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Capítulo 53 – Véspera de Sangue – Parte 04

Após se infiltrarem, Eilika usou um pouco da maestria na árvore do silêncio que tinha e conseguiu capturar um membro mais fraco do clã Breto, o arrastando para um dos inúmeros buracos fora de vista daquela caverna sem fim.

Amarrado pelas cordas negras de Eilika, o vampiro tentava gritar, chamando pelos companheiros, mas as paredes eram grossas demais para que se passasse algum som, e quanto mais ele se mexia, mais a corda o apertava.

— Me soltem seus desgraçados! Ratos imundos!

Colin estava encostado na parede com os braços cruzados, apenas observando o vampiro esbravejar. Um orbe de luz fraca pairava sobre eles, junto aos pequenos seres abissais de luz própria que iluminavam o resto do recinto.

— Você pegou um barulhento. — comentou Colin.

Eilika estava ao seu lado. Ela fez beicinho e coçou a bochecha.

— Acho que esse era o mais tranquilo daquele grupo que foi fazer ronda. Ser escandaloso assim deve ser algo característico dos vampiros, não acha?

Colin deu de ombros.

— Talvez seja.

Desencostando da parede, Colin caminhou sem pressa até o vampiro, que ficou quieto ao vê-lo. Agachando, Colin pegou o vampiro pelo colarinho e aproximou-se do rosto dele.

— Estou um pouco sem paciência, então quero que responda algumas perguntas e deixo você ir.

O vampiro exibiu seu sorriso diabólico.

— Não vou dizer nada a vocês! Podem me torturar e fazer o que quiser comigo, minha boca é um túmulo!

Colin soltou o vampiro e ele bateu com as costas no chão.

Arregaçando as mangas, Colin crispou os dedos e uma forte descarga elétrica se concentrou em sua mão direita, fazendo um barulho semelhante ao canto de mil pássaros.

Com o dedo indicador, ele tocou a testa do vampiro, e uma descarga de milhares de volts correu por todo o corpo da criatura.  Ele teve vários espasmos enquanto urrava de dor, e logo depois tossiu violentamente, cuspindo sangue.

Erguendo a cabeça, o vampiro encarou os olhos frios de Colin.

— N-Não adianta me torturar — disse enquanto babava — E-Eu já disse que não direi nada.

Erguendo a mão mais uma vez em direção ao vampiro, Colin o viu cerrar os olhos e se debater de forma ainda mais violenta.

— Eu conto! Eu conto! — berrou o vampiro.

Colin abaixou a mão e a descarga elétrica desapareceu.

— Vamos lá, estou esperando.

— Alistar está debaixo do castelo. — disse o vampiro desesperado — em uma cúpula que ele usa para câmara de tortura.

— E como chego até lá sem passar pelo castelo?

— I-Isso é impossível, mas se me deixar vivo consigo levar você até ele.

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

— Como?

— Basta fingir que você é um prisioneiro e que foi minerar lá em baixo, já que você é bem forte, não é? Ultimamente temos precisado de muitos escravos já que a maioria morre depois de três dias de trabalho.

Colin olhou para Eilika por cima dos ombros.

— O que você acha? — ele perguntou.

— Não me parece uma boa ideia, esse vampiro não é confiável.

— E-Eu juro que ajudo vocês! Q-Querem o Alistar, não é? Podem ficar com aquele otário, ninguém gosta dele mesmo.

Foi a vez de Eilika de se aproximar do vampiro. Ela colocou a mão na cabeça dele e uma coroa feita de sombras ganhou forma. Assim que ela retirou a mão, a coroa desapareceu, deixando runas marcadas naquela testa que logo desapareceram.

— Coloquei uma poderosa magia de condição em você. Se passar por sua mente a possibilidade mínima de nos trair, sua cabeça explodirá.

Tanto o vampiro quanto Colin ficaram surpresos com aquilo.

— E-Eu não vou trair vocês, eu juro!

Eilika estalou os dedos e a corda que apertava o vampiro desapareceu.

— Fique aqui. — disse Eilika — Caso contrário, sua cabeça já era. — Ela olhou para Colin — Me siga, precisamos conversar.

A passos lentos, ela se retirou para o fundo e Colin a seguiu. Caminhando pelo corredor da caverna mal iluminado, Eilika começou a tossir e encostou na parede.

