Ela ouviu a voz de Seon-Hu.
“Ela é minha namorada.”
“Ei, você deveria ter me contado antes. Querida! Querida! Seon-Hu tem…”
– Seon-Hu: Por favor, espere um momento aí.
Cerca de dez minutos depois.
– Seon-Hu: Você pode entrar agora.
Yeon-Hee nunca se importou com seu apelido de ‘Vadia’ até agora. No entanto, no momento em que agarrou a maçaneta da porta da frente, hesitou, pensando que logo encararia os pais de Seon-Hu.
Talvez eu devesse ter me vestido melhor para parecer mais apresentável… Ah!
Abaixando a cabeça apressadamente, Woo Yeon-Hee percebeu que sua aparência estava longe de apresentável. Todo o seu corpo estava encharcado de sangue e mostrava sinais de exaustão. A guerra terminou com a grande vitória de Seon-Hu quando ela invadiu o continente dos Declans junto com os guerreiros da Rainha Baclan.
Embora tivesse colocado seus itens na caixa de armazenamento, não podia fazer nada em relação ao seu traje de batalha. Isso também explicava por que os pais de Kim Ji-Ae sempre pareciam aterrorizados perto dela, não importa o quão gentilmente ela os tratasse.
Ela se arrependeu.
-Yeon-Hee: Espera.
– Seon-Hu: Por quê?
– Yeon-Hee: Estou só o caco. Eles ficarão chocados com o quão suja e imunda eu pareço. O que devo fazer?
– Seon-Hu: Você parece completamente bem. Não se preocupe.
Não era verdade. Woo Yeon-Hee sabia como as primeiras impressões eram cruciais. Como ela era conhecida como Vadia, ela precisava causar uma primeira impressão muito melhor nos pais dele. Ela teria que fazer um esforço tremendo para quebrar esse estereótipo.
Então ela ouviu a telepatia de Seon-Hu.
– Seon-Hu: Se você está tão preocupada com isso…
[O Administrador do Sistema Odin usou uma habilidade não identificada.]
Uma luz fraca envolveu Woo Yeon-Hee. Naquele instante, o sangue e a sujeira em seu rosto e cabelo desapareceram. Seu rosto parecia tão fresco como se tivesse acabado de tomar banho. Além disso, seu cabelo brilhava como se tivesse acabado de sair de um salão sofisticado.
Além disso, seu traje de batalha sujo havia mudado para um vestido branco. Era um vestido que ela lembrava de ter usado num momento feliz de sua vida, em Las Vegas. Ela olhou fixamente para seu reflexo no espelho do elevador. Ela não parecia mais uma Vadia.
Só restava uma coisa para ela fazer.
-Yeon-Hee: Obrigada.
Ela conferiu seu sorriso no espelho e então juntou coragem de conhecer os pais de Seon-Hu.
***
Quando entrou na suíte, um corredor que levava à sala de recepção se estendia. Molduras eram penduradas em intervalos regulares nas paredes do corredor. Cada uma parecia meticulosamente trabalhada, e não apenas o tecido era colocado atrás de seu conteúdo, mas as molduras também pareciam ser feitas de madeira luxuosa. Essas molduras luxuosas normalmente continham obras-primas caras.
No entanto, o que os pais de Seon-Hu valorizavam e exibiam eram fotos de família e e-mails impressos, provavelmente enviados pelo filho há muito tempo. A impressão do e-mail era uma verificação de emprego do Grupo de Finanças e Investimentos Jonathan, com a logo da empresa em destaque e um grande carimbo do CEO, Jonathan.
Woo Yeon-Hee poderia dizer o quão orgulhosos seus pais estavam dele e qual teria sido o principal tópico de conversa dos convidados que visitavam está casa. Seu coração começou a acelerar novamente. Mesmo que não fossem pais de Odin, o salvador do mundo, muitos pais consideravam seus filhos os melhores do mundo.
