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Ponto de VIsta de Noelle:
— Tsc! Estamos rodando essa ilha há horas, não vamos achar nada seguindo a névoa — diferentemente de todos, Akira já estava cansado de andar.
— Raven é um lugar bem extenso, podemos demorar dias aqui — apontou Shosuke.
— Ah, fala sério…
— Mesmo assim… precisamos ficar tão longe dele?
Parando para ver, estávamos alguns bons metros de distância de Shosuke. De alguma forma, a névoa não o afetava, mesmo assim ele pediu para que ficássemos distante.
— É… é perigoso demais — advertiu.
As ruas desertas de Raven eram assustadoras, o vento soprava livremente por cada viela, levantando a poeira e os restos materiais do que um dia já foram casas. As árvores mortas traziam o terror após terem suas vidas retiradas pela névoa e o mesmo poderia acontecer conosco. Nossos passos se encaminharam para o lado oposto do fluxo da névoa negra, que nos levou para a frente de uma estrutura de pedra caindo aos pedaços.
Localizada em um grande terreno, os ornamentos de mármore despedaçado aos cantos lembravam a morte, uma escada no centro levava para dentro de algo que se assemelhava com um salão de festas, com uma grande mesa retangular repleta de cadeiras que outrora já foram cravejadas com jóias, e ao fundo da mesa, um grande trono, tal como o de um rei. Infelizmente, eles não se tornaram nada além de pedras velhas.
Lascas de pedra espalhadas pelo chão, pilares desgastados, ossos de humanos e monstros estavam por toda a parte.
— Isso é sinistro…
— Esse lugar me dá arrepios, vamo acabar logo com isso.
— Shosuke, a névoa termina aqui?
— Não… ela está vindo um pouco mais a frente.
O trono próximo a parede exalava uma grande quantidade de névoa, mas não parecia que ela vinha diretamente de lá.
— Saki, tem algum lugar assim no mapa? — perguntou Akira.
— É… deixa eu dar uma olhada.
Logo quando Saki pôs o mapa em suas mãos, Akira o tomou para si.
— Ei! — gritou furiosa.
— Você é péssima com isso.
— O que te faz pensar isso?
— Bom, há alguns meses, a única coisa que cê precisava fazer era me seguir e ainda assim você se enfiou dentro da floresta e te achamos desacordada.
— A culpa não foi minha, um demônio me atacou — disse da forma mais natural possível.
— COMO É QUE É? — a expressão de Akira foi impagável, confesso que minha risada quase escapou.
— A gente não contou pra ele? — sussurrou para mim.
— Devíamos ter contado?
— É CLARO QUE DEVIAM!
Ponto de Vista de Shosuke:
“Então é por isso que sua magia fede a Yokai, mas… como ela está em sã consciência? Ela controla esse poder? Ou ela está mentindo esse tempo todo?”
Minhas mãos coçavam no desejo de matar rapidamente um Yokai bem a minha frente, já pronto para remover o pano sujo em minhas costas, me mantive calmo, sem tomar conclusões precipitadas.
“Melhor confirmar tudo antes, de qualquer forma, isso explica muita coisa”
Ponto de Vista de Noelle:
— Vocês são muito barulhentos.
De repente, uma voz rasgada e cansada veio aos nossos ouvidos. Paralisamos de medo por alguns segundos e logo nos viramos assustados.
Sentado no trono de pedra, estava um homem magro demais para se manter de pé, com um cabelo loiro e ressecado como os galhos das árvores mortas. Seu corpo era tão fino que era possível ver a marca de seus ossos. Suas costelas estavam claramente visíveis, e julguei o mesmo para seus membros inferiores cobertos por uma calça larga em amarelo tom mostarda.
Ele nos olhava por cima, como se fossemos apenas animais entediantes.
— Espera um pouco, eu nunca vi vocês aqui…
— Q-Quem é você?
— Não interessa! Quem são vocês?
— Não interessa! — Saki retrucou rapidamente.
— …
O silêncio por conta da confusão que veio a sua mente assombrou o local, ele parecia não acreditar no que havia escutado.
