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Assim que Renato caiu, agonizando, sobre o próprio sangue, e o soldado que o atravessara com a espada puxou a lâmina brilhante de volta, orgulhoso de si, Angélica se ergueu enfurecida de seu assento.

— Você não deveria ter interferido, soldado! Não deveria!

— M-mas, senhorita… ele… ele zombou dos demônios! Ele feriu nossa honra! Feriu minha honra!

— E que honra tem um demônio de baixo nível?! Que honra tem aquele que fere outro pelas costas?

— A honra que me foi conce…

Antes que ele pudesse terminar, Angélica estendou sua mão, e fios de escuridão, negros e translúcidos, saíram de suas costas, movendo-se como serpentes no ar ou como tentáculos feitos de sombras, e agarraram o soldado demoníaco, prendendo-no em pleno ar, e o atiraram contra a parede.

— Não deveria ter interferido numa luta que não é sua!

— S-senhora Angélica! Piedade! P-piedade de seu servo!

Ela sorriu.

— É claro. Vou poupá-lo de viver com a culpa.

Ela fechou a mão e os tentáculos fantasmagóricos se contorceram, e o soldado foi torcido junto, se despedaçando, e ele foi reduzido a pó. Não teve tempo nem de gritar de dor.

***

Renato, inconsciente, estava deitado num tipo de leito. Embaixo do colchão havia algumas bobinas e pedras radioativas brilhando fracamente; e uma lâmpada, presa por um braço metálico, jogava uma luz verde sobre o garoto. A radiação emitida pela lâmpada e pelas pedras, mais a ação de alguns feitiços complexos cuja teoria envolvia uma matemática pesada, deveria acelerar a multiplicação celular dele, e assim tornar sua cura muito mais rápida.

Clara estava sentada no chão, de olhos fechados, com as mãos sobre a cabeça de Renato. Estava usando seus poderes para garantir que ele, enquanto estivesse ali, teria sonhos agradáveis. Influenciar sonhos dos outros era uma das habilidades típicas de súcubos.

A porta, então, se abriu e Abigor entrou na sala do Recuperador Iônico. Ele trazia uma garrafa de vinho pela metade na mão.

Clara se levantou, assustada. Abigor sorriu para ela e bebeu um gole generoso do vinho.

— Desculpe, não tem o suficiente para dividir.

— O que você quer?

— Eu só vim ver como o primata está, ué.

Abigor caminhou em direção a Clara e Renato, com olhar curioso. Tinha uma coisa que ele queria testar.

— Não. Não tô falando de agora. Por que você trouxe ele aqui? Por que trouxe ele ao Inferno?

— Porque ele insistiu muito. Pobre garoto humano! Os encantos malignos de uma súcubo foram irresistíveis demais para ele. Além do mais, eu estava curioso sobre o que aconteceria.

— Não tem uma guerra acontecendo agora mesmo pra você se preocupar? Por que atender o chamado de um humano como ele?

— Ah, Clarinha. Se esqueceu de que foi você quem me envolveu nisso? É claro que eu não desperdiçaria uma oportunidade dessas.

Abigor chegou bem perto de Clara. Inspirou.

— Como sempre, você está cheirosa.

Clara não respondeu.

— Ah, e a Jade morreu. O Satanakia matou. Bom, tecnicamente quem matou foi o Mercenário Possuído, mas ela ter sido a vítima, e não você, foi culpa de Satanakia. Rolou aquele lance da Substituição Alquímica, entende?

— A Jade? A Jade mor… ?!

Nesse momento, Abigor ergueu a mão, mantendo apenas os dedos indicador e médio esticados, e uma luz brilhou na ponta deles.

— Poderia ficar parada, Clarinha?

Ele aproximou os dedos, que reluziam, à testa dela. Clara se afastou.

— O que está tentando fazer, Abigor?!

Sem responder, ele avançou com velocidade incrível e atingiu um soco na barriga dela, e direcionou uma torrente de energia hermética para o punho, que explodiu e jogou Clara para o alto, fazendo-a se chocar contra o teto. A força do ataque a manteve colada no teto por alguns segundos, devido a inércia, e então ela caiu, se chocando com força contra o chão.

— Por favor, não reaja, Clarinha. Vai ser divertido, garanto.

