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Todos ficaram surpresos com a declaração da vampira de cabelo rosa e sem entender o porquê de seu ódio, Noelle, mesmo assim, afirmou.

— Se você tem tanto ódio, sem nem mesmo me conhecer, acredito que isso se trate de alguém de muito tempo atrás.

— Isso não importa — com seus dentes cerrados.

— Realmente, não importa — respondeu friamente — sei que está em busca do Etheris, se nos ajudar, deixarei que fique com ele.

— Noelle? — gritei preocupada — Enlouqueceu de vez?

— Não tem com o que se preocupar — respondeu com um sorriso gentil — afinal, ela não é uma pessoa ruim!

— Tsc! — o rosto da vampira se tornou vermelho como um morango — Certo — hesitante e raivosa.

Ainda desconfiada, eu levantei a gaiola lentamente, a libertando. De certa forma, eu estava feliz pela atitude da minha amiga, vê-la daquela forma me fez pensar que não importe o quanto ela mude, seu coração gentil sempre permanecerá o mesmo.

— Não pense que deixei de odiá-la por causa disso! — afirmou convicta — quando isso acabar, ainda vou atrás de você!

— Sei, sei — levemente debochada — vai me avisando.

— Vou perguntar os detalhes dessa “missão” mais tarde — Rapidamente, começou a levitar sutilmente.

— Até mais, Cheng! — me despedi.

— É GWEN! — voou furiosa para os céus.

Noelle suspirou aliviada, sorrindo alegremente.

— Como tem tanta certeza que podemos confiar nela?

— Bem… alguém me ensinou que às vezes vale a pena confiar no instinto — olhando pra mim com um sorriso sarcástico.

Nós duas sabíamos de quem ela estava falando e com isso, rimos discretamente.

“Clap! Clap! Clap!” Ranga batia palma enquanto andava em nossa direção.

— Uma Bruxa Celestial! Mas que belo achado!

— Nem começa! Não vamos cair em nenhum de seus joguinhos!

— Ah, que isso! Não tem nada disso não! — com uma voz leviana — Apenas acho que começamos com o pé esquerdo, não é mesmo? — segurando a mão da Noelle enquanto a balançava para cima e para baixo.

— Tem razão, hehe! — a mesma sorria.

— Agora que fizeram esse favor para mim, posso confiar em vocês! — entregando o Etheris na mão da jovem bruxa.

— Então vai nos ajudar?

— É claro! É sempre bom manter uma boa lista de contatos! — olhando para Noelle.

Dando um passo à frente, olhei no fundo dos seus olhos, estendendo minha mão.

— Tem um bar em um vilarejo aqui perto, nos vemos lá em dois dias!

— Fechado! — apertando minha mão com firmeza — Mas já deixo avisado, esse pacto tem um limite!

— Como quiser!

Agora que finalmente conseguimos a ajuda que precisamos, podíamos finalmente voltar para o hotel.

No caminho, Noelle, Akira e eu conversávamos sobre o que acabara de acontecer.

— E o Etheris? Não vai ser perigoso deixar algo tão importante na mão de uma pessoa como aquela?

— Bem, ela não sabe como abri-lo, então não vai ser um problema!

— Ah, sua malandrinha! — sorri enquanto a cutucava com o cotovelo.

— Noelle — Akira interrompeu — Você vem sorrindo bastante, comparado há quando a gente se conheceu, parece que tá bem mais feliz.

— É verdade! — concordei — há alguns anos, eu nunca imaginei que você teria alguma atitude como a de hoje! Você mudou mesmo, fico feliz!

— S-Sério? — seu rosto fofo ficava cada vez mais vermelho com os comentários — Bem… acho que nem eu reparei nisso! — com um belo sorriso.

Ao longe, escutamos uma gritaria algumas ruas distantes, nós ficamos curiosos com o que estávamos acontecendo, então corremos direto para ver o que era. Ao chegar no local, a rua estava cheia de pessoas olhando para o meio da rua, onde em sua carruagem antiquada, passa um rei barrigudo.

— Nossa, quem hoje em dia ainda usa carroça — comentei com desdém.

— Deve ser por isso que as pessoas estão tão curiosas com isso… — Akira completou.

Noelle estava no mais absoluto silêncio, seus olhos, que haviam perdido seu brilho, seguiam o rei com espanto e medo, como se estivesse paralisada. O rei olhou em nossa direção por um instante, mas nos ignorou e continuou seu caminho.

— Bom, sabe lá o que ele veio fazer aqui, vamos embo- — fechei minha bocaassim que vi o estado da minha amiga.

— Noelle? O que houve? — Akira perguntou assustado.

— Aconteceu alguma coisa? Você tá pálida! — dali mesmo, vendo seu rosto branco como a morte, pude escutar os batimentos frenéticos do seu coração.

— Você conhece esse cara?

— Ele… Ele é — hesitante, falou em meio a gaguejos — O-o meu pai…

Sempre tive em mente que o passado das pessoas não é algo que me fizesse respeito, por isso, nunca perguntei ou procurei saber sobre o passado dos meus amigos. Mesmo assim, vendo a reação da Noelle ao ver seu pai, me trouxe uma curiosidade, ao mesmo tempo que uma preocupação.

