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Capítulo 47: O Básico Do Básico

Depois de um tempo, Lina organizou suas ideias de forma nítida. Ela havia pensado no que ensinaria a Colin, já que ele era um usuário de árvore habilidoso mesmo para um amador.

A princesa estava agachada desenhando runas mágicas no quarto vazio com um giz branco. Desenhou no chão, teto e paredes, nenhum espaço ficou sem runa.

Após terminar, chamou Colin, que esperava do lado de fora do quarto. Lina conseguiu conversar com Dr. Zankas para que ele cedesse alguma de suas assistentes para os primeiros socorros.

Aquele seria um treinamento focado em combate.

— Colin! — chamou ela — Pode entrar.

A maçaneta girou e Colin entrou, enxergando um quarto todo rabiscado.

— Vamos para alguma dimensão?

— Sim. Como sabe disso? Não é comum, calouros da universidade conhecerem essas runas.

— Já vi runas semelhantes. Uma vez Brighid fez algo parecido para nos evocar na dimensão de Tyeryuilio.

A dimensão que Colin mencionou, era rara o suficiente para causar espanto a alguém da realeza como Lina, que tinha acesso a informações privilegiadas. Todas as informações sobre a dimensão de Tyeryuilio desapareceram da história do mundo fazia séculos.

Colin não entendeu todo aquele espanto.

— Você conheceu alguém capaz de algo assim?!

— Ela é uma monarca de duas árvores, não deve ser difícil para ela.

Lina arregalou ainda mais os olhos.

— O quê? Uma monarca de duas árvores? Isso é mesmo possível?

— Não sabia que você ficava surpresa tão fácil.

E não ficava. Colin era um ponto fora da curva, assim como todos que o cercavam. Ele havia entendido do porquê se sentiu intimidada por ele mais cedo. Aquele garoto já havia visto uma dimensão rara, conheceu uma monarca de duas árvores, enfrentou um demônio e vampiros. Foi quando ela se lembrou dos boatos, de um elfo negro que chegou na cidade acompanhado de uma garota com chifres arrastando a cabeça de um bakurak.

— Então os boatos eram realmente verdade. — disse Lina — você realmente matou um bakurak?

— Eu não fiz isso sozinho, sem Brighid, tanto eu quanto Safira estaríamos mortos.

— Então você é mesmo o rapaz dos boatos. Enfim, hora de treinar! Eilika, Julia, podem entrar também.

Os quatro adentraram aquele quarto minúsculo.

— Julia está aqui para curar você quando se machucar. Eilika será sua parceira de treino, eu só observarei.

Lina amarrou o cabelo em um coque e tirou a blusa, ficando só de topper e um short curto. Colin já deveria estar acostumado com aquilo, mas continuava embaraçoso.

Ele encarou Eilika que virou de costas.

— Não fique olhando para mim assim — disse ela envergonhada — É estranho…

— E-Espera — disse Julia sacudindo as mãos — O que estamos fazendo?

— Vou criar uma dimensão simulada. — Respondeu Lina — Quanto menos influência externa tivermos, melhor nossa mana irá fluir.

Colin tirou a camisa, exibindo um corpo bastante definido. Nele havia dezenas de cicatrizes e sua tatuagem estava bem maior, pegando todo o braço e a parte direita do tórax. Não era uma tatuagem comum, nela havia símbolos, runas e desenhos minúsculos indescritíveis.

Colin notou que Lina não tirava os olhos dele, enamorando cada centímetro daquela tatuagem, mas seus olhos não pararam por ali, se concentrando nos olhos de Colin no fim.

Lina desviou o olhar e se sentou no chão, fazendo sua posição de lótus enquanto recitava um encantamento antigo. De repente, ela começou a flutuar enquanto uma aura tomava seu corpo lentamente. Mudou a posição de mãos algumas vezes e foi como se o quarto inteiro desaparecesse.

Após ser engolido por uma escuridão infindável, o quarto começou a se mover, avançando em uma velocidade assustadora por um cosmos projetado e então, tudo parou de se mover.

Olharam ao redor, notando campos esverdeados, cercados por pradarias e montanhas ao longe.

Apoiando a mão no joelho, Lina se ergueu enquanto suava copiosamente.

— Aqui é o máximo que consigo levar vocês. Não está nem perto de ser a dimensão de Tyeryuilio, mas deve servir.

— Que lugar é este? — perguntou Julia olhando entorno.

Pássaros voejavam no céu azul, enquanto o sol tocava a pele gentilmente, quase tão gentil quanto o toque de uma mãe ao cariciar seu filho recém-nascido. Todos eles se sentiram extremamente bem, como se estivessem em uma paz absoluta.

