Selecione o tipo de erro abaixo

Eu passei muito tempo da minha vida lendo mangás de luta e magia, não pude deixar de ficar empolgada com essa nova etapa do treino — Magia elemental?! — meus olhos brilhavam.
— Antes de começar, você vai precisar entender algumas coisas — com os dedos em chamas, Elena formou um quadrado vazio, como os que usam nas escolas — Você viu que toda criatura viva possui uma quantidade de mana em seu interior. Essa mana sempre está circulando no seu organismo, girando em torno um ponto específico. Esse ponto pode ser chamado de núcleo mágico, é o que nos conecta com a natureza da mana — tudo o que disse foi ilustrado no quadro com fogo.
— E como isso se relaciona com a magia elemental? — perguntei curiosa.
— Sem esse núcleo você não é capaz de acessar sua mana, mas até então não tem ninguém que foi capaz de perder seu núcleo… De qualquer forma, há dois estilos mágicos a depender de como seu núcleo se comporta, são eles o estilo manipulador e o estilo conjurador. Aquele com o estilo manipulador é capaz de usar apenas o elemento presente no ambiente, ou seja, ele não é capaz de usar água se não houver água ao seu redor. Já o usuário do estilo conjurador é capaz de criar o elemento a partir das partículas elementares, porém isso consome sua mana rapidamente.
— Isso não torna o estilo conjurador mais vantajoso?
— Não exatamente. Cada estilo tem sua própria forma de se utilizar seus poderes, o que também varia da capacidade de adaptação de cada indivíduo. Alguém capaz de manipular a água ficará limitado a usar apenas a água que estiver disponível e o conjurador ficaria limitado a usar ataques curtos e rápidos a fim de racionar o consumo de mana — Toda aquela explicação soava como um sistema de habilidades em um jogo bem balanceado, algo que parecia simples em teoria, mas que aplicar na prática necessitava muito treino
— Agora que sabe a base de como funciona a magia elemental, vai precisar saber qual é o seu estilo e qual será seu elemento
Elena se virou e saiu do dojo assim que terminou sua explicação. Eu a estranhei por alguns minutos até que ela voltou com uma caixa dourada em suas mãos.
Sem dizer nada, abriu a caixa e tirou um giz de dentro. Indo ao centro do tatame, ela desenhou um círculo grande chão com um círculo menor em seu interior e ao redor dele desenhou alguns símbolos que eu não conhecia, mas todos pareciam ser elementos mágicos como fogo, água, terra e ar.
— Pra um lugar tão tecnológico e mágico, isso aí é bem arcaico. Parece uma pintura rupestre — não pude deixar de provocá-la um pouquinho.
— Cala a boca, você não sabe do que tá falando — respondeu em um suspiro — Vai, senta aí — ordenou apontando para o centro do círculo.
Me sentei sem questionar muito. Assim que o fiz com as pernas cruzadas, ela começou a andar em volta do círculo sussurrando alguma língua estranha.
Entre seus sussurros havia uma pausa de mais ou menos 2 segundos e a cada um deles fazia um dos símbolos brilhar. Eu observava cada detalhe curiosa para saber o que aconteceria no fim.
De todos os símbolos à minha volta, teve um específico que me chamou atenção, uma lua com uma gota entre o vão de suas pontas. Assim que olhei para a gravura ela brilhou mais forte que as demais, até achei que ficaria cega com a claridade. Quando recuperei minha visão completamente o giz havia se apagado.Fiquei confusa e antes mesmo que pudesse questionar Elena exclamou.
— PUTA MERDA! — Um grito memorável, jurei a mim mesmo guardar essa imagem para sempre em minha mente. Ainda assim, me assustei com grito.
— O que foi? — perguntei assustada.
— O que que há com você? Isso é um perigo pro seu próprio ego — disse rindo.
— O que? Como assim? Eu não tô entendendo nada!
— Cacete! Basicamente, existem 6 elementos: Água, Fogo, Terra, Ar, Luz e Trevas, isso sem contar seus derivados. Fora isso existem mais dois elementos que são independentes da natureza como a conhecemos, os elementos Tempo e Espaço. A questão aqui é que existe um elemento que ainda não há registro algum sobre ele, e o motivo é bem simples… não existe nenhum usuário dele em nosso mundo.
— Isso quer dizer que… — aos poucos eu comecei a entender aonde Elena queria chegar.
— O círculo que eu fiz a sua volta era um ritual simples para descobrir qual elemento você tem mais afinidade, até crianças de 6 anos sabem o que é. Em rituais comuns usamos apenas os 8 elementos, já que a chance de alguém ter afinidade com um elemento jamais visto é praticamente zero.
— Entendi. Então… qual é o nome desse elemento? — perguntei contendo minha empolgação o máximo que pude.
