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A pirralha estava inquieta hoje, rolando de um lado para o outro enquanto dormia.

O chão estava desconfortável? Ou talvez ela estivesse com frio por estar muito distante da fogueira? Não entendo.

Faz algumas semanas desde que peguei Luminus e a trouxe comigo para começarmos a caça pelos Fragmentos de Astarte.

A princípio, imaginei que ela teria mais resistência e fosse rebelde, mas esse não foi o caso. Essa menina é muito madura para a sua idade.

Novamente, escutei gemidos. 

Ela parecia estar no meio de um pesadelo terrível, pois suor começou da teste… Em algum momento, tenho certeza que ela pronunciou as palavras “papai” e “mamãe”.

Talvez ela não fosse tão madura.

Eu nunca consegui decifrar muito bem as crianças, ainda mais crianças humanas. Na verdade, como posso dizer, não sei muito bem sobre ter empatia…

Mas por que deveria me importar com isso? Eu, a deusa Cecily, só preciso usar ela para coletar os Fragmentos de Astarte.

Quando o momento, chegar, a existência conhecida como Luminus não será nada além dos vestígios, não há motivos para me importar com os problemas dela.

No momento, minha única preocupação verdadeira é manter a barreira mágica ao nosso redor, impossibilitando que monstruosidades como Azazel van Elsie ou a Besta Negra nos encontre.

Com os poderes de Reencarnação de Astarte, a pirralha não fica doente e tem um corpo resistência a animais peçonhentos. Ela estava melhor que eu…

Mas… ainda assim, talvez eu deva trazê-la um pouco para perto da fogueira.

*** 

Luminus espreguiçou-se e olhou um pouco atordoada para o cenário.

Ela ainda não estava acostumada àquela situação, talvez acordasse todo dia com a esperança de encontrar o seu irmão ou as irmãs do orfanato.

Cecily encarva a garota com interesse, conseguia lê-la como um livro. Talvez aquela garotinha fosse a chave para aprender um pouco mais de interação com outras pessoas.

— Algum problema, senhorita Cecily? — questionou a menina ao perceber o olhar curioso da outra parte.

A deusa ficou desconcertada.

Ficaria anotado para o futuro: nunca encarar demais as outras pessoas.

Cecilly limpou a gargante e tentou falar em um tom imponente:

— Só estava pensando que você dorme demais, perdemos muito tempo. 

Naquele momento, passavam pelo monte Kuryo, há quase um mês do orfanato da irmã Rose, na parte oriental do continente humano.

Havia maneiras mais rápidas para chegar às cidades e vilas, mas Luminus precisava de treinamento, ela não era habituada ao combate e não parecia ter matado qualquer ser vivo antes.

Aquele lugar, o monte Kuryo, era a melhor escolha considerando todos os fatores.

O Continente Ocidental era perigoso, havia facções e entidades poderosas em todas as partes. Mesmo que fosse uma deusa, Cecily reconhecia que não era invencível.

Os membros do clã Sophiette, os Gênios de Nova Canaan e os Ádvenas de Saint Tower não teriam dificuldades em matar divindades com sua força bruta ou artefatos mágicas como os Tesouros de Karllos Sophiette.

Sim, Cecily tinha ciência da existência de uma espada, dos Tesouros, capaz de aprisionar a alma da vítima em seu fio. Só aquela arma seria suficiente para tirá-la da jogada.

Diferente dos outros locais citados anteriormente e suas vizinhanças, Kuryo não possuía lendas sobre guerreiros tão formidáveis, a maioria dos habitantes daquela área eram religiosos.

Havia alguns templos e pequenos vilarejos, mas as pessoas passavam a maior parte do seu tempo reclusos, buscando a “iluminação”. 

Os moradores do oriente eram muito superticiosos com a mana, eles a idolatravam e buscavam entender os mistérios do universo estudando-a. 

De certa maneira, eles estavam à frente dos ocidentais, mas não era hora de pensar naquelas coisas. 

Elas vagaram por metade de um dia antes de encontrarem os primeiros monstros.

Eram Bois De Três Chifres, criaturas exclusivas daquela região.

Os moradores de Kuryo criavam diversas espécies de monstros. Sua crença era que, ao consumir a carne daquelas criaturas, estavam absorvendo a mana deles para o seu corpo.

Então não havia problema em matar aqueles bois ali.

— Vamos lá, pirralha, vou precisar que você mate um daqueles monstros para sabermos o quão forte você é.

A menina arregalou os olhos ao escutar aquelas palavras da deusa.

Cecily só pôde suspirar, sabia que ia ter muito trabalho, mas quanto mais cedo a menina se acostumasse com aquilo, melhor seria.

Caso Luminus não conseguisse matar uma criatura simples, ela teria problemas em coletar os Fragmentos de Astarte. A deusa precisava ser mais firme.

— Vá lá, pirralha, é uma ordem.

A menina estremeceu.

