Para Kurone Nakano, acordar era algo trabalhoso. A consciência era a primeira a despertar. Em seguida, o corpo começava a se movimentar e por fim os olhos se abriam.
Normalmente, a primeira coisa que via à sua frente era a garotinha de pele morena e dentes afiados… mas hoje ela não estava lá. Na verdade, o que sua visão captou foi uma lâmina brilhante.
O jovem piscou várias vezes para se certificar se ainda estava dormindo.
— Onde ele está?
“Quê?”
A dona da lâmina brilhante era uma garota. Como assim “onde ele está?”, quem deveria fazer perguntas era Kurone.
— C-Calma aí! Essa coisa é perigosa! — gritou, apontando para a espada.
— Onde o Dante está? — A garota aproximou a espada ainda mais. Estava agora a poucos centímetros da garganta de Kurone.
— Espera! Eu não sei quem é esse tal de Dante, mas eu também não sei onde estou!
A jovem encarou o garoto por um momento e, em seguida, recolheu a espada. “Desapareceu?”. A arma da garota era como o fuzil de Rory?
Após alguns minutos, Kurone ficou de pé. As costas doíam como se tivesse dormido em uma pedra — ao olhar para o chão, percebeu que realmente havia dormido em uma pilha de pedrinhas.
— Que lugar é esse?
— Não sei, quando acordei, já estava debaixo daquela árvore. — A garota apontou para à esquerda de Kurone.
O local era sombrio, mas lembrava um pouco a “casa” de Cecily. Tudo era tomado pela escuridão, e, tirando a árvore apontada pela garota, quase não havia vegetação.
— Então estamos no mesmo barco… Será que elas também estão aqui? Ah sim, qual o seu nome?
— Angelina N° 147. Mas todos me chamam de Angel.
“Angel? Tipo anjo?”
O dia se tornava cada vez mais estranho, isso é, se realmente estivesse de dia.
— E você, qual seu nome?
— Kurone. Kurone Nakano.
— Kurone… Japonês?
— Sim…
Ambos se olharam, desconfiados, mas a atenção logo foi direcionada para outro lugar: a árvore na esquerda.
— Que diabos é aquilo?
Uma silhueta negra emergiu do chão e logo tomou a forma de um monstro — era algo entre um macaco e um lobo.
— Besta demoníaca!
— Demônio!
A dupla se encarou.
— Aquilo é uma besta! — A garota, Angel, gritou enquanto sacava a espada.
— Tá louca, é pequeno demais para ser uma besta.
Apesar de dizer “pequeno”, o monstro à frente tinha aproximadamente cinco metros — era bem maior que um orc líder.
Sem perder tempo, Angel correu em direção ao demônio — ou besta. O plano dela, provavelmente, era o decapitar em um golpe.
Os olhos de Kurone, porém, se focaram em outra coisa: a cauda imensa do monstro estava enterrada no chão.
— Não me diga que…
Usando o “Olho Sagrado”, ele enfim compreendeu qual a estratégia do demônio. A cauda de aproximadamente oito metros, enterrada no chão como a raiz de uma árvore, surgiria por trás e atacaria as costas desprotegidas de Angel.
— Angel! Atrás de você!
Ao escutar o grito do jovem, a garota girou o corpo — “ela estava voando?” — e usou a espada como proteção. Foi por pouco. A cauda bateu na lâmina produzindo um som metálico e voltou para dentro do chão em seguida.
O olho amarelado de Kurone reluzia em meio à escuridão do local.
“Vou ter uma dor de cabeça desgraçada mais tarde.”
Ignorando os efeitos colaterais, o jovem focou o olho esquerdo no corpo enorme do monstro. Sem dúvidas era um demônio, a aura vermelha revelava isso.
— Mire no peito!
Angel concordou, levantando e baixando a cabeça. A garota segurou firme a espada de lâmina dupla e correu novamente em direção ao demônio — ao seu ver, era um besta.
O enorme lobo-macaco saltou, tentando tomar distância. O movimento foi em vão. Angel apareceu rapidamente em suas costas. O movimento da garota lembrou Kurone do teletransporte usado pelos personagens de um anime que assistia quando criança. “Aquele anime não tinha história.”
“clack!”, os pelos e a carne dura foram cortados pela lâmina brilhante da garota. Apesar do corpo magro, ela era forte.
O corpo pesado, partido em dois, do monstro caiu no chão provocando um pequeno tremor. Angel pousou graciosamente sobre o corpo da criatura.
— Irado! Você tem uns truques bem bacanas — disse, apontando para o olho amarelado do jovem.
— Ahhh… Tenha mais cuidado, esses monstros são espertos.
Após examinar a área uma última vez, Kurone confirmou que não havia outro demônio pelas redondezas. O olho amarelado retomou sua cor original e foi coberto pela franja longa do jovem. Angel fez uma piada de mal gosto sobre “protagonistas de hentais”, mas ele decidiu ignorar.
— Fizemos um barulhão aqui, certeza que o Dante deve ter escutado. Mas considerando como ele é medroso, tenho certeza que não vai aparecer aqui.
— Espero que a Rory e a Dora tenham escutado.
