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Um sentimento familiar apossou-se do seu corpo. Recordou-se de quando assistia aos filmes de terror, escondido, com Teruhashi. O arrepio parecia vir do fundo da alma e se exteriorizava por todo o corpo, provocando calafrios.

Kurone era forte, ele tinha consciência da sua força, mas no fundo continuava sendo humano, tendo sentimento de ser humano, e um dos sentimentos básicos dessa raça era o medo. A humanidade só conseguiu sobreviver devido ao medo, o subconsciente sabia que nunca era seguro, sempre haveria um predador mais forte.

Por isso o garoto temia as trevas alastrando-se pela floresta à sua frente. Estava acompanhado do vice-capitão da Guarda Real de Andeavor e de Sprout Ruderalis, sem mencionar a criança prodígio ao seu lado chamada Cynthia Sophiette.

E mesmo assim esse sentimento ruim não desaparecia do seu peito. Estava com medo do escuro.

Percebendo a hesitação de Kurone, Cynthia segurou a sua mão de repente, lembrando-o que ela ainda estava ali e não o abandonaria. 

Os outros jovens, espalhados na formação explicada pelo vice-capitão, não estavam mais relaxados que o menino loiro sendo tranquilizado pela jovem Sophiette. Certamente as trevas estavam aguçando o medo, tentando desestabilizar eles, tornando-os vulneráveis às investidas surpresas.

Isso mostrava o motivo pelo qual Paltraint não permitiu a participação dos mais fracos, eles morreriam no primeiro descuido, se conseguissem pelo menos dar o primeiro passo após sair da barreira da Universidade Mágica.

— Está frio aqui fora — murmurou Cynthia.

— Essas trevas devem tá invocando tudo que é ruim pra atrapalhar nosso treino de campo.

— Querido, você está sendo bem cuidadoso em cada detalhe… parece até que já passou por alguma situação assim antes.

Kurone apenas sorriu com o apontamento da menina. Não iria negar, ela entenderia e não diria mais nada, pois Cynthia Sophiette sabia quando era hora de perguntar e se calar, às vezes o silêncio era suficiente.

Essa não era nem mesmo a segunda vez de Kurone em uma situação assim. Ele enfrentou a terrível ventania na masmorra de alto nível de Lou Xhien, encarou a nuvem de gafanhotos mortal de Belphegor dé Halls duas vezes e sobreviveu à névoa durante o confronto contra Mamon von Faucher.

Devido às suas experiências, o garoto sabia que essas trevas não eram algo tão simples, ela tentava mexer com a mente das pessoas, criando um ambiente mórbido e depressivo para os afetar.

— Esperem — falou Paltraint Atrex de repente, erguendo a mão livre. — Parece que temos companhia. Em ambientes assim, normalmente o inimigo tentará se aproveitar da desatenção, por isso…

Antes que o homem terminasse de falar, um vulto avançou em sua direção, rosnando como um cão feroz.

A cor do que quer que tivesse atacado o vice-capitão era negra, quase imperceptível no cenário, apenas seus olhos vermelhos se destacavam na escuridão. 

Vooosh!

Um único movimento com a espada foi suficiente para a lâmina de Paltraint partir a fera em duas bandas. Alguns ficaram surpreendidos, afinal não havia sangue ali, a criatura aberta em dois misturou-se no ar como fumaça após dar uma última rosnada.

— Nunca deixem sua guarda baixa — concluiu o homem, de expressão presunçosa, baixando a sua arma.

“A percepção desse cara tá em outro nível.”

[Ela imagina que haja uma grande distância entre a sua experiência e a desse cavaleiro.]

O garoto acenou com a cabeça. Embora seus inimigos fossem todos acima da média, Kurone era apenas um principiante se comparado ao homem liderando o grupo. Paltraint estava há alguns anos no posto de vice-capitão da Guarda Real de Andeavor, e antes disso foi um soldado comum e também um estudante como ele.

Guerras, ataques de hordas de monstros e demônios, revoluções, roubos, conspirações e Gênios mal-intencionados… Considerando seu posto, Paltraint já havia lidado com mais da metade dessas coisas na sua carreira profissional.

Era por isso que o vice-capitão podia ver coisas que o garoto não podia. 

Por alguns instantes, o menino fechou os olhos e tentou sentir os arredores. As trevas eram infinitas vezes mais densas aqui e tentavam confundir a mente e o espírito, isso impedia também que lesse o ambiente completamente.

Conseguia captar a presença das pessoas ao seu redor, a aura mais forte era a de Cynthia, que não fazia questão de suprimir a sua presença. Sprout, como esperado, continuava com a sua presença apagada, assim como o vice-capitão, embora esse ainda deixasse alguns resquícios perambularem pelo ar.

Um pouco distante, notou uma energia familiar que só poderia pertencer à Inquisidora. Embora um pouco ocultas, sentiu as auras malignas dos monstros residentes da floresta — não conseguia dizer se eram criaturas comuns ou negras, provavelmente trazidas com a escuridão, como a que atacou Paltraint.

Enfim, deixou um suspiro escapar. Não havia sinais de Azazel van Elsie nas proximidades — considerando a excentricidade da demônia, ela faria questão de exibir sua presença esmagadora para mergulhar todos no medo.

“Mas isso não quer dizer que eu tenho que baixar a guarda.”

Materializou a sua faca de combate militar na mão esquerda enquanto segurava a direita de Cynthia — a garota sequer tremia.

