Ao passo que as luminárias redondas no teto derramam um brilho dourado sobre a sala de paredes vermelhas, os alunos deixam o recinto vagarosamente.
Nervosismo, entusiasmo, foco, e esperança, são as diferentes energias dos que saem pela porta, ansiosos para iniciar uma jornada na prestigiada Academia Shihai de Asahi…
Porém, Akemi continua na sua bancada na área inferior da sala, pensando nas instruções que acabou de ter.
Pelo menos já tenho um objetivo inicial!
Ele segura o peito, focado na missão.
Tenho que arrumar algum jeito de terminar esse ano aqui, só assim poderei finalmente me tornar um militar áurico!
O rapaz se levanta, e com passos ligeiros, sobe a escada rumo à porta.
Entretanto, no meio do caminho da subida, ele avista uma pessoa inesperada: à sua esquerda, Miya permanece sentada em sua bancada totalmente sozinha.
Balançando as pernas cruzadas e apoiando a cabeça no braço estendido sobre a mesa, a garota mostra impaciência.
— Finalmente! Achei que você nunca ia sair dali.
— Oh, você está aí! Bom dia! Eu só… — Akemi tenta justificar-se, mas antes disso…
— O que ainda estão fazendo aqui? — O instrutor chama a atenção atrás do púlpito, mantendo os olhos focados na leitura de seu livro.
— Não é nada, pai. Já estamos saindo — responde Miya, com um tom de inocência que não engana ninguém.
Seguidamente, ela se levanta, e aponta para a porta com a cabeça, querendo que Akemi venha atrás.
— Antes disso — alerta Masaru — lembre-se da nossa conversa, Hiromi. Não faça nenhuma besteira.
— Táááá… não precisa se preocupar, ficaremos bem.
Miya fecha a porta assim que seu amigo passa, deixando o pai sozinho dentro da sala.
Agora, para os jovens, apenas a estreita passagem retangular os conduz ao corredor curvo do andar circular.
Assim, eles seguem…
Miya age muito diferente com o pai, é como se não devesse nenhum respeito a ele. Não imaginava ela sendo assim com alguém. Tem alguma coisa errada.
Enfim, os dois saem pela passagem.
Contudo…
— AKEMI! VOCÊ CONSEGUIU ENTRAR! HAHAHA! — Sho surge, envolvendo o amigo em um forte abraço genuinamente alegre; sua irmã está por perto, observando a cena com olhares confusos e discretos.
— Oh, olá! E-eu consegui, né?!
Assim ele vai me sufocar!
Rapidamente Sho solta Akemi e o encara nos olhos, dizendo euforicamente: — Não pude ver a sua luta pois o meu guia havia chegado, então me conta! Você ganhou mesmo a luta?! E era contra um Miyazaki, não era?! Qual era o nome mesmo? Era… Nihara…? Esse não é o da nossa turma? — A animação se transforma em um grande desentendimento aparente. — E olhando bem essa daí… — Ele analisa a garota de olhos verdes e tenta ligar os pontos, mas sua mente não obtém respostas convincentes. — Cara, como é que você…
— Hehe — ri Akemi, de olhos fechados e mão na nuca, sem graça — é uma longa história.
Ao lado dele, Miya parece desconfortável com a cena, aparentemente por não conhecer os jovens à frente.
— Então… — Sho busca palavras ao apontar discretamente para a menina que estranha — ela é a…
— O-olá…! Meu nome é Hiromi… prazer… em conhecê-los — com receio, ela estende a mão.
Novamente está agindo estranho… Hiromi?! Ela realmente não vai deixá-los chamá-la como eu a chamo?
Ansioso por reconhecer que está interagindo com um membro da famosa família Miyazaki, Sho responde ao cumprimento.
— Nossa, não imaginava falar com um Miyazaki tão cedo, prazer. Essa aqui é a minha irmã — ele aponta para a parente, que tremendo, estende a mão após o cumprimento do irmão.
— O-ooi.
