Momento após o prefeito, Algust, retirar-se de plataforma e seguir seu caminho para a sua residência. Moira, ainda um pouco insegura com o fato de continuar o anúncio, respira intensamente, guiando todo o ar para dentro de seus pulmões e, em seguida, o libera. Tal ação faz com que pouco a pouco seu nervosismo comece a diminuir.
Guiando-se lentamente em passos até o púlpito, próximo ao mago, imerge em pensamentos. Em sua mente surge milhares de informações que seu irmão e seu sobrinho Bentley, discutiram com ela anteriormente sobre a criminosa. Minutos após, a mulher já sob o púlpito, assente com a cabeça para o mago, que em seguida, ativa seu feitiço para que ela começasse a falar.
Ao olhar para a imensa multidão em sua frente, congela rapidamente, e todos começam a olhá-la em dúvida. Em poucos segundos que se encontra estática, e sendo observada por todos, um grande pesar surge em seu peito. De repente, a imagem de seu colega, Ivan, surge em suas memórias, no entanto, o que a chama a atenção é o fato de como ele estava se comportando no dia de sua visita.
Além de parecer um pouco inseguro, agiu estranhamente diferente. Um homem pacífico que sempre falava calmamente com todos e diversas vezes abaixava a sua cabeça, elevara a sua voz para defender a sua criada, uma ação que ele nunca fizera antes. Além disso, havia mudado o seu jeito de falar logo após ter mencionado a situação da criminosa majin.
Ignorando todos essas memórias que surgiram de repente em sua mente, a mulher, chacoalha a cabeça e em seguida limpa a sua garganta para começar a sua fala.
Durante todo o tempo que ela ficou calada na imersão de seus pensamentos, a multidão retornou a falar. Moira, a fim de amenizar o extenso falatório provocado pela massa enorme de pessoas, levanta calmamente a sua mão para o alto e a balança.
Todos presentes, uma após o outro, começam a se calar e prestarem a atenção na mulher novamente. Agora, com todos os olharem presos em si, começa a sua fala:
— Ca-Caros cidadãos, como meu ir… Como o prefeito mencionou anteriormente, nós da companhia de comércio junto a ele, começamos uma parceria em prol de encontrar e capturar esta majin.
— Assim como foi dito, o ataque dela provocou a queda do estabelecimento de um dos cidadãos da cidade. Se deixarmos que isso continue, certamente ela irá pouco a pouco destruir tudo o que nos esforçamos e trabalhamos para construir.
— Secretamente junto ao prefeito, e os soldados, começamos a procurá-la sem chamar muito a atenção do povo, porém isso precisa acabar. Este problema precisa ser de conhecimento público, pois isso não só pode acarretar em desastres em construções como também gerar feridos em possíveis embates.
Após a sua fala, todos ficam com uma expressão estática. Tal assunto parecia algo bem complicado. As pessoas que antes gritavam alegres o nome do prefeito, agora encontram-se quietas e receosas com a possível ameaça da majin. Moira, observa que as suas falas estão causando o efeito oposto que o seu irmão fez. Ainda inexperiente com esta situação, continua a declaração.
— Cidadãos, eu entendo a preocupação que carregam. Certamente isso não era para ser revelado desse modo a vocês, porém, isso é algo bem perigoso, e não há um meio de informá-los sem deixá-los receosos…
— Mas não precisam temer o desconhecido, pois tudo que fizemos foi analisar e medir tudo o que ela pode fazer. Até o momento presente sabemos quais atributos ela possui, e revelado pelo próprio Bramir, em conjunto com o prefeito, ambos que presenciaram o ataque de perto, reforçaram a ligação dela aos relâmpagos.
” Re-Relâmpagos?”
A multidão se impressiona com o poder da majin.
“Co-Como pode existir tal ser? Como pode ser tão poderosa quanto um relâmpago?”
Após a sua revelação, um medo começa a predominar toda a massa. Seus olhos que antes brilhavam em esperança ficam secos e sólidos como as de um peixe morto, pois a capacidade e o poder da inimiga da cidade os amedronta. Uma enorme desordem volta a ocorrer, cada pessoa começa a cochichar umas com as outras, e outras começam a sair do local, cabisbaixas e sem esperanças.
