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Enquanto Jéssica e Mical eram levadas pelos Cruzados em direção ao templo, notaram o olhar das noviças sobre elas. Sabiam porque estavam sendo levadas naquela direção. O templo não era apenas um local de culto e estudo da palavra de Deus, mas também o quartel general de toda a força militar do Priorado.

Era lá que Vigias e Cruzados se reuniam e traçavam estratégias, e também era lá que conduziam audiências de julgamento, interrogatórios e discutiam toda sorte de questões militares.

As noviças sorriam e cochichavam. Midiã chegou a apontar para o poste de punições enquanto murmurava algo com uma outra garota.

— Vão se dar mal — disse ela, com um sorrisinho.

Após subir as escadas, entraram num quartinho pequeno no terceiro andar que tinha apenas uma mesa de madeira e três cadeiras como mobília. Uma luz amarelada e fraca saía de uma lâmpada incandescente no teto, onde alguns insetos rodeavam.

Kézar sentou-se numa das cadeiras e ordenou que as meninas sentassem nas outras, de frente para ele.

Hernandes e os outros cruzados, subordinados a Kézar, ficaram de pé, próximos à porta, junto do acólito Asafe, que os acompanhou representando o Prior Regente.

— Jéssica e Mical — disse Kézar, num tom de voz calmo, porém seus olhos estavam carregados de ódio. — Por que voltaram?

Mical  o olhou surpresa, enquanto procurava as palavras que usaria. Jéssica a acalmou, colocando a mão sobre a mão de sua irmã.

— Esse foi o lar de nossos pais. Foi aqui que crescemos — respondeu a mais velha.

Kézar se ajeitou na cadeira e pôs os dois braços sobre a mesa, deixando à vista a mão de metal que substituía aquela que tinha perdido.

— Mesmo depois de se associarem aos demônios? Ainda acham que esse é o lar de vocês?

— Não nos associamos aos demônios! — retrucou Jéssica.

— Só estão vivas porque têm uma missão a cumprir. Vamos garantir que a geração de Quemuel tenha continuidade. O homem que colocará as sementes em seus ventres será escolhido em breve.

Jéssica lutou para manter a face neutra, sem emoções. Apertou os lábios um contra o outro, enquanto tentava suprimir o nervosismo, e sua respiração ficou acelerada e profunda.

Mical, no entanto, explodiu de raiva:

— Não vão fazer isso jamais! Vão precisar me matar antes de tentar algo assim!

Kézar deu de ombros e sorriu de forma sarcástica.

— Podemos matar. Só precisamos que uma esteja viva mesmo.

— Se tentar, quem vai morrer é você! — disse Mical, com dentes cerrados.

E logo em seguida, Kézar se inclinou em direção à garota e atingiu um tapa violento em seu rosto, usando a mão de carne que ainda lhe restava. Com a força do impacto, Mical quase caiu de sua cadeira.

Numa reação que levou poucos milésimos de segundos, Jéssica nem pensou. Seu corpo se moveu como por reflexo em direção ao general. De punho fechado. A única coisa que passava por seu cérebro era afundar o soco mais forte que conseguisse dar no rosto daquele general maldito!

Mas Hernandes a segurou e a puxou de volta para a cadeira, e os outros
Cruzados ajudaram a segurá-la, mantendo-a sentada na cadeira e imóvel.

General Kézar direcionou seu olhar enfurecido para Jéssica e estendeu o braço, pronto para atingi-la com um tapa também.

Mas Asafe o impediu, segurando seu braço.

— General, o Reitor Regente não autorizou agressões durante o interrogatório. Quanto a menor, até podemos relevar, mas essa aí deve ficar longe de seus punhos.

Contrariado, o general puxou seu braço de volta.

Jéssica percebeu o quão avermelhado ficou o rosto de Mical, com a marca da mão de Kézar, e se encheu de fúria.

— Essa mão que usou para bater em Mical. Tua única que sobrou. Vou cortá-la fora um dia! E vou sorrir quando você gritar de dor.

Kézar riu com desdém.

— Viram? A violência já dominou a alma dessa garota! Ela ficou tempo demais no mundo profano até que ela mesma se tornou profana. Não tem mais como salvá-la das garras do demônio. — E então ele se aproximou de Jéssica e disse baixinho para que só ela ouvisse: — Vou dar meu nome como candidato para ser a pessoa que vai colocar a semente em teu ventre, menina. E queira Deus que seja eu o escolhido. Porque quando estivermos só nós dois, naquele momento íntimo, vou lhe dar o tapa que ficou faltando… e vai ser com juros.

A única coisa que Jéssica sentiu foi um nojo tão forte que o gosto de vômito chegou a tocar sua língua.

— Podem levar essas duas daqui — disse Kézar. — Não aguento ficar tanto tempo na presença de pecadores!

**

Os Cruzados junto de Asafe conduziram as meninas até o quarto delas, que ficava no segundo andar.

— Entrem — disse o acólito. E, assim que elas entraram, ele passou a chave na porta, trancando-as.

Assim que ficaram sozinhas, Jéssica suspirou e sentou-se na cama, com os ombros caídos. Sua respiração tinha se acalmado, mas o coração permanecia numa turbulência violenta.

— Vou matar aquele desgraçado… — disse a irmã mais velha, com os olhos perdidos em algum canto do quarto. — Vou matar ele por causa desse tapa que ele te deu. Vou cortar a mão dele fora.

— Tá tudo bem, Jés.  Aquele tapa de mocinha nem doeu — disse Mical, com um sorriso.

— Seu rosto tá todo vermelho, Mica. A marca da mão dele está no seu rosto. Imperdoável!

— Antes disso! Vamos ver como está nosso prisioneiro! — disse Mical e foi em direção ao banheiro. — Ai, eu só preciso mesmo de um banho!

Assim que abriu a porta do banheiro e entrou, a menina congelou no lugar e levou a mão à boca, chocada.

— Caramba… !

— O que foi? — Jéssica se aproximou, e: — Caramba!

O soldado que tinham amarrado e deixado na banheira estava com um buraco de tiro na testa e o sangue escorria, manchando a superfície branca da banheira de um vermelho vivo.

— O que acha que aconteceu, Jés? Quem matou ele? E por quê?

— Não sei.

— Não faz sentido! Se alguém encontrou ele, porque não entregou a gente? Por que matou ele?

— Não sei.

— Ah, isso tá ficando confuso! — Mical massageou a própria cabeça.

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Olá, eu sou o Max Sthainy!

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