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Ponto de Vista de Noelle:
Não foi a primeira vez que isso me aconteceu, eu já estive cercada de pessoas ruins, umas piores do que as outras, mas agora foi diferente, mesmo tendo ficado mais forte, me senti incapaz na hora de me defender.
— Me desculpa… — Saki me segurava pelos ombros enquanto eu lavava meu rosto.
— Não foi culpa sua.
— Isso não vai mais acontecer, eu prometo.
— Não mesmo…
“Do que adianta ter força para se defender, se fico paralisada quando devo fazer isso? Que inútil…”
Consegui limpar o meu rosto e tirar todo o sangue, mas ainda assim me sentia suja. Saímos do banheiro e vimos Akira e Karayan conversando enquanto o barman limpava o bar.
— Eu não vou fazer isso, garoto! Larga do meu pé!
— Tá, Tá legal, tanto faz também.
— O que foi? — perguntou Saki.
— Nada, só esse moleque sendo chato pra cacete.
— Ele é assim mesmo, esse aí não tem jeito.
— Vão à merda — Akira saiu revoltado e se sentou no balcão.
Em silêncio, Karayan pegou um cigarro em seu bolso juntamente com um isqueiro.
— Sr. Karayan, sabe algum lugar onde podemos dormir?
— Em casa. Não fiquem aqui, vão embora, são jovens demais para desperdiçar suas vidas nesse lugar — respondeu acendendo o isqueiro.
— Precisamos fazer algumas coisas antes de ir embora e já deu pra ver que não podemos ficar em qualquer lugar! — Saki logo retrucou.
— Jovens são mesmo um saco, não é? — disse em um suspiro — Tem uma pousada perto daqui, agora se virem.
— O quê, fácil assim?
— Vá de uma vez! Não me incomode mais.
— Então tá, obrigada mesmo assim.
Saki pegou sua mochila em cima do balcão e andou em direção a porta.
— Bora — disse segurando Akira pelo pescoço.
Assim que ambos saíram, me virei para Karayan e me curvei a ele.
— Não sei como recompensá-lo, muito obrigada…
— Não precisa disso, mas saiba que tá me devendo uma.
— Sim! Vou retribuir o favor algum dia!
— Agora vá, seus amigos estão esperando — disse coberto pela fumaça.
Saí rapidamente do bar até Saki e Akira e logo fomos procurar a pousada que nos disse.
Ponto de Vista de Karayan:
— Aí velhote, você viu?
— Como não? As crianças são mesmo o futuro do mundo.
— De novo esse papo?
— Hehe!
— Mas tem razão, se esses três saírem vivos daqui, terão muitas histórias para contar. Principalmente a com o cabelo roxo.
Ponto de Vista de Noelle:
As ruas desertas da cidade eram assustadoras, árvores secas por toda a parte, casas abandonadas e o clima pesado piorava toda a situação
Andamos por pouco tempo até acharmos a pousada que Karayan havia mencionado. Um grande letreiro torto estava preso em um poste de metal enferrujado, o lugar também estava sujo e abandonado em sua fachada, havia apenas uma única luz do lado de dentro, mas dessa vez não nos preocupamos com isso.
— Asa de Corvo…
— A frente do bar estava pior do que isso, não vamos julgar antes da hora — comentou Akira.
Ao entrar na pousada, nos deparamos com móveis quebrados e teias de aranha em todos os cantos e à nossa esquerda havia uma porta de madeira podre caindo aos pedaços. De repente, escutamos um ruído vindo do andar de cima e instintivamente, todos ficamos prontos para qualquer ameaça que aparecesse.
Passos sobre nossas cabeças assustaram Akira no mesmo momento, ele logo perdeu sua postura. Tremendo de medo, se segurou nas costas de Saki.
— Me solta! Se alguma coisa aparecer você só vai me atrapalhar! — e não a soltou por nada.
— Oh! Mais clientes? Esse lugar tá ficando famoso mais uma vez, hehe!
Escutando a voz de uma senhora já idosa, gritamos assustados.
— Come ele! Não eu! — Saki pôs Akira em sua frente segurando pela cabeça.
— Como é?! AGORA VOCÊ QUE ME SOLTE! — tentou se soltar das garras de Saki a todo custo.
— Que comer o que! Já fiz meu pãozinho e tava indo dormir.
— Ah, então… desculpa incomodar.
— Nada disso, cliente significa dinheiro.
— A senhora é a dona dessa pousada?
— Sim! Meu nome é Yoki!
