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Este era o primeiro dia de treino no Reino de Antares. O Sr. Frost nos levou para um galpão distante da base militar e disse que ali seria aonde iríamos treinar para evitar alguns problemas, eu perguntei quais tipos de problemas poderíamos encontrar, mas ele preferiu não me dizer.
— Esse era o antigo armazém da vanguarda durante a Guerra do Milênio. Quando a guerra esfriou, virou apenas um galpão abandonado.
— Tá, mas porque trouxe a gente aqui?
— Tem uns probleminhas ali e aqui, mas no geral, será um treinamento intenso e vamos precisar de espaço para trabalhar — ele abriu o portão de metal, revelando um espaço gigantesco — Suas habilidades também não são nada comuns, chamaria uma atenção desnecessária para nós.
— É, faz sentido — Saki estava mais cheia de si do que o normal.
Enfim entramos no armazém, ele era tão grande quanto vazio e nossos passos ecoavam por todo o lugar. Em um bater de palmas do Frost, as luzes ali se acenderam.
Ponto de Vista de Saki:
Eu estava ansiosa para refinar minhas habilidades, mas ainda assim havia uma preocupação: o tempo. Era nítido que precisaria me desenvolver mais, porém, o limite da paciência de Lilith era desconhecido.
— Antes de começarmos, vou pedir para que os 3 usem isso — da outra ponta do armazém, Frost trouxe uma maleta e ao abri-la, revelou três roupas idênticas.
— Qual é o problema das nossas roupas? — perguntei curiosa.
— Além da sua jaqueta pesada e brega, nada — disse friamente.
— O que tem de errado com a minha jaqueta? — olhei para Noelle e Shosuke em busca de respostas, mas ambos desviaram o olhar sutilmente — Não é tão feia assim…
Chateada, pus o traje. Ele tinha um tecido leve e confortável de cor preta, com algumas linhas vermelhas do ombro ao pulso e do tórax à cintura se dividindo em mais duas linhas da cintura ao tornozelo em ambos os lados.
— E então? O que acharam? — perguntou com um sorriso orgulhoso.
— É um pouco apertado, mas confortável — Noelle respondeu.
— Eu achei ótimo, sinto meu corpo bem mais livre.
— É bom que gostaram. Esses trajes foram feitos especialmente para o treinamento dos Cavaleiros Antarianos. Com eles, vou poder analisar suas estatísticas e melhorar seu desenvolvimento.
— Vou poder ficar com ele depois disso? — perguntei com a ganância no olhar.
— Não — meu sorriso desapareceu no mesmo momento — mas podemos discutir isso — o dia voltou a ter luz.
— Vamos começar com algo simples: um mano a mano durante 5 minutos, sem magia nem armas, apenas artes marciais. Primeiro você, depois você e finalizamos com você — apontou para mim, Shosuke e Noelle respectivamente.
— Um 5 minutinhos sem perder a amizade? Gostei.
Ambas as lutas não foram diferentes do que aconteceu na arena, nenhum de nós acertamos um único golpe em nosso instrutor. Ele estava lá, sorrindo sem nem mesmo uma única gota de suor.
— Vocês são impressionantes, mesmo com suas habilidades brutas, tem muito a se explorar ainda.
— Fala como se a gente tivesse feito alguma coisa.
— Não se importe muito com isso, vai ver que em pelo menos dois anos não serei um oponente tão difícil assim.
— Dois anos? Não sei se tenho todo esse tempo — mesmo ansiosa por melhorar, o tempo que Lilith me deu era incerto.
— É melhor que tenha, nenhuma fonte milagrosa de poder vai te deixar realmente mais forte.
— Pode traduzir?
— Seu poder bruto é fascinante, mas falta técnica. O que quero dizer é: Força bruta é importante, mas isso não basta para vencer um inimigo mais forte do que você.
Eu imaginava se era isso que precisava para derrotar Samaell, meu poder explosivo não foi suficiente, não havia outra opção além de refinar esse poder.
— Tem certeza que isso vai funcionar? — busquei sua confirmação.
— Funcionou com 8 dos 9 Soberanos.
— Quem são esses “Soberanos”?
— Um grupo de Cavaleiros. Haviam 7 deles assistindo a luta, além de mim é claro — o orgulho era nítido em seus olhos.
— E o que aconteceu com 1 entre os 9 Soberanos?
— Ele? Ah, ele apenas não precisava passar por isso.
— Saquei… De qualquer forma, se isso vai me fazer ficar mais forte, não importa.