Moira olha inteiramente a multidão, e sente o que acabara de dizer, fez com que o psicológico de todos fosse abalado. Enquanto alguns se mantêm com suas expressões revoltadas, outros esboçam um medo inquietante. Preocupada com a possível queda do anúncio, por ver mais e mais pessoas deixarem o local, desespera-se em pensamentos.
”O-o que será que eu digo? Como posso ser graciosamente imponente? Droga, Algust! Você deixou toda a responsabilidade para mim de novo… Certo, preciso ser firme, assim como ele, Assim como o prefeito!”
Cerrando os seus punhos, limpa sua gargante e respirando intensamente para se acalmar, adota uma postura firme.
Moira, olha de canto a canto, procurando algo que pudesse inventar para contornar a desordem atual. Em seguida, observa seu sobrinho, Bentley, e uma ideia ecoa em sua cabeça, esboçando em seguida um sorriso no rosto.
— Cidadãos, não temam! A majin pode aparentar ser bastante forte, mas não esqueçam, ainda temos a segurança de todos os soldados e guardas de Nakkie. Meu sobrinho, Bentley, que pertence diretamente a guarda real da capital, veio exclusivamente para nos ajudar com esta situação.
O rapaz que acaba de ser mencionado como desculpa, por sua parente, esboça uma expressão de surpresa e dúvida, ao dirigir sua face para a mulher. “Como assim eu vim aqui para ajudar?”, essa é a expressão que parece dizer em seu rosto, enquanto olha fixamente para Moira.
Ela, ao notar que ele está a encarando, apenas o responde com um sorriso e um aceno de cabeça, com o intuito de ajudá-la a enganar as pessoas. Sem escolhas, o rapaz retoma a sua pose e encara a todos com uma olhar forte e intimidador, porém um pouco frustrado por ser usado como desculpa.
Logo depois a pequena mentira de Moira, que abranja um pouco de verdade, faz com que toda a tensão imposta sobre as pessoas comece a diminuir, e um alívio desperta em todos, pois as palavras firmes da moça os relembra da proteção que ainda existe na cidade.
— Sim! Os guardas. Os guadas podem pegá-la
Uma voz feminina exclama. Quando o barulho da fala da mulher se espalha por todos os cantos, diversos olhares de alívio surgem nos rostos dos cidadãos. O medo e a insegurança, provocada pela desconfiança, abandona completamente os rostos da multidão. Moira, por sua vez, continua sua declaração, pois em sua mente, toda esta situação a estressa.
Ter que informar, explicar e além disso, tentar acalmar toda aquela gente em sua vista, não é algo que ela está habituada a fazer. No máximo, ela está acostumada a se dirigir para pequenos grupos de dez pessoas, mas quase toda a cidade, que tem por volta de 150 mil pessoas, está muito além do seu controle.
— Sim, isso mesmo! Nossos soldados foram totalmente treinados para derrotarem monstros acima do Rank C. Uma simples majin não seria páreo para nenhum deles. Então, eu reforço para não temerem, pois antes que percebam a criminosa perecerá.
No final de suas palavras, um grande silêncio se manifesta por todo o local, porém, segundos após, toda a multidão brada intensamente. O grito de todos fora tão forte que foi possível se escultar em cada canto da enorme cidade. Uma sensação de poder e superioridade ressalta-se no ser de Moira.
”Então… é assim que ele se sente?”
Uma indagação surge em sua mente, ao tentar imaginar como é a sensação do seu irmão, após pequenos pronunciamentos encorajadores como este.
…
Em uma janela de uma residência não muito próxima do grande evento, uma jovem dirige as mãos para a sua boca. Uma expressão de desordem e medo surge em sua face. Um peso toca o seu peito que a faz se afastar do local. Essa é Amice, que acabara de ouvir todo o anúncio.
A garota desespera-se, pois ela não sabia de nada: ”Como assim? Será que eles estão se referindo a Evangeline? Não… não poder ser, ela não é alguém que faria uma coisa dessa… Com certeza é outro majin… Sim! Houve um ataque de outro majin, no mesmo dia em que ela chegou… ”
Amice põe as mãos na cabeça e a chacoalha agitadamente, tais suposições feitas mentalmente não batem. Como alguém exatamente da mesma raça viria no mesmo dia, e no mesmo momento que sua nova amiga apareceu, e em seguida faria essas coisas? Tal suposição não faz sentido em sua cabeça.
