Saindo do seu escritório com um semblante completamente arisco, Bentley transparece sua raiva e aborrecimento, visto que, até o exato momento, sua parente, Moira, ainda não retornou. No entanto, não fora só isso que o deixou nesse estado, durante toda a sua espera, escutou diversos estrondos, um atrás do outro, — enchendo ainda mais a sua impaciência.
Ao olhar para o lado de fora, observa a sua esquerda e direita e, nota que seus subordinados, — os altamente treinados pela capital, estão jogados no chão como sacos de estrume. Ainda, com um olhar fulo, observa o guarda da residência, que o encara com um olhar extremamente exaurido, — concluindo, em seguida, que fora ele que nocauteara os sentinelas.
O guarda em questão, — ainda cansado e hiperventilando um pouco, nota que Bentley saíra do local. Então, posicionando-se em sua postura anterior, prontifica-se para desferir seu comunicado.
— Lorde Bentley, sou cabo da muralha ao norte, meu tenente…
Antes de concluir sua fala, tem ela interrompida pelo rapaz, que segura fortemente seu peitoral com uma única mão, e o levanta para acima de sua altura, impressionando não só o segurado, como os outros guardas da casa.
— Você… foi você que provocou todos estes barulhos?! Como ousa perturbar minha paciência com estes sons irritantes! Esqueceu! Eu sou o cavaleiro real de Axerth, e não deixarei que você…
— Ora, ora, ora… O que você pensa que está fazendo, primo?
Um jovem garoto, — por volta dos 12 anos, muito bem-vestido com roupas finas de um nobre de classe alta, aproxima-se vagarosamente.
Seus cabelos são inteiramente loiros como um campo de trigo. Sua pele é completamente clara, pois o mesmo não costuma se expor ao sol, e os seus olhos são intensamente vermelhos como rubi, que os usa para subjugar completamente a ação do rapaz.
Este é a mesma pessoa de antes, que observara furtivamente o pequeno embate feito pelos sentinelas e o soldado — agora segurado por Bentley.
— Lu-Lumiel? O que está fazendo em casa esta hora? Não era para estar em sua aula particular?
Caminhando vagarosamente para próximo de seu primo, Lumiel, semelhante a uma serpente, o responde venenosamente:
— Tadinho… você é muito burro, Bentley…
— Como é?!
— Se eu estivesse em aula agora, não estaria andando pelos corredores de casa. Não é o certo concluir isto? Afinal, você é um cavaleiro da capital, não é?
— Você… como…
Bentley, automaticamente, enche-se de ira, torcendo completamente sua expressão, no entanto, mesmo querendo avançar contra o garoto, tem sua ação freada por outras das falas perfurantes dele.
— “Como” o quê? Aliás, por que está segurando um dos meus guardas? Está praticando algum tipo de treinamento animalesco que inventou?
Por um breve momento, Bentley esquecera de estar segurando alguém, visto que, essa ação não passa de algo simples para ele, simples como segurar um copo d’água. Olhando abruptamente para o soldado em suas mãos e, em seguida, para seu primo, Bentley, o responde friamente.
— Ah… este aqui? Eu estava prestes a rasgá-lo em dois por atrapalhar meu repouso. Talvez você tenha notado que ele insultou diversos barulhos pela casa… Mas não precisa pedir, caro priminho… eu mesmo, o cavaleiro real de Axerth, irei me livrar deste inseto agora mesmo e…
Antes de completar a sua fala, cheias de ignorância e soberba, é interrompido por uma pressão calorenta, emanado do garoto, — espantando-o imediatamente, que o faz soltar apressadamente a pessoa em sua mão, e fixar-se prontamente para o seu primo.
‘’O quê? Mas que mana é esta? Como ele consegue emanar algo assim sendo tão novo?’’
Sirenes de perigo soam pela cabeça de Bentley. Uma sensação friorenta desce por sua espinha, enquanto seus reflexos, — altamente treinados por inúmeras batalhas, repetem um único aviso, “Fique em guarda!”.
— Kekekekeh…
Uma pequena risada um tanto incomum se propaga no local.
No mesmo momento, uma estreita criatura surge das costas de Lumiel. Um pequeno ser avermelhado, olhos amarelos como ambares, pupilas cerrilhadas como um lagarto, asas iguais a de um morcego e um par de chifres de cabra, que saem de suas têmporas — um diabrete.
— Kekekeke! Lorde Lumiel, permita-me incinerá-lo…
A pequena criatura — que mais se assemelha a um demônio, libera um sorriso amedrontador, expondo seus incríveis e pontiagudos dentes amarelados.
— Ades, eu não lembro de ter permitido que você saísse do meu núcleo. Então, por que você está aqui fora?
Por um breve momento, o garoto ignora completamente a existência de seu primo em sua frente, direcionando a total atenção para a criatura no seu ombro
— Kekekeh… Caro lorde Lumiel, não pude conter-me… Este homem não para de dizer asneiras, preciso queimá-lo. Por favor, libere sua ordem…
— O quê!?
Lumiel fica boquiaberto com o pedido da criatura, enquanto Bentley, impressiona-se com outra coisa.
