Akemi fica visivelmente constrangido e tímido pelo abraço repentino de uma desconhecida.
Com um sorriso sem jeito e coçando a nuca, ele tenta conversar: — O-opa! Tudo bem, não se preocupe! Hehe.
À sua frente, a garota de túnica laranja ajeita a postura enquanto arruma o cabelo.
— Então, seu nome é Akemi, não é? Que nome bonito — alegre, ela estende as duas mãos em cumprimento — prazer em te conhecer!
— Sim, esse sou eu… o prazer é todo meu.
Ao acompanhar o aperto de mãos, uma energia positiva transmite gentileza e amabilidade.
As mãos dela são tão quentes e macias… e esse cheiro… eu nunca senti algo assim.
— Vem comigo! — Durante o cumprimento, a garota, com a mão esquerda, agarra firmemente a mão direita de Akemi.
— Espera, pra onde você va-AAAAAH!
Repentinamente, aproveitando o aperto de mãos, ela começa a puxar o rapaz, descendo rapidamente pelas escadarias.
Wow! Que isso?! Não dá pra acompanhar! Desse jeito vou cair! O que há com essa menina?!
Já no amplo térreo, ambos correm para a saída do primeiro andar.
Caramba, como ela não solta a minha mão! Como pode ser tão forte?!
A recepcionista do vestido gótico observa com indiferença os dois jovens saindo correndo pela entrada, e com sua cara tediosa, continua lixando as unhas…
Do lado de fora, Akemi é soltado, porém, seu fôlego se foi no meio da correria.
Vendo o estado do pobre coitado, a garota inclina levemente a cabeça para o lado e pergunta: — Você está bem?
Ofegante e com as mãos na cintura, Akemi tenta responder: — Uff… eu… eu acho que sim, uff… É, eu tô legal — ele dá um sinal de ok.
— Hihihi, vem logo.
Pelas estradas do pátio da ASA, a garota começa a caminhar lentamente com as mãos cruzadas atrás das costas…
Ela… veio atrás de mim? Por quê?
O rapaz, ainda parado, pergunta: — Com licença, por que você estava me procurando?
A garota, caminhando de costas para ele, vira o rosto de lado e exibe uma felicidade radiante.
— Você é interessante, Akemi. Tenho certeza de que vamos nos dar muito bem!
O comentário deixa o garoto completamente corado.
Hãn?! A-a gente vai se dar bem?! Eu nem a conheço!
— Ei, vai ficar parado aí? Vem cá! Vamos andar um pouco.
Apressando-se para encurtar a breve distância, Akemi a segue pelos caminhos de brita.
Ela age como se já me conhecesse há muito tempo… Quero conhecer novas pessoas, mas… eu nunca falei com meninas! E essa aqui parece ser extrovertida ao extremo, o que eu faço?!
— Ah! Seu nome é Akemi mesmo, né? Posso te chamar assim?
Em Asahi, é comum que pessoas íntimas se chamem pelo primeiro nome, entretanto, o rapaz se sente à vontade em aceitar o pedido da jovem ao lado.
— Eu… acho que não tem problema…
— Então, meu nome é Hiromi Miyazaki. As pessoas me chamam de várias maneiras, mas você pode me chamar de Miya.
Obviamente ela faz parte da família Miyazaki, e olhando de perto, essa roupa parece ser de um material muito caro, sem contar esse perfume fresco que não sai do meu nariz… o cheiro é muito bom!
— Sabe, eu costumava acompanhar a sua família apenas em jornais e livros de história. Mal posso acreditar que tem um integrante bem ao meu lado que… não queira me matar.
— Hihihi, relaxe, eu não vou te machucar. Fico lisonjeada pelo seu fascínio na minha família. Mas me conta, você é o garoto inscrito de última hora para as lutas, não é?
Como ela sabe disso?!
— S-sim, eu e mais um cara chegamos agora à tarde, porém… parece que somente o bobo aqui não sabia que iria lutar, que otário…
— Você não sabia da prova física?
— Não… É uma longa história…
Miya para de frente com o garoto e se curva, sua voz carrega uma clara decepção.
