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— Espera, Iolite, aonde você vai com tanta pressa?!

Sylford tentou seguir os passos apressados do menino.

Estavam indo na direção do tribunal da capital. Kurone não tinha um plano concreto em mente, mas bastava conseguir conversar com o condenado para obter informações sobre a pessoa chamada “Nie”, a líder do grupo de criminosos.

Quando chegou na rua do tribunal, parou um pouco, encarando a grande construção à sua frente… Seria bem difícil entrar ali, diferente de antes, não era mais um Santo ou tinha o apoio das sacerdotisas da igreja de Cecily.

Um Sylford ofegante parou logo atrás do garoto.

— O que deu em você tão de repente?

— Essa pessoa chamada Nie… ela é alguém muito importante pra mim, eu preciso saber onde ela tá.

Diante do seu olhar, o jovem Sophiette decidiu não perguntar mais nada, apenas assentiu com seriedade e passou a encarar também a construção adiante.

Essa era uma das qualidades de Sylford, ele conseguia entender a situação sem fazer muitos questionamentos, foi assim também na luta contra Belphegor dé Halls, quando Kurone pediu para que não matassem o Duque do Inferno.

Cynthia era outra portadora dessa qualidade, confirmou isso quando ela usou todas as suas forças para esconder o corpo do subordinado de Belphegor após a sua derrota. Ambos os irmãos Sophiette eram pessoas confiáveis.

E Kurone estava começando a se sentir culpado de se aproveitar da bondade deles assim. Se não houvesse a possibilidade de causar desordem no mundo, contaria sobre a viagem no tempo e os seus objetivos a eles, mas por enquanto só podia continuar a depender da gentileza deles.

— Invadir um julgamento de qualquer maneira é uma ideia ruim, diria que é coisa de lunático, precisamos pensar em outra possibilidade.

Deu um sorriso amarelo ao escutar as palavras “coisa de lunático”, afinal o jovem Sophiette estava certo. O que deu em sua cabeça quando invadiu o julgamento de Sophia?

“Bem, eu ainda tava meio biruta, então acho que acabei fazendo umas coisas bem imprudentes.”

E a imprudência estava no sangue da família Nakano.

— E o que você sugere?

— Vamos esperar o julgamento acabar e tentar uma maneira de conversar com o criminoso. Com minha posição, posso conseguir um espaço para nós na ala de espectadores… Iolite, me prometa que você não irá interromper o julgamento.

— Quem você acha que eu sou?… Ok, ok, beleza, eu prometo que não vou atrapalhar.

Ouviu um longo suspiro de alívio por parte do jovem Sophiette.

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Entraram após Sylford apresentar-se a um dos guardas fazendo ronda na entrada do tribunal. Naturalmente, o líder do clã Sophiette da geração era alguém difícil de se falsificar o rosto e a personalidade, ele não precisou de muito para provar sua identidade.

Kurone, ao lado do nobre, possuía fios dourados adornando a cabeça e uma pele mais branca que a do seu corpo anterior, ninguém desconfiou quando alegou sua filiação ao clã Sophiette — passava-se por primo de Sylford.

O longo corredor, repleto de portas, era exatamente como se lembrava, apesar dos quadros e a pintura das paredes estarem diferentes de quando esteve ali com Inri e Amélia.

No fim do corredor, existia uma passagem que dava no centro do prédio, local onde o julgamento ocorria. 

Se continuasse a seguir em frente, encontraria o réu ajoelhado em frente a um enorme palanque, ocupado pelo Santo em seu topo, contudo esse não era o local que os espectadores deviam tomar.

Flanqueando a passagem após o corredor, duas escadas davam acesso ao andar superior do tribunal. Podiam escolher qualquer uma das duas escadarias, não fazia diferença, a menos que houvesse duas partes rivais assistindo, como foi o caso do julgamento de Sophia.

Sylford e Kurone subiram pelas escadas da esquerda e deram de cara com um pequeno grupo de nobres. Esse não era um julgamento de alguém importante, mas como o criminoso causou muitos problemas à nobreza, acabou nessa situação.

As pessoas espalhadas no andar superior eram os nobres prejudicados pelo ladrão, curiosos ou aristocratas mais velhos mostrando à geração mais nova como funcionava o sistema jurídico desse reino — isso foi explicado por Sylford.