— Está é a dimensão de Domus. — Respondeu Lina arfando — Colin, você esteve na dimensão de Tyeryuilio, e como você disse, você treinou lá. Isso explica porque você compreende tão bem o fluxo de mana. Na dimensão de Tyeryuilio, está localizado o Lithium, a árvore que precede os eventos do mundo, e presumo que você a conheceu, certo?

Colin apenas fez que sim com a cabeça e Lina continuou.

— Então deve ser mais fácil para você. Você é da tríade do verão, correto? — Colin fez que sim — Certo, se concentre e me dê um soco com toda sua força.

Aquele foi um pedido inusitado.

— Tem certeza? — indagou hesitante.

— Não é hora para cavalheirismo.

Colin cerrou os punhos.

— Não me culpe pelo que acontecer.

— Não irei.

Eilika e Julia se afastaram.

Colin cerrou o punho direito e se concentrou. Seu braço foi envolvido por uma intensa descarga elétrica.

Ele estava hesitando. Colin tinha noção que Lina era forte, mas também tinha noção da própria força.

— Vamos lá, garoto, eu disse com toda sua força.

A descarga elétrica se intensificou ainda mais. A luz azul emanada da descarga refletia sombra nas árvores e em partes do rosto de Colin, o deixando mais assustador que o normal.

Ele dobrou os joelhos e avançou tão rápido quanto um raio cortando os céus em noite de tempestade.

[Pancada!]

Cabrum!

Em um golpe acompanhado do ensurdecedor trovejar, Colin golpeou Lina no rosto com tudo. Ela derrapou por alguns metros enquanto tentava se equilibrar. Assim que parou, a princesa havia deixado um rastro de poeira. Uma gota de sangue escorreu por seu nariz. Ela apenas o limpou com as costas da mão.

O mais assustador de tudo, era que o golpe de Colin teve menos impacto do que ele achou que teria. Lina agia como se tivesse recebido um soco comum, mas Colin era quase nível 5 na árvore da pujança. Aquele golpe estava longe de ser comum.

— Impressionante. — Comentou ela caminhando de volta.

Mesmo Colin conseguindo a fazer sangrar, não pareceu ter feito algum dano significativo.

— Você combina muito bem a velocidade com força física, provavelmente já deve ter alcançado ao menos o grau 3 na árvore da pujança, mas seu talento é um desperdício.

“Desperdício?”

— O que quer dizer com isso?

— Você pode potencializar suas aptidões, se apenas aprender o básico do básico. — Ela encarou Eilika — Mostre para ele, quero que vocês dois lutem.

— E-Eu, não vou pegar leve, entendeu, grandão?

A garota camundongo caminhou para frente de Colin, evitando encará-lo nos olhos.

— Eilika, você está proibida de usar algo além do básico, já você, Colin, sinta-se livre para usar o que quiser, e não se preocupem em lutar para matar, Julia está aqui justamente para curá-los depois de um ferimento grave.

Colin franziu o sobrolho e encarou o corpo magrelo de Eilika. Ela não parecia ameaçadora, mas aquela garota conseguiu nocauteá-lo com um único golpe.

Ele não cometeria o erro de subestimá-la.

— Colin! — disse Lina — Sei que você é inteligente, então observe atentamente Eilika, e veja se consegue aprender algo. — Lina inspirou fundo. — Comecem!

Eilika fechou os olhos e assumiu sua posição de luta, colocando o pé direito na frente e erguendo os punhos na altura do queixo.

A vibe dela era completamente diferente do seu habitual.

Assim que ela abriu os olhos, Colin sentiu como se estivesse diante de um predador perigoso e saltou para trás, concentrando-se em ganhar vantagem de terreno.

“Devo ser mais rápido que ela, então seria melhor apenas observar o que ela tem para me mostrar e pensar em um contra-ataque.”

Eilika estava concentrando mana nas pernas. Sua panturrilha se enrijeceu, e cada fibra da sua perna parecia vibrar. Era algo impressionante de se ver. Ela apoiou as duas mãos no chão, e como um corredor se preparando para a largada, partiu em disparada num estrondo.

Boom!

Fora um avanço forte o suficiente para destruir completamente o solo em que estava, junto a isso, levantou também uma quantidade exorbitante de poeira.

O tempo de reação de Colin foi lento se considerado seus padrões atuais. Seus braços pareciam parados em relação aos movimentos rápidos de Eilika.

Cerrando o punho, ela golpeou o abdômen de Colin.

Bam!

