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[ 23 de abril de 1922, Toryu, Asahi. ]

Abrindo os olhos com dificuldade, Akemi desperta com um cansaço debilitante em seu corpo deitado.

Uma luz intensa atinge seu rosto, mas o silêncio reinante é rapidamente quebrado por um choramingo.

Snif snif… por que ele não acorda? Ah, eu não aguento mais isso… Snif… ó deuses, ajudem-me.

Eu… conheço essa voz.

Ainda envolto pela névoa do sono, o rapaz luta para manter os olhos abertos; sua visão turva se acostuma lentamente à forte iluminação.

— Por favor… snif… não posso suportar mais perdas.

O choro persistente atrai o olhar do menino para a direita.

Ali está Isao, sentado em uma cadeira de madeira, inclinado para frente, com os cotovelos apoiados nas coxas e as mãos tentando em vão conter as lágrimas já secas no rosto.

Com a voz trêmula e quase inaudível, Akemi tenta chamar: — Vo-vovô?

O avô levanta a cabeça, revelando ainda mais seus olhos avermelhados e profundas olheiras; porém, mesmo com o rosto marcado por lágrimas, sua cara triste rapidamente se transforma em alegria ao ver o neto consciente.

— Oh! Meu neto! Finalmente acordou! — Ele coloca as mãos no peito e solta um suspiro de alívio. — Graças aos deuses.

O garoto percebe-se coberto por um fino lençol em uma pequena e confortável cama; apenas a sua cabeça descoberta. Entretanto, as memórias dos trágicos eventos que ocorreram ainda assombram sua mente.

A dor, o calor e os sons traumatizantes estão cravados em sua mente.

— Eu… estou vivo? Por quanto tempo fiquei apagado?

Agora mais calmo, Isao informa ao neto: — Você permaneceu inconsciente por quatro dias, eu já não sabia mais o que rezar.

— Q-quatro dias? O-onde estamos? — Ainda deitado, sonolento e de olhos semiabertos, Akemi tem o olhar perdido nos arredores.

— Estamos no Hospital Áurico de Toryu.

— Hospital… Áurico?

— Quando o encontramos naquela situação, levamos você para o hospital trivial mais próximo da usina, mas logo após alguns minutos de exames, você foi transferido para cá e… acabaram te internando aqui.

Espera, como eu posso estar em um hospital somente para áuricos?! 

— P-por que me transferiram para um lugar como esse?! 

— Isso não importa, quero saber se você está bem.

— Bom, acho que consigo me mexer.

Akemi tenta ignorar a fadiga e se esforça para ficar sentado na cama.

Essa cama… é tão confortável. Sinto como se estivesse flutuando nas nuvens. É tão diferente dos hospitais triviais.

Quando o garoto finalmente se acomoda, ele nota um espelho à sua esquerda refletindo ataduras que envolvem seu tronco e braços.

Nossa! Estou parecendo uma múmia! Mas parece que estou bem. Já não sinto o calor que sentia antes e nenhuma parte de mim dói mais.

Ao analisar com mais atenção, algo em seu rosto o surpreende.

Ah, fala sério! Aquele maldito corte na bochecha realmente deixou uma cicatriz?! Isso aqui vai ficar na minha cara pro resto da vida?!

O cheiro característico do ambiente hospitalar exalando fortemente tira o foco de Akemi em seu corpo.

O local é totalmente baseado em cores brancas e claras, com paredes lisas e alguns médicos andando pela sala.

Há tantas cortinas verdes ao redor, provavelmente estão separando os pacientes em outras camas, devem ser todos áuricos… Por sinal, é a minha primeira vez internado, e justo em um hospital áurico… Hmmm…

Ao compreender seu estado, o jovem inclina a cabeça e sorri timidamente, na tentativa de aliviar a tensão do avô.

— Então… tive sorte, né? Hehe.

Os olhos de Isao se fixam nas faixas do neto, e repentinamente, uma expressão irritada se torna mais evidente por conta do que vê.

Cap-3-Scene-1

— Sorte seria se você não tivesse ignorado minhas ordens e ficado longe daquela maldita sala!

A reação impetuosa faz Akemi fechar os olhos, tomado pelo medo.

Ai caramba, acho que escolhi as palavras erradas.

— M-mas, vovô, pensei que eu podia fazer algo. Eu só queria ajudar.

— Ajudar?! Você chama isso de ajuda?! Você é um estagiário, rapaz! Não um super-herói. Foi imprudente e irresponsável, esses seus atos egoístas quase causaram uma tragédia! — A voz de Isao treme de tanta raiva.

Akemi sabe que o avô tem total razão, então, ele abaixa a cabeça, aceitando o erro e as preocupações que causou.

— Desculpe, eu não queria causar problemas. Só queria provar que sou capaz.

Irritado, Isao se cala e evita olhares com o neto.

