O rapaz chegou desesperadamente na emissora, avistando todos os membros reunidos lá, exceto por Sarah.
Passou pela porta gritando euforicamente:
— Onde ela está?!
— Não ouviu o que Ana lhe disse na ligação? Obviamente não está aqui — exclamou Gabriel encostado no balcão, tirando a cera de seu ouvido.
— A última vez que a vi foi ontem, antes de irem para o bloco — afirmou Willian.
— João, você foi o último a vê-la, tem noção de onde ela pode estar?! — a loira indagou. Demonstrava muita preocupação e um rosto vermelho provavelmente devido às lágrimas.
— Não faço ideia! Apenas a deixei aqui na emissora à noite!
Quanto mais João adentrava nesse pequeno caos, mais exaltado ficava. Na sua mente, estava claro como o céu: fizeram algo com ela..
— Ana é quem tem mais contato com Sarah, já ligou para ela? — perguntou o afro.
— Fiz isso, mas… não obtive nenhuma resposta! João, tem certeza de que não fez nada com ela?!
— Óbvio que não! Não vê que estou tão preocupado quanto você?!
— Visto o que aconteceu nos últimos dias, não duvido que tenha feito algo… — exclamou Caio com um tom de deboche.
— O que disse? — O rapaz de sobretudo se virou irritado para o chefe, que mantinha um sorriso no rosto. — Como pode falar uma coisa dessas com essa cara?! Nem parece se importar com o sumiço dela!
— Não, João. Me importo com o desaparecimento de Sarah, mas não acha estranho ela sumir após todos os acontecimentos entre vocês dois?
O homem de sobretudo prontamente avançou no líder, passando a segurá-lo pelo suspensório.
— Caio… seu…
— O clima está ficando meio pesado, hein, pessoal? Acho melhor nos… — dizia Gabriel até ser cortado.
— Desculpe-me, João, mas Caio está certo. — Willian comentou.
— Até você, Willian?
— Sarah tinha uma relação muito forte contigo. É impossível não suspeitarmos de ti, visto que nos últimos dias, machucou-a de diversas formas.
— Ela já falou que todos estavam equivocados!
— Poderia fazer o favor de me soltar? — Caio perguntou.
— …
— Vai me soltar ou… — antes que pudesse completar, se viu jogado no balcão. — Para que essa agressividade toda?
— Equivocados? Não sei… Sarah pode ser facilmente submissa aos outros, ainda mais quando cria uma forte ligação com a pessoa, que é o seu caso.
— O que está querendo dizer com isso, Willian?! — Ana questionou nervosamente.
— Não está óbvio? João fez algo com ela.
— Por que…
— Acha mesmo que ele seria capaz de fazer isso? João é apenas um… deixa, essa piada está batida — disse o loiro dando de ombros.
— Willian, você é inteligente, acha mesmo que essa acusação é correta mesmo após tudo o que aconteceu nos últimos dias? — perguntou o rapaz de sobretudo encarando-o.
— O que aconteceu nos últimos dias? Ambos saíram em vários encontros, até você empurrá-la no chão, machucando-a. Após isso? Ela estava tão mal que vomitou a única coisa que comeu no dia, além de tê-lo ignorado de diversas formas, até que, por algum motivo, decidiu te proteger na reunião.
— Não sabe de tudo, Willian…
— Não? Tudo que falei vi e ouvi de Sarah. Está planejando algo, João?
O rapaz ficou silencioso por alguns segundos, averiguando toda a situação.
“Entendo… Devia ter desconfiado de quando Willian disse que Sarah contou sobre o encontro…Ele provavelmente a manipulou. No final de tudo, sou a pessoa que está em desvantagem aqui. Não posso me descontrolar…”
— Willian… — o rapaz de sobretudo chamou.