’’Aquela coisa é… ’’
Admirado com o que ver diante dos olhos, Bentley, apressadamente, pergunta:
— Como você… Como você possui um espírito de fogo? E logo um tão avançado…
Com a atenção guiada novamente para seu primo, Lumiel, o responde com desdenho:
— Como eu possuo? Que pergunta ingênua, primo meu, sou eu que deveria perguntar, como você não possui nenhum… Heh!
Após o seu afiado retrucamento, esboça um sorriso mesquinho em sua face, revoltando ainda mais Bentley.
— Você…
— Ali, ali está, lorde Lumiel! Ele anseia pelo ataque! Permita-me, permita-me incinerá-lo agora mesmo!
O espírito de fogo aponta alegremente para Bentley, demonstrando uma intensa alegria, semelhante uma pequena criança que passeia pela venda apontando para diversos doces nas prateleiras à frente.
— Não seja idiota, Ades! Mesmo que você seja um Espírito Alto, não conseguiria facilmente derrotá-lo, então aquiete-se!
— Ohhh! Entendo… entendo. Aparentemente minha linha de raciocínio estava equivocada… Muito obrigado pela sua sabedoria, lorde Lumiel…
A pequena criatura avermelhada encolhe-se no ombro do garoto, — esfregando as mãos uma contra a outra, como se estivesse as esquentando de um piedoso frio.
— Enquanto a você…
Olhando friamente para Bentley, o garoto, — com passados vagos, começa a caminhar, enquanto declara venenosamente:
— O que te faz pensar que você pode ferir um dos guardas de minha propriedade? Esqueceu que você é apenas uma visita? Está se achando por que possui um escritoriozinho daqueles? Não me faça rir de sua cara…
— E não me venha com essa de… “Ai eu sou o Cavaleiro real”, “E como Cavaleiro real, farei aquilo”, “E como Cavaleiro real, farei isto”. Pois você só ganhou este título por causa de meu pai. Ou já se esqueceu?
Bentley automaticamente revira seu semblante para fora do contato visual do garoto, tentando esconder por breves segundos sua vergonha, dado que, tudo que disse, não passa da mais pura verdade.
Olhando para o guarda no chão, — segurado anteriormente por Bentley, Lumiel, com uma voz parcialmente mansa e bondosa, — diferente de como tratou seu primo, pergunta como ele está.
— E, você, guarda. Diga-me, você está bem? Quer que eu chame algum curandeiro?
— Nã-não, jovem lorde Lumiel, está tudo bem. Agradeço por preocupar-se com este guarda bastardo.
Ao escutar o guarda se alto repudiar, Lumiel, confuso com tal ação, questiona-se mentalmente:
‘’Bastardo? Como ele pode dizer uma coisa dessas com tamanha velocidade?’’
Logo após, olhando para o rapaz no chão, continua sua declaração, sem levantar suspeitas:
— Ah… Não, não, não. Não se menospreze assim. Vocês, guardas, são todos importantes nesta casa. Sem vocês, nossa segurança impecável seria arruinada… No entanto, fiquei curioso com algo… O que você queria com meu primo? Parecia está bastante eufórico…
Ao lembrar-se novamente de sua missão, o soldado, levanta-se abruptamente do chão, espantando de imediato o garoto, — que ajoelhara antes para indaga-lo, no momento seguinte, firmando sua continência para ambos, pronuncia o que veio entregar:
— Lorde Bentley, venho da muralha norte para informar que meu tenente pede por sua visita. Ele reforçou que o Lorde deve ir diretamente para lá, pois trata exclusivamente de um assunto que apenas o lorde possui entendimento.
Ao estalar sua língua com bastante ira, por conta das falas afiadas de seu primo e não possuir nenhum contra-argumento na altura, Bentley, responde o pedido do guarda:
— Tsc! Que seja! Não há mais nada para fazer aqui. Vamos, me leve logo para lá!
Ambos começam a sair do local, contudo, ao lembrar de seus sentinelas impotentes sob o chão, dirige sua fria declaração:
— Enquanto a vocês, sacos de merda, voltem para a capital! Não me servem de nada se vão perder por um simples guarda residencial, que nem capitão é.
— Si-sim, Lorde Bentley! Perdoe-nos por nossa incapacidade...
Ambos curvam-se e respondem em uníssono, todavia, ignorados por Bentley, que no momento cruza a entrada, para fora da residência. Em contrapartida, o garoto, olhando toda a situação, responde para si mesmo:
— Francamente… este meu primo… como ele consegue agir desta maneira? Parece que ele não aprendeu nada conosco e…
Ao parar por um momento e observar ambos sentinelas, prostrados no chão, Lumiel os ordena fortemente com sua voz:
— Hey, vocês! Espero que antes de saírem daqui, consertem nosso piso. Afinal, nossas faxineiras não irão arrumar algo que vocês fizeram.
Na finalização de sua fala, um olhar rubi — afiadamente perfurante, é guiado para os dois, que os fazem novamente abaixar seu semblante e concordar com o garoto…
— Si-sim!
— Bffs! Esses caras da capital só sabem ter armaduras bonitas…
— Kekekeh! O senhor tem razão, lorde Lumiel… permita-me incinerá-los depois…
— Não! Agora tire essa ideia da cabeça!
— Sim, milorde…
Ambos começam a se afastar do local, retornando para os corredores, enquanto suas vozes são facilmente apagadas pela distância.