— Isso aí — Noelle se aproximou — seja lá o que tivermos que fazer, vamos fazer! — disse com determinação.
— HAHAHAHA! É por isso que gosto de vocês! — ele gargalhava — Então chega de enrolação! Vamos começar!
Ponto de Vista de Frost:
2 anos se passaram desde que conheci esses jovens tão talentosos. Em pleno sol ao meio-dia, Saki desgastava suas bandagens sujas e rasgadas, desferindo golpes contra um boneco de treino que desviava de seus punhos e contra atacava em seus pontos fracos. Devido a sua evolução, Saki foi capaz de se proteger de cada ataque e o finalizou com um soco que acabou quebrando o torso da máquina. Shosuke treinava seus reflexos, cortando diferentes objetos que caíam em sua cabeça enquanto Noelle, longe de todos levitava no canto do armazém, criando faíscas por todo o seu corpo, fazendo marcas aparecerem pela extensão de seus braços e rosto e erguendo seu cabelo. A quantidade de raios que a mesma criava aumentava, mas antes de atingir o seu ápice, Saki a atrapalhou.
— Noelle! — gritou enquanto limpava o suor de sua testa — A gente já tá indo comer. Você vem?
— Hã? — seu corpo pousava agressivamente no chão, mas ela não parecia incomodada — Já estão indo? — perguntou sem a menor noção do tempo que estava ali.
— Tamo aqui desde cedo, tá na hora de dar uma pausa — Saki estendeu a mão para sua amiga.
— Tem razão — Noelle aceitou a ajuda e levantou-se imediatamente — Vai vir também, Sr. Frost? — perguntou direcionando seu olhar para mim.
— Não — sorri amigavelmente — tenho uma reunião importante agora, vejo vocês mais tarde.
— Então tá, até mais.
— Até.
Após saírem do armazém, fui o mais rápido que pude para a sala de reuniões dos Soberanos. Lá, Rosa, uma mulher de cabelos ruivos e olhos verde-musgo, que vestia uma armadura envolta em vinhas e espinhos, resmungava, como de costume.
— Que parte do “Meio dia esteja aqui” você não entendeu? — perguntou enfurecida.
— Os guardiões da Bruxa Celestial estavam terminando seu treinamento, peço perdão pelo o atraso.
— Não precisa ficar inventando nomes e títulos para pirralhos aleatórios — suas palavras eram mais frias do que meu escudo de gelo — todo mundo sabe que isso é só uma desculpa para poder faltar ao trabalho.
— Não seja assim, Rosa. Se soubesse do que esses “pirralhos” são capazes, tenho certeza que ficaria impressionada.
— Você é o único que se dispôs a cuidar do treinamento da Bruxa Celestial pessoalmente e ainda por cima escondeu a identidade de dois forasteiros DENTRO da casa real. Eu te conheço há anos, e arriscar tudo que conquistou por conta de meros adolescentes não faz o seu tipo.
— É por isso que você é a única pessoa que sabe sobre isso — eu me aproximei silenciosamente, a surpreendendo. Cheguei perto de seu ouvido e sussurrei — e é por isso que mais ninguém vai ficar sabendo disso, não é?
Como resposta, Rosa perfurou minha garganta com um de seus espinhos.
— Ou você é burro demais para esconder isso, ou é esperto demais para não revelar.
Meu corpo, já pálido, derreteu em água por cima da minha amiga de trabalho. Do outro lado da mesa, afastei uma das cadeiras e me sentei frente a frente com ela.
— Já falei pra parar de fazer isso! — ela reclamou — é nojento! — usando as vinhas em sua armadura, secou a água que corria sobre o lado esquerdo do seu corpo.
— Vamos ao que interessa — com um documento em mãos, joguei as cartas na mesa, 2 envelopes lacrados com etiquetas de restrição — Kaiser J. Pinocchio, ao que tudo indica, esse é o líder da organização “Sombra Dourada”, foi visto em um bar na zona oeste da capital — disse enquanto Rosa retirava os papéis dos envelopes.
— Estamos procurando ele desde que saiu da prisão há dois anos. Como conseguiu essa informação?
— Isso não vem ao caso. Já conhecemos o cara, o problema tá no segundo envelope.
Minha amiga ruiva o pegou cuidadosamente e tirou uma foto de um homem encapuzado em um manto vermelho, com um símbolo em espiral nas costas.
— Quem é esse? — perguntou confusa.
— Aí é que tá. Não temos nomes, rosto, origem, parentesco, nada que ligue esse cara ao Pinocchio.