Ele está tão tenso, não para de balançar as pernas, e agora, mal olha nos meus olhos. Mas pelo seu jeito, parece mais incomodado com alguma outra coisa além de mim.

clack

Inesperadamente, um barulho da porta da sala sendo aberta surge em meio ao silêncio.

Três vultos aparecem nas cortinas atrás de Isao, insinuando a aproximação de pessoas.

Em seguida, dois médicos e um militar são revelados.

Isao também evita contato com os recém-chegados, aumentando a sua inquietação; por outro lado, a presença de novas pessoas deixa o garoto mais atento.

Quem são estes? Parecem bem sérios e profissionais.

Enquanto se aproxima com um olhar gentil e prancheta em mãos, uma doutora comenta: — Hm, vejo que meu paciente está acordado.

Akemi responde alegremente com um aceno de mãos, a aparência simpática da médica o conforta.

— Oh, olá!

— Bom dia senhores, sou a Dra. Rowze, responsável por esse garotinho aí. — Ela aponta para o jovem. — Lembra-se de mim, Akemi?

O rapaz coloca a mão no queixo para analisar a médica.

— Hmmm, acho que já te vi em algum lugar.

A doutora cobre delicadamente a boca para tentar conter o riso: — Fufufu, vamos lá, pense mais um pouquinho.

Hmmm…

— Ah! Moça do bonde! Não sabia que você trabalha aqui. 

— Fufufu, que bom que você se lembrou de mim. Como está?

— Estou me sentindo bem, não tenho dores, obrigado.

Rowze aparenta ser uma médica elegante e simpática, sua voz calma e suave transmite tranquilidade e empatia.

Ela mantém o jaleco de antes, entretanto, seu longo cabelo loiro está amarrado em um rabo de cavalo; e seus olhos, antes castanhos, agora possuem outra cor, um verde bem forte, alegando o uso de lentes.

Ela está usando um estilo diferente de como estava no bonde, e pelo nome e características físicas, provavelmente é estrangeira. Deve ser de outro país aliado… será que é áurica? E por que logo ela é a responsável por mim?

— Você é bem desastrado, não é? Deu trabalho para a gente — comenta a médica.

Akemi passa a mão pela nuca e exibe uma cara sem graça ao responder: — É, acho que ultimamente tenho sido um pouco problemático.

A doutora fixa o olhar na prancheta em suas mãos, e após alguns segundos de silêncio, ela encara o garoto e relata: — Enquanto você estava no Hospital Trivial Leste, os equipamentos eletrônicos de lá começaram a falhar durante seus exames e sua temperatura corporal estava acima de quarenta graus. Então não dava para determinar se você tinha sofrido algum ferimento grave.

O fato surpreende o paciente, levando-o a percorrer as mãos pelo corpo em busca de algum ponto dolorido.

— Jura?! Mas eu acho que não quebrei nada, não sinto nenhuma dor forte, consigo me movimentar tranquilamente. Aliás, por que estou num hospital para áuricos?

— Parece que você está se recuperando bem depois de acordar, isso é impressionante. Falando sobre o que aconteceu, notaram algo que teoricamente não era para estar em você, era como uma quantidade considerável de energia elétrica armazenada.

Energia elétrica? Ela está falando daquelas faíscas? Eu me lembro delas, mas…

— Como assim? O que você quer dizer com isso?

— Quando descobriram essa energia em você, decidiram te transferir para cá como um caso isolado. Iniciamos alguns procedimentos especiais e, com o passar do tempo, você começou a… esfriar? Parece que toda aquela eletricidade e calor que o percorria se dissiparam, o que é um alívio, já que mal podíamos te tocar sem o risco de levar um choque.

— E-eu ainda não entendi, por que tem tantas pessoas aqui?

— Chamei estes dois homens pois o seu caso é único, algo jamais visto em Asahi.

Ao lado de Rowze, o outro médico, dá um passo adiante, mantendo os braços para trás.

— Permita que eu me apresente. Sou o Dr. Asakusa Akuto, e garoto, o que aconteceu com você é algo extraordinário.

Asakusa é um senhor de meia-idade, estatura baixa e cabelos grisalhos curtos.

Seu rosto é destacado pela barba longa e sobrancelhas grossas, tapando totalmente sua boca e olhos, disfarçando qualquer expressão, enquanto suas vestimentas médicas tem uma tonalidade azul marinho.

Quem é este? Deve ser um médico experiente.

Antes que o jovem possa perguntar, Rowze toma a palavra: — Fomos informados que você foi vítima de uma descarga elétrica fatal, e considerando que você é um trivial, é difícil entender como você sobreviveu, a não ser por um milagre.

Passam muitas coisas pela cabeça do rapaz, seu coração acelera gradualmente por conta da ansiedade.

O-o que ela quer dizer? O que estes homens têm a ver com isso?!

A inquietação e reações negativas de Isao aumentam drasticamente quanto mais os médicos falam, Akemi percebe isso e pergunta para a doutora com seriedade: — O que aconteceu comigo?!

— Você provavelmente despertou uma aura.

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Olá, eu sou Andaz!

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