Abigor se aproximou, novamente com aqueles dedos brilhantes.

— O que pretende, seu desgraçado?!

A súcubo se moveu, aguentando toda a dor excruciante que emanava do abdome, latejando, como se todos os seus órgãos internos tivessem se rompido, e se levantou. As pernas tremiam, mas não cederam.

— Nada demais. Só vou fazer algo que, acredite, vai ser romântico.

— Se chegar perto de mim, eu juro que te mato!

Abigor riu.

— Você não tem poder pra isso, súcubo. É só uma vadia que sabe manipular magia. Seu lugar é num puteiro francês, Clara, não no Inferno. Aquele seu truque de explodir pirocas até que é legal, eu admito, mas não poderia fazer nada contra um demônio de alto nível. Não pôde fazer nada contra o Satanakia e não pode fazer nada contra mim. Essa é a parte divertida de ser mais forte!

Ele se aproximou ainda mais.

— Já disse que se chegar perto de mim, eu te mato! Pode não ser hoje, mas você vai morr…!

Ela foi interrompida pelo segundo soco que levou. Ela chegou a ver o punho se aproximando, tentou desviar, mas não foi rápida o suficiente. Dessa vez ela se chocou contra uma parede e caiu. O choque contra o chão fez sua testa sangrar.

Abigor chegou perto de Renato e o cheirou.

— É incrível. Não tem cheiro de nada! A presença de Arimã é totalmente invisível.

Abigor aproximou os dedos da testa dele.

— Pare! — Clara sussurrou, com dentes cerrados. — Pare! Não faça nada contra ele!

Abigor parou e olhou para Clara, verdadeiramente confuso.

— É sério? Você realmente se importa com esse primata?

— Se afaste dele, seu filho da puta desgraçado! Já disse!

— Clara, eu até entendo ele ficar louco por você; mas por que você se importa? Tudo bem que tem o lance do Arimã e tal, e eu admito que isso é excitante, mas também não é pra tanto, não acha?

— Se afaste agora!

Abigor começou a gargalhar muito.

— Isso vai tornar tudo ainda mais legal! Obrigado, Clarinha! Continue mostrando esse entusiasmo daqui pra frente, certo?

Abigor tocou a testa de Renato, e um círculo mágico brilhou na ponta dos dedos do demônio e desapareceu sob a pele do garoto.

— Certo, a primeira parte já foi; falta você colaborar, herdeira de Lilith!

Clara se ergueu, limpou o sangue escorrendo da testa que cobria seus olhos, e ficou em pose de luta.

Abigor deu um passo em direção a ela.

Clara se transformou em névoa vermelha e preta e avançou contra Abigor; e da névoa, seus punhos brotavam e atingiam Abigor com ferocidade. Foi uma tempestade de socos e chutes. Ela chegou a tentar a explosão peniana, mas as defesas mágicas dele eram fortes demais, e vendo que seria inútil, ela continuou desferindo socos raivosos; mas Abigor era realmente forte, agarrou seu punho no ar e puxou-a, fazendo-a se rematerializar em corpo físico. A névoa desapareceu.

Abigor segurou Clara num mata-leão. Cheirou-a, sentindo o aroma gostoso. Passou a língua pelo lábio.

— Você é realmente cheirosa, Clara.

— Vai se foder!

— Acho que você ainda me deve o pagamento por algo que eu fiz, não deve?

Abigor, lentamente, para que ela pudesse acompanhar seu movimento como se fosse em câmera lenta, levou a mão até o seio de Clara e o apalpou.

— Que maciez incrível! Que textura deliciosa! Ah, os corpos das súcubos são realmente incríveis!

— M-me larga, seu filho de uma…!

Enquanto Clara se debatia, Abigor tocou sua testa com os dedos, e o círculo mágico, assim como em Renato, afundou sob sua pele; e Clara desmaiou em seguida.

Abigor a soltou.

— Garanto que será divertido.

***

Renato abriu os olhos lentamente. Depois os fechou, fazendo uma careta, por causa da luz verde da lâmpada logo acima de sua cabeça que ofuscou sua visão. Sua respiração estava tranquila. Bocejou preguiçosamente. Um cheiro bom lhe tocou as narinas.

— Bem vindo de volta.