— …
— Pode pensar o que quiser de mim, mas sei que não fiz e não faria nada de mal a ela. Aquele maldito empurrão foi o único erro que cometi com Sarah, e me arrependo profundamente… Não sei se posso fazê-lo confiar em mim, mas saiba que nunca teria coragem de machucá-la propositalmente…
João se aproximou do afro estendendo a mão.
— Não podemos criar intrigas agora… Vamos achar um jeito de encontrá-la, não importa como.
— João…
De repente, o homem de óculos deu um tapa na mão do jovem, afastando-a e negando o aperto.
— Acha mesmo que eu apertaria a mão de um possível criminoso?
— O quê?
— Willian, o que está dizendo?! — Ana perguntou firmemente.
— Para mim, está mais do que óbvio. João fez algo com Sarah.
— Willian…
— Diga, rapaz. Você a matou? Ou está mantendo-a em algum lugar escondido?
Gabriel notou que a situação estava prestes a piorar e voou em direção dos dois. Antes que João acertasse um soco na cara de Willian, o loiro segurou-o.
— Seu… desgraçado.
— O gato decidiu mostrar as garras, pelo visto.
— Willian, nunca pensei que eu seria o sensato da discussão, mas está pegando pesado demais, hehe! — afirmou Gabriel.
— Vamos, Gabriel. Não me diga que está do lado dele? É idiota, não burro.
— Não é isso que está em xeque aqui. Nosso objetivo é saber o paradeiro de Sarah, e não quem fez algo com ela.
— Independentemente, você concorda que, de todos nós, João é o mais suspeito de ter feito algo, não?
— …
— Mesmo após dizer tudo isso, o novato não fala nada… Agora sei o motivo do porquê Sarah viu algo em ti, ambos são submissos perante a alguém mais forte — exclamou Willian arrumando seus óculos.
— Maldito…
— Vivendo em seus próprios mundos, presos como pássaros numa gaiola, sem saber do que se trata a realidade… Tenho nojo de pessoas assim.
— Willian, cale a boca — falou Gabriel fazendo força para segurar João. — Se eu acabar soltando-o, as coisas ficarão feias.
— Não sabia que podia ser tão bondoso… Caio deve estar de acordo comigo, não é?
O chefe deu um sorriso de canto, se mantendo calado enquanto arrumava o suspensório desalinhado.
— Bem, independente do que esteja acontecendo, não me importo o suficiente para ficar aqui… Espero que consigam achar Sarah, por mais que eu ache impossí… — Antes que se desse conta, Willian foi interrompido com um soco de Ana que acertou seu rosto.
— A-Ana?! — Gabriel indagou assustado e logo pôs-se a recuar.
Willian caiu desmaiado no chão. Segundos depois, ao sentir o gosto do sangue caindo de seu nariz, acordou.
Após o golpe, Ana se virou para João, que mesmo livre, se manteve imóvel. Estava com medo dela, pois sabia do que era capaz de fazer com seus punhos.
Caio e Gabriel recuaram para o mais longe possível, e passaram a esperar mais uma sequência de golpes da moça no jovem.
A loira caminhou lentamente até ele, que com os olhos fechados, esperava levar um soco tal qual foi dado no afro, mas sentiu algo completamente diferente.
Ana segurou na gola do sobretudo e apoiou sua cabeça no peito do rapaz, deixando-o assustado.
Repentinamente, começou a chorar e espernear. Em meio aos soluços, fungadas e qualquer coisa que bloqueasse as frases da mulher, suplicou:
— J-João… salve a Sarah… p-por favor…! N-não irei me perdoar… se algo acontecer com ela… Te imploro… f-faça alguma coisa…!
O rapaz ficou estático, apenas sentindo a força da mulher puxando seu sobretudo, e ouvindo seus gritos e choros ecoarem por toda a emissora. Sem notar, mais lágrimas caíram dos olhos dele, que já havia sofrido no dia anterior.
