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Chegando à emissora, João abriu a porta e se deparou com todos os seus colegas reunidos no primeiro andar sentados em volta da mesa. Essa era uma visão comum no cotidiano do jovem, já que ambos constantemente conversavam lá enquanto bebiam, porém, a expressão de todos estava mais séria que o normal. 

— Bom dia, pessoal. 

Todos se mantiveram em silêncio enquanto encaravam o rapaz de sobretudo. 

— O que aconteceu? 

— João… você… — murmurou Caio se levantando. 

— Q-que clima é esse?! — O jovem se sentiu desesperado, e ver Caio caminhando até ele o fez começar a recuar. Sem perceber, já estava incapacitado de se afastar pelo balcão que bateu em suas costas. 

“O que aconteceu?! Por que eles estão assim?! Eles descobriram…” 

João se perguntava enquanto via seu chefe com uma expressão fria e vazia se aproximando mais e mais, deixando-o ansioso. Sem ter o que fazer, apenas fechou os seus olhos enquanto esperava o pior. 

— João… você…. 

— … 

— Saiu com a Sarah?! Esse é o meu garoto! — Caio exclamou para o novato que estava em estado de choque. Após ouvir isso, João abriu seus olhos lentamente e viu os outros membros com uma feição de alegria, enquanto Sarah desviava seu rosto com tamanha vergonha. 

— O-o quê? 

— Quem poderia imaginar que o João já chegaria chutando o balde na emissora, hein? — Gabriel afirmou batendo palmas lentas. 

— Sinceramente, não imaginava que ele sairia com alguém na sua vida. — Willian continuou enquanto tomava um gole de café. 

— Você PRECISA me contar tudo, João! Perguntei para Sarah, mas ela não fez nada além de gaguejar! — gritou Ana com um grande sorriso no rosto. 

— Ah… então foi isso… 

Ele se sentia aliviado e assustado simultaneamente, e por um momento havia desistido de sua vida ao ver Caio caminhando até si, o que deixou um sentimento de angústia martelar em sua cabeça. 

— Venha, garoto, vamos nos sentar. Precisamos falar de algo importante e estávamos lhe esperando. 

Os dois se sentaram ao redor da mesa, João ao lado de Sarah, que continuava desviando o olhar do jovem, e Caio ao lado de Gabriel. 

— Ok, antes de começarmos nossa reunião, preciso dar-lhes um reca… — O dono foi imediatamente cortado. 

— O que vocês fizeram no encontro?! — perguntou Ana animadamente. — Foram para um restaurante?! 

— Restaurante? — João perguntou ainda assustado com toda a situação. 

— Claro! É o lugar perfeito para um encontro! 

— Ana, tudo que você fala é relacionado a comer. O primeiro encontro não precisa ser em um lugar formal, e sim em um lugar onde os dois possam se divertir — afirmou Willian abrindo o seu livro. 

— Em primeiro lugar, comer é uma das bases da vida! Em segundo, o que você acha que seria um encontro informal? — Ana o encarou com raiva. 

— Eles poderiam ter ido para uma biblioteca ou um sebo conhecer livros novos e… — Willian foi interrompido pelo jovem loiro. 

— O homem fissurado em livros falando da mulher fissurada em comida, é o sujo falando do mal lavado! 

— E você é fissurado em falar coisas idiotas! — respondeu Ana ao Gabriel que devolveu mostrando seu dedo do meio. 

— P-pessoal, parem de brigar! — Sarah disse enquanto via toda a confusão. 

— Verdade, não podemos brigar agora! — A loira olhou para João com uma expressão pretensiosa. — Você não respondeu sobre o que fizeram no encontro. Seguraram a mão um do outro? 

— Se beijaram? — perguntou o afro também encarando o jovem. 

— E-ei! — Sarah ficou completamente vermelha de vergonha. 

— Ah, então vocês fizeram se… — Gabriel foi cortado por Willian e Ana. 