— Mesmo que não tenha envolvimento, é claramente uma imigração ilegal.
— Houve uma atividade suspeita entre os dois naquele bar. Pinocchio saiu e deixou algum tipo de dispositivo em cima da mesa, pouco tempo depois esse cara chegou e desapareceu com o dispositivo assim que saiu.
— Poderia ser alguma coincidência?
— Dificilmente. Mandei um de meus soldados investigar e descobrimos que não é a primeira vez que algo do tipo acontece. O dono do bar se recusou a responder outras perguntas, mas deixou escapar que o homem de capuz tem uma cicatriz horizontal em cima de seu nariz.
— Temos uma pista.
— Isso, temos uma pista.
— E qual é o seu plano?
— Ainda não tenho um, mas tô pensando em mandá-los dar uma volta na zona oeste.
— Espero que esteja se referindo à sua divisão… — disse desconfiada.
— É claro, mas quem sabe se-
— Senhor Frost! — De repente, Saki interrompeu nossa conversa ao abrir a porta com tudo.
— Saki? O que está fazendo aqui? — minha mente entrou em confusão no mesmo instante.
— Não deveria estar aqui, garota! Não pode estar aqui! — Rosa ergueu sua voz.
— É, eu sei, mas não pude deixar de ouvir a conversa…
— O quê? Como? — sua raiva se transformou em dúvida.
— A porta tava meio aberta… e eu fiquei um pouco curiosa.
Rosa gaguejou ao procurar palavras para se expressar e ao falhar, olhou para mim com seu rosto da mesma cor que seu cabelo. Eu apenas assobiava ao vento, como quem não tivesse nada a ver com aquela situação.
— O que eu faço com você… — suspirou em desapontamento.
— Eu acho que posso ajudar. Pode me mostrar a foto?
— É lógico que não! — enquanto isso, Saki já estava analisando a foto assim que passei para ela — O inferno te espera, Frost… — Rosa desistiu de argumentar.
— Eu reconheço esse símbolo, tenho uma ideia de quem está por trás disso…
— Ótimo, então comece a falar.
— Eu gostaria de cuidar desse caso eu mesma. Sei que nesses dois anos tudo que fiz foi treinar e capturar alguns criminosos amadores, mas se essa pessoa for quem eu acredito que seja, sei que posso lidar com ele mais facilmente.
— Como vai garantir isso?
— Não tenho como provar.
— Eu acredito nela — respondi brevemente — Não me leve a mal Rosa, mas não acha que nossa equipe tá precisando de sangue novo?
— Essa garota mal sabe como socar!
— Vai por mim, ela chegaria perto de vencer você num mano a mano.
— Perto? — Saki questionou indignada.
— Tá, ela ganha com muito esforço.
— Acho que posso aceitar isso.
— Argh! Saiam logo da minha frente e façam o que quiserem.
— Isso quer dizer que ela confia em você e que te deseja sorte!
— NÃO QUER NÃO!
Ao sair da sala, Saki e eu andávamos pelos corredores em direção ao armazém. Ela estava animada e todos ao redor notavam. Sua adaptação era nítida, todas as pessoas a respeitavam e a consideravam uma pessoa de confiança, mesmo com piadas e brincadeiras infantis uns com os outros.
— Não posso esperar pra contar pra Noelle e pro Shosuke. Eles vão gostar de ter algo diferente pra fazer!
— Calminha aí — infelizmente, tive que cortar sua alegria ali mesmo — Vou deixar você cuidar desse caso temporariamente, mas essa ainda é uma operação secreta, então não saia contando pra todo mundo.
— Certo… mas o que eles vão fazer então?
— Noelle está prestes a terminar seu treinamento aqui em Antares, logo logo deve estar voltando a sua viagem para o próximo passo da “Jornada aos Céus”
— É mesmo, então devo me preparar pra partir também.
— Não pensa em ficar? Você daria uma ótima Soberana.
— Infelizmente, não. Tenho alguns assuntos a tratar, sem contar que prometi que a ajudaria em qualquer dificuldade.
— É uma razão admirável, mas é uma pena.
— Não precisa chorar quando eu for embora.
— Você é convencida, garota.
Nós rimos sutilmente e então separamos nossos caminhos.
Ponto de Vista de Saki:
Por conta de outros assuntos que tinha a tratar, cheguei tarde da noite em casa. Todas as luzes estavam apagadas e assumi que Noelle já estava dormindo. Em silêncio entrei exausta em meu quarto e ali mesmo apaguei.
