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João se deparou com o alçapão que estava abaixo de seus pés e chaves e sentiu uma certa estranheza, já que não tinha qualquer noção de que aquilo estava lá. 

O pensamento mais sensato era o de esquecer que aquilo nunca existiu e só seguir o seu caminho para casa, porém, sua curiosidade era grande. 

Ele se perguntava do porquê aquele alçapão não lhe foi mostrado pelos outros membros e se aquilo não deveria ser descoberto. Mas independente do que seria certo ou não, decidiu investigar. Após abrir o alçapão vagarosamente, João atravessou para o outro lado. 

Agora, no porão, olhava ao redor e não se deparava com muitas coisas: apenas algumas ferramentas, caixas e muita, muita poeira. Outra coisa a se notar era que esse porão estava mais para um corredor do que para um cômodo. 

Mesmo que toda essa sujeira atacasse a rinite do rapaz, sua maior reclamação era de um cheiro forte vindo de um lugar em frente. Curioso, o jovem decidiu seguir. 

João se armou com uma vassoura que havia ao lado da porta e avançou pelo corredor lentamente. O que estranhava o membro novato era uma pequena iluminação vindo de uma porta à sua frente, e era de lá que vinha esse cheiro atordoante. 

Caminhando em passos leves, finalmente chegou na porta, que coincidentemente estava entreaberta, mas não a abriu. Algo atrás dessa porta o chamava a atenção, cinco vozes já conhecidas conversando entre elas. 

“Pelo jeito é apenas o pessoal, ainda bem!” 

O jovem se sentiu aliviado pela emissora não ter sido invadida e decidiu ir embora, mas antes que se virasse, ouviu uma frase curiosa: 

— Como está indo o plano? 

Após isso, voltou para a porta, dessa vez dando uma pequena olhada por dentro do cômodo no qual os seus colegas estavam, e acabou se deparando com a pior cena de sua vida. 

No local, havia seus cinco colegas de trabalho sentados envolto de um pentagrama feito com sangue seco. Nos cantos, diversos cadáveres em decomposição cobertos por moscas e baratas, além de várias ferramentas de tortura e armas brancas. 

Toda essa cena havia traumatizado João que queria fugir naquele exato momento, mas dada as circunstâncias, o jeito era esperar. 

— O plano está indo muito bem, Asmodeus. João já está começando a se apaixonar por mim. — Sarah afirmou enquanto se balançava para os lados de felicidade. 

— Essa é a minha garota! — Ana abraçou fortemente a jovem. 

— É o mínimo que ela tem que fazer, né? Já basta ser desastrada, se fosse inútil, nem teria o porquê de estar aqui. — Gabriel murmurou enquanto cruzava os braços. Após ouvir isso, Sarah ficou cabisbaixa. 

— Por que você sempre tem que fazer comentários infelizes, Andras?! Não sabe dizer nada de útil não?! — a loira se levantou com raiva. 

— T-Tá tudo bem, Lilith, eu não estou chateada! — Sarah também se levantou para segurar Ana que estava avançando ferozmente em Gabriel. 

— Não importa onde, vocês sempre discutem. — Willian exclamou enquanto lia seu livro. 

— Cala a boca, Vapula, senão vai acabar sobrando para você! — Gabriel respondeu encarando Ana com um sorriso no rosto. 

— Lillith, Naamah e Andras, sentem-se AGORA! — Caio gritou firmemente, fazendo todos obedecerem. — Basta convivermos um tempo com os humanos que vocês já começam a agir como animais?! 

Ambos se sentaram silenciosamente e Caio, ou Asmodeus como fora chamado, continuou sua reunião: 

— Bem, Naamah já está seduzindo o verme novato, todos vocês estão fazendo a sua parte, né? 

— Eu já consegui algumas informações. Aparentemente, ele tinha um grande vínculo com seu avô que acabou falecendo a algum tempo. — Willian falou. 

— Ótimo, já temos algo para persuadi-lo a fazer o ritual. E você, Andras? 

— Sinceramente? Não tenho vontade nenhuma de ser amigo desse cara, ele é tão sem graça e caipira… 

— Já sabemos quem é o inútil do grupo então, haha! — Ana exclamou debochadamente, deixando o loiro irritado. 

