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O vento frio da manhã balançava o portão com grades de um lado para o outro.

A casa dos Nakano era a única com aquele pequeno portão barulhento, não por opção, um maior custava muito e, naquele momento, a família Nakano passava por uma situação difícil, embora sobrasse um trocado ou dois para o filho mais velho visitar a seção de quadrinhos eróticos da livraria do quarteirão vizinho.

— Até mais, irmão! — A garota acenou com um sorriso. 

— Se cuida!!! — A outra, alguns centímetros mais alta, também acenou.

— V-vá com cuidado, não que eu me importe… Pare de olhar pra mim desse jeito! — A última, a menor das três, tentou acenar, mas corou imediatamente, baixou a mão e correu para dentro da casa.

— Não precisam se preocupar, o irmãozão aqui sabe se cuidar! 

O garoto, que devolvia os acenos energicamente, era Kurone Nakano, um jovem japonês comum, desenho de personagem clichê, com penteado semelhante ao de protagonistas de animações adultas, estudante da faculdade de medicina, a qual ficava cerca de seis quarteirões da casa com o portão barato. 

Por ter um pai ausente, desde novo, teve que assumir o papel de ajudar a mãe a cuidar de suas três irmãs mais novas que, atualmente, tinham as idades, por escala decrescente: 13, 12 e 11 anos — quem visse de fora poderia dizer que a senhora Nakano reproduzia como um coelho, mas a relação sanguínea daquele garoto e as meninas que já deviam estar na escola era uma história para outra hora.

Por enquanto, o importante é saber que eles tinham uma relação saudável. Apesar das dificuldades, Kurone sempre foi superprotetor e nunca deixou de cuidar de suas irmãs, chegando ao ponto de brigar contra três valentões que fizeram Raika, a mais velha, chorar enquanto brincava no parquinho. Mesmo apanhando como um saco de pancadas, lutou até um dos vizinhos ajudá-lo. Em nenhum momento, o jovem, em seus treze anos, largou a mão da irmã, ele não se importou nem mesmo com seu nariz, que fora destruído e jorrava sangue incessantemente. Essas memórias, de quando mais novo e os adultos da vizinhança eram simplesmente irresponsáveis, repetiam-se em sua mente enquanto andava a caminho da faculdade. Ele nunca perdoou aqueles delinquentes, mesmo agora, depois de sete anos do incidente.

Pássaros que não fazia ideia do nome voavam de lá para cá, aquecendo-se no farol que, constantemente, alternava entre vermelho, amarelo e azul. Passou-se uma semana após o inverno, contudo ainda podiam ser vistos aglomerados de neve na rua.

“Me pergunto o que aconteceu com aqueles três… Ah, é mesmo, eu espanquei eles algumas vezes durante minha fase de delinquente…” Como de costume, Kurone atravessava a rua sem a mínima preocupação de olhar para os dois lados, estava perdido em pensamentos. Só se deu conta do que fez minutos depois, quando já estava na metade da faixa de pedestres.

Era tarde demais para voltar. O sinal estava vermelho antes mesmo dele atravessar a rua. Os pensamentos nostálgicos o cegaram e ele não viu o caminhão, com a escritura “Ikebukuro Sex Toys” no para-brisa, aproximando-se.

Uma buzina em meio ao silêncio que fazia há pouco fez suor frio escorrer por toda a espinha de Kurone Nakano. Não teve reação, nem mesmo tentou desviar; o corpo sabia a inutilidade de qualquer movimento e, por isso, recusava-se a se mover.

Estava próximo, tão próximo que qualquer tentativa seria em vão…

Se ao menos tivesse percebido minutos antes, ainda poderia desviar do veículo, como não notou aquela coisa com desenhos obscenos em todos os lados? O cérebro recusou-se a ver o acidente até o fim: não queria receber no sistema nervoso a dor de ter os ossos do corpo quebrando um após o outro com o impacto. O jovem desatento apagou segundos antes de ser atropelado. Quando recobrou a consciência novamente, estava no chão frio, vendo líquido vermelho escorrer em abundância de seu corpo.

Tentou gritar, mas as cordas vocais não obedeciam. Naquele momento, apenas seu espírito recusava-se a desistir, o corpo não tinha mais calor, o chão frio pós-inverno roubou-o.

Toda a conexão com aquele mundo perdia-se, e a única coisa restante eram os cinco sentidos se apagando gradualmente. Sua audição captava um ruído insuportável, e a visão turva escurecia. Sem o tato, não sentia mais o chão gelado, lentamente, esquentar-se com seu sangue, e como perdeu o olfato, também não conseguia captar o cheiro desagradável do ferro subindo no ar. O paladar só sentia o sabor do líquido vermelho aflorando pela garganta.

O ouvido zumbia sem dar trégua, escutava os passos pesados dos… paramédicos? Não tinha certeza se eram eles, mas podia dizer que a maioria das passadas eram dos vizinhos curiosos aproximando-se do seu corpo, que tentava segurar a tênue linha da vida.

Não queria abandoná-las como seu pai fez. Kurone sabia que se fosse agora, elas chorariam. Suas três irmãs, Raika, Rim e Eriko, que o viam como uma figura paterna, não suportariam saber que seu precioso irmão deixou-as para sempre por conta da própria falta de atenção. Sim, ele tinha ciência, aquilo só aconteceu devido ao seu descuido, mesmo depois de dizer às meninas que sabia se cuidar há pouco tempo, mesmo depois de prometer à senhorita Kanade que seria mais atento. “Por favor… eu prometo tomar mais cuidado… na próxima…” 

Não existiam segundas chances, mas precisava sobreviver. Sua mãe, sozinha, não conseguiria criar as três, ela necessitava da ajuda de Kurone e ele, de suas irmãs. Queria vê-las crescer. Queria ver a formatura das três. Queria ser um tio atencioso para seus sobrinhos — por mais que não gostasse da ideia de vê-las casadas.

Claro, não permitiria que qualquer um se aproximasse de suas queridas garotinhas. Desejava continuar vivo para acompanhar o crescimento delas e ajudá-las quando fosse necessário. Almejava um futuro em que todos estivessem felizes juntos, podia ver até seu pai — aquele patife dono de uma empresa de cigarros —, sentado na cadeira a qual, habitualmente, estava vazia, no jantar em família na noite de domingo.

“Não adianta, você já está morto, se continuar a resistir sua alma ficará presa para sempre neste plano.” Uma voz ecoou na cabeça do jovem, fazendo com que suas últimas forças se fossem.

Naquele momento, Kurone Nakano estava definitivamente morto.

Olá, eu sou o NekoYasha!

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