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O ambiente da taverna exalava um ar denso de cerveja vencida e, mesmo sendo o meio do dia, seu interior estava quase completamente escuro, e as poucas janelas do prédio eram pequenas e cobertas de sujeira marrom-amarelada.

Nela, estavam pouco mais de uma dúzia de habitantes locais, a maioria já embriagada, mesmo que fosse cedo. Poucos deles olharam para Arran assim que ele entrou na taverna, mais logo voltaram a atenção para as bebidas à sua frente.

Arran observou a sala e depois se dirigiu ao dono da taverna. “Eu quero uma caneca de cerveja e uma garrafa de conhaque”, disse ele, pondo uma pequena moeda de prata no balcão.

“Você é um viajante?”, perguntou o homem, lançando um olhar curioso para Arran.

Arran respondeu com um aceno de cabeça. “Eu estou procurando por alguém chamado Crassus.”

O gerente da taverna colocou no chão uma caneca de cerveja com uma garrafa com aparência suja e deu a Arran um olhar inquisitivo. “Quem está perguntando?”

“Alguém com pouca paciência para estranhos intrometidos”, respondeu Arran sem rodeios.

Ele franziu a testa, mas após dar uma rápida olhada na espada de Arran, a expressão desapareceu. “Ele está ali”, disse ele, indicando uma pequena mesa no canto da taberna.

Havia na mesa um homem de rosto corado, de meia-idade, corpulento e cabelos mais grisalhos do que pretos.

Arran aproximou-se da mesa e perguntou: “Você é Crassus?”

“Sou eu”, o homem corpulento respondeu. Ele olhou com avidez para a garrafa na mão de Arran. “Você vai dividir isso?”

“É toda sua.” Arran pôs a garrafa sobre a mesa. “Eu só preciso lhe fazer algumas perguntas.”

Crassus abriu a garrafa e tomou um gole. Depois, ele deu a Arran um olhar de avaliação. “O que você quer?”

“Estou procurando um guia”, respondeu Arran. “Alguém que conheça as montanhas.”

“As montanhas?” Crassus bufou, depois deu outro gole na garrafa. “Você não quer ir para lá. As montanhas estão repletas de dragões.”

“Eu sei”, disse Arran. “Estou buscando alguém que saiba onde encontrá-los.”

Diante disso, o homem fechou os olhos. Por vários minutos, se manteve em silêncio, até que finalmente disse: “Eu posso fazer isso, mas vai lhe custar caro”.

“Quanto?”

“Será perigoso…” Crassus olhou para Arran pensativamente, procurando saber quanto poderia pedir. “Talvez uma dúzia de moedas de prata?”

Arran jogou uma moeda de ouro sobre a mesa. “Isso deve ser suficiente, então.”

Crassus agarrou a moeda de ouro em um instante, com uma velocidade que surpreendeu Arran. Depois de olhar brevemente para a moeda, ela desapareceu em seu casaco.

Então, ele lançou a Arran um olhar preocupado. “Claro, para mim isso é suficiente, mas minha pobre família… minha mulher diz que me deixaria se eu fosse para as montanhas novamente.”

Arran não acreditava muito que o homem tivesse uma família, mas pôs outra moeda de ouro na mesa. Ele estava desinteressado em perder tempo regateando ouro.

“Isso é suficiente para comprar uma nova família para você”, disse ele. “E eu lhe darei mais dez se formos bem-sucedidos.”

O homem pegou rapidamente a segunda moeda de ouro e deu a Arran um olhar desconfiado. “Como posso saber se você vai me pagar quando voltarmos?”

“Eu poderia negociar com você meia dúzia de moedas de prata e outra garrafa de bebida”, disse Arran, começando a perder a paciência. “Agora, você está dentro ou não?”

Crassus pensou nas palavras de Arran por um momento, depois assentiu. “É justo.” Pegou a garrafa em sua mão, aparentemente para medir o que restava dentro dela. “Partiremos ao amanhecer. Encontre-me no portão leste.”

Ainda que Arran tivesse planejado partir imediatamente, ficou óbvio que seu guia não queria partir antes de esvaziar a garrafa. E uma vez que a garrafa estivesse vazia, Arran duvidava muito que ele estivesse em condições de viajar.

Em vez disso, ele retornou à estalagem e explicou a Snow Cloud os seus planos, sem contar muito sobre o guia que havia encontrado – não queria deixá-la muito preocupada, mesmo que fosse necessário.

Assim que amanheceu, ele foi para o portão leste da cidade, onde já encontrou Crassus esperando. Arran percebeu que o homem tinha o rosto corado e pálido e imaginou que Crassus tinha bebido mais do que apenas uma garrafa no dia anterior.

Ainda assim, o homem parecia bem-humorado – sem dúvida, já estava animado com a expectativa de ganhar a fortuna que Arran havia lhe prometido se eles fossem bem-sucedidos.

Ao se aproximar, Arran viu que Crassus carregava o que parecia ser um pacote de cobertores em seus braços.