Mesmo com sua armadura natural, Colin sentiu como se suas tripas fossem sair pela boca. Tentou recuperar o equilíbrio enquanto a força de impacto o lançava para trás, mas ele não esperava que Eilika estivesse novamente na sua frente tão rápido.

Woosh!

Desviou do soco dela por pouco, inclinando sua cabeça para trás e saltando para longe, indo parar em cima de uma árvore.

— Não vai fugir de mim! — berrou Eilika empolgada.

Ela concentrou mana nos calcanhares e partiu em direção a Colin num salto potente o bastante para causar fissuras no solo. Ao se aproximar dele, Eilika girou o quadril tentando acertar a cabeça de Colin com o calcanhar, mas ele se abaixou.

Scrash!

O golpe dela cortou o tronco da árvore ao meio.

Aproveitando a finta, Colin cerrou os punhos e os imbuiu com mana o suficiente para lançá-la longe.  Abaixando mais um pouco, ele esperou que Eilika fizesse o giro completo até ficar de frente para ele, assim ele poderia dar seu poderoso gancho.

Assim que ela terminou o giro, Colin foi com tudo no queixo de Eilika, mas para sua surpresa, ela conseguiu desviar inclinando a cabeça para trás.

Woosh!

Com as duas mãos, ela abraçou o braço de Colin, apoiou um pé no ombro dele e forçou um giro para a direita, quebrando o braço de Colin.

Crack!

Aquilo o deixou sem reação. Eilika soltou o braço de Colin, dobrou o joelho direito e chutou o rosto de seu parceiro de treino, aproveitando para impulsionar-se para trás, chegando ao chão com uma cambalhota acrobática.

Colin estava desnorteado e, assim que Eilika pós seus pés no chão, ela avançou num estrondo, mas dessa vez não aplicou seu soco, e sim uma brutal voadora no abdômen ferido de Colin, o jogando em direção ao chão.

Foi outro golpe poderoso, mas ele aguentou, chegando ao chão com agressividade e ainda derrapou mais alguns metros. Assim que recuperou o equilíbrio, tocou seu joelho no chão e apoiou a mão esquerda no abdômen, sentindo como se suas entranhas estivessem reviradas, além de seu braço direito latejar como se enfiassem diversas facas nas juntas de seu ombro.

Eilika encarou o estado de seu colega de treinou e ficou preocupada. Era a primeira vez em muito tempo que ela estava dando tudo de si em uma luta, mesmo que fosse treino.

— D-Desculpa! — disse Eilika sacudindo as mãos. — A-Acho que bati muito forte…

Colin responderia se conseguisse.

A dor nublou seus pensamentos e sua visão estava começando a ficar turva.

Aquele soco o pegou de jeito.

Lina usou magia de análise para observar o fluxo de mana que vinha de Colin. Seu fluxo estava totalmente desordenado e confuso, quase se extinguindo.

— Ele já era. — Murmurou ela fazendo que sim para Julia.

Dando alguns passos em direção a luta, Julia ergueu o braço e Colin foi iluminado com uma luz amarelada, se recuperando de seus ferimentos.

Lina fez que não com a cabeça enquanto encarava Colin.

— Se fosse uma luta séria, você estaria morto. — Disse em desaprovação. — Não seja descuidado, a primeira coisa a se fazer em uma luta contra um oponente mais poderoso que você, é usar a análise. Mesmo se não conseguir analisá-lo por completo, você tem que tentar. Prestou atenção em Eilika, certo? Ela usou o básico da magia e concentrou mana nas pernas, você deve aprender a fazer isso concentrando mana em seus pontos vitais, evitando, ataques como esse. Você ficou dependente demais da sua armadura natural e se esqueceu do básico. Se conseguir concentrar mana nos pontos de ataque, você será uma muralha se tratando de defesa, sem falar que sua árvore contém um dos ataques mais destrutivos das 12 árvores. Se focar no básico, você vai se tornar tão forte quanto eu.

Colin estava espantado com as habilidades de Eilika e, ao mesmo tempo, admirado. Sua companheira de treino o encarava convencida enquanto ele se aproximava.

— V-Você tá bem? — perguntou a pandoriana.

Colin estava começando a ficar irritado. Aquela garota estava agindo como se fosse fraca, mas ela não era. Ele tinha que pressioná-la.

— Não precisa se preocupar comigo.

— Tá.