— Você está bem? — perguntou Colin apoiando uma das mãos nas costas dela.

Com a mão na boca, ela fez que sim.

— Desculpa, é que magias desse nível exigem muito do meu corpo, e como você pode ver, não tenho porte tão grande assim, então acabo ficando sem energia quando as uso.

— Não se esforce demais, deixa que assumo daqui. Você já fez muito por mim.

— Tem certeza que tá tudo bem deixar você ir sozinho?

Colin fez que sim.

— Não se preocupe, prometo ser sutil.

Eilika abriu um sorriso meio abatido e deu um soco fraquinho no ombro de Colin.

— Espero que seja verdade dessa vez.

— Vai ser. Pronta para voltar?

Ela fez que sim com a cabeça.

Ambos retornaram para a parte da caverna em que haviam deixado o vampiro e ele ainda estava lá, parado em um canto.

— Vamos lá morceguinho, somos só eu e você agora.

— C-Certo, mas você terá que vestir roupas de prisioneiro, essas suas olheiras parecem entregar que você trabalha por horas, então só as roupas devem bastar.

— Entendi. — disse Colin — Só espero não me aproximar demais do palácio.

— A entrada da mina fica nas mediações do castelo, mas ele fica bem longe. Os membros da elite nunca vão inspecionar as minas nem os vampiros que nela trabalham.

Colin fez que sim.

— Traga as roupas de prisioneiro e se você tentar alguma coisa…

— Já sei, minha cabeça já era.


 


O vampiro retornou segurando uma camisa de manga longa marrom, tão encardida e suja que estava perdendo completamente a cor. As calças estavam rasgadas no joelho e estavam cheias de buracos. Sem cerimônia, Colin se trocou. Ele guardou os sapatos, camisa e calça na mochila e a entregou para Eilika.

— Ao menor sinal de movimentação dos vampiros — disse Colin olhando no fundo dos olhos da companheira — Quero que você fuja o mais rápido possível. Não se importe comigo, priorize a sua vida em primeiro lugar.

Após engolir o seco, ela assentiu.

— Certo!

O vampiro algemou as mãos e colocou grilhões nos pés de Colin.

— Até logo, ratinha — disse ele — A gente se vê.

Eilika franziu os lábios e observou as costas de Colin enquanto ele se afastava.

— Tome cuidado, se aparecer algum vampiro forte, não o enfrente.

Ele apenas assentiu.

— Estou falando sério — disse ela — Sei que você é do tipo não sutil, então digo isso pro seu bem.

— Eu sei, se cuida.

Os dois deixaram o corredor e caminharam por alguns instantes até passar por um alojamento onde prisioneiros trabalhavam arduamente. Dirigiram-se até uma das dezenas de vagonetas — carrinhos de mina — e adentraram em um deles.

— Aonde vai levar esse prisioneiro? — perguntou outro vampiro.

— Esse vai para as minas. — respondeu o vampiro — Ele é mais forte que os magricelos lá atrás.

Franzindo o sobrolho, o vampiro encarou Colin de cima a baixo.

— É o primeiro Elfo Negro que vejo que não é um completo saco de ossos.

— É, esse elfo desgraçado vai trabalhar até ficar magrelo como os outros háháhá.

Puxando a alavanca, a vagoneta começou a descer, fazendo o barulho do rolimã contra os trilhos. Eles passaram por vários lugares enquanto desciam, Colin observou haver mais humanos trabalhando naquela grande cidade do que ele podia contar.

Viu de tudo, homens, mulheres, velhos, crianças, todos desempenhando uma função diferente. Os homens eram usados exclusivamente para trabalhos braçais, as mulheres ficavam com a tarefa de limpeza de alguns lugares, já as crianças eram instrumento de diversão dos vampiros mais sádicos. A maioria não resistia as torturas e acabavam como comida.

Colin encarou o vampiro a sua frente.

— Para alguém que disse que não cooperaria, você até que está ajudando bastante.

— Não se engane, elfo. Não me importo com o que fará com Alistar, aquele cretino só ocupa um cargo de prestígio porque o clã dele é importante no palácio. Infelizmente os vampiros valorizam muito o status. Então vampiros inferiores como eu acabam por acatar qualquer ordem que venha de cima.