“Pegue isso”, disse o homem, e então entregou a Arran um dos cobertores.

Esse cobertor era cinza e mofado, e Arran olhou para ele com certa confusão. “O que é isso?”, perguntou ele, querendo saber por que o homem de porte alto achava que ele precisava de um cobertor usado.

“É um cobertor”, disse Crassus.

Arran havia percebido isso e lançou um olhar intrigado para o homem. “Mas para que serve?”

“É uma forma de se esconder”, explicou o homem. “Os dragões são feras violentas, mas também são burros demais. Caso veja um, se esconda debaixo do cobertor e ele achará que você é uma pedra. Fique com ele sempre em mãos e você vai ter uma boa chance de sobreviver se encontrarmos um dragão.”

“Isso funciona?” Arran perguntou duvidoso.

O homem assentiu enfaticamente com a cabeça. “Salvou minha vida mais do que algumas vezes.”

Apesar de Arran ter mais confiança em seu Manto do Crepúsculo, ele não discutiu com o homem. Entre eles dois, apenas Crassus viu um dragão, e Arran aceitou seu julgamento.

Os dois partiram imediatamente, Arran estava tão ansioso em encontrar dragões quanto Crassus em ganhar seu ouro, e eles não levaram nem um dia de viagem para sair das colinas e chegar às montanhas propriamente ditas.

Para o alívio de Arran, o seu guia pareceu estar intimamente familiarizado com a área, e os conduziu com confiança por caminhos e desfiladeiros ocultos enquanto se aventuravam mais profundamente nas montanhas. Apesar de Arran ter duvidado das capacidades do homem, era evidente que Crassus tinha viajado pela área muitas vezes.

Durante a viagem, encontravam regularmente pequenos vales onde havia aldeias abandonadas há muito tempo. Parece que, em um passado distante, essas montanhas estavam repletas de pequenas comunidades, mas agora só restavam ruínas.

“O povo mudou com a chegada dos dragões”, explicou Crassus. “Segundo a lenda, esse é o motivo pelo qual Relgard é tão grande: quando os habitantes das montanhas deixaram suas casas, resolveram se estabelecer fora das montanhas, na esperança de que os dragões fossem embora.”

Aos poucos, foram se aprofundando nas montanhas e, conforme avançavam, Crassus ficava menos confiante. Na primeira semana, a velocidade deles já tinha caído pela metade, com Crassus insistindo para que explorassem todos os caminhos com cuidado antes de avançar, para evitar encontrar dragões.

Essa diminuição do ritmo causou uma leve frustração em Arran, mas não reclamou. Se o guia dissesse que era necessário, ele só poderia aceitá-lo – afinal, o homem conhecia muito mais sobre a região do que ele.

No final da primeira semana, percorreram mais um caminho íngreme por um penhasco ainda mais íngreme. No final dele, Arran encontrou um pequeno vale que continha o que parecia ser uma vila grande e abandonada.

Antes que Arran pudesse se aventurar, Crassus sibilou para ele: “Espere! A última vez que estive aqui, havia um dragão. Temos que ver se o caminho está livre antes de continuarmos”.

Por insistência do homem, passaram mais de uma hora esperando, observando a aldeia em ruínas atrás de algumas grandes rochas à procura de qualquer sinal de movimento. No entanto, não viram nada e, por fim, Crassus deu um suspiro de alívio.

“Você espera aqui”, disse ele a Arran. “Vou dar uma olhada rápida por aí”.

A essa altura, isso já era muito familiar para Arran. Quando encontravam vilarejos, Crassus sempre insistia em tirar um tempo para procurar objetos de valor que estivessem nas ruínas.

Arran descobriu que essa era a razão pela qual Crassus conhecia tão bem a região: frequentemente ele se aventurava nas montanhas em busca de objetos de valor nas aldeias abandonadas.

Arran se sentou em uma rocha, observando enquanto Crassus se dirigia para a aldeia. No entanto, após um momento, seus olhos se arregalaram ao ver um movimento – uma criatura grande, marrom-ferrugem, duas vezes maior que um cavalo, com um corpo poderoso e escamas de aparência afiada. Um dragão.

Mas enquanto Arran via o dragão, Crassus não percebeu o que estava à sua frente. Diversas casas arruinadas estavam entre ele e o dragão, sendo que cada passo que dava o aproximava da criatura.

Por um instante, o choque deixou Arran paralisado, mas então ele gritou: “Dragão!” Mesmo estando chocado, ele não conseguia deixar seu guia caminhar na direção da morte certa sem aviso.

O homem gordo reagiu instantaneamente, caindo no chão e se envolveu com o cobertor, se transformando no que se assemelhava vagamente a uma grande rocha.

Ao mesmo tempo, a enorme criatura virou sua cabeça para Arran. Ele abriu a boca, mostrando uma série de dentes semelhantes a adagas, emitindo um grito de arrepiar os ossos.

Depois, correu em direção a Arran.


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