se entreolharam e tanto Alunys quanto Loaus acabaram cedendo, aceitando a ideia de a investigação até o momento de o eclipse acontecer.

— Que seja! — exclamou Loaus — Só não vamos perder tempo aqui. Vamos logo até a mansão do duque.

— Sim, mas primeiro temos que manter as pessoas seguras. — disse Alunys — Não podemos deixá-las desprotegidas. Sem contar que aquelas crianças estão sob nossa responsabilidade agora. Algumas estalagens têm porões bem protegidos, podemos deixá-los escondidos lá.
 


 
Embora saíssem abordando as pessoas para o grande eclipse que estava a caminho, muitos os ignoraram, e apenas uma pequena parcela aceitou se esconder em porões das estalagens espalhadas pelo ducado.

Os poucos soldados que sobraram foram encarregados de proteger as pessoas de possíveis inimigos. Nos porões de portas reforçadas, tinha comida, água e até mesmo algumas camas.

Após resolverem esta questão, foram de prontidão investigar a residência do duque. Sem perder tempo, subiram as escadas da soleira e bateram na porta grossa de madeira. Depois de alguns segundos ouviram barulhos de passos atrás da porta e ela abriu.

Antes de partir em direção as cordilheiras, Samantha trocou informações com eles e pensou de fato em prosseguir com as informações, mas decidiu que focaria seus dias em um árduo treino para combater os vampiros durante o eclipse. Então, os garotos já estavam a par de tudo que aconteceu.

— Vocês… estão com a mulher loira, certo?! — disse o homem com a enorme cicatriz no rosto — O que querem aqui? Não deveriam estar trabalhando para solucionar o caso?

— E estamos. — disse Liena — Queremos falar com a irmã do duque.

O homem com a cicatriz abriu a porta e encarou Liena com um olhar de nojo.

— Quem você pensa que é para exigir algo de mim? Dê o fora daqui!

Antes dele fechar a porta, Liena apoiou uma das mãos sobre ela, travando sua movimentação.

Ela já estava ficando sem paciência.

— Escuta aqui, você não gosta da gente e a gente não gosta de você, então que tal chamar sua senhora logo antes que entremos a força?!

O homem cerrou os punhos e franziu o cenho.

— Está me ameaçando, vadiazinha?

— Ameaça? Claro que não, eu só dei um aviso. Só seja um bom cachorrinho e vá chamar logo sua dona, não temos o dia todo.

Furioso, o homem levou a mão a pochete que ficava na altura de sua cintura, bem nas costas, apanhou seu canivete, mas foi interrompido por uma voz que o chamou.

— Benson! — disse a viúva — O que significa isso?

— Olá, senhora. — disse Benson como se nada tivesse acontecendo — Estes garotos queriam falar com você. Eu já estava indo chamá-la, parece que é sobre os casos de morte do ducado.

— Então deixe-os entrar imediatamente!

Benson se curvou em uma reverência, enquanto Liena e seus companheiros entraram na mansão.

— Benson. — disse a viúva — Pode se retirar.

— Claro, minha senhora. — Ele encarou Liena — Com licença, mas meus deveres me chamam.

Benson caminhou para os fundos e passou por uma porta. A viúva estava com um véu negro no rosto e trajava as mesmas roupas de luto de sempre, porém, desta vez ela estava com um cachecol bordado em volta do pescoço.

— Me acompanhem por gentileza. — disse a viúva se retirando para os fundos onde se localizava a cozinha.

Ela esticou o braço, oferecendo assento aos quatro. Sem pressa, eles sentaram e a viúva começou a preparar o chá. A cozinha era grande, havia uma enorme lareira no canto com um espaço para guardar pequenos troncos de árvore.

Havia também uma bancada de mármore onde estava algumas frutas e utensílios de cozinha e no final de sua extensão havia uma enorme chapa de ferro com alguns orifícios que faziam todo aquele aparato funcionar como um fogão a lenha. No centro havia uma enorme mesa de madeira com pratos de porcelana em cima. O chão era simetricamente ladrilhado, onde era quase possível ver o próprio reflexo nele.

Pegando um pouco de água, a viúva o colocou em um balde de ferro e deixou em cima do fogão a lenha. Caminhou até a lareira que crepitava em fogo baixo e com o atiçador apanhou um pequeno tronco em chamas. Juntou um pouco de palha e colocou no fogão a lenha com pequeno tronco que logo fez a palha seca se incendiar.

