Enquanto andavam seguindo o mapa, Saki começou a ficar cada vez mais ofegante, um cansaço repentino tomou conta do seu corpo. Ela sentia um calor insuportável e mesmo se abanando com o mapa, não melhorava de forma alguma.
— Saki? Tá tudo bem?
— Tá… Tá sim — respondeu com a respiração pesada — Tá tudo bem sim.
— É que… Você tá um pouco vermelha
— Eu tô é? Deve ser o calor.
— Espero que seja só isso…
Elas andaram por bastante tempo pela cidade guiadas pelo senso de direção da Saki. Ao entrarem num beco, Saki percebe que chegou na marcação do mapa.
O beco era bem largo, com alguns sacos de lixos e cartazes velhos nas paredes.
— É aqui não é? Parece bastante com o lugar no mapa.
A estrutura se parecia com uma casa de ferreiro medieval e dava um grande contraste com o resto das casas na região.
Saki se aproximou da porta e bateu 3 vezes.
De repente, uma voz grave gritou de dentro da casa.
— JÁ VAI
Noelle se assustou com o grito repentino enquanto Saki mal havia o escutado, apenas se encostou lentamente ao lado da porta.
Era possível ouvir o som de passos pesados andando rapidamente, passos esses que se aproximavam cada vez mais até que finalmente a porta se abriu.
Um homem enorme e careca apareceu bem na frente de seus olhos.
Ele tinha aproximadamente 2,25cm, usava um avental branco um pouco sujo de poeira e ferrugem, e roupas típicas de ferreiro como botas e luvas grossas. Também tinha uma enorme e marcante barba no estilo mutton chops.
— Forja dos Bruxos, Galliard ao seu dispor, o que desejam? — disse o homem com um sorriso gigantesco em seu rosto.
Um silêncio perpetua por alguns segundos.
— É… Saki? — Noelle virou sua cabeça lentamente para o lado, esperando que Saki falasse algo..
Noelle e Galliard olham para o lado e viram Saki desmaiada na parede com rosto vermelho e com queimaduras em volta do pescoço.
— Ei garota?! — O homem gritou espantado com a situação.
— Essa não! — gritou Noelle — Ela desmaiou de novo!
— Como assim de novo? — Galliard segurou Saki pelos ombros e tentou chamá-la para a realidade.
Ele olhou bem para Saki e percebeu que ela estava usando um colar que lhe era familiar.
— Eu não acredito! Saki Nakamura? — Surpreso, olhou para Nolle buscando uma confirmação.
Noelle afirmou com a cabeça.
— É ela mesmo, o que houve?
— Ela está fervendo!Vamos! Entre!
Galliard carregou Saki e a levou para dentro, jogou sua mochila em cima de uma mesa com diversos frascos com líquidos brilhantes e a deitou no sofá
Diferente do que se apresentava por fora, a casa era infinitamente maior, possuindo até mesmo um segundo andar, com várias decorações antigas e sinistras como cabeças de monstros e armas brancas com sangue ressecado em suas lâminas. A casa inteira era bem iluminada com tochas de chamas brancas.
— Espera um segundo, não tira o olho dela! — Ele subiu as escadas rapidamente, deixando Saki sob supervisão da Noelle.
— Pera! O que?
Noelle ficou confusa, sem saber com o que poderia de fato ajudar.
Ela ficou parada olhando para Saki esperando Galliard voltar
Antes que ele retornasse, Saki acordou.
— N-Noelle? — Saki se levantou rapidamente.
— Saki? Não! espera — falou Noelle a segurando — Você tem que descansar!
— Hã? — Até mesmo ela não sabia o que estava acontecendo, ao menos sabia como acabou deitada no sofá.
Noelle percebeu que estava a segurando e rapidamente tirou suas mãos.
— Me-Me desculpa! Eu não queria-
— Tá tranquilo — Saki repousou suas costas no sofá novamente — O que aconteceu?
— Você tava pegando fogo e então desmaiou.
— Eu peguei fogo?
— N-Não foi isso que eu quis-
— Eu entendi hahahaha.
Saki parecia ter melhorado, mas nada garantia que ela não desmaiaria novamente, então Galliard chegou e se surpreendeu ao vê-lá.
Ele sentiu algo estranho vindo de Saki. Em sua visão, conseguia ver uma fumaça estranha emanando de seu corpo, algo que Saki e Noelle não conseguiam.
Galliard não contou nada para elas, mas continuou intrigado com a situação.
— Ah! Você acordou! — disse Galliard.
— Quem é você? Ah! Me desculpa, primeiramente, obrigada!
— Sem problemas! Meu nome é Galliard.
— Eu sou-
— Saki Nakamura — interrompeu
— O que? Como você sabe? — perguntou surpresa ao saber que alguém de outro mundo a conhecia.
Galliard aponta para o colar e diz.
— Esse colar… você é filha daquele velho esquisito, não é?
— Fala do meu pai? Bem… Acho que sim! Ele era um pouco estranho…
— Ele disse que viria. Só não imaginei que estaria tão doente.
— Doente? — espantou Noelle.
— Doente? Mas eu tô me sentindo bem.
— Por onde vocês vieram?
— Pela Floresta dos Macacos, por que?
— O que! — Galliard teve uma reação preocupante, as meninas logo se assustaram — Qual é o problema dele?
— Lá é realmente tão perigoso assim?
— É um caminho muito perigoso para vocês! Ainda mais quando não se tem o devido preparo ou um núcleo de mana ativo.