O pânico era visível no semblante daquela garotinha. Os ombros encolhidos e os olhos baixos só a tornavam uma presa perfeita para os Bois de Três Chifres.

Cecily puxou uma adaga curta da sua cintura.

Naquele momento, ela usava a sua armadura azul com amarelo, qualquer um diria que aquela beldade era uma guerreira honrada viajando o mundo para fazer boas ações.

Havia uma palavra para aquele no oriente: “acumuladores de karma.”

Luminus tremeu desenfreadamente ao segurar a arma. Era pesada, apesar do tamanho, a deusa pensou que seria bem melhor aquela arma para compensar a falta de massa muscular da menina.

A garotinha encarou um dos bois à frente, ela estava repleta de aberturas e segurava a lâmina de qualquer maneira.

Mas ainda não era hora de pronunciar-se, Cecily queria ver com seu próprios olhos a força da Reencarnação de Astarte. Mesmo sendo inexperiente em combate, Luminus superava até os prodigíos daquele mundo.

A bela deus ficou atenta ao cenário, não permitiria que mais de um monstro se aproximasse.

Pat.

Pat.

Luminus caminhou devagar pela grama, ofegando e com suor descendo pela testa. Era admirável o fato dela não reclamar mesmo sendo obrigada a fazer aquilo.

Ela não tentou fugir enquanto a deusa dormia. Claro, por mais que ela fosse a Reencarnação de Astarte, Cecily ainda era forte e conseguiria aprisioná-la de alguma maneira.

Enfim, a menina ficou em frente ao Boi de Três Chifres. Ambos trocaram olhares estranhos, mas o monstro não levou a garotinha a sério e continuou a pastar.

Nenhuma vontade assassina era emanada.

A garotinha era como uma lebre, o boi nunca a consideraria uma ameaça daquele jeito, por isso a deusa loira decidiu agir e lançou uma pedrinha na cabeça do animal.

Moooo!

O Boi de Três Chifres levantou a cabeça instantaneamente e encarou Luminus. As pupilas do monstro, originalmente marrons, tornaram-se vermelhas e um terceiro chifre surgiu no centro da sua cabeça.

O pequeno corpo à frente tremeu e o braço fino estendeu a adaga.

Sem perder tempo, o monstro correu com tudo para cima de Luminus, na esperança de empalá-la com os seus chifres afiados.

— É melhor você desviar — comentou Cecily, sem demonstrar sinais de que ajudaria a garotinha.

Ao ouvir aquela voz, Luminus acordou do seu transe de medo e chutou a terra com força, rolando para o lado. Evitou ser empalada, mas sentiu muita dor no corpo frágil.

O boi freou bruscamente e encarou a sua vítima, ele ainda não pretendia desistir.

— Foque na cabeça, pirralha, a fraqueza dos monstros é a cabeça.

A menina encarou a deusa com uma expressão que dizia “E como eu deveria fazer isso”, mas Cecily apenas deu de ombros e assistiu a segunda aproximação da criatura.

No desespero, um movimento desorganizado da adaga cortou e seguiu na direção da cabeça do monstro… mas a garotinha estava com os olhos fechados quando atacou.

Lâmina e chifre impactaram.

A força aplicada na adaga não foi suficiente, por isso Luminus foi jogada para trás, tropeçou nos próprios e caiu batendo a bunda com força.

O Boi de Três Chifres não deu descanso e fez um movimento na intenção de perfurar o peito magro da menina, Cecily já estava pronto para fazer um movimento àquela altura.

Mas não foi preciso.

A menina segurou com força os chifres que tentavam empalar seu corpo. Era uma cena inacreditável ver aquela garotinha trocando forças com um boi tão grande.

Os pés de Luminus começaram a ficar estáveis. Ela tentava ficar de pé enquanto segurava os chifres do boi e o empurrava para trás.

A adaga foi abandonada. 

Era inútil. Pelo menos ainda, a Reencarnação de Astarte não teria coragem de apunhalar outro ser vivo. Naquele momento, Cecily estava mais interessada em saber como ela se livraria do boi.

A resposta veio logo a seguir.

Luminus já estava de pé e com controle total sobre o Boi de Três Chifres. Ela suspirou profundamente antes de girar o quadril para os lados, criando velocidade, e arremessar o monstro para longe apenas com sua força.

A deusa loira nem mesmo viu onde o boi foi para, apenas escutou seu grito desespero desvanecendo no horizonte.

Como podia descrever em seus registros aquela cena?…

A Reencarnação de Astarte era um monstro que não poderia ser compreendido por qualquer um. Era melhor ficar em bons termos com ela, ou teria problemas no futuro, quando ela se tornasse ainda mais forte.

Aquilo gerou outra dúvida na cabeça de Cecily: 

O quão longe Luminus poderia chegar? Talvez fosse uma boa ideia adquirir uma daquelas máquinas de leitura de status. 

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