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Após a estranha e cômica situação de mais cedo, todos desceram para o primeiro andar. Agora, eles se encontravam sentados e conversando uns com os outros: 

— João, agora que você sabe que é um membro da emissora, acho que deveríamos nos apresentar, não é, pessoal? — Caio falou enquanto arrumava os seus óculos. 

— Certo, então, eu começo! — Gabriel disse firmemente enquanto se levantava e estendia a mão para João, que o cumprimentou. – Eu sou o Gabriel Lins, locutor da nossa grandíssima rádio, além de alto e bonito, é claro. 

— Gabriel, não tem motivos para você mentir, hahaha! — Ana exclamou num tom de deboche. 

— Nossa, Ana, você não sai do meu pé, hein?! 

— É o meu passatempo! 

— Ok, ok, agora é a minha vez — o homem com o livro interrompeu se levantando e arrumando seu paletó. Ele tinha cabelo longo e crespo que ficava em dreadlocks, e usava uma camisa preta com um paletó azul marinho acompanhado por uma gravata de mesma cor, além de usar uma calça social escura e um sapato de couro preto. Como Caio, ele também usava um par de óculos, porém sem aro. — Prazer jovem, eu sou Willian Neves. 

— Prazer Willian! — João respondeu cumprimentando-o. 

— Sou o roteirista da emissora e cuido de tudo que o Gabriel fala, então se você perceber que ele está na linha, pode me agradecer. 

— Como você é convencido! — Gabriel disse rangendo os dentes de raiva. — Aliás, eu estava me apresentando antes! 

— Achei que você já tinha terminado, já que não tem muito a oferecer. 

Gabriel avançou rapidamente em Willian, porém antes que ambos começassem uma briga, Caio os separou: 

— Vocês não se aquietam nem na frente do novato? 

— Ai, ai, esses garotos, viu… Enquanto eles discutem, eu irei me apresentar. — Sarah falou enquanto se levantava. — Você já sabe quem eu sou, então, acho que posso pular essa parte, hehe! Eu faço as propagandas das transmissões! Espero que possamos trabalhar bem juntos! 

Após ver Sarah se apresentando, João ficou vermelho novamente, tudo nela o encantava e isso deixava-o intrigado, já que parecia patético sentir algo por alguém que havia acabado de conhecer. 

A jovem notou a mudança de expressão dele e ficou envergonhada, se sentando logo depois. Aproveitando isso, Ana se levantou e falou em alto e bom tom: 

— Sou Ana Nívia, a diretora de produção da emissora! Espero que você faça o seu trabalho muito bem, João, senão vou te levar para os confins do inferno! Hahahaha! — esbravejou enquanto gargalhava ferozmente chamando a atenção de todo mundo, enquanto João a encarava paralisado de medo. Ela notou sua situação logo depois e falou num tom leve: 

— Me desculpe, João, acho que te assustei, haha! 

— Posso confirmar que sim… 

— A Ana finge que é malvada, mas ela é uma doçura, então não se preocupe, jovem. — Caio falou enquanto se virava para a loira. — E se acontecer alguma coisa, pode deixar que dou um “trato” nela. 

Todos olharam para o moreno com cara de nojo, enquanto Ana mostrava uma feição de raiva. Percebendo isso, Caio rapidamente tentou desviar de volta ao assunto principal: 

— Ok, vamos continuar… Eu já me apresentei um pouco lá em cima, então serei breve. Sou Caio, o gerente da rádio, e meu trabalho é administrá-la com todo amor e carinho que um gerente deve ter. 

Após falar isso, viu João estender a mão para cumprimentá-lo e instintivamente recuou. 

— Me desculpe, mas eu não gosto de contato físico. 

— Ah, tudo bem… 

— Ok, então. João, você será o nosso editor de som, você disse na ligação que sabia de tudo um pouco, então espero que você saiba mexer com isso. 

— Pode deixar, eu me viro! 

— Beleza. Pessoal, que tal apresentarmos o resto da emissora para o nosso querido Joãozão? 

— Joãozão? Que apelido é es… — João foi interrompido pelos outros. 

— Vamos! 