Kurone dirigiu-se ao parapeito do segundo andar e olhou para o homem ajoelhado no meio do salão, com as mãos nas costas, presas por algemas bem apertadas. Ele tinha uma aparência de alguém na casa dos quarenta anos, mas suas feições eram ocultas pela barba e o cabelo grande, contudo…

“Orelhas de elfo, mas os elfos já tão quase extintos nessa Era…”

Além do andar superior, conectado ao térreo pelas duas escadas laterais, e o palanque do Santo, havia um pequeno andar, mais parecido com uma sacada, reservado à família real — no momento, esse local estava vazio.

A voz da pessoa sobre o grande palanque ecoou, imponente:

— Então, se recusa a entregar os seus companheiros, mesmo sabendo que isso acarretará uma punição maior? Está certo disso?

 — Vá pro inferno, meus companheiros são meus irmãos, jamais irei trair eles.

Várias exclamações saíram da boca dos nobres ao verem como o criminoso respondeu à responsável por conduzir o julgamento — claro, a pessoa na tribuna era ninguém menos que Minerva Clergyman.

Minerva usava as vestes de Santo já conhecidas por todos. Ela levava seu trabalho bem a sério, isso era óbvio pela expressão talhada em seu semblante. Os olhos azulados e hostis continuavam fixos na pessoa no centro do salão.

Quando entraram ali, o tribunal já acontecia, tiveram sorte de não chamarem a atenção enquanto subiam os degraus que só terminaram no andar superior, porém a Santa ainda dava uma oportunidade para o criminoso diminuir o peso da sua sentença.

Mas o ladrão não estava aberto a negociações, e muito menos temia o sistema jurídico.

— Isso não vai acabar bem, Iolite — Sylford, chegando ao lado de Kurone, sussurrou.

— O que você quer dizer?

— Lembra que eu lhe falei que Minerva Clergyman era uma pessoa amável? — O menino meneou a cabeça, confirmando. — De fato, ela é isso, contudo Minerva é muito rígida quando o assunto é seu trabalho como Santa, do jeito que as coisas estão, ela…

— Pena de morte. — Era a voz da Santa. Esteve tão atento às palavras de Sylford que nem entendeu como a mulher chegou a essa sentença tão rápido. — Horário da execução: agora. Quais suas últimas palavras?

Os nobres da geração mais nova fizeram uma expressão feia no rosto, nenhum deles imaginava que presenciariam uma execução nesse julgamento, era algo muito extremo e seus corações não estavam preparados.

— Eu quero que todos vocês vão se foder! — bravejou o criminoso, lançando um olhar repleto de ódio à figura da Santa.

— Ótimas palavras. Guardas, executem — ordenou Minerva.

Kurone mirou Sylford com descrença. E agora? O que podiam fazer? Uma vez que o criminoso fosse executado, perderia a sua única pista do paradeiro de Annie. 

A essa altura do campeonato, qualquer intervenção do jovem Sophiette ia parecer suspeita. 

“Droga!”

— Espera, Iolite! Espera! — Sophiette deu gritos discretos, mas isso não impediu Kurone de correr para o fundo do andar superior, longe dos olhos de todos. 

Por sorte, não havia muitos nobres ali e o foco da maioria era a execução do criminoso. “Ellohim, já sabe o que fazer.”

{Naturalmente, ela sabe.}

Partículas azuis subiram pelo ar e uma máscara esbranquiçada com uma cruz negra na testa surgiu, as luzinhas também foram responsáveis por darem forma a duas armas que não deviam existir nesse mundo: dois revólveres Colt 1917 com tambores rotatórios.

Como estava com o uniforme da Universidade Mágica, precisou tirar a camisa e usar uma névoa do Tipo Elemental Escuridão para nublar a sua figura, dificilmente as pessoas comuns poderiam descobrir a sua identidade.

Ele pegou e impulso e correu, saindo das sombras e saltando pelo parapeito do andar superior. Aterrissou exatamente no meio do salão, surpreendendo a todos.

Os guardas, aproximando-se para aplicar a sentença do criminoso, ficaram surpresos por um momento, mas isso logo desapareceu e três deles aproximaram-se com suas espadas já brandidas.