— Não sabia que existia essa rixa entre vocês, pensei que fossem unidos ou algo assim.

— Unidos? Háhá nem aqui e nem no inferno. Só estamos vivendo em conjunto porque Nostradamus tem o apoio da terceira geração, se não fosse por eles continuaríamos vivendo normalmente em montanhas ou florestas.

Aproveitando que o vampiro estava falando bastante, Colin resolveu aproveitar isso a seu favor a fim de obter algumas informações importantes.

— Existem quantos vampiros de terceira geração? — perguntou Colin.

— Cinco, sem contar com a mulher que fugiu e formou um clã de híbridos.

Aquilo foi uma surpresa para Colin. Cinco vampiros eram fortes o bastante para influenciar a decisão de milhares deles? Ele não deixou de sentir um calafrio na espinha só de imaginar topando com alguém assim. Mas uma questão se levantou na mente de Colin, o que diabos era um vampiro híbrido?

— Você disse que uma mulher fugiu e formou um clã de híbridos, o que isso significa?

— A fugitiva era assistente pessoal do grande Lorde Alucard, e ele era um verdadeiro erudito. Lorde Alucard estudava algo assim, algo para nunca ser tocado pelo sol, mas nunca conseguiu completar os experimentos, até que aquela mulher pôs as mãos naqueles estudos e estudou por séculos até que conseguiu fazer funcionar. Ficamos sabendo a pouco tempo que ela se casou e formou uma família grande. Os boatos dizem que ela teve cerca de oito filhos, meninos e meninas, todos híbridos.

Isso não deixava de ser surpreendente. Vampiros já são perigosos, mas imaginar isso ao dia era algo que causava arrepios. A verdadeira noite de Alucard, era isso que ele queria alcançar?

— Esses híbridos, eles estão aqui na cidade subterrânea?

O vampiro sorriu e fez que não.

— Eles nos acham um bando de incompetentes, então recusaram o convite de Nostradamus. Os filhos da puta conseguem ser tocados pelo sol, por isso se acham superiores a nós. Malditos Ubiytsy!

“Ubiytsy… Onde é que já ouvi esse nome antes?”

Após descer mais um pouco, o vampiro puxou a alavanca e a vagoneta parou lentamente. Eles desceram, e o vampiro puxou Colin por uma corrente atrelada a seus punhos. Chegaram aos portões do grande castelo, que de fato era enorme.

Eles se aproximaram até um guarda.

— Trabalhador para a mina? — perguntou o guarda.

— Isso, esse filho da puta aqui está merecendo trabalhar até desmaiar. Sabe como são esses elfos negros, né? Todos os ranzinzas desgraçados.

O vampiro puxou abruptamente a corrente.

— Vamos logo, cretino, não tenho o dia todo!

Seguiram até um elevador de madeira próximo aos portões do palácio. Haviam alguns humanos ferreiros trabalhando em algumas tendas armadas, batendo os martelos grossos contra a bigorna de incessantemente. Puxando a alavanca, o elevador começou a descer enquanto fazia o barulho da madeira rangendo e engrenagens trabalhando assiduamente.

— Escute aqui. — disse o vampiro — Lá em baixo é território do Alistar e dos homens dele, então te largarei lá e te levarei até a área de mineração. Depois disso você estará sozinho.

Colin assentiu.

— Obrigado.

— Me agradeça acabando com a raça do lixo do Alistar, se der um jeito nos homens metidos dele ficarei ainda mais grato. Não é pessoal, mas espero nunca mais ver você.

— Tudo isso é pressa para se livrar de mim? — Colin abriu um sorriso de canto.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não.

Após descer mais alguns minutos, o elevador parou e eles saíram, encontrando trabalhadores com suas picaretas mal conseguindo ficar de pé. Para piorar, os guardas espancavam quem decidia descansar por um momento sequer. Colin viu os vampiros carregando corpos de homens que morreram devido à fadiga exacerbada.

Caminharam por uma passagem estreita iluminada por alguns abissais que caminhavam pela parede e chegaram até um local de mineração recém formado.

Enfiando as mãos nos bolsos, o vampiro puxou uma chave e retirou as algemas das mãos e dos pés de Colin.