— Já pensou em lim… — Saki calou Akira rapidamente antes que ele desrespeitasse a única pessoa que poderia nos abrigar.
— Queremos ficar aqui! — ela exclamou.
— Ótimo! Vou pegar as chaves!
A senhora desceu as escadas lentamente apoiando-se em um corrimão e andou até a porta ao nosso lado. Ela abriu a porta com um chute violento e, mesmo assim, a porta mal se abriu. Ela se espreitou para entrar na sala atrás dela e logo voltou com um molho de chaves.
— Ufa! Ainda bem que já estava limpo — de fato o molho de chaves brilhava — aqui, esse é o quarto de vocês — nos estendeu uma das chaves com uma etiqueta numerada.
— Quarto 7… certo.
— Obrigada!
— Sem problema, agora subam, é um dos primeiros quartos do corredor.
Subimos e encontramos o quarto. Saki tentou abrir a porta, mas a fechadura parecia enferrujada. Ela fez mais força contra a fechadura e assim conseguiu abri-la.
O quarto estava escuro, iluminado apenas com a luz que vinha do corredor, uma pequena mesa com duas cadeiras estava bem ao lado de uma única cama para todo o quarto, além de uma bancada mofada derrubada no chão.
Todos nós olhamos cabisbaixos uns para os outros.
— É isso, ou a gente dorme na rua — disse Saki.
— Eu vou pra rua — Akira respondeu sem pensar duas vezes.
— Vai o cacete.
— Não é você que decide isso!
— É, você tá certo, se você quiser ser comido por aranhas gigantes no meio da noite, vá em frente — um blefe óbvio.
— Eu vou falar com a Yoki, só tem uma cama aí.
— Que rápido — me surpreendi com a velocidade que ele mudou sua opinião, mesmo sabendo das artimanhas de Saki, olhei para ela segurando o riso.
Nós duas nos acomodamos no quarto e tiramos o máximo de teias de aranha que conseguimos, mas enquanto fazíamos isso, eu ouvi um som estranho vindo de algum lugar. Pensei ter sido apenas coisa da minha mente, até ouvir novamente um som semelhante ao anterior.
— Ouviu isso?
— O que?
— Tem alguma coisa, algo como um sussurro…
— Quem mais se hospedaria num lugar como esse?
— Devo estar cansada demais, preciso dormir.
— Pode deitar até Akira voltar com a chave do outro quarto.
Assim que me deitei, caí em sono profundo, acordando apenas no outro dia. Saki e Akira estavam dormindo em cima da mesa e logo me questionei.
“Não acharam outro quarto? Essa não! Eles dormiram em cima da mesa enquanto eu estava na cama…”
— Hum? Noelle? — Saki acordou em seguida.
— Saki? Por que dormiram em cima da mesa? Podiam ter me acordado!
— Não, você precisava mais do que a gente — disse em um bocejo — além disso, você tava bem fofa dormindo.
— Eu…
— Fica tranquila, esse aqui nem se importou, tá até babando — apontou para Akira.
— …
Alguns minutos depois, Saki acordou Akira para irmos embora e eu fui procurar a Srta. Yoki para pagarmos a hospedagem.
Andei pelo corredor de portas podres e quebradas, até que de repente a dona da pousada surgiu em minha frente. Tive que me segurar para não gritar, senti como se tivesse me encontrado com um fantasma, meu coração quase saltava para fora.
— Ora, bom dia, jovenzinha, como foi a noite?
— Ah, bom dia… foi bem tranquila, mas foi uma pena não ter tido mais camas.
— Me desculpe por isso, foi o único quarto disponível com uma cama decente.
— Sem problemas… Bem, quanto devemos pagar pelo serviço?
— Não se preocupem, terão mais noites aqui, depois resolvemos isso.
— Na verdade, não planejamos passar mais tanto tempo aqui.
— Nunca se sabe querida…
— Ah… certo então… — não entendi o que ela quis dizer com aquilo, tudo que queríamos era pegar alguns livros e evitar encontrar problemas — A propósito, havia mais alguém hospedado aqui ontem?
— Sim, sim. Ontem apareceu um jovem coberto de sangue procurando um lugar para ficar. Ele não parecia daqui e também parecia ter se envolvido em uma briga, mas cliente é cliente, não pude o rejeitar. Infelizmente, ele foi embora pouco antes do amanhecer.
— Entendo… de qualquer forma, obrigada!
Eu voltei para o quarto e contei sobre a hospedagem aos dois antes de irmos embora.