— Cala a boca, Gabriel! 

Ao ouvir isso, Sarah caiu no colo de João de tanta vergonha, deixando o jovem mais nervoso ainda. 

— S-Sarah?! 

— O que aconteceu?! — Ana se levantou preocupada. 

— Tinha que ser o Gabriel. — Willian bateu a mão em seu rosto decepcionado. 

— A culpa é minha?! 

— Claro que é! Olha a pergunta que você fez para um casal! — Ana o confrontou enquanto avançava até a jovem “desmaiada”. 

— N-nós não somos um casal! — João respondeu a afirmação da loira. 

— Está tudo bem, João, tudo requer tempo e… — Willian dizia até ser interrompido. 

— No caso deles, pode demorar muito tempo, hahaha! — exclamou Gabriel com gargalhadas até receber uma “livrada” de Willian em sua cabeça. — Ai! 

— Cala essa maldita boca, Gabriel! 

— Ela desmaiou mesmo! O-o que eu faço, Willian?! — Ana perguntou desesperada. 

— Relaxa, Ana! Sarah só ficou ansiosa com tudo isso! 

— E se eu matei ela?! Meu deus, o que eu fa… — Ana foi interrompida por um grito vindo de Caio. 

— CALEM A BOCA!!! — Todos voltaram sua atenção para o de suspensório. — Esse assunto pode ficar para depois, temos outro muito mais sério para tratar! 

Ana se sentou de volta em seu lugar e todos ficaram calados esperando o que Caio tinha a dizer. 

— Graças a vocês, teremos que esperar Sarah acordar para começarmos a reunião. Seus idiotas! 

— Relaxa, Caio, temos o dia todo e… — Gabriel se calou ao ver a expressão de ódio do chefe voltada para ele. 

— O-o que está acontecendo? — João perguntou impressionado com toda essa cena que aconteceu em alguns minutos. 

— O chefe ama reuniões. — Willian respondeu enquanto abria o seu livro para ler. 

— Sério? 

— Reunião é um ótimo meio de manter todos os funcionários em seus devidos lugares e fazendo os seus trabalhos do jeito correto. Gostaria de fazer uma vez por semana, mas vocês me achariam chato. 

— Na verdade, nós já… — Ana foi interrompida por Willian que tocou em seu braço e fez um gesto de negação com a cabeça. 

— Enfim, agora teremos que esperar a baixinha acordar para explicar a nossa situação, que droga! 

— É só jogar um copo de água nela! — Gabriel afirmou com um sorriso. 

— Suas ideias não prestam, Gabriel… 

— Deixa de ser babaca, Ana. 

Repentinamente, Sarah se levantou como um raio, assustando todos ao redor. Virou para João e, em alguns milissegundos, desviou o olhar timidamente. 

— Ótimo, agora podemos começar. 

Passou-se um tempo após a reunião com os membros. Caio havia contado que a emissora poderia iniciar os seus trabalhos em duas semanas e que, dias antes, viria um fiscalizador analisar o local. 

Devido a essa situação, alguns membros saíram para pegar papéis e documentos, enquanto outros ficaram na própria emissora arrumando-a. João estava junto com Willian no segundo andar organizando o estúdio de gravação. 

O jovem lembrou do que havia acontecido após ter chegado e ficou chateado, pois sentia que não havia mudado mesmo depois de tudo que passou. Willian notou essa tristeza e o confrontou: 

— Está tudo bem, João? 

— Sim, não precisa se preocupar… 

— Caso o Gabriel tenha lhe dito algo, pode me contar que eu dou uma dura nele. 

— Não é nada, está tudo bem. 

— Se você diz… Algo com certeza está te incomodando, então sinta-se livre para desabafar. 

— Obrigado, Willian. 

— Ei, não fique assim, seu avô não gostaria de te ver triste sem motivo. 

— Meu avô? 

