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O Corolla de Clara estava parado no estacionamento em frente à delegacia, e o Jetta rosa estava logo ao lado.

Era alta madrugada, com a lua reinando no céu, e uma brisa refrescante agitando as folhas das árvores próximas.

Renato pôs o pequeno quartzo no bolso e segurou o slime em suas mãos. Olhou mais uma vez o prédio adiante: era grande, se estendendo para cima e para os lados. A parede da frente era toda espelhada; e havia o letreiro com o nome e símbolo da Polícia Judiciária Civil.

Tâmara passou a alça da bag pelo ombro e costelas, e se aproximou dele, e tocou em seu ombro. Tinha sido decidido que ela iria junto. Em parte, porque ela insistiu muito, em parte porque Renato achou que a habilidade dela de abrir fechaduras poderia ser útil. Além do mais, ele queria que ela ajudasse porque, afinal, era ela a maior culpada do professor estar preso. Mas, ainda assim, ele não estava muito confortável com isso. Não confiava nela.

Assim que a garota pôs a mão em seu ombro, Renato aproximou o slime de seu rosto. Logo, tanto o rapaz quanto Tâmara ficaram invisíveis.

— Lembrem-se — disse Clara —, se alguém tocar em vocês, vai poder vê-los. E vocês ainda serão perceptíveis para os outros sentidos. As pessoas podem ouvi-los, e um cachorro vai sentir o cheiro de vocês, por exemplo. Tomem cuidado.

— Certo — respondeu Renato.

Todo o mundo ao redor parecia desfocado, enevoado, com pouca luz. A única que ele podia ver claramente era Tâmara, que mostrava seu belo sorriso e seus olhos alegres. Sentiu um arrepio na espinha. Sabia muito bem que o mal podia se esconder atrás de sorrisos tão bonitos quanto esse.

— Você… tá diferente, Tâmara.

— Diferente? — ela deu um sorriso contido. — Diferente como?

— Eu não sei o que aconteceu com você, mas não ataque mais as pessoas que eu gosto, ou teremos problemas.

A garota sorriu.

— Não se preocupe. Não vou te causar problemas.

— Vamos.

Tâmara assentiu. Eles começaram a andar. Ela o acompanhava, com a mão sobre o ombro. Caso se separassem, ela ficaria visível, por isso os passos de ambos eram lentos e ritmados.

Se aproximaram da porta. Renato pôs a mão sobre a maçaneta metálica e a empurrou. A porta se abriu.

O primeiro salão, onde seriam feitos os atendimentos, estava quase vazio. Havia várias baias com computadores e cadeiras para os visitantes.

O único funcionário presente no local, que estava com o rosto abaixado sobre o teclado do computador, ergueu o rosto, com olhar sonolento e olhou em volta. 

Renato e Tâmara ficaram parados, em silêncio. O policial olhava direto para eles. Depois estalou a língua e abaixou o rosto novamente.

A porta tinha se fechado sozinha atrás deles, então continuaram andando lentamente.

No canto direito, ao lado das baias, tinha uma passagem que dava acesso a um corredor lateral, que terminava na parte de trás do salão, atrás dos computadores. Assim que passaram pela passagem, o policial novamente ergueu o rosto e olhou na direção deles. Parecia desconfiado de alguma coisa.

O policial, então, se levantou e foi até uma mesinha próxima e pegou um copo de café. Deu tapinhas no próprio rosto, tentando espantar o sono e voltou para seu lugar. Usava uma camisa social branca com paletó preto. Sob o paletó, na região da cintura, puderam ver o volume da arma no coldre.

Renato e Tâmara continuaram, com passos lentos e ritmados. Ao lado da mesinha, tinha uma porta que dava acesso às salas mais internas da delegacia. Assim que a cruzaram, deram de cara com um elevador logo a frente, e com um corredor que cortava transversalmente, da direita para a esquerda.

Renato parou pra pensar qual caminho tomariam. O elevador seria arriscado porque o policial ouviria. Devia haver uma escada por perto.

Porém, Tâmara o cutucou na bochecha, sem tirar a mão de seu ombro, e quando ele olhou para ela, a garota acenou com o rosto, apontando a direita do corredor.

— Por ali — sussurrou ela.

Renato quis argumentar, perguntar como ela sabia, mas decidiu obedecer.

Tomaram a direita, pelo corredor. Havia muitas portas fechadas, tanto à direita quanto à esquerda.

Enquanto passavam em frente a uma dessas portas, ela se abriu, e um homem saiu de dentro da sala. Renato e Tâmara tiveram que se mover rapidamente, colando as costas à parede, para que o homem passasse por eles sem se esbarrar.