— De todos os 9 elementos, a Lua de Sangue é o único que não sabemos nada sobre… — disse em um suspiro — E agora, é o único da história a ter apenas um usuário… —
1
Ponto de Vista de Elena:
“MAS O QUE DIABOS É ESSA GAROTA?!” Eu estava prestes a explodir, mal conseguia conter minha vontade de treinar um usuário da lua de sangue. Tudo era apenas uma teoria e as chances de existir alguém com essa habilidade era estupidamente baixa. Todos os mistérios envolvendo esse elemento, as coisas deixaram de ser um mito.
— Você entende que não há estudo algum sobre isso, certo? — perguntei
— Tô sabendo! Vou ter que fazer tudo do zero pra descobrir o que posso fazer e até onde posso chegar — respondeu empolgada dando socos ao vento.
Saki parecia mais animada do que eu para testar suas capacidades.
Limpando a garganta e tentando disfarçar minhas emoções, disse a ela — Eu vou estar aqui e agora sim o seu treinamento vai ser um inferno.
— Certo, Mestre!
Ponto de Vista de Saki:
Depois de descobrirmos a Lua de Sangue haviam se passado duas semanas.
Passei a usar roupas mais leves no treino como uma regata branca, um short curto preto e um par de ataduras nas mãos. Por mais que fosse uma roupa básica, sentia meu corpo mais livre, então poderia me mover com mais facilidade e conforto.
Eu estava no dojo treinando alguns golpes a noite, com meus braços envoltos de um brilho roxo pela minha magia, até que Elena apareceu se apoiando no portão segurando uma xícara quente.
— Ei, pirralha! Já chega por hoje. Pensei ter dito para não treinar a essa hora — reclamou enquanto dava um gole.
— Qualé! Não tem ninguém aqui, não tem com o que se preocupar — respondi retirando as ataduras.
— Como pode alguém ser tão burra?— perguntou em deboche.
— Ha ha ha. Como você é engraçada… — respondi revirando os olhos e cruzando os braços.
Elena olhava para mim enquanto fazia um barulho bebendo na xícara.
— O que é isso aí? — perguntei me sentando ao seu lado.
— Xixi de javali, quer? — me estendeu a xícara.
— Vai a merda — rejeitei com puro nojo.
Um silêncio correu no ambiente e em seguida foi quebrado por Elena.
— O que temos até agora?
— Até então, sabemos que a lua de sangue aumenta minhas capacidades físicas, isso consome bastante mana e se passar do limite pode gerar danos ao meu corpo. Por outro lado, ganhei resistência mágica e uma regeneração muito boa. Aos poucos suas chamas ficarão cada vez mais inúteis contra mim — acrescentei como uma resposta a seu deboche anterior.
Tinha me esquecido como seu temperamento é um pouco agressivo e já fui respondida com um soco na cabeça.
— AÍ! Sabe nem brincar! — exclamei.
Ela deu mais um gole barulhento em seu chá fingindo que nada aconteceu.
Suspirei e então continuei — De qualquer forma, parece que é uma habilidade que depende mais do usuário do que da mana.
— Entendi…
No outro dia seguinte, eu acordei com um pensamento um pouco incomum:
“Como é que tá a Noelle?”
Depois que saí da casa de Galliard não tive nenhuma notícia sobre ela. Não sabia se ela continuava lá ou seguiu seu caminho. Independente disso, queria reencontrá-la quando terminasse meu treinamento.
Depois de me arrumar fui ao dojo. Nunca me cansava da vista que tinha no caminho, os peixes e as petálas de rosas formavam uma cena espetacular.
Quando cheguei lá, Elena já estava me esperando, mas de uma forma diferente. Ao seu lado havia um estande com diversos tipos de armas, de machados e espadas a rifles de disparo mágico.
— Uh… Bom dia?
— Você sempre chega tarde hein — resmungou com veias pulsando na sua cabeça.
— São cinco da manhã… — respondi em um suspiro — Mas fala aí, o que são essas armas?
— Provavelmente você vai rodar esse mundo inteiro nessa sua aventurinha, alguns inimigos não serão derrotados por mãos nuas — nesse momento comecei a imaginar a quantidade de monstros estupidamente fortes espalhados por todo o mundo — você pode testar todas essas armas, escolha a que preferir.
Eu não sabia nada sobre armas, escolher uma que gostasse seria difícil, mas… de todas elas, teve uma que me trouxe um sentimento único, acho que é isso que chamam de amor à primeira vista.
Uma arma com um grande cabo de metal ligado a uma lâmina arredondada, afiada e longa. Sua cor prateada me encantava enquanto seus detalhes pretos e roxos que combinavam com meu cabelo deram um brilho a mais para ela.
— Eu quero essa foice — disse instantaneamente com os olhos apaixonados.
— Não vai quer tes…
— Não. Quero essa — Não havia uma única possibilidade de eu escolher qualquer outra arma.
Elena tirou a foice e a pôs em minha mão — Uma foice, não é? Boa escolha.
Desde que a escolhi, meus dias se tornaram cada vez mais infernais. Todos os dias treinava a manipulação de mana, o controle sob o Sangue da Lua e combate de armas. Pouco a pouco fui melhorando minhas habilidades e quando me dei conta, já haviam se passado 3 meses.
