Depois de sair do quarto em que Freytan estava, eu fui para uma floresta perto da cidade, onde o monstro predominante seria o javali listrado, mas que apenas servem para serem caçados por predadores maiores, sendo a cobaia perfeita para testar até onde eu poderia chegar com apenas o conhecimento de ver o protagonista usando a Mão Divina no próprio jogo e Cutscenes.
— É uma pena que o bônus não seja útil nesse momento, já que nem mesmo o protagonista sabe o alcance da sua habilidade.
Nesse momento, estava segurando o coração de um javali listrado com a Mão Divina ativada. A energia dourada estava cobrindo completamente o coração, que se mantinha batendo. Ao olhar para o javali listrado, ele se mantinha vivo mesmo nesse estado, e agora só estava imóvel por medo, mas nem mesmo dor estava sentindo.
— Então esse é o motivo de ter “divina” no nome da habilidade? – Olhava para o coração intrigado com isso, uma nova descoberta que nem mesmo com ajuda de um deus eu teria conseguido.
[Você não perguntou, então cala a boca.]
Estando agachado no chão, dava um sorriso de deboche.
— Então me fala tudo sobre esse poder.
[…]
— Eu sabia! — Dava uma pequena risada.
Me levantava do chão, desativando a Mão Divina. O coração, que já deveria ter parado de bater há muito tempo, finalmente cessava seus movimentos, e o javali dava seu último suspiro.
Olhando para a situação atual, um pensamento passou pela minha cabeça:
“Acho que sei por que ninguém sabia disso antes… Tô parecendo a merda de um vilão.”
Na mão direita, um coração. O rosto e roupa com respingos de sangue no meio de uma floresta escura, enquanto faço testes apenas para ver até onde minha habilidade pode ir.
“Será que é possível outro herói surgir? Por via das dúvidas, melhor evitar qualquer coisa que manche meu nome publicamente.”
Olhava para baixo, olhando o corpo do javali listrado.
— Primeiramente, é melhor não desperdiçar comida.
Pegava o corpo do javali listrado e ia andando de volta para a guilda. Freytan já deve ter acordado.
Quando cheguei na guilda, coloquei o javali para assar e fui ver Freytan. Quando entrei em seu quarto, ela ainda estava imóvel na cama, só que o ar que estava pairando esse lugar antes já havia desaparecido completamente. Se olhasse para a mão dela, as feridas que tinham surgido desapareceram, então quer dizer que ela finalmente teria ficado estável desde o incidente.
No jogo original, isso não acontecia com Freytan, pois ela só deveria encontrar essa espada quando o capítulo 5 fosse lançado, já que foi nele que o banner dela chegou.
Dava um suspiro aliviado.
“Tem alguns personagens Rank S que não aguentariam isso e é melhor esperar um pouco antes de sair dando as armas feitas para eles.”
Após olhar para Freytan uma última vez, confirmando que ela realmente tinha ficado estável, eu desci para terminar de preparar o javali.
“Esse javali deve ficar horrível…” pensei, levando em conta que não existe um sistema de cozinha igual ao do jogo. E dito e feito, por causa do longo tempo deixado no fogo, acabou torrando completamente.
“Não desperdiça comida, certo? E agora… não devia ter ficado preso nos deliveries.”
Sem ter mais o que fazer, foi para a floresta novamente. Do jeito que o javali está, seria impossível comê-lo, mas os predadores aqui comem qualquer coisa. Então, uma carne um pouquinho queimada não fará diferença
Dessa forma, algumas horas se passaram e, nesse momento, eu estava sentado na cadeira esperando que Freytan acordasse para darmos continuidade à história e sairmos dessa cidade de uma vez.
— A… Mi… Cabeça — Quem falava isso era Freytan, que tinha acabado de acordar ainda desnorteada.
Com a cabeça girando, ela olhou ao redor conseguindo me ver sentado em silêncio mantendo minha visão fixa em direção a ela. Aos poucos, ela foi melhorando.
— Então você me trouxe para este lugar?
— Sim, se você estiver bem, já podemos sair.
— Só estou meio tonta, mas já podemos ir.
Freytan olhava para baixo e percebia algo diferente: ela não estava usando sua roupa padrão, e sim uma roupa folgada feita com pano de saco de batata. Era bastante simples e rústica.
— Então você olhou? — Freytan falava olhando fixamente para mim
— Sim vi tudo cada parte.
Freytan soltou um suspiro e se levantou.
— Vou deixar passar dessa vez. Além de me dar um item inestimável, você cuidou de mim. Então, sinta-se honrado, só minha mãe tinha me visto de forma tão pura.
Freytan arrumou seu cabelo novamente em um rabo de cavalo.
— Você é realmente estava bonita, como um anjo
Ela deu de ombros.