Todos se levantaram e caminharam em direção ao segundo andar. O jovem vendo tudo isso apenas suspirou e decidiu segui-los. 

Os novos colegas do rapaz de sobretudo mostraram todos os cômodos do local para ele, como a adega, o segundo andar com a sala de descanso, a área de gravação e outras coisas, retornando ao primeiro andar logo após. 

— Então é isso, espero que você possa se divertir muito conosco! 

— Obrigado, pessoal! — João exclamou alegremente, porém logo percebeu que o clima do local estava completamente diferente. Todos ficaram calados do nada, e ele não sabia o que fazer a partir daquele momento, seus colegas pareciam o encarar sombriamente e ninguém quebrava o silêncio. João lembrou que isso acontecia constantemente naquele lugar, a ponto de o deixar bem incomodado. 

— Então, pessoal… o que faço agora? 

— Ah, é mesmo, haha! — Caio começou a rir. — Nós não podemos ficar plantados aqui até o final do dia, não é mesmo? O que vocês sugerem? 

— Bem, eu não sei o que podemos fazer, nós já mostramos tudo para ele. — Willian respondeu enquanto lia o seu livro. 

— Por que não bebemos? — Ana perguntou empolgada. 

— São nove horas da manhã, Ana. Quem bebe à essas horas?! — Gabriel exclamou irritado. 

— Nossa, Gabriel, não precisa ficar tão irritado! Aliás, não tem horário para beber uma boa dose de whisky. 

— Você só pensa nisso, meu deus… 

— Vocês parecem se odiar… — João murmurou um pouco preocupado. 

— Impressão sua, João, pode não parecer, mas gosto muito do Gabriel, eu devo muito a ele! — Ana exclamou enquanto abraçava o loiro pela nuca. 

— Sério? Então no final de tudo ele é uma boa pessoa, haha! 

— Não me trate como um super-herói ou algo do tipo, por mais que eu goste bastante disso. 

— Gabriel sendo o Gabriel. — Caio disse arrumando seus óculos. 

— Ei, pessoal, eu tive uma ideia! — Sarah ficou de pé e gritou animada. — Que tal mostrarmos algumas coisas que gostamos para o João? Assim ele poderá nos conhecer melhor! 

— Acho uma ótima ideia! — Ana respondeu alegre. — E eu já sei o que vou mostrar para ele, hihi! 

— Ana, não o force a beber com você! 

— Ninguém irá me impedir, muito menos você, Sarah! 

— Ana, não… 

Enquanto Sarah tentava acalmar os ânimos da loira, momentaneamente enlouquecida, Willian tocou no ombro de João e falou: 

— Também gostei da ideia. Venha comigo, João… 

— Ok… 

Eles subiram para o segundo andar. Lá em cima, os dois estavam próximos de um armário fechado, porém que se abriu após o homem de paletó usar uma pequena chave. Ao ser aberto, o armário cuspiu diversos livros nos dois homens. 

— Bom, deve ser meio óbvio, mas gosto de livros. 

— Uau, eu percebi. 

— Tenho livros de diversos gêneros, mas os meus favoritos são de mistério. 

— Caramba! Eu infelizmente não sou muito chegado a livros narrativos, mas o meu avô sempre lia para mim quando eu era pequeno. 

Quando Willian ouviu isso, se virou curioso para João. 

— O seu avô lia para você?

— Sim, o meu avô era um homem especial. 

— Hum, me conte mais sobre ele… 

Ao observar a curiosidade dele sobre seu avô, João abriu um pequeno sorriso em seu rosto. 

— Meu avô era um cara sensacional! Tudo que sei aprendi com ele, até trabalhar em uma rádio. Acho que devo minha vida a ele, ou deveria… 

— Então o seu avô não está mais entre nós, não é? 

— Infelizmente não… Ele se foi quando eu ainda era jovem… 

— Bem, você ainda é jovem, né? Você ainda aproveitou a maior parte do seu tempo com ele. 

— Sim… 

— E os seus pais? 

— Morreram num acidente logo após eu nascer, não sei muita coisa sobre eles. 

— Ah, meus pêsames… 

— Tudo bem, isso aconteceu há muitos anos, o que importa é que ainda estou aqui. 