— Vamos embora ainda hoje e talvez nem voltemos aqui, vou deixar um pouco de dinheiro dentro do quarto e vamos sair de fininho.
Saki colocou algumas moedas de Mynt em cima da bancada e fomos embora rapidamente. Fora da pousada, ainda parecia noite, o clima não havia mudado nem mesmo um pouco.
— Credo, tem certeza que é dia? — resmungou Akira.
— Aonde vamos agora?
— Pra ser sincera, estou curiosa pra saber o que é esse tal de Gioll, mas é melhor passarmos antes na biblioteca.
— Certo!
Seguindo o mapa até encontrarmos um lugar que se assemelhava a um castelo com uma grande placa de madeira escrita: “Biblioteca”, diferentemente da ilha, o lugar estava muito bem cuidado, como se fosse um estabelecimento recente. Todos nós ficamos surpresos e aliviados com a vista.
— Finalmente um lugar decente por aqui.
No primeiro passo que demos para entrar na biblioteca, uma grande espada virou o fio de sua lâmina para os nossos pescoços.
— Yokai… Não se mexa… — disse uma voz masculina e calma. Mesmo com nossas vidas em sua mão, não expressava sentimento em sua fala.
Olhei discretamente para o lado, vendo a figura de um garoto não tão alto, vestindo roupas completamente pretas, com seu cabelo escuro cobrindo seus olhos.
— Ei, calminha aí…
— Você está me perseguindo?
— Eu nem mesmo sei quem é você.
O portador da espada olhou para mim buscando confirmação.
— Olha, não sabemos quem é você ou esse tal de Yokai, só estamos aqui atrás de alguns livros.
— Hm…
Lentamente, o garoto recolheu sua espada e a guardou em um pano manchado de sangue. Quando estava livre para me mexer sem risco de morrer, olhei atentamente para ele e percebi marcas de sangue em sua roupa que mal dava para perceber por conta da cor.
— Cara, o que foi isso? — perguntou Saki.
— Por onde eu ando, sempre há pessoas ou Yokais tentando me matar.
— O que é um Youkai?
— Um demônio.
“Agora faz mais sentido…” pensei brevemente.
— Você consegue sentir a presença de demônios?
— Hunf — ele virou as costas e saiu andando.
— Espera aí! — o chamei agarrando a manga de sua camisa perto do pulso.
— Não! Me larga! — gritou repentinamente.
Assustada, pulei para trás. O garoto estava ofegante, era possível ver seus olhos amedrontados por debaixo do cabelo.
— O que foi isso? — Saki gritou entrando na frente.
— Se não quiserem morrer, não me toquem.
— Cê tá se achando demais!
— Não. É um fato.
— Seu desg…
— Saki, deixa pra lá.
Ela respirou fundo e felizmente me ouviu.
— Pessoas como você, são as mais detestáveis — Akira olhou com desdenho
— Youkais são todos iguais — ele disse para si mesmo.
— EU NÃO SOU UM DEMÔNIO! — gritou Saki
Deixamos a situação para trás e fomos até a biblioteca.
— Quem ele pensa que é hein?
— Saki, ele não estava mentindo…
— Quê, como assim? — questionou Akira.
— Os olhos dele… Ele parecia com medo. Sem contar que tem aquilo, né…
— Tanto faz, já passou.
Finalmente entramos na biblioteca, um lugar com uma iluminação indescritível e um clima agradável. Prateleiras gigantes formavam corredores com seus livros, porém, não havia uma única alma viva ao redor.
— Que estranho, não tem ninguém aqui…
— Deve ter alguém por perto, esse lugar não deve ficar limpo sozinho.
— Tem razão, isso é estranho, não cheira bem.
— Vamos procurar alguém, ficar parados teorizando não vai nos ajudar — disse Akira.
Ponto de Vista de Elena:
Em um ambiente escuro, onde uma luz branca iluminava apenas a mim, os quatro velhos sábios me julgavam.
— Mesmo sabendo do controle do Caos, você a deixou ir?
— Jovens como ela, que podem voar, deveriam voar.
— Não ouse citar o Grande Profeta!
— Não sei de quem se trata, é algo que um amigo me disse há muito tempo…
— Você abusa demais da sorte, Elena, o clã Hikuro não vai te proteger para sempre.
— Não preciso que eles me protejam, seu sobrenome não passa de uma conveniência.
— Hunf…
— Já disse, eu estou cuidando dessa garota, então não interfiram.

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Olá, eu sou Smaell!

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