Três cilindros dourados caíram no chão acinzentado, provocando o som de metal tocando algo duro.
O corpo do homem esbarrou na terra após três segundos. A garotinha de cabelos prateados piscou várias vezes até compreender o que aconteceu. Os olhos carmesins voltaram-se, relutantemente, para o cadáver do seu companheiro. Ele estava morto! O delinquente que até há pouco gritava coisas como “vamos matar essa desgraçada” e “atire com vontade!” estava definitivamente morto…
— Há! Eu avisei, eu avisei! — A demônia mascarada falou em tom sádico.
Realmente, ela advertiu: “Qualquer dano que tentarem causar em mim, voltará para vocês”. A demônia avisou, mas o companheiro imprudente ignorou as palavras e atacou.
O coração de Luminus disparou. A menina voltou a atenção novamente para a mulher mascarada. Ela apertou o fuzil negro com força para não deixar seu medo transparecer, o corpo infantil tremia, sentia como se o coração fosse saltar pela garganta.
— Ué? Vai atirar? Não viu o que acabou de acontecer ao seu amigo? Está querendo morrer mesmo? Um membro da Família Real está triste por conta da morte de um humano? O que aconteceu com você, Astarte?
Irritante, irritante, irritante! Ela não calava a boca imunda por trás da máscara preta e branca. Aquele monstro teria que morrer.
Mesmo sabendo o que aconteceria, Luminus apontou o fuzil para a demônia. Estava na “Área de Ação e Reação” dela, mas nem reparou nisso. Iria morrer? Não importava, sua racionalidade se foi no momento em que o seu parceiro morreu. Tudo o que a garotinha, chamada carinhosamente de “loli” pelo seu amigo, pensava, naquele momento, era em vingança.
Enfim, o ódio superou o medo.
As lágrimas dificultavam a visão, mas estava perto o suficiente para um tiro à queima roupa. Claro, a demônia também não desviaria; ela estava parada, como que desafiando Luminus a atirar. “Você terá coragem?” Essa era a impressão que sua postura relaxada passava.
Bam!
As consequências após o disparo eram óbvias. Dois orifícios abriram-se no corpo pequeno, porém a garotinha mostrava um sorriso satisfeito em meio às bolhas de sangue aflorando no canto da boca. Apenas dois tiros atingiram Luminus, isso porque o terceiro disparo do fuzil semiautomático atingiu a máscara da monstruosidade. A criatura soberba provavelmente fez uma expressão de surpresa por baixo da máscara. Por conta da arrogância, acabou com uma bala de quase cinco milímetros alojada na testa, sua Área de Ação e Reação, a habilidade que tanto se orgulhava, não era perfeita.
O corpo da garotinha de cabelos prateados foi ao chão. Ela caiu próxima ao seu companheiro.
O fim estava próximo. O sangue espalhava-se, lentamente, pela grama verde. Não tinha mais mana para usar magia de cura.
Luminus olhou uma última vez para o céu tingido de vermelho. Um aventureiro de Eragon uma vez lhe dissera: “O pôr do sol do Continente Demoníaco é o mais bonito de todos!” Ele tinha razão. Queria desfrutar do céu avermelhado, mas uma sombra impediu. Era a demônia mascarada novamente, mas nada importava mais.
— Como você ousa morrer tranquilamente enquanto eu sofro? Eu odeio, odeio, odeio, odeio você!
A garotinha ficou em silêncio, vendo, de maneira turva, a máscara maculada pela bala do fuzil. A roupa de empregada, revelando muito do corpo obsceno da demônia, também fora danificada pela explosão.
— Você não morrerá assim! — A voz irada tornou-se sádica novamente, como se tentasse se sentir superior, aquela expressão calma da menina em seus últimos momentos irritava-a. — Vamos ver se ainda pode sorrir depois disso…
Luminus arregalou os olhos ao perceber o que aconteceu. O corpo do companheiro ao seu lado estava em chamas.
— Eu vou torturar esse corpo morto até me sentir satisfeita e você morrerá horrorizada, todos saem ganhando, não?! Essa é a sua punição por me fazer sofrer.
A garotinha, que desistira da vida, tentou ficar de pé mais uma vez, mas algo fincou seu corpo no chão: a adaga que seu companheiro carregava na cintura, a demônia roubou o objeto do corpo sem vida em um instante.
— Blergh!
— Isso, fique horrorizada! Por mais que dessa vez eu não consiga te matar, ficarei satisfeita com seu sofrimento. Lembre-se de quem a fez sofrer e se desespere pela eternidade. Lembre-se do nome Azazel van…
Era o fim. Pela segunda vez, Luminus streix Astaroth morreu ao lado de uma pessoa querida. As últimas palavras que a demônia falou foram quase todas ignoradas, exceto uma. Cravaria o nome “Azazel van” em sua alma e só descansaria no dia em que desse fim a vida daquele monstro. Não importava mais sua missão como “Reencarnação de Astarte”, não importava quantos milhares de anos se passassem, um dia certamente vingaria a morte daquele quer considerava sua única família naquele mundo cruel.