[ 27 de abril de 1922, Toryu, Asahi, às 2h da tarde. ]
Mesmo sem a ajuda de um especialista, Akemi reserva um tempo sob o céu aberto do quintal para praticar suas habilidades elétricas sempre que o avô está fora de casa.
Faz um tempo que não uso a minha aura, estava ansioso para agora. O que posso fazer? Já sei, começarei apenas com a manifestação áurica, depois tento algo melhor.
Ele se concentra e tenta controlar a aparição da aura, fazendo-a aparecer e desaparecer de acordo com o controle de seu foco.
Até que não é tão difícil, porém não posso ficar só nessa.
Mirando na cerca de madeira, Akemi tenta cadenciar os seus disparos de correntes elétricas, ajustando o tamanho e poder de cada tentativa.
Fzip!
O som de uma descarga fraca e inofensiva se faz ouvir.
— Hmmm, esse foi muito fraco…
Fzzzzzip!
Mesmo a tentativa sendo mais forte, a cerca segue intacta.
— Eu posso fazer melhor, dá pra ser muito mais potente!
Encolhido e com a mão canhota segurando a destra, Akemi foca toda a corrente elétrica que percorre seu corpo em seu braço direito.
Entretanto, após minutos de concentração, a energia parece se acumular de maneira assombrosa.
Espera… Ai, caramba! Acho que eu errei na dose! Assim meu braço vai explodir! Tem muita energia em mim, vou acabar causando um desastre! O que eu faço?!
Por não saber o que fazer, o garoto fica nervoso.
Tenho que expelir isso! Mas pra onde?!
Olhando para cima, a resposta é encontrada.
Ok, vai ter que ser assim!
Num movimento brusco e desesperado, Akemi estende a mão direita para o céu. Sua manifestação áurica surge e um intenso clarão irradia seu braço.
Por um breve momento, a visão do rapaz se torna mais aguçada e tudo parece mais nítido e lento.
Até que…
Zzzt-CABRUUUUUUM!!!
Um intenso raio amarelo é disparado aos céus. O estridente barulho faz Akemi cair sentado, desnorteado…
Após alguns segundos no chão, o garoto tenta se levantar enquanto verifica seu corpo e analisa a situação.
O-o que foi isso? Foi… um raio? Isso saiu da minha mão?! Era pra ter estourado meus tímpanos!
Em seguida, ele percebe que, além de sua manifestação áurica, toda a sua energia interior, que antes percorria seu corpo de forma intensa, se foi.
De novo… eu não sinto mais nada! O que eu fiz?! Eu não entendo, acabei com todo o meu poder nessas brincadeiras? É como se essa aura tivesse algum tipo de armazenamento, mas como isso funciona?!
Apesar de seus esforços para recuperar sua aura, Akemi não obtém resultados. Assim como aconteceu na última vez que testou seus poderes no quintal, novamente eles parecem ter desaparecido.
Não adianta. Toda vez que tento usar isso, faço algo errado ou perigoso. O jeito é esperar que me instruam. Pelo menos não quebrei nada.
[ 28 de abril de 1922, Toryu, Asahi, às 6h30 da manhã. ]
O tão esperado dia chega.
Com o toque do despertador, Akemi levanta empolgado de sua cama.
Isao também acorda com o barulho e se levanta lentamente de sua cama em outro quarto. Em seguida, o idoso vai até o quarto de seu neto e bate na porta fechada.
Toc-toc-toc.
— Akemi? Você está acordado? — pergunta o avô atrás da porta, preocupado e com sono.
— Oh! Sim! Bom dia! — responde o garoto, animado.
— Posso entrar?
— Er… pode sim, claro.
Enquanto abre a porta do quarto, Isao comenta: — Você não costuma acordar tão cedo, o que está acontecendo?
Ao abrir a porta do quarto, ele se depara com o neto se vestindo com um gakuran em frente ao espelho de chão.