— E você, Lilith? O que você está fazendo em prol do plano? 

— Eu não vejo nenhum motivo para você se importar com outro trabalho além do seu, Andras. — Caio respondeu enquanto caminhava para o lado de Ana, até que de repente, começou a segurá-la fortemente pelo ombro. — E eu já estou procurando o trabalho perfeito para você, querida. 

A loira sentiu um arrepio em seu corpo, pois mesmo tentando se soltar de seu chefe, não conseguia. Após ver isso, Willian fechou seu livro grosseiramente. 

— Asmodeus, não seria melhor você repassar o plano para nós? 

— Hahahaha! É mesmo, é melhor eu fazer isso para que a reunião não tenha sido em vão! — Caio caminhou para o centro do pentagrama. — Então pessoal, como devem saber, Satanás tem dois objetivos principais: encontrar um hospedeiro e dominar esse mundo. Para conseguir completar um objetivo, ele precisa do outro, que é o que estamos fazendo agora. Usaremos João como hospedeiro do nosso Rei, então temos que conseguir sua confiança para logo depois obrigarmos ele a fazer o ritual de transformação. Alguma pergunta? 

— Queria saber o porquê de Satanás querer tanto um hospedeiro. Ele não vai viver por tipo, 200 anos ou mais? — Sarah perguntou. 

— Como você é nova, não deve saber da diferença de tempo entre esse mundo e o inferno. Pense que 200 anos lá são 20 anos aqui. 

— Tá bom, tá bom, nós iremos repassar essa baboseira toda vez que formos fazer uma reunião? Eu perdi as contas de quantas vezes já ouvi isso! 

— A gente não estaria ouvindo isso pela trigésima vez se você de fato contribuísse para o plano, Andras. 

— Fica quieto! Eu sou mais veterano que você aqui, Vapula! 

— Pela sua idade mental, não parece. 

Gabriel e Willian se levantaram enquanto se armavam para lutar, mas Ana ficou entre eles e disse: 

— Acho melhor nós voltarmos para o inferno logo, assim, esfriaremos a cabeça lá. 

— Concordo! — Caio exclamou. — Vamos logo, eu tenho algumas coisas para resolver com a Maria Sangrenta. Entrem no pentagrama, pessoal! 

Todos entraram no círculo, e logo após Caio citar algumas frases desconhecidas, os membros desapareceram em segundos. 

João havia presenciado tudo isso, e após a reunião ter acabado, correu como nunca de lá. 

No meio do caminho, o jovem parou num beco e vomitou por bastante tempo, e logo em seguida voltou a correr. 

Chegando no edifício, entrou lá rapidamente, dessa vez sem Dona Maria o esperando. João trancou o portão do prédio e foi para o seu apartamento. Após entrar, fechou a porta com tudo e caiu no chão de joelhos. 

“Não é possível… Aqueles cadáveres… os meus colegas… o que foi aquilo?! Foram eles que mataram aquelas pessoas?! Que ritual eles estavam falando?! O que eles vão fazer comigo?!” 

Devido ao seu medo e desespero, João acabou dormindo lá mesmo no chão. 

Quinta-feira 14 de fevereiro de 1957 

Haviam se passado três dias após a descoberta sobre seus colegas. Nos dias anteriores, João decidiu ficar em casa e não foi para a emissora. 

Na manhã seguinte, ele acordou devido a uma ligação vinda do seu novo trabalho, era Sarah: 

— João, você está bem? Por que faltou ontem? 

— … 

— Aconteceu alguma coisa com você?! 

— Nada, eu estou bem… 

— Você jura? Por que sua voz está assim? Quer que eu te leve algo? É só você dar o seu endereço e… 

João desligou rapidamente o telefone e voltou para cama. Alguns segundos se passaram até outra ligação acabar o despertando, era Sarah novamente: 

— João, você virá ao trabalho hoje? 

— Eu… eu não sei… 

— Mas o Caio vai ficar uma fera! Você foi contratado a pouco tempo e já está faltando. Se eu fosse você, viria para cá mesmo que fosse para avisar que está mal. 

—… 

— Por favor, João, eu estou te implorando… Se aconteceu algo contigo, eu posso te aju… — Sarah foi interrompida. 