Tendo em vista a energia dos dois recém-conhecidos, Miya demonstra mais empatia com um breve sorriso.
Entendo, ela disse que não confia muito nos outros, devia ser isso que estava a deixando incomodada.
— Miya.
— M-MIYA?! — Os irmãos exclamam, se afastando e suspeitando.
Akemi ainda não sacou.
— O quê foi…? — Mas após um tempo desalinhado, ele entende a situação e se vexa. — Ah! Não! Pessoal! Não é nada disso!
— Você já conhece ela?! E por que você… a chamou assim? — pergunta Sho, curioso.
— É… é que…
Ai, caramba! Que bola fora, como eu explico isso?!
— É que vocês não me deixaram terminar! Só temos o luxo de chamá-la pelo sobrenome, certo…?! Enfim, Miyazaki! — Akemi apoia firmemente uma mão no ombro da amiga, surpreendendo-a. — Você não parecia tão à vontade com eles, deixe-me apresentá-los! Esse é Sho, gente boa e um dos meus primeiros amigos! Por favor, confie nele! Ele não possui uma aura tão poderosa e por isso não causará mal à ninguém!
— Ein? — A apresentação deixa Sho bobo e desajeitado.
Já Miya se entusiasma, seus olhos brilham.
— Oh! É um de seus primeiros amigos?! Então vocês devem se conhecer a muito tempo!
— É, não é bem assim… — sussurra Akemi, inaudivelmente para o nada.
— G-gente — a acanhada irmã de Sho toma o foco de todos — p-perdoem-me por não me apresentar direito… Meu nome é Aruni Yamamoto, e mesmo que eu tenha feito uma excursão há uns dias por aqui, não consegui prestar muita atenção porque eu estava muito nervosa. Então e-
— Fique tranquila! — Com um rosto confiante, Miya se aproxima de Aruni, segurando-a pelos ombros e deixando a coitada extremamente corada com o toque.
— E-e-EEEEEEEEH?!
— Podemos ver o mapa todos nós!
[ Térreo do edifício principal da ASA, às 9h40 da manhã. ]
Pisando no grande e vermelho tapete circular do térreo e acompanhado por Miya, Aruni e Sho, Akemi se aproxima da bancada onde a recepcionista está trabalhando.
Analisando o ambiente, apenas mais dois integrantes da turma são avistados: Mayumi Sanada, focada em um extenso pergaminho dourado, e Teruo Kenzo, ajustando seus óculos brilhantemente coloridos para ler um folheto prateado…
Com o quarteto recém-chegado próximo à bancada, Miya toma a frente.
— Bom dia, é Yui, né? Poderia me conceder um mapa da academia, por favor?
De maneira direta, a recepcionista apenas entrega uma folha à quem solicitou, fria e desalmada.
Akemi, Sho e Aruni se juntam para ver o mapa que Miya segura com um brilho nos olhos, como se estivesse contemplando um tesouro.
— Beleza! Estamos no térreo deste prédio… À nossa direita estão os campos de treinamento… À esquerda tem quadras esportivas… Hmmm, essas árvores… — A animação de Miya vira dúvida, seus olhares, antes animados, agora analisam no mapa a floresta desenhada atrás do prédio principal.
— Oh! Tem águas termais aqui?! — exclama Sho, aproximando os olhos grandes do mapa — não tinham me mostrado isso na minha guia! Fascinante!
— O que é isso? — indaga Akemi, apontando no mapa para uma série de pequenos pontos brancos rodeados pelos caminhos de brita.
— São as marcações para quando entrarmos em forma — explica Miya.
— Forma? — pergunta Aruni, curiosa.
— Entrar em forma significa nos alinharmos em fileiras ou colunas organizadas, prontos para marchar ou para receber instruções. Essas marcações ajudam a garantir que todos saibam onde ficar, mantendo tudo organizado e simétrico.
A explicação chateia e assusta a desinformada.