De volta a cadeira, ela se sentou, retirando seu véu. Seu rosto era pálido, seu nariz era pontudo como o do duque e seus olhos eram completamente negros.  Seus lábios eram finos e levemente rosados enquanto sua bochecha era acompanhada de uma tímida pinta. Ela soltou seu cabelo preto amarrado em um coque e deixou que ele deslizasse por seus ombros.

— É a primeira vez que vejo um grupo como o de vocês. — disse ela — Tenho que confessar que estou um pouco surpresa. — A viúva parou seus olhos em Kurth — Um sulista? Que peculiar!

— Estamos aqui para resolver o caso das mortes. — disse Kurth.

— Entendo… Então, vejo que meu irmão realmente resolveu levar as mortes a sério, uma pena que meu filho precisou partir para isso acontecer.

Liena decidiu tomar a frente do interrogatório.

— A senhora sabe me dizer quando as mortes começaram?

A viúva suspirou.

— Acho que faz mais de um ano, quando alguns moradores estavam caçando na mata e retornaram todos feridos. Disseram que foram atacados por um animal que nenhum deles soube identificar. Logo depois veio a febre e enfim o óbito. — Ela deu uma pausa e tornou a mexer nas mechas do cabelo devagar. — Meu irmão, o duque, é um mago… ele não é bom em lutas nem nada do tipo, mas ele é um excelente rastreador. Ele consegue sentir pessoas com um grande poder mágico a quilômetros de distância… Não foi nada fácil construir esse lugar… as pessoas confiam nele, sabe?

O tom de voz da viúva tornou a ficar mais melancólico.

— Esse lugar era um lugar feliz antes do incidente, todos aqui brincavam e sorriam despreocupadamente. Meu marido foi o primeiro a ficar com a febre logo depois daqueles moradores, pensávamos que poderia ser uma praga, mas meu irmão disse haver traços de magia ancestral em meu marido. A febre durou cinco dias e ele se foi. Logo depois as mortes foram uma atrás da outra, pessoas começaram a morrer aos montes… nem meu filho escapou de tal destino…

Loaus se ergueu.

— Será que posso dar uma olhada na casa?

A viúva o encarou por alguns segundos e fez que sim com a cabeça.

— Fique à vontade…

— Vamos lá, Kurth, Alunys.

Ele se ergueu e seus companheiros o seguiram, caminhando ao lado de Loaus residência adentro.

A viúva encarou Liena e coçou a bochecha.

— Acho que seus amigos não gostaram muito de mim.

— Acho difícil, aqueles dali gostam de todo mundo. — A viúva sorriu timidamente — Quanto tempo durou a febre do seu filho?

— Três dias, a do meu marido durou cinco. Mas ninguém passa de uma semana.

Liena colocou a mão no queixo e fez que sim com a cabeça. Não havia distinção de idade entre as vítimas, a única via comum entre todas elas era que a maioria esmagadora pertencia ao sexo masculino.

— Só um instante, acho que a água ferveu.

Erguendo-se, a viúva foi até o balde que fervia água e com um pano sobre a alça o retirou dali, jogando a água dentro de um bule. Esticando o braço, ela apanhou algumas folhas e as triturou com as mãos. Com uma colher de madeira, ela mexeu o chá e o colocou em duas xícaras.

As apanhou calmamente pelo cabo e entregou uma xícara para Liena, que deu sua primeira bicada. Tinha um gosto familiar.

— Ervas da lua? — perguntou Liena segurando a xícara frente aos lábios.

A viúva fez que sim.

— Não sabia que você as conhecia, mesmo entre as damas do ducado é raro alguém conhecer ervas.

— É que era comum tomá-la quando éramos crianças. Minha mãe gostava de cultivá-las, ajudava ela a passar o tempo.

Para a viúva, fazia bem conversar sobre um assunto que não fosse fúnebre, então, ela decidiu ao menos tentar se distrair conversando sobre coisas sem importância. Liena sabia o que a viúva estava fazendo, mas deu de ombros. Ela queria conversar normalmente com outra mulher, coisas que não fossem treino ou assassinato, ela só queria uma conversa normal.

