— Vo-Você, como você conhece esse… corpo…
A forma que adotara é de um certo homem que Evangeline conhece.
Um senhor de idade elevada, pele morena por conta da exposição do sol, barbas grisalhas, trajando uma roupa comum de camponês com algumas costuras visíveis em sua bermuda de pano. Esta é a aparência de Balmor, o senhor do vilarejo que ajudara ela antes.
Uma confusão em meio a uma insegurança referente a habilidade de copiar a aparência dos outros toma Evangeline.
— C-Como isso é possível?
Receosa, mas também curiosa, pondera em perguntar sobre isso.
— C-como vo-você…
Sem perder mais tempo, toma um pouco de coragem e o questiona o porquê de ter assumido aquela forma.
— Como você se parece com o senhor Balmor?
— Resposta: Este corpo? Ele é o mais formal que eu posso usar para conversarmos.
— F-formal?
— Esclarecimento: Sim. Vasculhei as suas memórias recentes, e nelas eu vi que este homem é bem calmo e sincero, isso em sua visão. Então, assumi esta forma.
— Mas não é isso que eu quero saber, e sim como você consegue assumir outra forma além da sua.
— Retrucamento: Não é óbvio? Tudo que possui mana eu posso assumir a forma. Em tudo que toca mana eu consigo sentir. E todos que utilizam a mana eu conheço, pois eu sou a personificação de toda a mana natural e espiritual existente.
Evangeline, ainda sob o chão, surpresa com a capacidade não conhecida do seu desafiante, pondera em levantar, pois começa a concluir as suas suspeitas.
”Se ele pode assumir qualquer aparência, então aquela baleia de antes não era a sua forma real. Bem, isso já era o imaginado. O senhor Ivan, disse que no seu desafio ele havia enfrentando uma enguia gigante… Interessante, então ele pode assumir a forma da criatura que temos em nossas mentes e usá-la para nos enfrentar… ”
Enquanto conclui as suas suspeitas em pensamentos, tem sua atenção realocada para “Balmor”, em sua frente, que termina de explicar o que quer fazer:
— Declaração: Agora que já entendeu o que consigo fazer, e sente-se confortável o suficiente com essa aparência, vamos conversar.
— Como assim conversar? Isso não é um desafio? Não é para lutarmos? Não é para eu subjugá-lo?
— Afirmação: Mesmo que treinasse durante 1000 anos, você não teria forças para me derrotar, criança.
Ao dirigir as mãos para o chão, começa a levantar-se. Já de pé, rebate as suas roupas sujas de poeira e lama, em seguida, andando em passos vagarosos para frente do homem, Evangeline, o questiona:
— Huh? Como assim não tenho força para vencê-lo?
— Até agora pouco meus golpes estavam o machucando e fazendo você diminuir. Então, me explique, como você pode afirmar que eu não o venceria? Afinal, era só questão de tempo…
Ainda em uma distância segura, para prevenir-se de um possível ataque, a jovem cessa sua declaração. Contudo, o que chama a sua atenção e que a faz regredir alguns passos para trás, é uma aura extremamente intimidadora que emerge da figura, seguido de um leve sorriso esboçado em sua face.
Uma pequena risada é ouvida, seguida da declaração do homem:
— Declaração: Hahah… Questão de tempo, é isso que você acha? Pequena criança, olhe em volta e observe tudo o que o seus olhos veem. As montanhas, árvores, o lago, o extenso céu sob sua cabeça. Tudo o que ver, sou eu.
— Esclarecimento: A forma que usei para batalharmos, não era nada mais que um simples teste para a sua determinação. Não confunda, o nome desse desafio é: Desafio de Subjugação da Mana. Não é o mago que deve me subjugar, mas sim, o mago que deve se subjugar.
— E durante nosso embate, você conseguiu concluir isso.
— Eu consegui?
— Retrucamento: Sim. Durante todo nosso embate uma imensa dúvida percorria seu coração. E nele estava estampado que você precisava a todo custo de força para salvar alguém, porém ao mesmo tempo, isso não estava claro em sua mente. O que mais ressoava era a sua vingança…
— Durante eras, muitos magos e monges adentraram o meu domínio atrás de poderes primordiais e absolutos e outros em busca de técnicas complexas e monumentais. Todos que entram em contato com este plano buscam poderes para seu próprio ego.
— Houve poucos que vieram em prol de ajudar o próximo, mas sempre eles têm um objetivo em mente. Entretanto, você e diferente deles…
“Como assim eu sou diferente”, “Do que está falando”, são essas as dúvidas que sobrevoam a mente de Evangeline, e que estão estampadas em seu rosto. Sua forte expressão transparece tanto que o mesmo nota.
— … “Eu conheço todos que utilizam mana e sei como se sentem”, essa regra não foge de você. Conheço cada um individualmente. Porém, em todos esses anos, eu nunca me deparei novamente com aquela sensação de antes. A sua situação difere muitos dos outros, e isso é visto como uma irregularidade.
— Não sei como “Ele” tratou de sua reencarnação no dia do nascimento desse seu novo corpo. Referente ao meu entendimento, todas as almas são purificadas e reencarnadas no mundo novamente, ou era isso que deveria ser.
— Ao mesmo tempo que você se aparenta estar calma e concentrada, um medo irregular junto a uma ira esmagadora ressoa em seu interior… E, e esse medo? Por que você sente medo mesmo demonstrando coragem? Não era para isso ser possível.
— Esse descontrole emocional é uma falha que você está carregando. Não… Isso não é só um descontrole…
— De-Descontrole e-emocional?
Evangeline automaticamente começa a lembrar-se de todas as sensações entranhas de outrora. Desde quando encontrara Karenn jogada ao beco, não, bem antes disso. A todo momento que viveu nesse novo corpo, Shirogane havia notado algo estranho. Algo que não era do seu entendimento.
Sempre que tentava se expressar normalmente, sua voz ou suas ações saíam totalmente exacerbadas. Elevação de aura ou excesso de confiança é uma coisa que Shirogane nunca havia feito. Mesmo dentro do seu jogo, sempre adotara uma postura calma e confiante, mas não deixando de ser cauteloso com seus adversários, algo totalmente diferente do que demostrou até o momento.
A cada momento que percorreu esse novo mundo, mesmo em um pequeno espaço de tempo, a sua ação e seu sentimento de ajudar Karenn, não fazia sentido, porém ele resolveu seguir essa ação. Ao relembrar de todas essas coisas, questiona o que realmente está fazendo. Mesmo que a situação de sua irmã do novo mundo fosse uma das piores possíveis, a razão por se sentir triste e com ira não fazia sentido em sua cabeça.
Parece que em sua mente há uma segunda pessoa controlando seus sentimentos e ações.
— Confirmação: Exato. Durante centenas de anos presenciei inúmeros e diferentes casos estranhos, porém esses descontroles de personalidade eu só conheci apenas 2. O primeiro que presenciei foi do grande herói da terceira guerra e o segundo, bom, o segundo é o seu, Evangeline.
— Tanto você quanto ele, possuem divergências em seus pensamentos e emoções. Isso até me lembra da vez que um erro de cálculo “dEle”, que resultou em um corpo com mais de 3 almas. Na verdade, isso até parece ser similar. Talvez, possivelmente, você tenha mais de uma alma consigo, Evangeline.