— Se está bem com isso, ótimo. 

João e Willian riram e logo depois se abaixaram para pegar os livros do chão. Enquanto recolhiam, o jovem acabou se deparando com um livro de romance. 

— Você também gosta de romance? 

— Me dê esse livro agora! — Willian falou firmemente puxando o livro a força da mão do de sobretudo, deixando-o assustado. 

— M-me desculpe… 

Willian notou o que aconteceu e tentou corrigir toda a situação: 

— Ah, não, me perdoe… É só que esse livro é bem importante para mim. 

— Entendi… 

Eles ficaram em silêncio por um tempo, até que Willian completasse: 

— Sim, eu gosto de alguns romances. 

— Ah, legal! 

Dado algum tempo, João estava com Gabriel e Caio, os três estavam perto da mesa de pebolim do segundo andar. 

— Não diria que tenho coisas que eu goste, mas, o meu passatempo favorito é esse, espancar o Caio no pebolim! — Gabriel falou enquanto colocava a bola no brinquedo. — Digamos que uso isso daqui para me vingar dele. 

— Não se deixe ser enganado por esse bastardo João, ele fala isso, porém, depois das partidas, chora igual um bebê — o moreno exclamou enquanto segurava fortemente a barra. — Vou te mostrar como um funcionário deve tratar o seu patrão! 

Passaram algum tempo jogando e João apenas os assistia. No final, Caio havia ganhado de 5 a 4 de Gabriel, que estava de bruços no chão cochichando algo, como se estivesse enlouquecendo. 

— Eu falei, haha. — Caio estalou seus dedos. — Então, João, quer tentar? 

— Ok, mas faz algum tempo que eu não jogo… 

— Você? Jogar pebolim? Não brinca comigo. 

— Ei, eu jogava neles há uns anos com o meu avô! 

— Tá bom, tá bom, ninguém quer saber do seu avô, vamos começar a jogar! 

João se posicionou do lado oposto de Caio e eles começaram a jogar. Em poucos segundos, o chefe rapidamente fez um ponto e exclamou arrogantemente: 

— Ai, ai, pelo visto tenho mais um freguês na emissora. 

— … 

— Por que está tão quieto, novato? Saiba que não é porque você é novo que eu vou pegar leve, hein? 

Passaram-se poucos minutos até que Caio começou a gritar pela emissora após perder de 5 a 1 para João. Gabriel viu essa cena e rachou de rir e, logo depois, decidiu tentar enfrentar o rapaz. 

Após algumas horas jogando, João — que havia mais humilhado os outros dois do que apenas ganhado —, desceu para o primeiro andar onde Sarah, Ana e Willian estavam. 

— Cara, dá para ouvir o choro deles daqui. — Willian disse impressionado. 

— Obrigada, João… Obrigada… — Ana completou enquanto limpava uma lágrima de emoção. João ficou sem entender nada, e olhou para a Sarah que logo falou: 

— Opa, é a minha vez, hehe! 

Ao meio-dia, Sarah e João saíram da emissora. era um dia frio de inverno, e João não sabia para onde Sarah estava levando-o, e isso o deixou bem ansioso e um pouco nervoso. 

Passou-se um tempo até que eles chegaram ao destino: uma simples e bela cafeteria. Ambos entraram até que Sarah disse: 

— Pode se sentar em algum lugar, eu irei te levar uma surpresinha! 

— O-ok. 

Após alguns minutos, Sarah se sentou na mesa com João, ela havia pedido algo para o jovem que estava bastante curioso para saber o que era. De repente, um garçom chegou na mesa dos dois com dois milk-shakes de morango e dois sanduíches simples, porém aparentemente apetitosos. 

— Então, o seu hobby é comer? 

— Não seja tão grosso! — Sarah exclamou irritada. — É que eu não tenho muito o que te mostrar agora, então te trouxe à essa cafeteria. 

— Me desculpe, me desculpe… Quer dizer que você gosta da cafeteria em si, não é? 

— Sim, ela não é relaxante? Ainda mais num dia como esse, com essa brisa batendo em todo o seu corpo, é tão aconchegante… 

— Bem, eu não sinto nada, haha! 