As pessoas estavam tão apavoradas que não cogitavam sequer a ideia de fugir, por isso trabalhavam sem algemas ou grilhões, somente a presença dos guardas já era um aviso para que trabalhassem em silêncio.

— Eu trouxe esse daqui. — disse o vampiro a um guarda — Ele é todo seu!

O vampiro que havia trazido Colin cruzou olhares com ele mais uma vez e se afastou. O guarda empurrou Colin com o pé em direção a uma picareta cravada em uma rocha.

— Comece a trabalhar, Elfo maldito!

Obedecendo, Colin pegou a picareta, mas dosou sua força ao bater a picareta contra a rocha. Ele não queria que usassem a análise nele.

Enquanto era arrastado até o local de mineração, ele notou haver ao menos quinze guardas pela extensão da mina, e cada guarda vigiava de 30 a 40 pessoas. O elevador demorou cerca de oito minutos para descer, e usando a análise discretamente, notou que os guardas não eram tão fortes.

— Ei! — Ele sussurrou para um homem ao seu lado — Onde ficam os prisioneiros?

O homem cruzou olhares com Colin, mas não disse nada.

— Estou procurando duas garotas, uma loira e uma com os cabelos bem escuros. Uma delas devia estar segurando um coelhinho de pelúcia, viu alguma delas?

— Ei, Elfo! — berrou o guarda — Se continuar cochichando aí vai tomar uma surra!

Colin ficou em silêncio por alguns minutos, mas logo tornou a falar de novo.

— Quer sair daqui?

O homem o encarou e engoliu o seco.

— C-Como? — perguntou o homem num sussurro.

— Posso matar os guardas, a gente pega as armas e luta contra os vampiros. Tem mais humanos que vampiros nessa cidade, se todos se rebelarem a gente pode ter uma chance de sair daqui, mas preciso que me diga se viu essas garotas.

O guarda de antes estava um pouco afastado, vigiando outro grupo de prisioneiros.

— Vi algumas garotas que batem com sua descrição. Acho que estão na ala mais ao leste…

Colin assentiu.

— Entendi. Contei quinze guardas até agora, sabe me dizer se tem mais que isso?

O homem olhou para os dois lados e disse baixinho.

— Deve ter pelo menos uns 30 ao longo de toda a mina, mas eles são vampiros, como vai lutar contra eles? Você é um Elfo, não é? Elfos são tão fortes assim?

Após abriu um sorriso, Colin assentiu.

— Pode apostar que sim.

O homem engoliu o seco.

— E quando planeja matar os guardas? Daqui a uma semana? Acho que é pouco tempo para organizar um motim, mas a maioria dos prisioneiros daqui não devem durar tanto.

Colin parou de bater a picareta e se alongou. Percebendo, o guarda se aproximou furioso sacando sua espada.

— Parece que temos um idiota para servir de exemplo para esse monte de lixo. Tá na hora de você levar a surra que merece, elfo filho da puta!

Apanhando a picareta, Colin abriu um sorriso.

— Matarei os guardas hoje!

Com faíscas celestes percorrendo seu corpo, Colin avançou em direção ao guarda e cravou a picareta em sua testa.

Crash!

Os prisioneiros encaravam aquilo incrédulos, isso nunca havia acontecido.

O barulho de botas de ferrou foi-se ouvido brutalmente no corredor. Sete guardas haviam chegado empunhando suas espadas enquanto cercavam Colin.

— Se renda, Elfo maldito!

Calmamente, Colin se abaixou e tirou a picareta da testa do vampiro. Abrindo um sorriso, mana começou a emanar de seus pés e correntes elétricas envolveram os guardas em uma velocidade assustadora.

 [Prisão de Choque]

No começo, não passava pelo cabeça de Colin a ideia de libertar os prisioneiros, mas caso feito, ele teria mais chance de escapar com vida se os vampiros se preocupassem com outras pessoas além dele.

— Vocês já foram livres uma vez, certo? — disse Colin aos prisioneiros que prestavam atenção nele — Aposto que a maioria aqui tem esposa, filhos, irmãos ou até mesmo um amigo próximo. Vocês devem estar com raiva, não é? Foram retirados de seus lares para servirem como escravos até que seu corpo apodreça no escuro e seja devorado por vampiros repugnantes ou um punhado de vermes.