Grandes questionamentos vem em pensamentos, pois até o momento ela não presenciou nada do que foi dito por aquelas pessoas. Evangeline, mesmo que não tenha ficado o suficientemente próximo da mesma, em seu coração ela já havia a adotado como sua melhor amiga.
— Isso é um grande problema, eu preciso relatar tudo para o patrão Ivan!
Amice remove-se da posição da janela por completo, rebate suas roupa e as estica, cerra os punhos e caminha para a sala de Áurea, que está aberta na biblioteca de seu patrão.
…
No decorrer do pronunciamento do prefeito para com o povo da cidade, Ivan e Áurea conversam sobre a demora que a meio elfa está realizando. Ambos não parecem preocupados, pois durantes esses três dias de pura meditação de sua aluna, pequenas partículas de mana sempre aparecem sendo absorvidas pela mesma.
Mas mesmo tendo esse fato em suas rostos, alguma coisa os inquietavam, algo que nem mesmo eles, que possuíam grande experiencia no domínio da tal técnica, entendiam. Enquanto Ivan toma um chá, Áurea mastiga um biscoito, que parece ser maior que o próprio tamanho de seu rosto, porém isso não a impede de realizar a ação de comê-lo.
Ivan coloca sua xícara de chá em cima da mesa, e dirige seu olhar para seu espírito que está sentado no prato de biscoitos:
— Áurea, quanto tempo você acha que levaria para um mago experiente igual a mim, a subjugar a mana e absorvê-la?
A pequena fada, enquanto termina de mastigar um grande pedaço do biscoito que segura, dirige seu olhar para cima ao imaginar um cenário parecido. No final, ao engolir a guloseima, responde imediatamente:
— No meu ponto de vista, se um mago com critérios parecidos com o seu quisesse adquirir essa técnica, e estivesse a altura de fazer o desafio da absorção de mana, eu daria um tempo de… hmm… dois anos…
Áurea, após responder à pergunta do homem, dirige-se para o próximo pedaço de biscoito e o pega para comê-lo. Ivan, cruza o seus braços, e esboça um leve sorriso de confirmação, pois fora esse tempo que ele conheceu e dominou a técnica, que logo após foi melhorada com o conhecimento de seu espírito.
— Você está exatamente certa. Esse foi o tempo que eu demorei para conseguir usar esta técnica, mas em relação a Evangeline, creio que isso não caberá a ela.
— Glup! — Engole. — Sim… A proficiência e a esperteza dela, fez com que todos os empecilhos de um aprendiz fossem ignorados. A maioria dos magos tem dificuldades em manejar e controlar sua magias, e ela já conseguia fazer isso muito bem.
— De certo modo, eu até optaria em fazer um contrato com ela, caso eu a encontrasse antes de você. Eu sinto que se ela se focar o suficiente em algo, pode fazer coisas inimagináveis, algo que nem mesmo Nazive, o mago que possuía todos os 6 atributos, conseguiria fazer.
Após a sua suposição, segura firmemente o grande pedaço de biscoito em suas mãos, e o abocanha novamente, retirando um pedaço maior do que antes. Ivan, ao ouvir o nome do famoso archmago, começa a relembrar os seus grandes feitos.
— Nazive, é? Ele foi um grande mago há 500 anos. O homem foi o responsável por fundar Soffione. Eu queria ter pego essa época e tido a chance de ser ensinado por ele. Ele foi o único a conseguiu dominar todos os 6 atributos. Se não fosse por ele e seus conhecimentos mágicos, certamente sucumbiríamos séculos depois.
— Séculos depois? Você se refere a…
Áurea, tem a sua fala é abruptamente interrompida, ao dirigir sua visão para uma silhueta que emerge do portal para a sala espiritual. É a sua aprendiz, Amice, que adentra apressadamente no local. Em sua face há uma expressão bastante inquieta e insatisfeita. A jovem, já bem próxima de ambos, eleva sua voz.
— Patrão Ivan, precisamos conversar!