No dia seguinte, pronta para começar minha missão, coloquei minha roupa favorita. Um conjunto esportivo preto, com um top justo e uma calça legging. A calça possui duas listras brancas na vertical que combinavam com a cor da jaqueta de algodão preta com detalhes roxos e brancos na gola e na ponta das mangas. Deixei o zíper da jaqueta aberto pelo estilo, mostrando assim meu colar que brilhava sutilmente em sua joia violeta em formato de gota. Coloquei meu melhor tênis, um preto de cano alto que abraçava meus pés como nuvens. Por fim, prendi meu cabelo em um coque levantado valorizando minhas mechas roxas. Antes de sair, escrevi em um bilhete para minha amiga quando acordasse, dizendo que teria algo a fazer e poderia demorar para voltar e então, saí em rumo a zona oeste.
Pelo dia, sem dar satisfação a ninguém, saí da zona segura do reino e fui até a zona oeste. Algumas pessoas me reconheceram no caminho, alguns amigos que fiz no tempo que passei naquele lugar. Já fazia 2 anos e 6 meses desde que tinha chegado a este mundo e eu já estava acostumada e habituada com as diferenças do lugar de onde vim, mas uma coisa era certa nos dois mundos, reconhecimento nem sempre é uma benção. Para evitar problemas, cobri minha cabeça com o capuz da jaqueta e continuei caminhando.
À medida que me aproximava da zona oeste, mais do submundo de Antares aparecia. Em um lugar onde as pessoas trocavam braços e pernas por membros mecânicos, onde cada quarteirão era tomado pela insalubridade, eu me destacava por ter roupas limpas e membros de carne e osso. Olhos desconfiados se voltaram para mim e eu precisava me apressar antes de causar problemas.
Depois de passar quase o dia inteiro no submundo da cidade procurando informações, a lua tomou o céu e sem obter sucesso, decidi voltar e tentar novamente no outro dia, mas ao virar uma esquina, vi uma pessoa de manto vermelho conversando com uma outra ocultada pela sombra, sem pensar, agi instintivamente.
— Akira? — gritei.
A pessoa virou-se para mim, a sombra de seu capuz me impediu de ver seus rosto por completo, mas o pouco que pude ver acima de seu nariz me confirmou a existência da cicatriz. Ela correu assim que me viu e logo em seguida comecei a segui-lá. A noite começou a cair enquanto corríamos, a figura encapuzada irrompeu pelas ruas, saltando sobre os obstáculos e correndo com agilidade como quem conhecesse aqueles becos com a palma da sua mão, cada passo que dava me aproximava de seu manto que continuava a desaparecer e reaparecer habilmente à frente.
Eu acelerei o ritmo, ambos os pés batendo no asfalto quebrado, o sujeito virou bruscamente em uma viela e sem hesitar usou as extremidades do beco para se impulsionar para cima, marcas de queimado foram deixadas nas paredes o que me dava mais certeza de quem estava por debaixo do manto. Suas ações pareciam desafiar as leis da gravidade, se movimentando para cima e para baixo acima dos prédios naquela floresta de aço.
O manto subitamente desapareceu, minha respiração estava começando a ficar pesada, minha mente estava certa de quem estava por trás do capuz. Meus olhos procuraram por rastros, mas abaixo de mim só havia o breu entre os prédios. O tempo que tive para recuperar foi o mesmo que tive para entender que era o fim de linha. Olhando ao redor, percebi que estava sozinha em meio àquele labirinto decadente. O manto vermelho havia escapado, deixando apenas o eco da sua presença no ar, mas depois de ter chegado tão perto, não pude desistir assim, então me arrisquei com o coração acelerado e me joguei na escuridão da cidade.
Não havia nada ao meu redor, tudo que escutava era o som de uma goteira bem sutilmente e em poucos segundos vários passos caminharam em minha direção, seus membros de aço rangiam e eles apareciam cada vez mais. Não havia escapatória, meu ombros se alinharam e ali mesmo firmei a base
— Esperem! — uma voz familiar gritou.
Todos recuaram, eles pareciam surpresos com sua presença. Uma luz apareceu acima de mim, em uma longa viga metálica, a silhueta de um homem era formada, sua capa esvoaçava ao som das brasas e enfim, ele foi ao chão agilmente e aproximou a chama de si revelando parcialmente seu rosto.
— Ela tá comigo — Eu pude enfim reconhecer o rosto do meu amigo.
— Akira! — meu corpo relaxou no mesmo instante e logo corri para abraçá-lo.

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Olá, eu sou Smaell!

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