Colin apoiou a picareta no ombro enquanto todos prestavam atenção nele.

— Não querem sentir o calor de suas esposas de novo? Sentir o abraço de seus filhos que devem estar orando aos céus para que seus pais venham e as salvem, sei disso porque me sinto da mesma forma. Continuem aqui servindo de brinquedo para os vampiros, ou então peguem as armas e lutem. Mais do que ninguém, vocês sabem o quanto a liberdade é preciosa, e qualquer chance de obtê-la deve ser agarrada com unhas e dentes. Estou dando essa chance agora, não desperdicem.

Eles continuaram imóveis, olhando um para o outro.

— HeHe — zombou um dos vampiros — Sua tentativa de rebelião falhou, Elfo maldito! Logo esse lugar estará cheio de guardas que vão trucidar você e qualquer idiota que tentar fazer algo estúpido.

Colin continuou calmo e em silêncio.

Assustados, aqueles homens continuaram receosos, até que ou berro foi-se ouvido e um homem de meia-idade foi até um dos vampiros amarrado pela corrente elétrica de Colin, cravando a picareta na testa de um deles.

Crash!

Movidos pelo companheiro, os outros fizeram o mesmo, matando todos os guardas presos pelas correntes de Colin.

Assim que os guardas morreram, aqueles homens pegaram as espadas dos guardas e avançaram em fúria pela mina, começando uma rebelião. Colin tinha ciência que a maioria acabaria morta, mas aquela era sua melhor chance. Sua prioridade não era salvar os humanos das garras dos vampiros, mas resgatar suas crianças.

Ele faria qualquer coisa para dificultar a vida dos vampiros e tornar seu resgate uma prioridade inegociável.

— Preciso que me leve até as garotas que mencionei — disse Colin ao homem que continuava parado com os olhos brilhando.

— C-Claro! Me siga!

No ritmo daquele homem, Colin seguiu pelo corredor. Outro guarda apareceu por trás de Colin, ele só desviou do golpe e esmagou a cabeça do vampiro a pressionando contra a parede.

Outros dois se aproximaram por trás, com a mão direita coberta por uma descarga elétrica, Colin atravessou o peito de um deles e degolou o outro.

— Quem é você? — perguntou o homem enquanto corria em meio a toda aquela confusão.

— Sou Colin, e você?

— Bernard! É um prazer conhecê-lo, senhor Colin!

— Digo o mesmo.

Eles passaram por pessoas lutando contra vampiros, pessoas sendo mortas por vampiros e pessoas fazendo de tudo para sobreviver mais um dia.

Finalmente haviam chegado a uma ala onde estavam as jaulas. Havia outro guarda dormindo na cadeira, mesmo com todo aquele barulho. No momento que começou a despertar, Colin o degolou com sua adaga elétrica, deixando a cabeça cair rolando pelo chão úmido.

— Pode ir, Bernard, eu assumo daqui. — disse Colin — Vá encontrar sua família.

Bernard fez uma reverência.

— Nunca esquecerei o que o senhor fez por mim e o povo da mina. Obrigado! Espero que encontre quem está procurando.

Indo até o guarda, Bernard pegou a espada dele e a empunhou. Cruzou olhares com Colin mais uma vez e desapareceu no corredor.

— Melyssa! Brey! — Berrou Colin — Onde vocês estão?!

Enquanto caminhava pelas inúmeras jaulas, Colin quebrava os cadeados com as mãos nuas. Ele estava tão forte que conseguia esmagá-los sem muita dificuldade. As pessoas saiam apressadas e começavam a correr descontroladamente pela sobrevivência. Algumas pegavam armas para lutar, outras apenas fugiam.

— Melyssa, Brey! Estou aqui!

— Ei, senhor! — disse uma voz rouca que vinha da jaula ao lado. Colin virou o rosto e viu uma senhora tão magra que parecia uma caveira viva — Está falando de duas garotinhas?

Arregalando os olhos, Colin se aproximou da jaula, esmagando o cadeado com os punhos. As pessoas na jaula saíram rapidamente, enquanto a senhora caminhava a passos lentos para fora.

— Você as conhece? Uma é loira e a outra tem o cabelo bem escuro!