— Acho que não entenderam… eu perguntei quem são vocês! — em um grito, com seu olhar intimidador, ele fez sua pressão mágica cair sobre nossos ombros.
Repentinamente, o ar pareceria difícil de levar aos pulmões.
— Ugh! Mas que merda é essa. Isso não é nada comparado àquela pressão, mas ainda assim é forte demais — disse Saki.
A pressão fazia com que o ar restante em nossos pulmões fossem sugados lentamente, a atmosfera pesada nos impedia de fazer qualquer coisa.
Enquanto tentava resistir a pressão, olhei para ele rapidamente, mas parecia que sua atenção já não era mais nossa.
— O que ele tá fazendo?
— Ele… Ugh! Ele tá olhando pra cima, parece que tá falando com alguém.
— Mas não tem ninguém aqui! Não consigo sentir a presença de mais ninguém.
— Entendi… Seja o que Deus quiser…— falou virando seus olhos para nós novamente. Era visível que o diálogo não seria possível.
Direcionando suas mãos para frente, começou a nos levitar no ar.
— Merda! Acho que não vai dar pra conversar! — disse Akira atirando bolas de fogo pelos seus dedos.
Seus ataques não passavam de uma certa distância, era como se eles colidissem com uma parede que não conseguíamos ver.
— Agradeçam por Deus ter sido tão misericordioso. Se tiverem sorte, conseguirão sobreviver sem enfrentar sua fúria.
— Do quê cê tá falando? Larga a gente.
— Me pergunto se sairão vivos daqui… uma pena que… só Deus sabe…
Com facilidade, o homem que supostamente falava com Deus, nos arremessou para longe, atravessando as paredes do lugar. Em meio a gritos de desespero, nossas rotas foram se separando e apenas consegui ver Saki e Shosuke acertando suas costas em uma torre com um enorme relógio quebrado em seu meio, enquanto Akira e eu atravessamos uma caixa de água em uma casa isolada no canto da ilha.
— Droga! Akira! Tá tudo bem? — Me levantei rapidamente logo após o impacto.
— Uh… tô sim… só descansando… — respondeu fechando seus olhos em uma pilha de feno
— Eu vi os dois batendo com tudo em uma torre do outro lado da ilha, devem estar machucados! Vamos logo!
Ponto de Vista de Saki:
Após ter acertado uma enorme muralha de pedras, meu corpo caiu no chão como um pedaço de bosta. Felizmente, não houve nada além de alguns arranhões, mas assim que me levantei e olhei para cima, Shosuke estava caindo bem em cima de mim.
— Oh porra!
— Merda! Não! — ele se levantou em um único salto, não estava machucado depois de ter sua queda amortecida pelo meu corpo, mas estava assustado, como se tivesse visto a morte.
— Ei, o que foi?
— Você… tá tudo bem?
— Você caiu bem na minha cabeça…
— Digo, o seu braço. Eu acabei tocando com a palma da minha mão.
— Ah! Pra falar a verdade, eu nem reparei issoi nisso.
— Como isso é possível?
— Bem, você não é muito pesado e…
— Não… Esquece.
De repente, escutei algo como se alguém estivesse cavando a terra, só então notei que havíamos caído em um lugar semelhante a uma igreja. Eu sabia que bruxas não adoravam nenhum tipo de Deus, então fiquei confusa ao ver figuras gravadas nos vitrais da igreja. Em poucos minutos os sons da terra sendo cavada aumentaram e logo depois vieram seguidos do barulho das paredes e janelas quebrando ao nosso redor.
Braços que em toda a sua extensão eram ossos abriram as paredes e arrebentaram as janelas, invadindo a igreja. Logo, percebemos que a terra sendo arrastada, seria os restos mortais se desenterrando dali.
— São os antigos habitantes da ilha. Ele está desrespeitando seus corpos. Que miserável. — reclamou Shosuke
Os esqueletos nos atacaram rapidamente, alguns jogaram pedras enquanto outros seguravam espadas enferrujadas ou quebradas.
— Tsc! Pelo menos já estão mortos. É um peso a menos.