Noelle ouviu as palavras de Galliard e instantaneamente parou de prestar atenção na conversa.
“Sem mana? Mas… Sem mana… Eu não vou conseguir!”
Após algumas tentativas, Saki gritava por Noelle — Noelle!
Noelle voltou para a realidade e viu que Galliard nem estava mais ali.
— O-O que foi?
— Tá tudo bem? Você tava em outro mundo.
— Tá tudo bem…
— Enfim, Galliard disse que eu posso ter pego alguma doença na floresta, então ele vai fazer alguma coisa pra tratar isso. Eu não entendi muito bem.
— Ah, é… certo.
— Tá tudo bem mesmo?
— Claro! — disse Noelle sorrindo gentilmente.
De repente, Galliard voltou com um chapéu de bruxa na cabeça e uma cadeira na mão e diz:
— Saki, sente-se nessa cadeira, por favor.
— Certo!
“Um chapéu de bruxa?” pensou Noelle surpresa.
Segurando o braço de Saki e o apoiando em sua perna, pressionou seu pulso levemente.
“Ele é um brutamontes mas seu toque é muito suave e gentil” pensou Saki.
— Saki, o que eu posso fazer agora pode doer um pouco. Acha que aguenta? — perguntou Galliard.
— Claro! Manda ver!
— Noelle, conte até três por favor.
— C-Certo! 1…
Antes que Noelle terminasse sua contagem, Galliard pressionou o pulso de Saki com força.
— AAAAAAARG! — Saki gritou de dor.
O esperado, era que suas veias brilhassem em azul, porém, o que corria em suas corpo tinha cor preta, o que assustou Galliard.
Noelle, assistindo tudo de perto, se assustou com o grito.
Galliard soltou seu pulso rapidamente.
Seu rosto estava pálido, em todos seus anos de vida, esse fenômeno sempre vinha acompanhado de uma catástrofe.
— P- Pronto… Como se sente?
— DOR! Eu tava esperando chegar no três sabiá? Fora isso, não sinto nada fora do normal além do calor.
Eu preciso de um pouco de tempo para poder te dizer o que está acontecendo, então por favor deite-se e descanse um pouco, vou preparar algo para comerem.
— Err… — Saki não entendia muito bem o que estava acontecendo, então não se preocupou muito e esperou pacientemente.
Deitada no sofá, Saki notou que Noelle parecia um pouco aflita.
— Foi mal te arrastar pra isso. Deve estar entediada.
Noelle não havia escutado nenhuma palavra.
Ela estava imersa em seus pensamentos e tudo ao seu redor era abafado.
Saki estranhou isso e pegou em sua bolsa um elástico de cabelo.
Ela o esticou o suficiente para mirar em direção a Noelle e ao disparar o elástico, acertou seu ombro.
— Waaah!
— Hehehe! Você se assusta fácil. — Saki riu sutilmente
— Desculpa… — disse Noelle.
— Não tem que se desculpar por isso. Fala aí, o que tava pensando? — perguntou.
— N- Nada demais — respondeu Noelle.
— Qual é, você sempre tá em outra dimensão. Tem alguma coisa te incomodando? — insistiu.
— Não haha… — riu Noelle envergonhada e esfregando seu nariz com o dedão de forma sutil — É sério, não é nada. Não precisa se preocupar. — respondeu se levantando — Eu vou ao banheiro, já volto.
— Então tá…
Noelle foi até o banheiro e lavou seu rosto. De repente a voz de Galliard surge em seu ouvido sussurrando em uma língua estranha.
Noelle se espantou com o que ouviu e saiu rapidamente do banheiro para ir em direção ao sussurro.
“Isso foi um feitiço! Eu tenho certeza!” Pensou Noelle
Andando na ponta dos pés, ela se aproximou de uma porta meia aberta.
Olhando pela pequena abertura da porta, Noelle encontrou Galliard com uma pedra branca, brilhante e pequena em seus dedos.
Seus olhos brilharam e ela mal conseguiu conter sua empolgação
— Até quando vai ficar escondida aí? — disse Galliard olhando para trás com o canto dos olhos.
Noelle se assustou ao perceber que foi descoberta e se escondeu atrás da porta.
Ela ouviu os passos pesados de Galliard indo em direção a porta. Quando pensou em sair dali, Galliard abriu a porta revelando um quarto repleto de objetos mágicos.
Ao contrário do que se pensava, Galliard estava sorridente dizendo:
— Está querendo saber o que eu estava fazendo?
Noelle negou com a cabeça.
— Hehe! Não tem problema! Pode vir.
Relutante, Noelle se levantou e entrou no quarto.
Lá ela viu diversas estantes de livros, chapéus de bruxas, poções e várias “pedras” diferentes.
Seus olhos brilharam surpreendidos ao ver tantas coisas. Ela andou pelo quarto admirando cada objeto em cada estante, até chegar à uma mesa onde estava a pedra branca em que Galliard mexia.
— O que é isso? Estava fazendo para a Saki?
— Sim… isso é uma gema de contenção. Um artefato de selamento.
— Um artefato de selamento? Mas para que a Saki precisaria disso? — perguntou curiosa.
— É o motivo de sua febre, e se não usar isso agora, pode ocorrer mudanças em seu temperamento e até mesmo em seu físico, não é algo bonito de se ver…
— M-Mas o que ela tem?
Galliard, olhando para baixo, puxou um papel e mostrou para Noelle.
— N- Não é possível!