— Elas estavam nessa jaula…

— Estavam? O que aconteceu?

— Alistar as levou daqui…

Colin engoliu o seco.

— Para onde?! — Colin segurou nos braços da senhora e ela sentiu um pouco de dor.

— Está me machucando, senhor…

— Desculpe. — Colin a soltou — Sabe para onde ele as levou?

— Não quero ser pessimista, meu rapaz, mas pelo estado que saíram daqui, será um milagre estarem vivas.

— Estado delas? Como assim?

A velha engoliu o seco ao perceber a expressão quase imutável de Colin ficar assustadoramente séria.

— Bem… — disse a velha — A pequena do cabelo preto estava bem machucada, tentei ajudá-la com os primeiros socorros, mas ela tinha muitos ferimentos. Já a loirinha… bem, Alistar a deixou num estado horrível… ela mal conseguia abrir os olhos de tão roxo que estavam e uma das mãos dela foi… decepada.

Colin ficou sem palavras, e, ao mesmo tempo, se sentiu culpado, pois deixou tudo aquilo acontecer. Mas seu ódio se focou exclusivamente em Alistar.

Ele se afastou da velha e cerrou os dentes.

— Rapaz… — a velha tocou seu ombro — Antes de elas serem levadas, aquele vampiro, Nostradamus, esteve aqui pessoalmente e disse precisar delas vivas.

Sentindo aquele fio de esperança, ele olhou no fundo dos olhos daquela senhora.

— Sabe onde Alistar pode estar?

Ela apontou com as mãos trêmulas para o fundo do corredor.

— Teu uma escada que leva direto aos aposentos dele, se seguir, por ali deve chegar até ele.

— Obrigado.

Uma mana elétrica anormal para os padrões de Colin circundou seu corpo, e ele partiu em um flash azul para o fim do corredor, deixando apenas poeira para trás. Quando a senhora se deu conta, todas as jaulas se abriram ao mesmo tempo, logo após Colin sumir. As pessoas saíram correndo, indo para todas as direções somente para fugirem.

— Aquela garota estava certa. — murmurou a velha — o pai dela veio mesmo.

Ele subiu os corredores rapidamente, nem mesmo os guardas conseguiram fazer algo a respeito. Assim que Colin passou por eles, os degolou sem piedade, fazendo um amontoado de corpos e cabeças rolarem escada a baixo enquanto ele continuava a subir.

Ao chegar a grande cúpula, ele passou rapidamente de quarto em quarto procurando Alistar, até que arrebentou uma grande porta de ferro com um único soco após ouvir gritos de desespero. A porta veio a baixo revelando a famosa sala de tortura de Alistar, e para sorte de Colin, ele estava lá, de costas cortando os dedos de uma mulher com um alicate.

Ao se virar e ver Colin, Alistar abriu um sorriso.

— E não é que ele veio mesmo háhá? — Alistar colocou o dedo cortado da mulher na boca e o mastigou — Tão previsível!

Colin não disse absolutamente nada, sua expressão séria já dizia tudo. Nem mesmo Colin se recordava da última vez que ficou tão bravo.

— Meus superiores disseram para eu evitar você, não sei porque aquelas merdinhas veem de especial em alguém que deu sorte uma única vez. — Colin continuou em silêncio — Essa sua expressão está impagável háhá. Pelo visto você já ficou sabendo o que fiz com aquelas garotas, né? Háhá Sabe o mais engraçado? A pirralha do cabelo dourado ficou chamando por você enquanto eu arrancava a mão dela bem devagarzinho com um cerrote. Acho que nem foder mil putas me dariam tanto prazer quanto os gritos daquela vaziadinha!

[Estrondo!]

O quarto todo tremeu. A mulher na maca olhou para o lado e viu que não tinha mais parede, apenas um rastro que se estendeu saindo da cúpula, e ao longe estava Alistar e Colin. As algemas que a prendiam estavam quebradas, e ela pegou o que encontrou de roupas e saiu correndo.

No fundo, Alistar erguia os braços em forma de cruz, medindo forças com o punho pesado de Colin.

— Não vá pensando que será tão fácil quanto da última vez! — disse Alistar exibindo aquele sorriso diabólico — Me alimentei de inúmeros humanos para alcançar a força que detenho agora — Ele lambeu os beiços — Inclusive, os dedos daquela garota estavam uma delícia!