— Jura? Em Hoshizora não tinha essas coisas. Não quero participar disso…
— Se acalme, só usaremos em momentos importantes. Não é difícil, você se sairá bem.
Segurando o queixo, Akemi tenta calcular: — Hmmm, considerando que estas marcações estão dispostas em seis por quatro, totalizando vinte e quatro formações com quinze bolinhas em cada… Quantos alunos tem aqui? Deixa eu pensar…
— Exatamente trezentos e sessenta — a voz suave de um garoto conclui.
Todos reconhecem que a resposta vem de Teruo Kenzo, que ainda de olho em seu folheto, ajeita a lateral de seus óculos reluzentes ao perceber estar sendo alvo de quatro olhares.
Perto de Teruo, Mayumi continua analisando o extenso papel em mãos, harmoniosa com o silêncio e o foco.
— Olha só, você parece muito inteligente — elogia Miya de forma sarcástica.
— É uma conta simples, dava pra fazê-la quando o instrutor explicou sobre andar das salas.
— Ele está certo — afirma Sho — também calculei naquela hora. Mas onde está toda essa gente?
— Aprimorando suas habilidades em outras áreas — responde Mayumi, sem deixar sua leitura — só as turmas F estão aqui a essas horas. Shihais não perdem o tempo dedicado à melhoria, diferente de certas classes — sua afiada frase final deixa uma pontada de desprezo.
— Mas só há nós aqui, onde está o resto da turma? — questiona Akemi.
— Refeitório — informa Teruo.
— Refeitório! — exclama Aruni; aparentemente, toda sua timidez se foi em instantes, deixando apenas uma animação exagerada.
— Quer ir lá? — pergunta Sho à sua irmã.
— Claro! Estou faminta!
— Ótima ideia! Os outros vem com a gente?
Finalmente vou me enturmar em uma classe!
— É óbvi-
— Na verdade! — interfere Miya, com as mãos para trás e balançando na ponta dos pés — Eu e ele temos que ir a outro lugar. Posteriormente vamos ao refeitório.
— Como assim em outro luga-
Pof!
Uma ombrada no braço de Akemi apenas aumenta a confusão do rapaz, que ao olhar para quem lhe desferiu um leve golpe, é respondido com uma rápida piscada e um sorriso.
O-o que ela quer agora?!
— … Tuuuudo bem, Aruni e eu vamos na frente. Nos vemos mais tarde.
Quando os irmãos estão quase saindo de vista, Sho vira o rosto e lança um sinal de positivo e uma piscada para seu amigo.
Só me faltava… Aquele ali tá imaginando coisa…
Quando os dois parentes desaparecem, Miya pega na mão de Akemi. — Vem comigo! — E novamente o puxa com uma força sobrenatural para fora do prédio.
Ah! De novo não…!
[ Exterior do edifício principal da ASA, às 9h45 da manhã. ]
Pelos gramados, Miya conduz em direção aos fundos da ASA, onde uma abundância de pinheiros se agita suavemente ao vento.
— Tu tá mesmo me levando ali?!
— Você confia em mim, não é? — A garota perdura o olhar nas árvores.
— E-eu confio… mais ou menos.
— A gente tem uma promessa, sabia?
— Tá bom! Eu confio plenamente!
Akemi tenta manter a calma, seguindo os passos de sua guia…
Finalmente, os jovens começam a entrar cautelosamente na “floresta” escondida nos fundos da ASA.
Agora, o ar carrega o cheiro de pinho e terra molhada.
O exterior se distancia, abafado pelas grossas camadas de pinheiros altos e densos que se erguem como sentinelas silenciosos ao redor.
Não há uma clareira no local, o que dificulta a passagem de quem quer se aventurar. Todavia, pequenos raios de sol encontram caminhos inesperados para iluminar arbustos floridos escondidos entre as árvores e o gramado cheio de folhas derrubadas.
Enquanto caminham mais fundo, o chão macio e coberto de agulhas de pinheiro amortece seus passos.
— Pode me dizer logo o porquê de estarmos entrando aqui?!