Assim que o homem se afastou, os dois continuaram andando. No final do corredor, uma escada lateral descia para o subsolo.

— Ali — sussurrou Tâmara.

Renato olhou para ela com certa desconfiança, mas desceram.

A escada terminou num local apertado, com iluminação fraca e várias celas do lado direito e esquerdo. Era a carceragem. Assim que chegaram, um alarme disparou.

Poucos segundos depois, um policial chegou. Apontava uma arma em direção a Renato e Tâmara. Moveu a cabeça, rapidamente, em todas as direções, procurando alguma coisa. Depois olhou nas celas. Como não viu nada, franziu o cenho, confuso, e baixou a arma.

Renato e Tâmara notaram o alarme instalado no alto de uma parede, emitindo uma luz vermelha, bem ao lado de uma câmera de vigilância.

O policial coçou a barba rala, ainda confuso, e acessou um dispositivo com painel e leitor para digital na parede. Assim que pôs seu polegar no leitor, o alarme parou. Depois virou as costas para sair. Tâmara, rapidamente, moveu seu pé na direção do alarme, que tocou novamente.

O policial se virou, voltando. Parecia irritado e cansado. Suspirou e desativou o alarme mais uma vez.

Assim que ele virou as costas para sair mais uma vez, Tâmara moveu seu pé na direção do alarme de novo, que disparou.

O policial voltou, tão irritado que parecia a ponto de ter um AVC.

— Merda! Essa porcaria estragou mais uma vez!

Ele pôs a digital no leitor e, assim que o alarme parou, ele digitou alguns números no teclado numérico do painel. O alarme emitiu um sinal, avisando que estava sendo desligado, e sua luz vermelha se apagou. Ainda xingando, o policial virou as costas e saiu da carceragem.

Assim que o policial saiu, Tâmara sorriu, orgulhosa, e estufou o peito.

— Viu? É por coisas assim que você precisa de mim.

Renato não disse nada. Apenas a conduziu em direção à cela onde o professor estava.

O professor estava deitado no chão, com olhar sonolento e triste, com cara de quem estava dormindo há alguns segundos atrás. Não tinha nem um cobertor ou colchão, então ele tinha juntado os braços próximos ao corpo, num abraço a si mesmo, numa tentativa de afugentar o frio. Tinha mais dois homens na cela com ele, em situação semelhante. Um deles tinha um colchonete fino e dormia profundamente, o outro, deitado numa elevação de concreto, também estava acordado.

Tâmara abriu a bag e tirou de dentro uma chave de fenda e um fio de arame. 

— Ok, vamos ver se dá pra abrir.

Ela enfiou o arame dentro da fechadura e começou a movimentá-la, procurando a trava interna; depois enfiou a chave de fenda para forçar a movimentação dos trincos.

O professor olhou na direção da fechadura, percebendo algum movimento. Ele ouviu um barulho metálico e franziu o cenho, e se aproximou da cela, tentando entender o que estava acontecendo.

Olhou para o rapaz que também acordara, para se certificar que não era o único vendo aquilo, mas ele já tinha voltado a dormir. Sentiu um arrepio. Não era do tipo que acreditava em fantasmas, mas a fechadura parecia se mover sozinha, e a cela vibrava levemente.

Então a fechadura se abriu e a porta da cela rangeu e se abriu lentamente. O professor deu um passo para trás, assustado. Renato e Tâmara entraram na cela; e Renato segurou firme o pulso do professor.

O colega de cela que ainda estava em estado meio dormindo, meio acordado, abriu os olhos bem a tempo de ver o professor desaparecendo, como se o próprio ar em volta o engolisse.

O professor viu Renato e Tâmara e, num susto ainda maior, se afastou para trás num salto, e teria se soltado se Renato não o estivesse segurando firmemente.

O colega de cela sentiu os passos no chão e ouviu um grunhido e vozes baixas, mas não viu nada. Então notou que a cela estava aberta e, sem pensar duas vezes, se pôs de pé num pulo e correu para fora.

— Calma, professor! — disse Renato, baixinho.

— O-o que está acontecendo? Vocês?! Por que estão aqui?! — Ele tinha olhos arregalados de medo e tremia.

— Apenas venha conosco.

Renato os guiou para fora.

 Enquanto saiam da cela, ouviram tiros ecoando do corredor adiante e gritos, muitos gritos. Um tiroteio terrível tinha se formado.

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Olá, eu sou o Max Sthainy!

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