— Eu estou bem! — João gritou com raiva, assustando a jovem. — Só me deixa em paz… 

Ambos ficaram em silêncio na ligação, até que Sarah respondeu: 

— Ok, então…

João desligou e foi para sua cama novamente. 

Se passaram algumas horas até que o jovem se levantou e vestiu seu sobretudo, saindo de seu apartamento e caminhando até a saída do edifício.

Nesse meio tempo, ignorou o cumprimento de Dona Maria que havia estranhado o comportamento atual do rapaz. 

Caminhando pelas ruas, João chegou na praça onde havia conhecido Rosa. O homem se sentou num banco e ficou olhando para o nada, às vezes encarava os pombos, outrora olhava as árvores se mexendo com os fortes ventos do inverno. 

O rapaz ficou lá até que ouviu um grito de longe e, ao olhar, se deparou com Rosa vindo correndo em sua direção. 

— João! — Rosa exclamou após chegar perto do banco. Ela recuperou seu fôlego e segundos após, deu um soco no braço dele que acabou o despertando. 

— Ah? Rosa? 

— SEU MENTIROSO!!! VOCÊ MENTIU PARA MIM!!! 

— O-o que? 

— Você não veio como prometeu! Eu fiquei te esperando nos últimos três dias! 

— Como assim? 

— Ainda não se lembra?! Você prometeu que iria comprar os meus biscoitos! E DE DEDINHO!! 

— Eu… me desculpe, Rosa…. 

— O que? 

— Sinto muito, aconteceram algumas coisas comigo esses dias e eu acabei esquecendo completamente… 

— Ah… 

— Se você estiver com as caixas de biscoitos aí, eu irei comprá-las. — João disse tirando alguns cruzeiros do bolso e entregando para a garota. 

— T-tudo bem… 

Rosa entregou duas caixas para João que logo depois se levantou e decidiu seguir seu caminho. A criança estava sentindo algo estranho em relação ao homem, já que o estado dele não era dos melhores. 

Antes que João saísse da praça, foi novamente puxado pelo seu sobretudo. Ao se virar, viu a garotinha com algumas caixas de biscoitos nos braços. 

— O que você quer, Rosa? 

— Eu percebi que você está bem mal… Não sei o porquê, mas acho que isso vai te ajudar! — Rosa exclamou entregando três caixas de biscoitos para o jovem. 

— O que é isso? 

— É a minha mais nova promoção! Compre duas caixas e leve cinco! Genial né? Criei para você! 

— É… sério? 

— Sim, é uma oferta imperdível! Se eu fosse você, aceitaria na hora, hein? 

Rosa deu um grande sorriso que acabou afetando João, fazendo com que o rapaz deixasse escapar um sorriso também. 

— Obrigado, Rosa… 

— João, eu acredito que você vai superar o que está passando, então não fique com essa cara triste, ok? 

— Ok! 

Rosa se aproximou do jovem e deu mais um soco em seu braço. 

— E sempre cumpra suas promessas, ainda mais para uma mulher! 

— Entendido, senhorita. 

João se abaixou e alisou o cabelo de Rosa que acabou se impressionando. 

— Você melhorou o meu dia, Rosa, obrigado mesmo! 

— D-d-de nada! É o mínimo que eu deveria fazer para os meus clientes, hehe! 

— Bem, eu vou indo, espero te encontrar novamente aqui! 

— Eu prometo que estarei aqui! E você terá que prometer que vai vir me ver! 

João mostrou sua mão com o mindinho levantado novamente. 

— Nem que eu perca o meu dedo. 

Rosa se encheu de felicidade e entrelaçou seu mindinho no do jovem como forma de contrato. 

— Tchau, João! Até amanhã! 

O jovem saiu da praça e seguiu seu caminho. Agora, se encontrava confiante, a garota ruiva conseguiu elevar sua energia e ele não parecia tão assustado com os acontecimentos de antes, o seu medo e desespero se tornaram força e determinação. 

Naquele momento, João tinha um objetivo: acabar com os membros da rádio para proteger Rosa e a cidade. 

Ao chegar na emissora, o rapaz entrou, encontrando Willian e Ana no primeiro andar tomando café. 

— Bom dia, pessoal!

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Olá, eu sou PRBYawn!

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