Bang! Bang! Bang!

Os tambores das armas na mão do menino giraram e as espadas caíram, afinal as balas atingiram em cheio suas mãos. Sangue pingou e os homens seguraram o membro ferido por instinto, soltando palavras de baixo calão.

Ainda havia mais quatro guardas ao redor, contudo eles hesitaram em avançar e guardam as lâminas.

Era impossível uma espada vencer um revólver em um combate de longa distância.

Nessa época, a magia dos humanos ainda estava longe de ser o que seria na Era Mágica, mas havia pessoas que podiam manipular bem a mana, como o guarda no canto do salão. O homem direcionou as mãos para o menino e preparou-se para atacar.

— [Espigões de Gelo]!

— Não devia gritar assim, vai avisar a sua presa.

Bang! Bang! Bang!

Uma sequência de balas mágicas foi suficiente para destruir o ataque vindo empalá-lo. O responsável pela investida tentou recuar, mas foi inútil, um disparo o atingiu no ombro, fazendo o seu corpo rolar pelo local, tingindo o chão de vermelho.

Acima, os nobres só podiam assistir à cena, horrorizados, nenhum deles parecia ser do tipo combatente, exceto…

Uma outra figura saltou do andar superior e pousou em frente a Kurone, não era outra pessoa senão Sylford Sophiette.

Claro, como o líder do clã Sophiette, responsável por proteger o reino, seria muito suspeito se ele ficasse apenas assistindo enquanto alguém invadia um julgamento da Santa e tentava levar o ladrão embora. 

Kurone e o jovem à sua frente tiveram diversas lutas simuladas antes, eles conseguiriam fingir bem uma batalha e criar uma brecha para que o menino mascarado fugisse… isso se não houvesse a intervenção de uma terceira parte.

Quem saltou do palanque e já levantou lançando ataques foi Minerva.

Precisou saltar para desviar, mas no momento que fez o movimento, Sylford cortou com a sua espada. Dois contra um? Isso não era nada justo, mas o pior era saber que, mesmo pegando leve, os golpes do jovem Sophiette ainda eram mortais.

Tentou tomar distância, precisava criar uma maneira de como fugir dali. Trocar golpes físicos com Minerva estava fora de questão, não sabia quais seriam as consequências após isso.

— Senhor Sophiette, me dê cobertura para que eu possa executar o criminoso.

Ela era realmente inflexível, queria cumprir primeiro a sua função para depois cuidar dele.

Sylford engoliu em seco e apontou a sua espada para o menino mascarado, não havia muito o que ele podia fazer além de “pegar leve” nos ataques.

Vendo a Santa fazendo menção de se aproximar do criminoso, Kurone chutou o chão com força e reduziu a distância entre eles. O jovem Sophiette fez um movimento, mas foi obrigado a se defender dos disparos do revólver com o corpo da espada.

Usar uma lâmina para refletir todas as balas era algo que só podia ser feito por um Sophiette, mesmo.

— Foi mal, mas aguenta o tranco — Kurone falou ao puxar o homem ajoelhado no centro do salão pelo colarinho. Escutou o som de tosse doentia e palavrões, mas não havia muito o que fazer.

Quando parou, Minerva e Sylford já estavam se aproximando, cada um vindo de um lado, suas posições formavam um triângulo, se fosse traçada uma linha imaginária conectando os pés de cada um. 

Um ataque em dupla era algo mais difícil de se lidar, ainda mais vindo das duas potências, sendo que Minerva usaria toda a sua força.

— Ei, garoto, que tal me soltar? Posso te dar uma ajudinha — disse o criminoso, limpando a garganta. Por algum motivo, esse homem não parecia preocupado.

Kurone não pensou duas vezes, direcionou uma das armas para baixo e deu um tiro nos elos que juntavam as duas extremidades da algema, libertando o homem.

No momento que fez isso, uma aura assassina preencheu todo o salão, algo que fez até Minerva e Sylford recuarem alguns passos.

Escutou, em meio aos nobres do andar superior, o som de alguém molhando as próprias calças e gritos de horror.

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Olá, eu sou o NekoYasha!

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