Eles deram apenas alguns passos e os monstros escondidos nas trevas começaram a atacar em bandos, as criaturas eram todas iguais, pareciam lobos esguios, de olhos vermelhos e um chifre prateado no centro da testa. 

Quando as feras se misturavam ao breu, apenas o seu chifre, olhos e os dentes afiados ficavam visíveis, eram como fantasmas flutuando pelo espaço negro.

Em determinado momento, Paltraint Atrex deixou de eliminar todas as criaturas que surgiam e as deixou passar na direção dos seus alunos. Ele deu informações suficientes e os jovens o viram matando os inimigos da forma mais eficiente possível, logo só precisavam aplicar toda a teoria.

Um dos monstros arriscou na direção de Kurone, abrindo a bocarra com dentes mais afiados que as lâminas do vice-capitão, contudo quem agiu antes do menino foi Cynthia.

A jovem Sophiette chutou o chão com força e reduziu, em instantes, a distância, surpreendendo até mesmo a fera vil. A garotinha só precisou de um chute lateral para fazer o seu oponente virar fumaça escura.

Essa era a parte mais curiosa a respeito dos monstros, eles não eram como os outros, foram originados da escuridão, bastava um golpe certeiro para mandá-los de volta ao lugar de onde vieram. 

Porém o mesmo também valia para eles. Os dentes das criaturas só precisavam de um breve contato com a carne para decepar um membro ou mesmo ceifar a vida dos mais fracos, isso ficou bem claro quando um dos estudantes teve a mão arrancada pela investida da garra de um dos lobos.

Por sorte, Sprout Ruderalis estava ali para cuidar dos ferimentos, embora não conseguisse recuperar partes do corpo com as suas poções, evitou a morte do estudante com êxito.

Haha, meninos e meninas, parece que vocês pegar o jeito da coisa — falou o vice-capitão após algumas horas de combate contínuo contra as feras das trevas.

Apesar da animação e os gestos exagerados, Kurone notou uma ponta de infelicidade na voz do homem. Claro, Cynthia estava ofuscando o protegido de Paltraint Atrex, ela não deixava nenhuma criatura se aproximar do garoto.

Logo, houve uma pausa para o lanche. Os auxiliares montaram guarda com dois alunos, que iam revezando depois de alguns minutos, enquanto o resto do grupo fazia a reposição das calorias gastas na luta.

Kurone achava a situação estranha, estava mais alerta enquanto recebia a comida oferecida por Cynthia. Os monstros eram fracos demais, isso não fazia sentido, só podia significar que as trevas ainda estavam escondendo seus verdadeiros trunfos.

— Vamos nos separar! — Paltraint Atrex sugeriu de repente, virando uma garrafa com bebida alcoólica. Mesmo nessa situação, esse homem estava bem relaxado.

A maioria dos jovens achou a sugestão absurda, mas ninguém ousou contrariar o vice-capitão da Guarda Real, ninguém estava a fim de ser deixado nessa floresta ou ser desafiado para um duelo contra Paltraint.

— Com licença, gostaria de me oferecer para liderar um dos grupos — disse a professora Sprout, em um tom estranhamente formal.

— Acho que você pode ser a pessoa mais indicada mesmo, considerando que lidou tão bem com os cachorrinhos que foram na sua direção.

— Apesar da minha aparência, sei me cuidar. Não sou uma renomada professora da Universidade Mágica à toa.

— Sendo assim, podemos dividir os auxiliares e os estudantes igualmente, e até fazer uma aposta para acender nosso espírito esportivo, haha.

O garoto observou a conversação entre a professora de botânica e o vice-capitão com o cenho franzido. Já conhecia os planos de Paltraint e não se importaria com isso por enquanto, mas quem realmente o preocupava era Sprout Ruderalis, que não podia ser considerada uma aliada ou inimiga.

No total, eram quatorze estudantes, dois guardas auxiliares, Paltraint e Sprout, a divisão foi justa, apesar de uma pessoa ficar insatisfeita após o fim da formação dos grupos.

— Como assim eu vou em um grupo diferente do Iolite?! — vociferou a nobre Sophiette.

— Entenda que temos que deixar os grupos balanceados, não é justo jogar os mais fortes em apenas um lado — explicou o vice-capitão.

— E desde quando o Iolite é forte? Desculpe, querido, mas é verdade. Ele pode muito bem vir para meu grupo.

“Valeu, me ajudou muito.”

— Entenda, menina, eu fiz muitos cálculos minuciosos para chegar a essa divisão…

— Não me faça dizer com qual parte do corpo você fez esses cálculos.

— Que deselegante.

Kurone apenas assistiu à discussão inútil entre a sua companheira Paltraint.  Cynthia era um bom disfarce para esconder sua verdadeira força, mas essas trevas eram perfeitas para treinar um pouco, e ninguém notaria suas habilidades na escuridão — sem falar que a menina estaria mais segura com o líder do seu grupo que com a professora Ruderalis.

Após minutos de discussão, a garotinha desistiu, inflando a bochecha e cruzando seus braços. Kurone soube, por esse ato, a falta de intenção da menina em continuar ajudando a derrotar as criaturas que surgissem no caminho. 

— Vamos nos encontrar ali — o vice-capitão apontou para a parte superior da floresta. Apesar da escuridão, o local elevado ainda podia ser visto por todos. — Espero ver todos lá. — O homem olhou para Kurone. — E também quero escutar boas histórias sobre suas lutas, então se esforcem, porque não vamos ficar para trás.

Assim, os estudantes se dividiram em dois grupos e tomaram caminhos diferentes, com um dos grupos tendo uma garotinha loira resmungando sem parar.

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