Ainda sonolento e processando o que está vendo, o avô tenta falar: — Jovem… essas são…
Enquanto se ajeita, o garoto responde: — É o uniforme da ASA. Só não te mostrei antes por certos motivos, mas essas roupas são bem elegantes.
— Você… ficou bom nelas — observando o quarto, Isao vê algo em cima da cama arrumada. — E essa maleta?
— Também foi enviada pela academia, é onde veio todo o meu material. Terei de levá-la comigo hoje.
— Ho-hoje? — Isao se espanta levemente com a informação.
— Pelo que li numa carta que recebi na maleta, hoje começa o primeiro dia de lá. A gente não comentou sobre isso nesses últimos dias, né?
— Quando você sairá de casa?
— Vou comer alguma coisa e já estarei partindo. Pelo visto, antes das oito horas eu já tenho que ter chegado.
— E como pretende chegar até lá?
Com um sinal positivo com a mão e um sorriso, o garoto tenta passar tranquilidade: — Não se preocupe com isso, já tenho tudo organizado!
[ 6h51 da manhã. ]
Do lado de fora e de frente com seu avô entre a porta de casa, Akemi está pronto para se despedir.
Isao olha para o neto com a preocupação estampada em seu rosto enrugado; ele segura as mãos do jovem com ternura, sentindo um aperto no peito ao imaginar o que o futuro reserva.
— Por favor, prometa-me que tomará cuidado.
Com seriedade, Akemi encara o avô.
— Eu não quero te preocupar. Apenas saiba que estarei sempre pensando em você, em cada passo que der.
Lágrimas escapam dos olhos do senhor, e um abraço apertado no neto é o remédio para a dor emocional que vem à tona.
Akemi retribui o abraço do avô, segurando as emoções que ameaçam transbordar.
— Meu querido neto, não importa o que aconteça, lembre-se de que você é tudo o que me resta. Mas antes, tenho que lhe avisar de uma coisa.
— O que?
— Mantenha distância do diretor da ASA.
— Fala do Marechal Ichikawa? O que tem nele?
Mesmo vendo a confusão no rosto do neto, Isao hesita.
— Apenas… tenha cuidado. Não só com ele, mas com todos os militares e alunos daquela instituição. Preste atenção nas pessoas que realmente querem te ajudar.
Ele nunca vai parar de suspeitar dos outros assim? Eu sei com quem converso! Até quando ele vai me tratar como uma criança?
Desviando os olhares e com uma cara sem graça, o rapaz diz: — Eu… entendo… mas… tenho que ir agora… — Repentinamente, um sentimento de gratidão o invade, fazendo-o olhar nos olhos do avô. — Obrigado por cuidar de mim. Prometo que voltarei para casa, sei que aqui é o meu verdadeiro lar.
Enfim, os dois se separam para que Akemi possa seguir o seu caminho.
Com os olhos marejados, Isao observa o neto se afastar.
A luz do sol, filtrada pelas folhas das árvores ao redor, ilumina suavemente o caminho de Akemi, que com incerteza e coragem, segue na direção contrária de sua casa.
A cena é um quadro vivo de sentimentos entrelaçados que estão se distanciando pela primeira vez.
Isao, já sentindo uma pontada de saudade, ergue a voz com todo o amor e esperança que carrega em seu coração: — Tenho muito orgulho de você, meu garoto! Torne-se a pessoa que sempre sonhou ser, e seja feliz!
As palavras ecoam pelo ar, envolvendo Akemi como um abraço invisível. Ele se vira por um instante para que seus olhos encontrem os de Isao, um último adeus silencioso e profundo.
Então, com um suspiro e um aceno final, o garoto carrega consigo a força das palavras finais de seu avô e a certeza de que nunca estará sozinho.
De coração pesado, Isao fecha a porta e fica ali, sozinho, perdido em pensamentos intrusivos enquanto o sol nascente ilumina o horizonte de um menino que ousou sonhar.