João encarou Willian. 

— Bem, se te serve de conselho, seu avô ficaria feliz de te ver feliz, eu acho. 

— Ah, sim… 

— Aliás, eu me interessei pelo seu avô, ele parecia alguém inteligente já que lia e ensinou sobre rádio para você. Tem mais alguma coisa que ele tenha dito ou ensinado para você antigamente? 

— É… 

“É verdade, eles só querem me manipular… Eu não posso deixar isso acontecer, eu não vou deixar isso acontecer!” 

— Na verdade, eu não me lembro muito dos ensinamentos dele, só sei que era legal comigo. 

— Entendi. 

Os dois continuaram arrumando as coisas em silêncio. Mesmo que o clima tenha ficado estranho, João achou certo em não dar essas informações para Willian, por mais que se sentisse um pouco culpado. 

— Willian… 

— Sim? 

— Posso estar sendo um pouco intrusivo, mas tenho uma dúvida sobre ontem… 

— Dependendo do que for, não tem problema. 

— A piada que Caio fez ontem sobre uma pretendente, do que ele estava falando? 

Willian se manteve calado por um tempo, João se virou para o rapaz de óculos e o notou completamente estático, como se estivesse perdido em seus pensamentos. 

— Realmente, você foi bastante intrusivo agora, João. 

— Me desculpe. 

— Tudo bem, não é todo mundo que vai ouvir algo do tipo e deixar passar. Só saiba que não são lembranças muito boas da minha vida. 

— Certo… 

— João, acredito que Ana pode precisar de sua ajuda lá embaixo. Pode me deixar aqui que eu termino o resto dos preparativos. 

— Está tudo be… — João foi interrompido por Willian grosseiramente. 

— Eu preciso pensar, pode sair? 

Ao ouvir isso, o novato se virou e saiu do estúdio de gravação sem dizer nada. Enquanto caminhava até o primeiro andar, pensava: 

“Acho que Willian percebeu o meu avanço… Bem, eles estão fazendo o mesmo comigo, então, vou retrucar!” 

João desceu para o primeiro andar e se deparou com Ana sentada perto do balcão enquanto bebia uma garrafa de cerveja. 

— Ana?! 

— Ah, droga! — Ana se levantou escondendo a garrafa. — João, tudo bem contigo? 

— Eu já vi você bebendo… 

— Puxa, que droga. — Ana se sentou novamente voltando a beber, e o jovem se sentou na banqueta ao lado. 

— Não está assustada ou preocupada? Você devia estar arrumando aqui embaixo. 

— Se fosse o Willian, eu estaria sim, mas está tudo bem se for você. — Ana virou-se para o rapaz com um sorriso malicioso. 

— Não tenho credibilidade nenhuma, hein… 

— Brincadeirinha, haha! — Ana terminou a garrafa e se levantou para jogar no lixo. — Você não estava arrumando as coisas com o Willian? O que te trouxe até aqui? 

— Digamos que o clima não ficou muito agradável… 

— Então, disse algo ingênuo, né? 

— Acho que sim… Espera, como sabe? 

— O Willian parece emburrado, mas sabe se adaptar à situação em que se enquadra. A não ser que você tenha falado alguma besteira, nem estaria aqui agora. 

— Falando assim, me faz parecer um cara horrível… E se fosse ele que tivesse falado besteira? 

— Willian é inteligente demais para fazer algo assim… — disse a loira olhando para o nada. Após compreender a própria frase, ficou desesperada e envergonhada. — Q-quer dizer, ele é muito burro e só fala besteiras, haha! 

— Ana, você gosta dele? 

— G-gostar? É-é uma palavra muito forte, sabe? Diria que somos apenas colegas de trabalho…

— Você não sabe mentir, haha! 

— Droga… Eu o acho um bom homem, pelo menos o melhor que tem aqui. Não que você seja ruim. 