Abraçando-a, disse:
— Eu… tentarei…
Após essa cena, Willian se levantou lentamente ainda sentindo o baque do ataque. Se aproximou de Ana pelas costas, e com uma expressão chateada, exclamou:
— Ana… João… Me desculpem. Não deveria ter dito aquelas coisas…
Ambos olharam para o de óculos com desdém. Ainda mais Ana, que não havia o perdoado pelos xingamentos voltados para a desaparecida.
— É, pelo visto, acabei magoando os dois…
— Magoando? Está sendo bondoso consigo mesmo, hahaha! — afirmou Gabriel rindo da cara do homem ferido.
— Gabriel, você… — Willian suspirou. — Infelizmente, está certo dessa vez.
Ana se virou para Willian com a cara fechada.
— Nunca imaginei que pudesse ouvir essas coisas vindo de você. Estou decepcionada contigo.
O homem olhou para o chão cabisbaixo.
— Mas, aparentemente, está arrependido por ter humilhado João e Sarah… E não deveria ter batido em você, então…
— …
— Te desculpo, Willian. — disse a loira com um suspiro em seguida, e logo estendeu a mão para o homem.
Com um pequeno sorriso no rosto, avançou na moça abraçando-a, mas foi afastado com um empurrão. Ao olhá-la, viu seu rosto vermelho não só pelas lágrimas, mas pela vergonha.
— E-eu ainda não te perdoei totalmente…
— Hehe… Espero que consiga o seu perdão…
— Willian — chamou o rapaz de sobretudo, encarando-o.
— João…?
— Não importa a imagem que tenha de mim, o nosso foco é encontrar Sarah. Vamos focar em procurá-la e esquecer o que aconteceu hoje — disse estendendo a mão para o afro.
— Aparentemente, você perdoa fácil, hein, João? — Willian apertou a mão do jovem.
— Não te perdoei, Willian. Estou focando no que é mais importante agora.
— Hum, espero que possa no futuro.
— Veremos.
— Uau, as coisas estão melhorando — exclamou Gabriel.
— Sim. Não sabia que tinha tantas pessoas maduras aqui dentro, hehe — o chefe completou.
— Enfim, esclarecemos tudo, vamos voltar ao que importa — falou João firmemente. — Alguém tem alguma ideia para tentarmos achar a Sarah?
— Nós somos uma emissora, João. Podemos fazer transmissões perguntando sobre o paradeiro dela — disse Willian.
— Também podemos procurá-la nas ruas, ainda estamos na época de carnaval.
— Será bem difícil, visto que terão diversas pessoas.
— É uma faca de dois gumes. Se houver várias pessoas, será complicado achá-la, em contrapartida, com mais gente ouvindo sobre ela, teremos mais chance de encontrá-la — Ana falou.
— Que tal se fizermos igual aqueles cartazes de procurado dos filmes de velho-oeste? — indagou o loiro.
— Está falando sério? — perguntou João.
— Sim, devemos ter alguma foto de Sarah em algum documento que possa ser usada nos cartazes.
— Mas como faremos vários com uma ou duas fotos dela?
— Posso fazer um retrato dela — Caio respondeu firmemente.
— E você desenha? — Ana perguntou.
— Claro, qual seria a outra forma de admirar os belos corpos femininos senão desenhando-os do jeito que gosto?
— Nojento — murmurou Willian.
— Seria bom se procurasse ser uma pessoa normal até conseguir alguma companheira e ver um de verdade, haha! — Gabriel riu.
— Quem pensa que é para me chamar de anormal?! — Caio esperneou.
— Pessoal, estão desviando do foco principal.
— Certo, certo…
— Caio, prepare-se para desenhar diversos retratos da Sarah, vamos precisar de, no mínimo, 50 cartazes.
— Dou o meu jeito, hehe.
— Quando estiverem prontos, irei espalhá-los pelos lugares que saí com ela.
— João, se possível, posso ir contigo? — perguntou o afro. — Os outros podem ficar para fazer as transmissões.
— Hum… Pela Sarah.
— Ok, pessoal. Vamos trabalhar duro para encontrá-la!
— Certo!