Meus socos os quebravam facilmente, os bonecos que quebrei em meu treinamento eram mais resistentes do que eles. Shosuke os acertava com chutes, sem ao menos tirar suas mãos do bolso, mas desta forma, um exército que não teme a morte sempre se levantava ao ser derrubado.
— Há mana vindo deles, seus movimentos são lentos e robustos. Estão sendo controlados.
— Faz sentido. O Gioll é o nome dado pelo rio que separa os vivos dos mortos. Usar a mana daquele lugar para criar uma maldição como essa… ele é muito esperto.
— Espera, aquele lugar era o tal do Gioll? — um dos esqueletos se aproximou sorrateiramente pelas costas e me agarrou pelo pescoço. Ele era pequeno, por isso se movia com mais facilidade em meio aos outros.
Se virando rapidamente para mim, Shosuke apenas o tocou e fez com que o seu corpo inteiro se desfizesse.
— Não se distraia — alertou, pondo a mão de volta em seu bolso.
“O que foi isso?” perguntei a mim mesma confusa.
O corpo do esqueleto se desfez da mesma maneira do monstro que capturou a Noelle na biblioteca.
“Uma habilidade que pode acabar com os outros apenas com o toque. Isso é apelão demais”
O exército de soldados, além de imortais, eram intermináveis. As partes separadas de seus corpos se juntavam novamente como se estivessem consertando um boneco enquanto surgiam mais e mais esqueletos a cada segundo.
Usar a mana constantemente daquela forma consumia muito a minha magia, mesmo aumentando a resistência, força e velocidade do meu corpo, não era suficiente. Aqueles que tiveram sua cabeça partida ou rachada voltavam com seus corpos remontados, nada que eu fizesse terminaria com aquilo.
— Shosuke! Isso não vai nos levar a lugar nenhum. Você precisa usar o seu poder! — os corpos desintegrados não voltavam do pó, essa seria nossa única chance — Eu poderia sair daqui, mas eles iriam nos seguir de qualquer forma, você pode acabar com eles.
— É arriscado demais, eu não posso.
— Ainda precisamos nos encontrar com a Noelle e o Akira, temos que voltar pro Gioll e forçar aquele cara a quebrar a maldição. Se não fizer isso, vamos ficar aqui pra sempre.
Nesse momento, Shosuke hesitava em retirar as suas mãos, seu braço tremia como se tivesse medo.
— S-Se afasta.
Me impulsionando com a força da mana, saltei para perto de uma das janelas longe de Shosuke.
Assim que aterrissei, o chão tremeu, mas não por minha causa. Uma enorme pata flamejante e esquelética caiu sobre as paredes da igreja. Derrubando uma grande parte dessa parede, se revelou uma criatura semelhante àquela que vimos na biblioteca, porém maior e mais forte.
Seu corpo inteiro queimava e dentro de suas costelas, haviam dois núcleos mágicos que liberavam um calor escaldante.
— Puta merda… — agindo no impulso, saltei mais uma vez, agora em direção a besta ígnea — Eu te dou cobertura! Agora acaba com esses daí!
Acertando um golpe certeiro em seu rosto, o monstro foi derrubado. Minha mão estava quente e envolta na fumaça, quando a poeira abaixou os núcleos de mana em seu peito colidiram, causando uma explosão forte o suficiente para apagar a igreja do mapa.
Por um momento, achei que seria meu fim. Ao abrir os olhos, meus braços, que se moveram de forma instintiva para me defender, estavam com um brilho alaranjado, como um metal que acabara de sair da fornalha, pequenos cortes foram feitos em minhas roupas e corpo, mas nada que não pudesse ser tratado posteriormente.
Logo depois me dei conta de que gotas d’água caíam sobre mim, evaporando no exato momento que entravam em contato com meus punhos. Sem entender absolutamente nada, olhei para frente e lá estava um velhote pequeno e bigodudo, segurando uma bengala que conjurava uma bolha grande o suficiente para cobrir nossos corpos na sua mão direita, enquanto a mão esquerda direcionava um fluxo d’água para mim e Shosuke, curando nossas feridas.
— B-Barman?
— Por favor, aqui fora me chamem de Sig.

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