— Agora estou mais para um demônio
— Hã? Do que você está falando?.
Eu parei para pensar, e antes que Freytan pudesse falar alguma coisa, eu entendi.
— Ah, relaxa. Eu posso ser um desgraçado, mas não sou nenhum tipo de maníaco. Você ainda é pura.
Freytan olhou para a pequena pinta preta em seu pulso antes de voltar a me encarar.
— Bom saber que posso dormir no mesmo lugar que você
— Oh, isso é um convite?
Freytan se inclinava para frente, olhando fixamente nos meus olhos.
— Na próxima cidade, o que você acha?
— Se prometer, terá que cumprir, senhora espadachim.
— Você já viu tudo mesmo, e qualquer coisa, eu uso a arma que você me deu para te cortar.
— Se você está falando com tanta convicção, quem sou eu para negar?
Freytan dava uma leve risada.
“Essa pilantra está tramando alguma coisa” pensava enquanto andava até a porta do quarto.
— Vamos?
Freytan segurava minha mão, correndo para fora da guilda. Sua forma de agir apenas confirmou o que ela está querendo. Parece que agora ela realmente está querendo me controlar. Que filha da puta.
“Veremos até onde seu teatrinho irá.”
Com isso, nós dois saímos da guilda e fomos direto em direção à nova cidade, onde começaria a primeira missão principal.
O tempo passava e, no caminho para a próxima cidade, a madrugada chegou e um problema apareceu. Não foi o sono, porque para mim não há problema, já que estou acostumado a ficar acordado por um longo tempo. Enquanto Freytan, bem, ela já dormiu bastante.
O problema atual é um evento aleatório que só se ativa a essas horas. Eu não esperava que isso tivesse se mantido, mas levando em conta que todos os NPCs ainda existem, esse grupo de ladrões apenas deve pensar que é um bom lugar para roubar os outros.
Um grupo de cinco homens musculosos carregando espadas, porretes e machados estavam plantados na nossa frente, usando todos o mesmo estilo de roupa, praticamente se vestindo iguais a ninjas, cobrindo tudo do pé a cabeça, com exceção dos olhos.
Olha para esses cinco me dá raiva, igual no outro mundo. Como eles podem ter sido tão preguiçosos na criação desses personagens? Eles fazem parte de um evento que não acontece só uma vez, mas milhares de vezes, dependendo do seu tempo de jogo.
— Então, casalzinho, que tal passar tudo para nós?
— Freytan, por que não testa a espada neles?
Os bandidos ninjas continuaram a falar, ignorando meu descaso com eles.
— Isso mesmo, se não quiserem morrer, se ajoelhem agora.
Freytan não ouviu nada que ele falou.
— Tem certeza? Essa espada é muito boa para usar neles.
— Eles? Do que você está falando? Só estou vendo cinco pedras para amolar a lâmina dela.
Enquanto minha conversa com Freytan continuava, os bandidos ninjas cerraram os punhos de raiva.
— Irmão, o que faremos?
— Vamos só matá-los.
— Certo, vamos mostrar para eles.
— Calem a boca, estão me atrapalhando! — Falei, segurando a mão da Freytan.
— Viu? Apenas pedras. Vai lá.
Freytan olhava fixamente os cinco homens correndo em nossa direção.
— Oh, estou vendo pedras ambulantes.
— Isso, assim nem precisaremos ir para o ferreiro.
Os cinco homens seguravam suas adagas, sumindo da nossa visão.
— Irmãos, mudei de ideia, vamos vendê-los.
— O irmão é um gênio.
Antes que qualquer outra palavra fosse dita por eles, um brilho rosa tomou conta de sua visão e, assim, todas as cinco cabeças estavam separadas do corpo, caindo em direção ao chão.
“O que? Como isso aconteceu?” Pensou um dos bandidos ninjas.
“Esses cinco finalmente morreram. Nunca mais voltem a aparecer, desgraçados… Acho que sou um pouco rancoroso” pensava, olhando o corpo dos cinco no chão, sem vida.
Enquanto Freytan olhava para o sangue escorrendo na lâmina da espada.
— Dantalian, essas pedras são de péssima qualidade.
— É mesmo? Melhor irmos para um ferreiro, então.
Após esse incidente, nenhum outro aconteceu e chegamos à cidade facilmente.
Algum tempo se passou, e pensei que ver aqueles cinco finalmente morrerem de forma definitiva seria o melhor momento desse dia. Estava completamente enganado.
Porque agora, de noite, na frente da porta do quarto da pousada em que estou, Freytan se encontrava usando uma camisola transparente – uma vestimenta que nem deveria existir neste mundo. Então, foi isso que aconteceu com as skins, elas viraram roupas comuns.