— De qualquer forma, é melhor sairmos para procurar eles. — Angel ofereceu a mão ao garoto.
— C-Certo…Ei, esper—
Por um momento, ele achou que fosse apenas um aperto de mão comum, mas a garota revelou um par de asas brancos nas costas e levantou voou sem qualquer aviso.
A dupla estranha desapareceu no céu escuro.
Tudo que restou no local em que estavam segundos atrás foi o corpo, partido em duas bandas, do macaco-lobo. Logo atrás do cadáver, um arbusto começou a farfalhar… e um jovem rolou até bater contra os restos do monstro morto.
As mãos do jovem estavam atadas por cipós verdes. Sem tempo para se importar com o corpo ao seu lado, se pôs de pé e continuou a correr.
Estava aterrorizado.
— Ali! — Ele escutou a voz fria novamente. Provavelmente elas estavam próximas.
— Porrra! Onde vou me esconder… Pensa Dante, pensa!
O garoto, Dante, olhou para todos os lados. Infelizmente, estava agora em uma clareira. O olhar parou quando viu o corpo morto de um animal peludo.
O bicho, que deveria estar morto, se movia. Eram espasmos?
De dentro da carne vermelha, saiu um pequeno animal. Um macaco? Ou talvez um lobo?
Outro animal, idêntico ao primeiro, saiu da da outra metade do monstro.
Os monstrinhos peludos de olhos vermelhos tinham aproximadamente cinquenta centímetros. Quando Dante se deu conta, já haviam mais de vinte deles.
Eram bestas?
“Crack!”
Dante pisou em um graveto.
Os olhos brilhantes se concentraram no jovem de mãos atadas. O monstro da frente gritou algo como “uuuooohhhhh”, e, seguindo ele, todos os outros correram em direção à Dante.
— Porra!
Dante tentou correr, mas algo enroscou sua perna direita. Ele foi ao chão.
Era a cauda de um dos monstrinhos. Quantos metros tinha isso?
Não havia nada que pudesse usar como arma, nem mesmo uma pedra.
Em um salto, um macaco-lobo se aproximou do jovem. Ele abriu a boca cheia de dentes tortos e se preparou para dar a primeira mordida na carne de Dante.
“Bam!”
Um orifício se abriu na cabeça peluda da besta. O pequeno corpo pendeu e caiu ao lado do Jovem. Dante sentiu a cauda, que segurava a perna, parar de apertar. Ele estava livre — exceto pelas mãos atadas.
A atenção dos outros monstros se voltou para a origem do “bam”. Antes mesmo de virarem completamente a cabeça, os macaco-lobos deixaram de existir. Um tipo de pedra tocou o chão e explodiu o corpo de todos. Dante, apesar de estar um pouco distante, foi empurrado violentamente pelo impacto. Uma pequena nuvem de cogumelo, formada por fumaça, pôde ser vista de longe.
O alívio de Dante durou apenas por alguns instantes, ao ver suas salvadoras. Duas garotinhas, ambas de cabelos brancos e mesma estatura. Uma tinha a pele morena e a outra, branca. Eram elas de novo. As lolis que o fizeram prisioneiro.
Quando acordou, já estava amarrado. As garotinhas se distraíram por um instante e ele conseguiu fugir… Provavelmente agora seria torturado por elas.
O garoto tentou correr novamente, mas era tarde demais. As garotinhas o cercaram.
Uma segurava um fuzil e a outra uma bazuca. Onde conseguiram essas armas? Lolis, armas militares e macacos. Aquilo era mesmo um sonho bizarro?
— Quais suas últimas palavras?
A garotinha com o fuzil se preparava para apertar o gatilho do fuzil.
Apesar de ter morrido de tantas maneiras bizarras e grotescas, era a primeira vez que seria morto por uma loli.
— Parooooou!
Um grito veio do céu. O quão bizarro esse sonho ainda poderia se tornar?
Olhando para o alto, Dante viu o par de asas familiar. Era Angel, sua anja da guarda. Um jovem de manto branco, aparentemente um pouco mais velho que ele, segurava a perna direita dela.
— Kurone Nakano! — A loli de pele morena gritou.
— Angel! — Dante também gritou aliviado, ignorando o fuzil apontado contra ele.
— Caramba, vocês já fizeram bagunça… — Kurone disse, olhando para os destroços.
— Uhhh! Tinham uns mamacos ali!
— Dora, o nome é macaco.
— Quem é essa? — Rory apontou o fuzil para Angel.
A anja também tinha uma expressão hostil.
— Um demônio! — A garota sacou a espada e apontou para a loli.
Fuzil contra espada, já não viu uma batalha assim antes?
“Calma, calma. Vão brigar logo agora, que se encontraram?”
Uma voz estranha soou no ar e, após um minuto, o arbusto atrás de Dante farfalhou. O jovem deu um salto. Um homem saiu de dentro do arbusto.
Palavras do Autor:
Este crossover é uma colaboração com o Master, autor de Angel Black, conheça mais sobre o Dante e Angel lendo a novel dele aqui na Vulcan:
https://vulcannovel.com.br/ab-angel-black-tentando-sobreviver-neste-mundo-sombrio/