Woo Yeon-Hee mal percebeu o cheiro de ensopado de kimchi vindo da cozinha. Seu coração batia incontrolavelmente.
“Por aqui.”
Seon-Hu estava se aproximando à distância. A atmosfera na casa dos pais de Seon-Hu irradiava o calor que só uma família harmoniosa e feliz poderia exalar. Entre os itens da sala, destaque especial para uma estante. Havia dezenas de arquivos claros, todos com títulos relacionados aos Despertos. Parecia que o pai de Seon-Hu imprimiu artigos e resultados de pesquisas na web e os compilou em um álbum.
Do corredor de entrada até aqui, o carinho e o orgulho dos pais de Seon-Hu pelo filho eram palpáveis. Ela não pôde deixar de compará-lo com sua própria família. Seon-Hu e sua formação eram muito diferentes nesse sentido, principalmente quando pensava em sua mãe, que era muito manipuladora e egoísta.
Portanto, ela não conseguia se livrar da sensação de desconforto, apesar do toque reconfortante de Seon-Hu.
– Seon-Hu: Não há necessidade de ficar tão tensa.
Woo Yeon-Hee sorriu. Os olhos de quem falava revelava a própria ansiedade.
– Yeon-Hee: Eles sabem quem eu sou? Sobre nosso relacionamento?
– Seon-Hu: Eu contei a eles.
– Yeon-Hee: Não, sobre nosso relacionamento passado como professora e aluna.
-Seon-Hu: Não se preocupe. Meu pai é bastante flexível.
Isso significava que ele ainda não havia contado a eles.
***
“Esta é Yeon-Hee, que mencionei.”
“Bem-vinda.”
“Prazer em conhecê-la.”
Os pais de Seon-Hu a cumprimentaram com sorrisos calorosos.
“Olá, meu nome é Woo Yeon-Hee…”
A mãe de Seon-Hu não parecia se concentrar nela após as saudações, talvez estivesse consciente de seus olhos inchados e vermelhos de lágrimas. Eles não podiam ser escondidos por maquiagem aplicada às pressas.
“Não me preparei muito, mas você gostaria de jantar conosco?”
A maneira como disse isso foi tímida e reservada. Tal modéstia era rara entre as elites da sua época. Porém, o que deixou Woo Yeon-Hee ainda mais desconfortável foi o olhar examinador do pai de Seon-Hu, como se estivesse tentando relembrar algo de sua memória.
Woo Yeon-Hee olhou para Seon-Hu em busca de ajuda, mas ele também não parecia ansioso para mergulhar no passado deles naquele momento.
De qualquer forma, Woo Yeon-Hee sentou-se à mesa de jantar sem conseguir transmitir adequadamente os cumprimentos pretendidos. Então, o cheiro do ensopado de kimchi fervendo, feito com kimchi envelhecido e carne de porco, despertou seus sentidos e memórias.
Há muito tempo, quando era estudante, o ensopado de kimchi de sua mãe era bom. Isso a lembrou da comida que ela não experimentava há algum tempo, desde o início das disputas familiares.
“Você já jantou? Eu talvez a tenha pressionada a comer?”
“Não não. Você não precisa ser tão formal. Por favor.”
Foi a segunda vez que Woo Yeon-Hee reuniu coragem.
“Eu vou tentar fazer isso. Nos encontraremos frequentemente a partir de agora. Mas como devo chamá-la? Não tenho ideia de como funciona o mundo dos Despertos.”
“Eu apreciaria se você me chamasse pelo meu nome. Meu nome é Yeon-Hee. Yeon-Hee.”
“Bom, Sra. Yeon-Hee. Queria agradecer pessoalmente. Muito obrigado pelo grande apoio ao meu filho. Palavras não podem expressar o quão gratos estamos. Muito obrigado novamente.”
O pai de Seon-Hu até abaixou a cabeça. Woo Yeon-Hee rapidamente fez o mesmo, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas.