As duas continuaram jogando conversa fora lá em baixo, enquanto Kurth e os outros continuaram investigando. Mesmo Alunys sendo a mais fraca em termos de combate, sua análise era a melhor do grupo.

Ela viu um rastro de mana que seguia pelo corredor, subia as escadas e dava direto para a biblioteca.

Confiando no julgamento de sua companheira, os três subiram as escadas e adentraram a enorme biblioteca. Sem perder tempo, começaram a fuçar nos livros que tinham algum rastro de mana. Os títulos dos livros eram apenas sobre terras ao redor do mundo e o outro restante tratava de administração focada em comércio.

— Tem certeza que é por aqui? — perguntou Loaus devolvendo um livro a estante. Ele se ergueu e apanhou outro livro, lendo o título deste. — “Função de um administrador de ducado”, acho que a gente tá meio perdido aqui, Alunys.

Andando entre as estantes, Alunys olhava para cima tentando sentir alguma magia sombria em algum daqueles livros. O título dos livros era irrelevante para ela, já que seu foco era na magia. Caminhando mais um pouco, ela avistou um livro que emitia uma forte mana púrpura nas estantes acima. Sem avisar seus companheiros, ela pegou uma cadeira e a arrastou. Subiu nela com cuidado e esticou o braço.

Com a ponta dos dedos fez mexer o livro, e um barulho de engrenagem foi ouvido ao seu lado.

Uma passagem secreta se abriu.

Com cuidado, Alunys desceu da cadeira e caminhou até a porta da passagem, enxergando apenas uma escadaria que ia pro fundo direto para a penumbra.

— Uma passagem secreta? — disse Kurth se aproximando.

— Vamos descer aí? — perguntou Loaus — Parece bem suspeito para mim.

Com um sorriso, Kurth fez que sim com a cabeça.

— Esperem! — Alunys caminhou até a porta e juntou as mãos, conjurando um orbe de luz que era bem fraca, mas era o suficiente para iluminar parte da escuridão. Ela deu uma longa encarada para a passagem que se abriu, descendo por escada circular. O ambiente era frio e causava calafrio na espinha só de olhar lá para baixo.

O orbe flutuava ia à frente, e Kurth seguia logo atrás com Alunys próxima a ele e Loaus na retaguarda. Os instintos de Kurth não paravam de sinalizar perigo eminente, foi quando a porta atrás deles se fechou com um estalo seguido do barulho de engrenagens.

Não tinha mais volta.

— Gente… — murmurou Alunys — Isso foi um pouco assustador…

— Fica calma. — disse Kurth — Estou aqui, não vai acontecer nada com você.

— …

Então, os três tornaram a descer as escadas lentamente, mesmo seus passos sendo leves, eles ecoavam por todo corredor. As paredes eram decoradas com tentáculos que vês ou outra parecia se mexer só de encará-los. Loaus se recusava a olhar para trás, pois a sensação de ser seguido era assustadora. Ouviam-se estalos por todo corredor, às vezes alto, às vezes baixo como o cair de um clipe de papel.

Quanto mais desciam, mais frio ficava e um cheiro forte subia até suas narinas. Kurth reconhecia aquele cheiro como ninguém, ele já o sentiu quando vagou em cenários pôs guerra.
 

Crash! Crash! Crash!

Ouviu-se um som do machado partindo algo, algo rígido. Se parecia com ossos. O orbe se apagou e Kurth chegou até a beirada da escadaria, vendo dois homens que se vestiam como açougueiros desmembrarem cadáveres e jogando os restos em cima de uma bancada ensanguentada.

Os homens estavam em um plano aberto. Pequenas velas posicionadas em pilastras de concreto iluminavam o local que às vezes se encontrava no mais absoluto breu. Um dos homens era careca e corpulento, o outro era alto e magro.

— Estou cansado de fazer essa merda! — comentou o magrelo, jogando um braço decepado em cima da mesa — E olha que nem somos pagos para fazer isso.

O homem corpulento tragava um cigarro, tentando afastar o cheiro de sangue que impregnava o local. Com um cutelo, ele desmembrou a cabeça de um rapaz e a jogou junto aos restos dos corpos.

— Ou a gente faz, ou a gente morre. — disse o gordo num tom de voz chiado — Aquele merda da cicatriz é um filho da puta convincente.