— Certo! — disse Lina — Eilika, não desacelere seu ritmo, o mantenha constante até que Colin a acompanhe, e Colin, tente manter seus órgãos vitais protegidos, Eilika não vai deixar de atingi-los. Quando for atacar, não tente somente atacar com sua mana elétrica de sempre, controle o fluxo de mana, enrijeça seus músculos e verá que seus golpes ficarão duas vezes mais potentes. Temos mais algumas horas até o anoitecer, minha missão é fazer você entender o básico do básico até amanhã de manhã.

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Corvos devoravam inúmeros cadáveres que apodreciam em uma montanha de corpos. Lumur estava sentado em cima de uma pedra com as vestes sujas de sangue. Frente a seus pés corria um rio vermelho no qual levava vísceras, cadáveres e destroços.

— Senhor… — disse Briana ficando ao seu lado. Ela estava tão emporcalhada de sangue quanto seu mestre. — Nossos soldados conseguiram avançar graças ao senhor. O senhor tem deveres na corte, deveríamos retornar o mais rápido possível.

Lumur continuou em silêncio, deixando a brisa gelada bater em seu rosto. Sua mente estava em outro lugar no momento.

Tendo o conhecimento de que os nobres da corte somente se importavam com o dinheiro, ele cogitava em tomar uma atitude bastante drástica, já que pessoas que se vendiam por dinheiro não valiam de nada.

— Briana…

— Sim?

— Seja sincera, acha que eu seria um bom imperador?

— Tenho certeza. O senhor é um dos poucos engajados na agenda do império. Se dispôs até mesmo em arriscar a própria vida vindo para a fronte de batalha. Acredito que seja um verdadeiro patriota, o único digno o suficiente na linha de sucessão para ser o próximo imperador.

Ele fez que sim com a cabeça e afastou uma mecha do cabelo que o vento colocou em seu rosto, movendo-o para detrás da orelha.

— Estive pensando — disse ele mantendo os olhos no rio de sangue — Meu pai mal tem atuado no império, a corte só aceita conversar ou passar alguma pauta importante quando seus bolsos estão cheios. Somente eu estou tentando melhorar alguma coisa no império. Mesmo assim, meu próprio pai acha que não sirvo para ser imperador, mesmo após dar minha alma por essa nação — Lumur se levantou — Minha irmã foi atrás dos gêmeos, e não duvido que ela consiga trazê-los para casa, afinal, Lina é forte. Ela provavelmente ficará contra mim. Lina é minha irmã, sangue do meu sangue e eu a amo, assim como amo meus irmãos mais novos, mas meu amor pelo império é maior que meu amor pela família.

— … O que pretende, senhor?

— Os nortenhos têm a ante magia a seu favor. O resto do continente está contra nós, e nossas forças estão desacelerando o ritmo. Estamos enfraquecendo porque os membros da corte e meu pai estão se sentindo acomodados demais. Meus espiões sabem de tudo, eu sei de tudo. Tenho olhos e ouvidos em cada canto do império, conheço os conspiradores de meu pai como a palma da minha mão — Lumur encarou sua companheira nos olhos — Se meu pai morrer, posso assumir o trono antes que Lina retorne com os gêmeos, é a única chance de Ultan triunfar.

— O senhor vai dar um golpe?

Ele fez que não com a cabeça.

— Vou deixar as coisas seguirem seu fluxo. Com os gastos públicos indo para os ares, a corte ficando cada vez mais corrupta, levara alguns poucos anos até tudo implodir, quem sabe meses. Então aí, sim, salvarei esse império, assumindo o meu lugar de direito.

Aquilo pegou Briana de surpresa.

— Tem certeza que é isso que o senhor deseja? O imperador está velho, mas ainda, sim, é muito poderoso. Pode levar mais tempo o planejado até que o imploda.

— Acha que não sei disso? Não se preocupe, sei exatamente o que faço.

Ela assentiu.

— Quando assumir, o senhor planeja erradicar a corja que se instaurou na corte, correto? Muitos dos membros são importantes para o império, comerciantes e senhores da guerra que ganham muito dinheiro com o seu pai. Provavelmente haverá uma guerra interna e quem sabe se torne uma guerra civil, já que parte deles são senhores de escravos e controlam parte dos trabalhadores. Tem certeza que é isso que o senhor quer? Podemos ficar expostos a invasões externas. Os nortenhos podem estar preparando uma invasão em massa nesse exato momento.

— Mais da metade da corte é corrupta, não fará diferença se eles morrerem. E, além disso, já tenho espiões atuando no Norte. Se eles agirem, eu saberei. Sobre a guerra civil, será um preço pequeno a se pagar comparado ao que podemos alcançar. Deixem os soldados cuidarem daqui. Eu e você retornaremos a capital, temos trabalho a fazer.

— Sim senhor.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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