— Peço perdão pela nossa falta de hospitalidade.
Akemi também para, e corado com a atitude da garota, diz: — Ah! Não se preocupe! Eu escolhi vir aqui por vontade própria. Por mais que ninguém tenha me contado nada sobre o que aconteceria, você não tem culpa de nada. Eu que deveria me informar melhor antes e parar de criar coisas na minha cabeça.
Ao retomar a postura e olhar diretamente nos olhos de Akemi, Miya, com uma expressão mais séria, explica: — Parte dessa culpa é minha — ela toca delicadamente o centro do próprio peito — os Miyazaki e parte do exército asahiano são os responsáveis pela ideia dessas lutas.
— Eita, não imaginava que vocês tivessem tanta influência sobre a instituição.
— Não sei como te chamaram, mas esse método de ingresso na ASA é recente, pouca parte da população conhece, e depois da nossa guerra recente, muitos jovens agora se recusam a entrar no exército. O baixo número de shihais em atividade deixam o governo desesperado por novos recrutas.
Hmm, o major devia achar que eu desistiria caso soubesse que o teste era uma luta…
— Ouvi falar de coisas assim, o seu relato me faz pensar muito, mas pelo o que vi, ainda temos pessoas fortes e promissoras aqui.
— Hoje em dia é mais difícil achar jovens áuricos que desejam se tornar shihais, e os que querem, agem como você viu na arena. É repugnante ver tudo isso.
— Você… também não gosta dessa violência?
Incomodada com algo, Miya olha para o chão.
— Na verdade, o que me chateia é a maneira como minha família trata os jovens que entram naquela arena. Toda essa brutalidade é totalmente incompatível com a paz que afirmam que nosso país deseja.
É quase a mesma coisa que eu falei!
— É… não se preocupe! Mesmo que essas situações insanas ocorram, no final, ninguém sai ferido.
— Eu sei, mas… como você disse, ver jovens lutarem contra aqueles de mesma pátria é revoltante. Suas palavras dentro da arena me tocaram profundamente, e é por isso que estou falando com você agora.
Coçando a cabeça, Akemi responde: — Hehe, obrigado pelos elogios. Espero não causar problemas daqui pra frente por conta dos meus poderes descontrolados.
— Você acabou de despertar a sua aura, certo?
O quê?! Ma-mas como ela…
— Er… Sim?
Eu não queria contar isso a ela! Como ela supôs isso?
— Hihihi, não se assuste. Você não é o primeiro a despertar aura estando mais velho.
— Mas, como você descobriu?
— Pelo seu jeito… “lutando”, já dava pra te entender perfeitamente. Tinham vários garotos aparentemente perdidos como você na arena, porém, eles sabiam se virar pelo menos um pouco. Você parecia uma pedra.
— P-pedra? — Akemi fica bastante sentido pela observação.
— Mesmo assim, a sua aura… eu nunca vi algo assim, ela parecia agir por conta própria para te proteger das chamas.
— Então, eu também não sei o qu-
— Olha! Tinha um banco aqui o tempo todo, vamos sentar! — Miya novamente pega na mão de Akemi e o leva para um banco vermelho por perto.
É… por que ela é assim?
Sentados lado a lado, a garota olha para o rapaz e pergunta: — Sabe, Akemi, eu tenho uma pergunta. Qual é o seu sonho?
— Meu… sonho?
— É! Você deve ter algum objetivo na vida, não?
— Bem… eu queria entrar na ASA e… ser um shihai… mas…
— Mas…?
Com as mãos apoiadas no assento do banco, a garota traz o rosto para mais perto do de Akemi, que constrangido pela proximidade repentina, responde desviando os olhares e massageando o braço: — Eu… tô completamente perdido sobre o que eu quero…
— Por que? — Ela aproxima o rosto ainda mais, assim, o garoto não consegue mais evitar o contato olho a olho.
Caramba, ela tá muito perto!
— É… eu sempre me imaginei enfrentando criminosos nas ruas, protegendo a vizinhança, sendo uma pessoa forte e confiável, um verdadeiro herói. Mas, hoje notei que a realidade é muito diferente.