— Convincente? Ele só sabe fazer ameaças. — disse o magrelo, pegando o cadáver de uma mulher pelos cabelos e jogando em cima da mesa.

— É por isso que ele trabalha pro filho da puta do duque, você sabe… Dizem que o duque é cheio de segredos, ouvi dizer que ele até trepou com uma das empregadas a força, aquela novinha que teve os pais assassinados.

O gordo deu mais uma tragada e começou a jogar os membros decepados dentro de um carrinho de mão, um a um.

— Bem que aquela putinha mereceu. — disse o magrelo, decepando a cabeça da mulher com o cutelo — Ela ficava se exibindo por aí com aquela roupa curta de empregada. Que pena que ela morreu, eu deveria ter aproveitado quando trouxeram o corpo ainda quente aqui para baixo.

— Vai ficar trepando com cadáveres agora?

— Já estão mortos, ninguém vai saber de nada.

Pegando o carrinho de mãos, o gordo deu mais uma tragada e falou ainda com o cigarro na boca.

— Gostaria que eu fodesse o seu rabo quando você morresse?

— Eu voltaria dos mortos se você fizesse isso, só para te matar.

Os dois riram e o magrelo deu dois tapinhas no ombro do corpulento.

— Vamos, temos que alimentar a criatura.

— Essa é a parte que mais odeio.

— É, eu também.

O magricela apanhou uma vela e caminhou para o corredor escuro mergulhado no breu. Os passos dos dois se afastaram, a ponto de até a luz da vela que o magricela segurava se extinguir na penumbra.

Kurth esperou aqueles homens saírem e ergueu-se caminhando para o espaço aberto onde eles estavam. Encarando a pilha de corpos, eles viram ratos caminharem entre os cadáveres, e até mesmo baratas e outros tipos de vermes estavam no local. Sem contar o cheiro forte de putrefação e sangue que subia até o nariz.

— Isso é horrível — Comentou Alunys com os olhos arregalados e mãos na boca — Esses são moradores do vilarejo, não são?

— Parecem ser. — comentou Loaus.

— A gente vai continuar? — perguntou Alunys apavorada com tal ideia — Liena pode estar em perigo lá em cima…

— Sei que pode. — disse Kurth — Mas vamos seguir aqueles homens, algo me diz que estamos perto de concluir essa investigação.

Indignada com aquelas palavras, Alunys decidiu apelar para Loaus.

— Ela é sua irmã! — disse — Vai deixá-la lá sozinha com aquela mulher? Nem sabemos se ela é confiável.

Loaus deu de ombros.

— Liena é forte, não se preocupe com ela. Se quiser voltar, então volte. Seguirei adiante.

— Então é assim? — Indagou ela indignada — Pensei que a gente fosse proteger um ao outro, não que fossemos nos jogar assim para uma morte sem sentido.

— Pare de reclamar. — disse Loaus encarando Alunys por cima dos ombros — Você sabia que isso aconteceria quando decidiu entrar aqui.

Alunys ficou em silêncio e encarou Kurth.

— Não vai dizer nada?

Kurth que apenas deu de ombros.

— Loaus tem razão, é melhor a gente continuar. Liena controla bem a mana dela, e ela é mais agressiva em combate do que a mim. Ela sabe se defender. Seria mais seguro você voltar se estiver com medo, porém, se decidir ficar, a gente protege você.

Ela não tinha escolha. Alguém havia trancado a passagem secreta, ela não poderia arriscar ir e encontrar algum inimigo que não pudesse dar conta. O mais seguro seria ficar junta daqueles dois até que a situação se resolvesse.

Kurth caminhou por aquele cômodo e investigou com a pouca luminosidade que tinha naquele momento. Ele usou a análise tentando identificar mana, só conseguiu ver um rastro de magia totalmente escuro e pegajoso, um rastro que vinha do fundo da passagem para onde aqueles homens foram.

Enquanto isso, ainda chateada por ser ignorada pelos companheiros, Alunys pensava na conversa que aqueles dois homens tiveram. Com quase toda certeza o duque não era uma pessoa confiável.

Provavelmente a garota foi morta porque ela iria expor o duque?” pensou ela “Ou porque ela sabia de algo a mais? E o que é essa tal criatura que eles estavam falando? Merda, estou com um mau pressentimento sobre isso.”

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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