— E… qual é o problema?

— N-Nada… — escondendo o rosto entre seu cabelo prateado — eu vou voltar para o hotel! — correndo apressada.

Respeitando sua decisão, mesmo com dúvidas e preocupações, não perguntamos mais nada sobre o assunto e apenas voltamos para o hotel.

O mórbido e angustiante clima no hotel estava me matando, Akira tentava dormir para passar o tempo, enquanto isso, minha amiga, em completo silêncio, folheava as anotações do caderno de sua mãe, mas não parecia estar lendo nada de fato. Além disso, trouxe de volta o velho hábito de esfregar o seu nariz constantemente.

— Noelle — preocupada, a chamei — o que houve?

— Não é nada — negou rapidamente — só estou vendo como vamos lidar com nossa situação atual.

— Quando nos conhecemos, você vivia chorando… e sempre que queria segurar as lágrimas, você esfregava o seu nariz o tempo todo… exatamente como tá fazendo agora.

— Quê? Eu não tô… — parou ao perceber o quão vermelho seu nariz já estava.

— Não precisa falar se não quis- 

— Não — me interrompendo — Não tem problema… é só que… ver o meu pai me fez lembrar de quando eu ainda vivia no meu vilarejo.

— Entendi…

A maneira que Noelle ia desabafando, ela se sentia mais confortável a contar mais sobre sua história e acabou me relatando tudo que passou com detalhes.

— MAS QUE FILHO DA PUTA! — eu cerrava meus punhos com ódio.

— Como alguém consegue ser tão otário? — Akira, atraído pela história, reclamou.

— Pelo visto ele conseguiu prosperar com o vilarejo nos últimos anos e agora se tornou um rei — comentou — provavelmente nem deve se lembrar mais de mim.

— Não tem como um cara assim ter vencido na vida! Não é justo! — eu sentia meu corpo explodir de raiva.

— Isso foi há anos. Agora que contei isso a vocês, me sinto mais leve, obrigada! — agradeceu com um belo sorriso.

— Ah… — respirei fundo tentando me acalmar — Pelo menos você tá bem agora.

“Toc! Toc! Toc!” um dos funcionários do hotel batia na porta.

Akira atendeu rapidamente o chamado, abrindo a porta para um rapaz com um terno elegante.

— Mensagem do Rei Dário para Joele: Vá para a Igreja da Árvore Divina imediatamente — ao dar a mensagem, virou se de costas e foi embora.

— Só pode tá de sacanagem… — cerrei meus dentes com tanta força que quase os quebrei — quem ele acha que é pra ficar mandando em você assim?

Em um suspiro chateado, Noelle respondeu.

— Eu vou…

— Tá falando sério? — Akira declarou surpreso.

— Não sou mais uma criança, também não estou aqui passeando. Pode ser que ele saiba algo que nos ajude na missão.

Eu discordava da sua decisão, mas como uma boa amiga, não pude fazer nada a respeito.

— Não posso te impedir de fazer isso, mas vou com você.

— Não precisa — retrucou rapidamente.

— Eu também! — afirmou já colocando seu bastão nas costas — Nunca se sabe o que alguém assim pode aprontar.

Ela concordou sem muita relutância e logo partimos. O sol acabara de se pôr, as luzes da igreja iluminava a rua quase que por inteiro e em frente a ela, a carruagem do rei estava estacionada ocupando toda a entrada.

A igreja tinha um visual comum, com uma estrutura gótica clássica.

Já o rei, vestia um manto longo de cor vinho, com um véu branco ao redor do seu pescoço. Seu cabelo preto, liso e escovado para trás realçava suas rugas de velhice na testa, enquanto seu grande bigode e barba as escondiam no seu maxilar.

— Oh! Finalmente! — o rei nos viu pouco antes de entrar na sua carroça — Já estava tão atrasada que havia desistido, Joele — comentou olhando nos de cima e com um tom de voz arrogante.

— É No- — Antes que eu o corrigisse agressivamente, Noelle me parou.

— Tá tudo bem — seus olhos eram cobertos pela sua franja, dando um ar umbroso para si.

— Não me lembro de ter chamado esses dois, pelo visto você continua a mesma incompetente de sempre.

No mesmo instante já senti minha cabeça explodindo de fúria.

— Não me lembro de ter dito que era para vir sozinha… — respondeu na mesma moeda.

— Então você fala? — com um sorriso sádico no rosto.

— Para que me chamou?

— Me acompanhe — voltando para dentro da igreja.

Nós o acompanhamos em silêncio, ele caminhava calmamente pelo interior da igreja, observando os vitrais coloridos espalhados por ela e parando abaixo do único vitral no centro do templo.

Ponto de Vista de Noelle:

— Você sempre foi um peso morto na minha vida… — de alguma forma, suas palavras duras pesavam em meu coração — Só os deuses sabem o quanto eu pensei em matá-la. Quando você fugiu durante aquela tentativa de golpe de estado, vi a situação como uma oportunidade. Nosso vilarejo fazia fronteira com a capital Shryne e então, com um pouquinho de apoio, consegui chegar onde estou hoje.