Sarah virou para João com uma expressão assustadora. 

— Você tem resposta para tudo, né? 

— Ops, me desculpe… 

Após essa cena, Sarah acabou perdendo a sua postura “maléfica” e soltou uma leve gargalhada. 

— Ai, ai, esse seu jeito é tão fofo. 

— O quê? 

— Q-q-quer dizer… — a jovem gaguejou olhando para o lado com o rosto todo vermelho enquanto jogava seu cabelo para trás. — Fico feliz que tenha uma pessoa gentil trabalhando com a gente. 

— Ah, sim, obrigado… — João respondeu um pouco envergonhado por ouvir a frase anterior. — Por que estamos tomando milk-shake no frio? 

— O que importa é que está gostoso, né? 

— Sim… 

— Ótimo, haha! — Sarah deu um grande sorriso. 

Se passaram algumas horas até que os jovens tivessem voltado para a emissora, e quando voltaram, se surpreenderam com o que viram: no balcão, diversas garrafas de bebidas alcoólicas e copos de chopp. Nas mesas, havia Caio, Gabriel e Willian deitados um em cima do outro completamente desmaiados. Aquele cenário parecia uma cena de terror. 

Tanto Sarah quanto João correram assustados para dentro, mas antes que dessem um pio, ouviram: 

— Olá, meus jovenzinhos! – Eles se viraram para a porta do banheiro que ficava ao lado da adega e observaram Ana completamente bêbada. — Agora é a vez de vocês! 

— Ai, meu deus… — Sarah disse recuando. 

— O-o que aconteceu aqui?! — João perguntou assustado. 

— Acho que estamos numa enrascada… 

— C-Como assim?! 

— A Ana é uma bebum profissional, o que significa que o seu hobby favorito é… beber. 

— É isso mesmo! Venham beber comigo! Quem ficar vivo por último vence! 

— Parece que não tem outra opção… 

Os três se sentaram próximo ao balcão e começaram o jogo, não deu muito tempo até que Sarah desmaiasse de “tanto beber”, na verdade ela havia tomado só dois copos e acabou dormindo de cansaço. 

Após mais um tempo, João também cedeu, já que não era forte para bebidas. No fim, sobrou só a Ana que despencou do balcão pouco tempo depois. 

Eram 20h quando João acordou sozinho na emissora, ele se levantou assustado e saiu rapidamente de lá com medo de que fosse pego por alguém, ainda mais se fosse um policial. 

Sua dor de cabeça era notória e sua vontade de vomitar também, mas era possível segurar. 

No meio do caminho, se deparou com o banco ainda em funcionamento, e lembrou da jovenzinha de mais cedo. 

João entrou e, um tempo depois, saiu do banco. Havia sacado o dinheiro para comprar as caixas de biscoitos e alguns trocados para a passagem de ônibus dos próximos dias. Ao chegar no edifício onde morava, entrou com passos finos, tentando não acordar ninguém, mas, logo viu Dona Maria na recepção que o encarou com raiva. 

— Demorou, jovem! 

— Me desculpe, Dona Maria, é que hoje foi puxado e… 

— Não preciso de explicações, você está fedendo a álcool, não sabia que isso era do seu feitio! 

— Mil desculpas, Dona Maria! 

— Trate de tomar um banho quando entrar, hein! 

João subiu as escadas para o quinto andar onde ficava seu apartamento, e chegando lá se deparou com uma situação horrível. Ele estava sem as suas chaves. 

O jovem desceu as escadas tão rápido quanto um raio e saiu do prédio, chegando ao ponto de assustar até Dona Maria que estava meio sonolenta. 

João correu longos e tortuosos quinze minutos até chegar na emissora novamente. Ele parou na entrada para recuperar o seu fôlego e entrou logo depois. 

De cara avistou suas chaves no balcão e caminhou até lá para pegá-la, mas num ato desastrado, acabou deixando-a cair do outro lado. João suspirou de nervosismo e raiva e foi para o outro lado do balcão, vendo as chaves no chão. Ao se abaixar para pegar o molho, percebeu algo estranho. Havia algo diferente na emissora, na verdade, no primeiro andar, bem onde João estava. 

— O que é esse alçapão?

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