Durante esse tempo consegui dominar completamente o uso da mana e se tornou algo automático tal como respirar. Também aprimorei meu combate mano a mano, ganhei velocidade, força e resistência enquanto treinava. Infelizmente não tive tanto tempo para treinar meus movimentos com a minha querida foice.
No final de um treino exaustivo, Elena se virou para mim perguntando:
— Você já está em um bom nível, quanto tempo pretende ficar?
— Hm? — Foi uma pergunta repentina, eu esperava que ela só fosse me expulsar daqui um dia — Não sei… Acho que ainda preciso dominar a Lua de Sangue completamente.
— Faça logo isso, eu não aguento mais ver essa sua cara jovem e irritante — respondeu agressivamente.
— Eu to começando a achar que você só tem inveja da minha pele jovem e macia — disse me aproximando dela esbanjando meu corpo para aquela velha.
Elena me olhou com uma expressão de repulsa e apenas disparou — vê se cresce — e foi embora.
De alguma forma, eu achava divertido essas provocações, mas nunca que eu diria isso a ela.
Continuei meu treino focando no domínio da minha magia elemental, indo aos meus limites e acostumando o corpo com isso.
Posteriormente passei a lutar com um clone de chamas da Elena que me fez pensar o quão forte uma pessoa deve ser para ter tantas habilidades e usá-las com facilidade.
Mais 3 meses depois e finalmente senti que estava pronta. Era possível ver o quanto melhorei apenas no olhar, meu corpo se tornou mais bem definido e meus músculos se fortaleceram, meus braços e pernas possuíam machucados e algumas leves cicatrizes que adquiri usando a foice, acredito também ter crescido alguns centímetros.
Deixando os termos físicos de lado, meu poder mágico aumentou drasticamente, podendo usar mana durante horas até me esgotar. Como tive que focar o treinamento em combate físico, acabei não me aprofundando no uso da mana, apenas aprimorei o básico para não ficar para trás.
Durante esse tempo passei a ter o hábito de sempre me aquecer antes de começar qualquer atividade, então no meu último dia, arrumei minha mochila, fui ao dojo pela manhã para me despedir.
Assim que abri a porta, em menos de um segundo, fui recebida com um um punho vindo na minha direção em alta velocidade. Felizmente consegui ser rápida o suficiente para usar o Sangue da Lua para parar o ataque e segurar o soco com minhas mãos.
Quando olhei para frente, estava Elena com seu sorriso demoníaco e uma sede de sangue esmagadora. Após soltá-la, ela disse.
— Você aprendeu bem — cruzou os braços virando as costas para mim.
— Sabe, você às vezes parece um monstro diabólico.
— Não é a primeira que me diz isso — Acredito ter repetido essa frase mais de 100 vezes durante esses 6 meses e meio.
— É seu último dia, entra logo — ao me convidar para entrar, apresentou uma mesa pequena com uma garrafa branca e dois Sakazuki (um copo raso de madeira feito para tomar saquê em ocasiões cerimoniais)
— O que é isso? — perguntei confusa.
— Sente-se — nos sentamos no chão com as pernas cruzadas sob a mesa uma de frente para a outra.
Elena pegou a garrafa e encheu nossos copos lentamente. Deixando-os lado a lado na mesa, ela empurrou um deles sutilmente para mim.
— Estamos em festa — disse calmamente erguendo seu copo.
Eu olhei para aquela situação e não fiz um único questionamento. Segurei o meu copo e olhei para a bebida, na água transparente do saquê eu via o reflexo de alguém que eu não conhecia, eu mesma.
Finalmente percebi o quanto mudei em poucos meses, meu próprio rosto estava diferente do que me lembrava.
Erguendo o copo, fiz um brinde junto a Elena para em seguida darmos um gole.
Em silêncio, esvaziamos a garrafa e com um pouco de álcool na cabeça nos levantamos. Fui até a frente do dojo e então me virei de frente para ele. Me curvei respeitosamente para minha mestra ao lado da mesa ao mesmo tempo que agradecia pelo espaço que me emprestou para treinar.
“Foi um privilégio te ter como mestre” pensei levantando minha cabeça.
“Foi um privilégio te ter com aprendiz, Saki” era o que sua expressão dizia.
Com minha mochila em mãos, fechei as portas do dojo e dei as costas para seguir meu caminho.
— Ei pirralha! Vê se não me envergonha por aí! — disse em um grito de dentro do dojo.
— Relaxa! Se cuida, velhota! — respondi com um sorriso.
Finalmente, depois de tanto tempo, com uma bela vista para o mar calmo no horizonte e a leve brisa da montanha soprando meus cabelos, estava de volta ao mundo real.

11 NOV Comission Ismael
arte por @cath_que_desenha
  1. O mundo é composto por 91,7% da população usuários de Fogo, Água, Terra e Vento; 8,3% de Tempo, Espaço, Luz e Trevas e 0% da Lua de Sangue[]
Picture of Olá, eu sou Smaell!

Olá, eu sou Smaell!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