— Entendi o que quis dizer. Não sei se ajuda, mas vocês dariam um ótimo casal. 

— S-sério?! — Ana desvia o olhar envergonhada. — S-se ele soubesse… QUER DIZER!!! 

— Hahahaha! Tudo bem, não precisa se explicar. — João se levanta. — Vou deixar você “arrumando” as coisas e ir lá para cima, até! 

— O-ok, e trate de não contar para o Willian sobre isso, hein?! 

— Minha boca é um túmulo! 

João se encaminhou para a escada, mas antes que subisse, se virou para Ana que estava pegando outra garrafa de cerveja. 

— Ficaria feliz caso vocês dessem certo… Boa sorte, Ana… 

— Também gostaria que você desse certo com a Sarah, ela precisa da sua ajuda, haha! 

— … 

Estava de noite quando todos os membros haviam se reunidos no primeiro andar como de costume. A emissora estava arrumada e a maioria dos documentos já estavam prontos, então, todos podiam descansar pelo resto do dia. 

Eles aproveitaram esse tempo para perguntarem sobre o encontro de João e Sarah, que ainda não conseguiram falar um “a” em relação a isso. 

O rapaz de sobretudo aproveitava esse momento para analisar os membros um por um, quais ele poderia minimamente confiar e quais deveria ficar com um pé atrás. 

“As garotas são as mais confiáveis… Caio definitivamente não é uma boa pessoa… O Willian me deixa dúvidas, mas acho que dá para confiar nele… E o Gabriel? Honestamente, eu o acho um babaca, porém, pode ter um motivo para ser assim. Posso confrontá-lo hoje e ver no que dá… É isso, vou ver o tipo de pessoa que ele realmente é!” 

O tempo passou até que a maioria dos membros decidiram sair da emissora, sobrando João e Gabriel sentados em banquetas longes um do outro. 

“Essa é a oportunidade perfeita para estudá-lo.” 

— Então, Gabriel, como foi o seu dia? Quase não nos vimos hoje, haha! 

Gabriel ficou encarando João sem dizer nada, o deixando com uma sensação estranha. 

— Tudo bem, Gabriel? 

— … 

— Aconteceu alguma coisa? Se quiser, pode contar para mim, sou bom em guardar segredos! 

— … — Gabriel não deu nenhuma resposta além de levantar e se encaminhar para o balcão. 

— D-desculpa, eu disse algo ruim? 

Gabriel foi para a pia do balcão e lavou suas mãos, o barulho da água corrente era o único som que podia ser ouvido no local. Tudo aquilo estava sendo uma situação estranha para João, porém, o jovem não cedeu tão fácil. 

“Não posso enfraquecer agora!” 

— Você não costuma ser tão calado assim, Gabriel, e isso está me preocu… — dizia João até ser interrompido pelo jovem loiro. 

— Você é engraçado, João… 

— O quê? 

— Querendo passar esse ar de intimidade… — respondeu Gabriel enquanto secava suas mãos. — Você não está no parque em uma roda de amigos. 

— O que quer dizer? 

Gabriel encarou João com um olhar vazio, fazendo-o recuar inconscientemente. 

— Somos colegas de profissão, João, não somos amigos. Não me trate como se eu fosse igual a Sarah. 

— … 

João sentiu algo totalmente diferente depois dessa interação com Gabriel, era como se o rapaz não desse brechas para ser compreendido ou estudado. Aquela situação ficou presa na cabeça do homem de sobretudo tanto quanto o acontecimento de mais cedo. 

— Vou indo, pode fechar a emissora? 

— O-ok… 

Gabriel saiu da emissora e foi embora. Enquanto isso, João ficou paralisado no mesmo lugar pensando no que aconteceu. 

“O que foi isso?” 

Depois de alguns minutos, se deu conta de que já estava tarde e precisava voltar para casa. Ele saiu da emissora, trancou-a e caminhou até o seu apartamento.

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