Era Clara, sentada no chão, ao lado da cama, com as mãos sobre o peito dele. Ela lhe direcionou um olhar gentil e sorriu.

— Que bom que acordou.

— Tô todo dolorido.

— Você ficou desacordado por uns dias.

— Isso tá ficando meio recorrente desde… desde que eu te conheci — disse ele, com um sorriso.

— Pobrezinho. Se machucando tanto por mim. Você merece até uma recompensa.

Ela pulou pra cima da cama, sobre Renato.

— Ai! Minhas costelas ainda doem! — disse ele.

— Oh, foi mal! — ela se ajeitou, deslizando em direção às pernas dele, tirando o peso de cima das costelas. — Eu esqueci que o Recuperador Iônico não funciona tão bem nos humanos…

Ela sorriu de forma maliciosa e passou a língua pelos lábios.

— O que vai fazer? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Você desceu até o Inferno por mim, Renato. Conseguiu algo improvável, lutou contra um demônio de alto nível e o venceu. E me salvou.

— Ah, é que… sabe… eu só… — As bochechas dele começaram a ficar vermelhas.

— Por isso — ela engoliu em seco, enrubescendo, algo inédito para o rapaz — você merece uma recompensa! Algo que só uma súcubo poderia fazer de forma verdadeiramente magnífica!

Clara correu os dedos até o zíper da calça de Renato e o abriu, umedeceu os lábios novamente, passando suavemente a língua sobre eles, e direcionou a Renato um olhar tão safado, tão pervertido, que ele não tinha visto nada igual nem nos filmes pornôs mais infames.

— Eita, caraca!

Clara, suavemente, começou a se inclinar, abaixando a cabeça em direção àquilo. Seus lábios, semiabertos, estavam úmidos e deixavam o ar quente sair suavemente.

Renato sentiu um frio na barriga, enquanto o coração batia cada vez mais rápido. Borboletas se agitaram em seu estômago.

— É agora, porra!

E então ela parou e suspirou.

— O que foi? — Renato franziu o cenho, preocupado.

— Eu achei que daria tempo, mas…

— Mas?

A porta do quarto se abriu e três soldados demoníacos, portando lanças nas mãos e com espadas na cintura, entraram.

— Que merda! — Renato suspirou. — Quem eu tenho que matar pra finalmente conseguir dar uma namorada em paz?!

Clara riu.

— Precisa matar ninguém, não. Teremos tempo de sobra mais tarde. Esses são servos de Angélica. É melhor não deixá-la esperando.

— Por favor, me acompanhe, humano. Súcubo, pode vir junto, se assim o desejar — disse um dos soldados.

— Fazer o que né?! — Renato se ergueu, resignado, fechando o zíper da calça.

“Quase conseguimos, carinha! Quase!” confidenciou em pensamento a seu amigo de baixo.

Os soldados conduziram os dois por corredores estreitos, entre paredes de pedra, iluminados por tochas crepitantes. Uma brisa fria soprava em suas nucas, não importava a direção que seguiam. Era como uma corrente de ar fantasmagórica seguindo-lhes. E havia uma presença. Um incômodo sem nome.

Renato teve a estranha sensação de estar sendo observado. Era como se olhos estivessem escondidos sob as pedras das paredes, ou flutuando invisíveis logo acima de seu ombro. Um calafrio que se rastejava pela espinha.

Ele inspirou com força e fechou um dos punhos. Clara segurou-lhe a mão e levou os lábios para junto de seu ouvido.

— Calma. Não precisa ter medo.

— É que esse lugar me dá arrepios.

— Você dá arrepios a esse lugar também.

Continuaram seguindo em frente, subindo escadas, passando por corredores que se cruzavam e se ramificavam em muitos outros. Renato percebeu que o interior do castelo era como um labirinto. Não conseguiria andar por esses corredores sem um guia. Ele segurou forte a mão de Clara.

— Não se afaste de mim.

— É claro que não.

Subiram mais alguns lances de escada, e o corredor foi ficando cada vez mais iluminado e menos estreito, se abrindo como um tipo de funil de pedra. Finalmente chegaram nas grandes portas de madeira. Eram enormes. “O que será que tem do outro lado?” pensou Renato. “São tão grandes que até o titã Bestial poderia passar sem precisar abaixar a cabeça”.

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Olá, eu sou o Max Sthainy!

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