Miya se ajeita no banco, e com o olhar cabisbaixo fixo nos dedos entrelaçados sobre as coxas, desabafa: — Compreendo. Sendo sincera, eu também pensava assim quando tinha oito anos. Foram certos acontecimentos que me fizeram entender a realidade da vida de um militar áurico.
Oito anos?! Eu sou tão ingênuo assim?!
Com várias coisas passando pela cabeça, Akemi contempla o céu.
— É, nunca pensei ver tanto sangue e ódio, é demais pra mim. Na minha mente, tudo parecia mais simples, como se só bastasse ter uma aura.
Ao notar o descontentamento do rapaz, Miya vira o olhar para ele e tenta animá-lo: — Akemi, não é somente a aura que faz alguém forte. Você, por exemplo, foi muito bem quando disse aquelas coisas na arena. Mais uma vez, eu nunca vi algo assim. Sua mentalidade é rara para uma pessoa que quer tentar entrar na ASA.
Akemi retribui o olhar e responde prontamente: — Mas, eu não quero mais isso! A real é que só quero voltar pra casa e esquecer que tenho esses poderes, posso acabar machucando mais alguém, tenho que evitar isso.
— Olha, eu também não quero machucar ninguém, aliás, não quero que ninguém mais seja machucado, esse é o meu sonho. Só que, infelizmente, aprendi muito cedo que é praticamente impossível restaurar a paz sem que algumas pessoas sofram.
— Você tem um desejo louvável, mas, tem certeza que quer tentar?
— Acredito que há alguma maneira em que todos possam viver em harmonia, é pra isso que entrei na ASA.
— Você é aluna daqui?!
— Entrarei em uma das turmas de recrutas que estão começando agora. No entanto, meu objetivo vai além de simplesmente me tornar uma shihai. Quero transformar o símbolo de caos desta academia em um emblema de paz e espalhar isso por toda Asahi, e depois, para o mundo inteiro.
— Símbolo… de caos?
— Há indivíduos detestáveis no comando do exército asahiano, muitos dos atos grotescos que cometeram foram e continuam sendo ocultados pela mídia. Como você só acompanha jornais, sei que é uma das pessoas que apenas veem a ponta do iceberg e imaginam os nossos militares como nobres heróis. Enfim, toda essa patifaria começa aqui, nesta instituição.
— Nossa, eu… eu nem sei o que dizer. Você parece saber de muitas coisas, confio que conseguirá fazer o bem.
— Obrigada pelo apoio, mas, eu não consigo sozinha, preciso de mais alguém, e não sei se encontrarei pessoas com o mesmo propósito na minha turma. É-é por isso que… — as bochechas da garota avermelham-se — é por isso que… eu preciso de você!
— E-eu?!
— Sim! A ASA necessita urgentemente de pessoas como você! E até agora, você é o único que pode me ajudar a tornar esse mundo num lugar melhor! Nem que tenhamos que enfrentar outra guerra!
— Ma-mas eu nem consegui passar no teste! Eu não sei lutar, eu não sei fazer nada! No que um fracassado como eu poderia te ajudar?!
Miya segura Akemi pelos ombros e o encara no fundo dos olhos.
— Não! Você não é fracassado, e sim, muito perspicaz! Não deixe as palavras do meu primo abalarem você.
— Espera, o Nihara?
Ao soltar as mãos dos ombros do rapaz, Miya esclarece calmamente: — Sim, Nihara é o meu primo de primeiro grau, nossa família é muito grande, e ele representa muito do ego inflado e jeito rude dos Miyazaki, um comportamento que eu também quero mudar em todos os nossos membros.
Já era de se esperar que ela conhecesse o Nihara, mas, por mais que sejam da mesma família, são pessoas completamente diferentes.
— Então, seus pais também são como ele?
— Meu pai é sério e profissional, mas é tranquilo, e… minha mãe… ela… — Miya desvia o olhar, tentando encontrar as palavras certas, mas de repente parou de falar ao ouvir passos se aproximando.
Quem tá vindo?