Ah…
Seon-Hu sempre disse a ela que os Despertos treinados deveriam ser capazes de observar suas emoções e controlá-las. No entanto, desta vez ela achou difícil identificar a origem de suas lágrimas. Tudo o ela sabia era que se deixasse de lado o tênue fio de controle que estava segurando, iria explodir em lágrimas. A essa altura, suas lágrimas nunca parariam de escorrer por seu rosto.
-Seon-Hu: Calma.
A telepatia de Seon-Hu não ajudou. O processo de ascensão à divindade foi magnífico, mas parecia que compreender a mente de uma mulher ainda não estava ao seu alcance.
Naquele momento, uma concha entrou na visão de Woo Yeon-Hee, que estava fixada apenas na mesa de jantar.
“Pra que toda essa pressa? E se ela não gostar de carne de porco? Por favor, deixe-me saber se for esse o caso. Posso tirar os pedaços.”
“O que você está tentando dizer? Só estou mostrando minha gratidão. Ah, desculpa. Fui rude?”
“Não, eu… eu…”
Woo Yeon-Hee não pôde continuar. Ela se sentiu genuinamente arrependida e triste porque o clima tinha ficado estranho por causa dela e ela não conseguia melhorar.
Por que continuo fazendo isso? Eu sou como uma idiota…
***
“Ela parece muito sensível.”
Foi o seu segundo cigarro depois da refeição. Na Jeon-Il verificou se precisava se desculpar se houvesse algum barulho alto para os vizinhos.
No entanto, não era apenas Na Jeon-Il, mas muitos dos seus vizinhos fumavam nas suas varandas. Alguns observavam as lanternas traseiras dos carros da Casa Azul enquanto outros olhavam para o céu, perdidos em pensamentos. Todos estavam pensando em seus próprios pensamentos e parecia que os pequenos desvios do dia pareciam admissíveis.
Os vizinhos, aparecendo em suas varandas, não reconheceram que o pai e o filho à sua frente eram Odin e seu pai.
“Ela deve ter muitas cicatrizes.”
Ele se referia ao Período do Advento e antes mesmo de ela começar.
“Mary.” Na Jeon-Il continuou: “Pelo que descobri, o motivo pelo qual Mary tem uma reputação tão ruim tem algo a ver com você, filho”.
“Ela também é a salvadora da minha vida.”
“Não sei muito sobre o Período do Advento e Estágio Final, mas filho. Escute-me. Eu entendo o quanto Yeon-Hee e outras pessoas gratas devem ter lutado por você. Não será suficiente para eles, mesmo que eu lhes agradeça cem vezes como seu pai.”
“Sim, Pai.”
“Sim, já que você veio nos apresentar ela, isso é tudo o que há para discutir?”
“Eu só preciso dar um hanbok adequado para vocês.” 1
“Isso parece um plano, mas você está pensando em realizar uma cerimônia?” Na Jeon-Il perguntou como se estivesse surpreso.
“Você está dizendo que nos dá permissão?”
“Permissão? É você quem manda. A vida é sua, não minha.”
“Obrigado. Discutirei os detalhes da cerimônia com Yeon-Hee.”
Na Jeon-Il riu. Não importa quantas vezes olhasse para ele, seu filho não parecia diferente de antes. A capacidade inerente de seu filho, considerado onisciente e onipotente, parecia mais um assunto a ser discutido em fantasias.
Seu filho era chamado de ‘Deus’, que sabia tudo o que queria e podia fazer o que quisesse. No entanto, estava nervoso ao apresentar sua namorada agora.
Na Jeon-Il estava grato por esse lado de seu filho e por aqueles que o ajudaram. O sorriso parecia que nunca mais sairia de seu rosto.
Seon-Hu perguntou: “Você está tão feliz por eu ter trazido a mulher com quem vou me casar?”
“Lembrei-me de algo.”
“O quê?”
“Srta. Yeon-Hee… Ela é sem dúvida única. Ela não era sua professora do ensino médio?”
- Vestido Tradicional Coreano.[↩]
