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Quando Arran olhou para o dragão morto à sua frente, não conseguiu deixar de se preocupar com a possibilidade de enfrentar um espécime adulto.

Do que ele entendia, esse dragão deveria ser um jovem, de apenas uma ou duas décadas de idade. No entanto, ele já havia sido quase impossível de matar, apresentando uma força medonha e uma resistência surpreendente.

Mesmo que a luta tenha sido enganosamente curta, Arran nunca teve ilusões sobre como teria se saído em um confronto direto. A lesão que o jovem dragão sofreu em sua queda foi muito maior do que qualquer coisa que Arran poderia infligir com espada ou magia, e nem mesmo isso foi suficiente para matar a criatura completamente.

Apenas com sua própria força, era impossível vencer uma batalha como aquela – a não ser que ele conseguisse de alguma forma convencer a fera a deixá-lo livremente esfaquear seus olhos com sua espada, pelo menos.

Alguns minutos depois de Arran ter matado o dragão, Crassus desceu o penhasco.

O homem esperou até ter certeza que a criatura estava morta antes de se juntar a Arran, o que Arran considerou justo. Agora que tinha uma ideia de quão poderosos são os dragões, ele não estaria ansioso para se aproximar de um vivo.

Assim que Crassus chegou à base do penhasco, se aproximou do cadáver do dragão jogado sobre as rochas, mas manteve uma distância de algumas dezenas de passos entre ele e o corpo.

“Isso foi demais”, afirmou o homem corpulento, com certa admiração em sua voz.

Arran assentiu em silêncio, com os olhos ainda fixos no cadáver.

“É a segunda vez que vejo alguém matar um dragão”, continuou Crassus. “É claro que o outro mago jogou metade da montanha em cima do maldito. Aquilo o matou bem rápido.”
De imediato, os olhos de Arran se voltaram para Crassus. “O outro mago?”, ele perguntou, olhando de repente para o outro homem atentamente.

“Bem, eu imagino que você seja um mago”, disse o homem dando de ombros. ” As pessoas normais não podem simplesmente fazer o que…”

“Que outro mago?” Arran o interrompeu bruscamente. “E quando foi isso?”

Um olhar estudioso apareceu no rosto corado de Crassus. ” Aproximadamente uma década atrás, alguns anos mais ou menos”, disse ele depois de pensar um pouco. “Foi uma jovem mulher, e bonita também. Me pediu para guiá-la até um covil de dragões – ela queria uma das grandes criaturas, assim como você. Também pagou uma boa quantia por ele”. Ele fez uma cara feia. “Eu teria ganhado a vida toda se minha sorte nas cartas fosse melhor.”

Ao ouvir as palavras, Arran olhou para o homem com espanto.

Arran sabia bem que a mãe de Snow Cloud havia partido em busca de uma cura para o Patriarca quase uma década atrás e, como ela foi a criadora da receita de Snow Cloud, ela precisaria encontrar um dragão.

“Depois que você a guiou até o covil do dragão”, disse Arran, lutando para manter a voz calma. “Ela voltou?

“Claro que sim”, respondeu Crassus com um aceno de cabeça alegre. “Voltou para Relgard um mês depois de eu tê-la deixado. Me pareceu estar de bom humor também – inclusive me deu mais algumas moedas de ouro.” Ele fez uma cara feia. “Aquele desgraçado do Sulla me roubou tudo isso. Eu nunca deveria ter…”

Quando Crassus falou sobre suas desventuras no jogo, Arran refletiu sobre o assunto.

Ele não tinha certeza absoluta que a mulher era a mãe da Snow Cloud, mas a coincidência era grande demais para que houvesse outra explicação. Se ele estivesse certo e fosse realmente ela, então isso significava que ela tinha conseguido encontrar a cura que procurava.

Este último pensamento fez Arran hesitar um pouco. Caso a mãe da Snow Cloud tenha conseguido reunir todos os ingredientes e criar a cura, bastava retornar ao Sexto Vale, uma viagem que certamente não seria muito perigosa para um mago forte.

Porém, a mãe de Snow Cloud nunca havia retornado. Como ela não correria nenhum risco desnecessário ao levar a cura para o Patriarca, isso só podia significar que alguém a havia impedido – era alguém que sabia da sua busca e com poder suficiente para detê-la.

Por um instante, Arran pensou em voltar a Relgard imediatamente para informar a Snow Cloud o que havia descoberto. Sem dúvida, ela gostaria de saber disso agora mesmo e, diferente de Arran, ela certamente seria capaz de saber se a maga descrita por Crassus era de fato sua mãe.

No entanto, depois de pensar cuidadosamente no assunto, ele acabou decidindo não fazê-lo. Por mais importante que fosse a informação, sua preocupação principal era encontrar uma forma de matar um dragão adulto. Para isso, seria necessário obter informações somente por meio de observação.

Ainda assim, ele levou algum tempo para questionar Crassus minuciosamente, garantindo que memorizaria tudo o que o homem lembrava a respeito da maga que ele tinha guiado pelas montanhas uma década atrás. Não era tanto quanto Arran gostaria – a bebida pesada de Crassus não havia favorecido sua memória -, mas ele ainda se certificou de não perder nem o menor detalhe.

Quando ficou evidente que não havia para Crassus lembrar, Arran se concentrou novamente no dragão morto, arregaçou as mangas e desembainhou a espada rumo ao trabalho sangrento que estava por vir.

Passou várias horas desmembrando cuidadosamente o cadáver, examinando escrupulosamente o corpo enquanto recolhia toda a carne da enorme carcaça, além da pele, dos ossos e dos órgãos.

Ele já tinha sentido que o corpo do dragão possuía uma quantidade de Essência Natural muito além de qualquer coisa que ele tivesse encontrado anteriormente, portanto, naturalmente, ele não deixaria nada disso ser desperdiçado. Embora não tivesse nenhum uso específico para as outras partes, ele tinha certeza de que elas seriam valiosas.

Naturalmente, analisar o cadáver foi ainda mais importante para ele do que a carne e as partes do corpo, já que isso lhe permitiu entender as partes mais fracas e mais fortes do corpo da criatura.

Ele ficou desapontado, mas não surpreso, ao perceber que a criatura quase não tinha pontos fracos. Mesmo que sua barriga e garganta não sejam tão resistentes como suas costas e pernas, ele precisou de meia dúzia de golpes com a espada apenas para cortar a pele. Em uma luta, ele certamente não teria a chance de atacar a criatura até que cortasse a pele.

Quando ele finalmente terminou de esquartejar o cadáver e recolher as partes, só restou uma mancha de sangue vermelho escuro nas rochas, com dezenas de passos de largura.

“Você seria um ótimo açougueiro”, disse Crassus alegremente. Esse homem observou com muito interesse quando Arran desmembrou o cadáver do dragão, parecia bastante divertido com a ideia de um dragão sendo abatido como uma vaca.

Arran deu de ombros. “Quanto falta para o covil do dragão?”, ele perguntou, ansioso para continuar a jornada.

“O lugar mais próximo fica a cerca de meia semana daqui”, respondeu Crassus. “Eu não vou lá há anos, mas o dragão deve estar lá ainda – a menos que outro o tenha comido, eu suponho.”

Arran acenou com a cabeça. “Vamos embora, então.”

Partiram imediatamente e, durante a viagem, Arran se perguntava se a maga que Crassus guiou pelas montanhas uma década antes era mesmo a mãe da Snow Cloud. Se fosse, temia que os dragões não fossem o maior perigo que os aguardava.


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