— E ainda assim anda de carroça — Saki ironizou.

Pensei ter superado meus traumas do passado, mas ao ver o meu pai e ouvir as coisas que ele dizia, eu paralisei. Já enfrentei morto-vivo, metamorfo, até mesmo um dragão e em nenhum momento me senti tão incapaz quanto naquele.

Eu respirava fundo, tentando me manter firme enquanto escutava.

— Seus amigos são tão irritantes quanto você! Na verdade, não. É impossível superar você quando chorava — um turbilhão de memórias assombrosas passaram pela minha mente.

Sem forças, caí de joelhos no chão, ofegante, com a visão borrada pelas lágrimas.

— Noelle! — Akira me segurou em seus braços tentando me acalmar.

— Mas não te chamei aqui para falar disso. Me informaram que uma jovem de cabelos prateados estava em Antares treinando para ser uma bruxa celestial e não pude deixar de ficar curioso. Como alguém tão imprestável conseguiria algo assim?

Um misto de tristeza e raiva me dominava, minhas emoções estavam tão eufóricas que nem conseguia ver o seu rosto.

— Que merda… você tá falando… — Saki murmurava odiosa.

— Saki, vamo embora, deixa isso pra lá! — meu amigo tentava apaziguar a situação.

— Não! É sério! Como alguém tão fraco e inútil poderia se tornar uma Bruxa Celestial? Se você for pensar melhor, você matou uma! — meus olhos se afundaram no obscuro mundo do ódio — Viollet era uma bruxa tão linda. Claro, eu apenas a usei para conseguir uma posição privilegiada, mas depois que ela morreu, não consegui nada além de um fardo! Por sua culpa eu não tinha nada! Por sua culpa, Viollet morreu! Tem noção disso? Você matou a sua própria mãe! — com aquela declaração, eu perdi toda a minha vontade.

Ele ria de forma perversa, gargalhando como nunca antes.

Eu me sentia fraca e inútil, dando razão para suas palavras. Em meio as lágrimas, escutei o piso de madeira se quebrando brutalmente.

— Aí, Saki! O que cê tá fazendo? — Akira a segurava pelo braço.

— É garota! O que pensa que tá fazendo destruindo algo tão sagrado? — juntando o pouco de força que havia em mim, olhei para cima, vendo Saki andando lentamente em direção ao meu pai — Pelo visto sua amiga gosta de destruir coisas importantes assim como você! — olhando diretamente para mim.

— Quer saber? Vai lá! — soltando o braço da besta furiosa.

A cada passo que Saki dava, o piso era destruído. Ela emanava uma pressão mágica ridiculamente alta, alcançando um poder que jamais havia alcançado. O rei sentiu o medo sobre seus ombros e seus olhos sádicos logo se encheram de desespero.

— Por acaso sabe quem eu sou? — o suor frio escorria pelo seu rosto ao tentar se manter de pé — Se tocar um dedo em mim, vai se arrepender pro resto da sua vida! Você se tornará inimiga do meu reino para sempre!

Ignorando suas palavras, continuou avançando com seu punho tremendo fervorosamente com toda a raiva que sentia.

— Você não sabe nada sobre ela… e não tem o direito se sair falando essas merdas como bem entender.

— É só ver com ela está no chão! Eu tenho razão! — retrucou.

Sem mais uma única palavra, cravou o seu punho no rosto do rei. Um soco puro e limpo, sem magia, apenas com sua força bruta, o mandando através das paredes da igreja.

Enquanto os estilhaços de vidro coloridos caíam ao seu redor, ela respirava profundamente, voltando a calma.

— É, não tinha como impedir — disse Akira com um sorriso.

— Isso é culpa minha… — eu me lamentava no chão — devia só ter ignorado…

— Não liga pra ele… — Saki tentou me consolar.

— Ele está certo, eu não consegui nem olhar para o seu rosto!

— Particularmente, eu discordo

— Eu também.

Ambos me reerguiam com suas palavras e acalmavam meu coração apenas com suas presenças. Ao mesmo tempo, a dedicatória da minha mãe vinha a minha mente, as mesmas palavras que antes me fizeram chorar, naquele dia me fizeram levantar. As palavras do meu pai me atingiram em um ponto frágil, o qual sempre evitei, mas com a ajuda daqueles que são importantes para mim, finalmente entendi. Dá próxima vez que nos encontrarmos, mostrarei o quão errado ele está.

Ponto de Vista de Saki:

Depois de toda aquela confusão e de enfim conseguir fazer minha melhor amiga sorrir novamente, voltamos para o hotel. Noelle parecia mais leve, mas ainda assim angustiada com o que havia acontecido. No dia seguinte, passamos o dia inteiro discutindo o andamento da missão que nos foi dada, formando o nosso plano para ajudar Dullaham e Nebuloria.

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Olá, eu sou Smaell!

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