— Shhhh, fala baixo…! Sinto que há algo errado aqui, não faz sentido uma área dessas num quartel. Temos que investigar, venha sem fazer muito barulho! — a garota se agacha e sinaliza para ser seguida por entre as árvores.
Mesmo relutante, o rapaz segue as ordens.
— Você quer se agachar logo agora? Tu é maluca?!
— Talvez? — Miya o espia com uma cara irônica e volta a seguir o caminho.
— Para de brincar! Sei que não tem guardas espalhados, mas tenho certeza de que seremos descobertos!
— Aff, você é pessimista, ein?! Não gosta da adrenalina de tentar descobertas? Apenas siga a vibe.
Por que ela quer ir atrás de coisas sem sentido logo agora? E que papo é esse de adrenalina? Ela acha que somos detetives?!
Altamente inseguro, o garoto implora sussurrando: — Tô falando sério! Por favor, me escuta! Você viu o que o Marechal Ichikawa consegue fazer, se ele descobrir, estamos fudi-
Pemmmm!
De repente, um som metálico ressoa do chão, e Akemi sente um arrepio percorrer toda sua espinha ao pisar em algo que não deveria estar ali.
— Ai, desculpa. Eu estraguei tudo! Eu mereço o caminho da morte… — ele fecha os olhos, abalado.
Entretanto, a garota se surpreende ao virar o rosto e decifrar no que o rapaz está pisando.
— Woah! Você encontrou uma escotilha!
Akemi olha para os próprios pés.
— Eu… encontrei?
No solo, uma escotilha parcialmente ocultada por folhas caídas é notada.
— Bom trabalho, amigo! Sabia que precisava de você! Toca aqui! — sussurra Miya entusiasmadamente, sorrindo e erguendo o braço inclinado com as mãos espalmadas.
Ainda agachado com sua companheira, Akemi, embora sinta-se malogrado, responde ao rápido toque entre palmas de mãos.
— Hihihi, vejo que você será o meu amuleto da sorte.
— E-eu? Eu não fiz nada!
— Pois então abra isso para gente, vamos ver o que tem dentro!
— Tem certeza de que quer fazer isso? Ainda dá pra…
— Anda logo.
— Ok.
Akemi tenta abrir puxando a alça da escotilha com uma mão, mas a tampa não cede à sua força.
Ué?
A alternativa agora é tentar com as duas mãos.
Noooossa! Que negócio pesado!
Ele se esforça, porém a tampa não se move um centímetro.
Ah, não acredito que vou passar essa vergonha! Uuuuuuugh! Vaaaamoooos!
— Ei, pode deixar comigo — diz Miya em tom normal, empurrando Akemi para o lado com um sorriso simpático.
Com uma só mão, ela ergue a tampa da escotilha como se não houvesse peso algum.
Ah…
— Aaah…! Hehe, então. Eu só tava brincando pra descontrair, não é nada qu-
— Shhhh, mantenha o silêncio…! Venha, vamos ver o que tem dentro.
Uma passagem quadrada e estreita na vertical é visível, onde barras de ferro horizontais se alinham nas paredes, formando uma escada para o desconhecido.
— Tá pronto? — pergunta Miya, olhando determinada para o seu comparsa.
— Sinceramente, não.
— Eu vou na frente, você vem depois.
Os dois descem pelas escadas escuras, onde só os raios da luz do sol que passam pelas árvores clareiam as escadas…
Ao chegarem em um solo frio, um local mal iluminado se mostra à frente.
Um túnel… subterrâneo…? Bizarro!
Formando fileiras espaçadas em ambas as paredes curvas, defeituosas lâmpadas verticais e cilíndricas tentam iluminar o caminho escuro com seu oscilante brilho branco.
Uma brisa fria escapando das grades de ventilação nos rodapés provoca calafrios.
— Ei, esse lugar é macabro! Onde a gente se meteu?! — sussurra Akemi.
— Não tenho a mínima ideia. Fique pela retaguarda e tome cuidado...