Uma mana imensa se concentrou no punho de Colin e ele forçou Alistar contra a parede de rochas. O vampiro sentia como se o punho de Colin fosse duro como concreto, e se precavendo, jogou o impacto do soco de Colin para o lado, saltando para longe. O soco pesado de Colin se chocou contra a rocha bruta, rachando aquela parede rochosa metros acima.

Mesmo o provocando, Alistar sabia que seu oponente estava mais forte que antes, e isso o preocupou. Mas já se precavendo, Alistar abriu os braços, e um a um, uma gigantesca horda de vampiros começou a cercar os dois naquele amplo espaço.

— Aqui está, Colin, a maior horda controlada por um vampiro! Te apresento os meus cinco mil guerreiros, háháhá! Não importa o quão forte seja, não há como vencer todos nós!

Todos aqueles cinco mil vampiros se juntaram em uma gargalhada assustadora, fazendo as paredes daquela enorme caverna estremecer, derrubando até mesmo alguns pedaços de estalactites que estavam no topo da caverna.

— O que foi? O grande Colin está tão assustado que ficou mudo? Háháhá. E Nostradamus pensou que você era um errante de classe especial, que piada!

Os vampiros começaram a rir novamente, iniciando mais um tremor.

Mesmo não demonstrando, Alistar estava irritado por seu oponente demonstrar a mais absoluta paciência em uma situação como aquela.

— Farei você implorar para que eu te mate o mais rápido possível!

Colin esboçou um sorriso de canto.

— Você me deixou um pouco irritado mais cedo. — disse Colin serenamente — Mas esse é você, não é? Alguém que se sente superior ferindo criancinhas e se esconde atrás de um exército. É só um covarde como qualquer outro. Até as garotinhas que torturou tinham mais coragem que você.

Alistar cerrou os dentes pontiagudos, aquelas palavras o alcançaram profundamente e, em vez de provocar Colin para desestabilizá-lo, foi ele quem acabou desestabilizado.

— Covarde? — disse Alistar furioso — Vou te mostrar quem é o covarde!

Colin alargou seu sorriso.

— Mil, cinco mil, cinquenta mil, cem mil, não importa quantos de vocês apareçam, você, Alistar, morre hoje. O que você fez não tem perdão, mas uma coisa tenho que agradecer a você. Até agora lutei por mim, para proteger os mais fracos ou lutei pelos meus amigos, mas hoje, o que me move é o puro ódio, então sua surra será bem pior do que da última vez, mas você aguenta, não aguenta, Alistar?

— Errante maldito! — Alistar aumentou sua voz o mais alto que conseguiu — Homens! Nostradamus disse que o queria vivo, mas as novas ordens são as de matar esse desgraçado! Aniquilem esse verme, façam com que ele desapareça!

Colin abriu os braços e sua tatuagem começou a brilhar avidamente. Em seguida, uma descarga elétrica tão escura quanto o céu noturno começou a percorrer seu corpo. Mesmo em desvantagem numérica, Colin se sentiu estranhamente bem. Diferente de quando enfrentou o demônio na estrada, desta vez, ele sentiu estar em absoluto controle da situação.

Nenhum de seus amigos estava por perto, ninguém o julgaria ou pensaria a respeito do que ele estava prestes a fazer, então decidiu que esse seria o momento perfeito para ele resgatar um sentimento antigo que em partes estava com saudade.

Ele finalmente poderia matar sem se ater as consequências. Seu corpo saciaria a sede de sangue que até então estava adormecida. Suas memórias passaram em sua mente como fotos em um telão. Colin se recordou de quando matou pela primeira vez, se recordou do homem do celeiro, logo depois se lembrou da vez que enfrentou o cocheiro, da vez que enfrentou bandidos na estrada, o Bakurak, tudo aquilo o excitava.

Aquele sentimento nostálgico invadiu sua mente, lhe dando altas doses de dopamina, e Alistar se assustou por um breve momento quando viu o mesmo sorriso diabólico dos vampiros desabrochar no rosto daquele errante.

— Isso! — disse Colin caminhando em direção a horda — Venham todos de uma vez!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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